sexta-feira, fevereiro 29, 2008
Em frente
"Já tem três filhos e não lhe convinha mais nenhum".
O argumento, que ouvimos tantas vezes como justificação do aborto, serviu, na semana passada, para um infanticídio. Quem pode, aceitando a primeira situação, refutá-lo na segunda? É a localização física, dentro ou fora da mãe, umas horas, dias, semanas, a mais ou a menos, que definem se a vida é humana, se tem valor ou não? Já falámos muito sobre isto, mas, visto deste lado, a ferida continua não só aberta como começa a alastrar. Filósofos, como o utilitarista Peter Singer, defendem sem preconceitos o infanticídio. No Brasil, discute-se renhidamente se os índios da Amazónia podem manter o costume de matar os filhos indesejados ou devem estar sujeitos às leis que vigoram para os restantes cidadãos. No fundo, tudo começa quando alguém se julga competente para definir onde começa e acaba o valor da vida do outro. O que vem a seguir não costuma ser bonito.

Pedro Leal
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terça-feira, fevereiro 26, 2008
A Una e Santa

imagem reduzida a pedido de várias familias que se ofuscadaram com a romana lux

Obviamente esbarramos também neste ponto. Para vocês unidade é unicidade. Unidade é sujeição a Roma. Unidade é submissão incondicional à autoridade papal. É necessário dizer mais? (Tiago Oliveira)

Talvez sim, caro Tiago :)
Talvez… mas na minha modesta opinião, parece-me que, enfim, encontrámos um bom pomo de discórdia.
Creio que, da forma como vocês veem a Igreja católica, esta confunde-se com um grande corpo administrativo cuja função se esgota em recordar a alguns humanos que Deus existe.
Mas ao focarem apenas o vosso olhar no aparelho, parece-me que vos escapa o essencial: a vivencia do catolicismo.
Sendo papista, o Papa, tal como o vejo, não é o senhor todo poderoso de um domínio humano. A Igreja é o corpo de Cristo – S. Paulo chama-lhe em “corpo” cuja cabeça é Cristo.
O Papa não se serve, ele é um servidor de Cristo, e também por isso, o Papa não submete ninguém, é aceite por todos, por todos os católicos, independentemente de diferenças e correntes de opinião; porque as há, como vocês sabem, até pelo exemplo aqui no Trento.
Porquê então essa aceitação, que tu Tiago, chamas de unicidade?
Porque existe, para além de tudo, uma solidariedade sobrenatural ligando os membros humanos da Igreja Católica, solidariedade que nós apelidamos de comunhão.
Não se trata nem de imposição, nem de submissão incondicional, trata-se de comunhão voluntária inspirada pela Graça de Deus… penso eu, na minha pobreza teológica, lol
Limitar-me-ei no entanto, a propor mais uma leitura do velho filósofo católico:

A personalidade pressupõe a unidade; não há personalidade sem completa unidade de ente e de vida.
É por causa da sua completa unidade que a Igreja ou o Corpo místico tem a sua personalidade; por outras palavras, é por causa da completa unidade em que os seus membros estão reunidos, pela apostólica, pela do Baptismo, pela dos outros sacramentos e pela da obediência a Pedro.
Assim, na posse da sua completa unidade e da sua personalidade, a Igreja é, ao mesmo tempo misteriosa e visível. É visivel ou manifestada exteriormente pelos três caracteres que acabo de mencionar:
- profissão da mesma Fé
- regeneração pelo mesmo Baptismo
- reconhecimento da autoridade do Soberano Pontífice

Jacques Maritain, O camponês do Garona, 1966 (p.214)
cbs

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domingo, fevereiro 24, 2008
Da unidade e visibilidade da Igreja

Levanta-se aqui a questão do corpo da Igreja e da sua visibilidade.
Quando se fala do corpo da Igreja como distinto da sua alma, a palavra corpo não significa o Corpo místico, porque o Corpo místico compreende, evidentemente, tanto a alma como o “corpo” da Igreja (até compreende os anjos, diz S.Tomás).
O corpo das Igreja é, antes de mais, todos os seres humanos que (pertencendo-lhe aberta e normalmente se estiverem baptizados) recebem a Graça e a Caridade (alma criativa da Igreja) – os homens, seres carnais e espirituais ao mesmo tempo.
(…)
Além disso, o corpo da Igreja desafia toda a comparação com o corpo humano; efectivamente, esse corpo, completa e perfeitamente formado na Igreja, estando também ela plenamente formada, apresenta uma unidade orgânica perfeita e acabada pela personalidade (na única Igreja, a Igreja Católica); sendo assim, este organismo perfeitamente formado para se estender, transborda, tal como a alma da Igreja, de uma parte para formações já organizadas mas não integradas na sua perfeita unidade (as confissões cristãs não-católicas), por outro lado, para a grande diáspora das pessoas humanas que, nas familias religiosas não-cristãs ou nas familias espirituais a-religiosas, se abrem à Graça de Cristo e à Caridade.

Como é que poderemos imaginar tudo isto?
Talvez possamos pensar numa grande ave de fogo que arrastasse atrás de si um fogo que é ainda o corpo animado pela sua alma, mas sem a perfeita unidade orgânica que têm na própria ave; fogo que enquanto nele houver unidade orgânica, é ainda visível - mas, cada vez menos, à medida que se for afastando da perfeita unidade que tem com a ave - mas sempre fogo, que pode também perder toda a sua unidade orgânica, numa vasta galáxia de estrelas, em cada uma das quais brilha de uma maneira visível aos anjos, mas invisível aos homens, porque a única unidade que junta ainda as estrelas em questão, como os outros membros do corpo da Igreja, é a Caridade (…)
Por outras palavras, a Igreja é essencialmente visível, mas esta visibilidade não é plena, senão na Igreja Católica, e é esta a sua glória: ela é a única que empunha o facho de Deus na sua integridade, assim como é a única que é a Igreja do Verbo Encarnado.
A visibilidade do corpo da Igreja diminui, à medida que se escapam, cada vez mais, à perfeita unidade desta, todos aqueles que lhe pertencem nas outras familias espirituais.

Jacques Maritain, O camponês do Garona1966
cbs

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sexta-feira, fevereiro 22, 2008
Una Sancta
Deve dizer-se, parece-me, que – precisamente porque a Una Sancta é a única Igreja de Cristo – a sua unidade orgânica intrínseca, que é perfeita na Igreja Católica e só nela é perfeita, se degrada à medida que se estende para lá dessa grande cidade perfeitamente una, e da personalidade cujo selo ostenta, para abraçar todos os homens (quer pertençam às familias religiosas não-cristãs, ou professem a descrença ou o ateísmo) que vivem da graça de Cristo e da caridade; de modo que todos esses tais são, de certa forma, porventura imperfeita, mas em acto, membros invisìvelmente, da única Igreja plenamente formada e plenamente visível, que é a Igreja Católica.

Também se deve dizer, parece-me, que a visibilidade da Igreja é função da unidade que une entre si os membros do seu corpo, animado pela caridade, que é a sua alma; visibilidade plena quando a unidade do corpo é plena (isto é na Igreja Católica), diminuída e cada vez mais diminuída, à medida que a unidade do corpo decresce cada vez mais, à medida que se estende para lá da estrutura perfeitamente una que é a da Igreja Católica.
Jacques Maritain, O camponês do Garona 1966 - anexo IV, sobre a unidade e a visibilidade da Igreja.
Nasceu em Paris em 1882 numa família protestante.
Foi aluno de Henri Bergson e, em 1905, formou-se em filosofia na Sorbonne.
Depois de se converter ao catolicismo - foi baptizado em 1906 - aprofundou os estudos da obra de S.Tomás de Aquino.
Em 1910 publicou o seu primeiro artigo, sobre ciência moderna e razão, no qual faz a defesa da inteligência, inspirado no panteísmo de Spinoza, no intuicionismo de Bergson e no neovitalismo de Hans Driesch.
cbs
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quarta-feira, fevereiro 20, 2008
Vieira VI (da fama)
O pregador há-de saber pregar com fama e sem fama.
Mais diz o Apóstolo.
Há-de pregar com fama e com infâmia.

Pregar o pregador para ser afamado, isso é mundo.

Mas infamado, e pregar o que convém, ainda que seja com descrédito de sua fama, isso é ser pregador de Jesus Cristo

Sermão da Sexagésima 1655, Sermões I- Lello Irmãos Porto 1907-09 (p.31)
cbs
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O Pe. António Vieira e o ecumenismo.
Já que o pérfido calvinista dos sucessos que só lhe merecem nossos pecados faz argumento da religião, e se jacta insolente e blasfemo de ser a sua verdadeira, veja ele na roda dessa mesma fortuna, que o desvanece, de que parte está a verdade.

Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda
Pe. António Vieira

É só para que não se entre em convenientes revisionismos históricos... embora uma figura da dimensão de Vieira seja sempre universal.

Luís
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terça-feira, fevereiro 19, 2008
Vieira V (da conversão)
Que coisa é a conversão de uma alma senão entrar um homem dentro em si, e ver-se a si mesmo?
Para esta vista são necessários olhos, é necessária a luz, e é necessário o espelho.

O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina;

Deus concorre com a luz, que é a Graça;
O homem concorre com os olhos, que é o conhecimento.

Sermão da Sexagésima 1655, Sermões I- Lello Irmãos Porto 1907-09 (p.7)
cbs
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segunda-feira, fevereiro 18, 2008
Flannery XI (da confissão)
I don't doubt she needs a good spiritual director but this takes a kind of genius and much grace and they are as hard to find as any other rarity. As to a confessor - one is as good as another. The confessional is not a place to discuss problems.

josé
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Flannery X (da penitência)
Penance rightly considered is not acts performed in order to attract God’s attention or get credit for oneself. It is something natural that follows sorrow.

josé
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Flannery IX (da Cruz)
What people don’t realize is how much religion costs. They think faith is a big electric blanket, when of course it is the cross.

josé
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Flannery VIII (do Inferno)
God made us to love him. It takes two to love. It takes liberty. It takes the right to reject. If there were no hell, we would be like animals. No hell, no dignity.

josé
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Cafetaria católica
Liberalismo, América, self-service e minoria: um artigo que encaixa bem nos últimos posts do Trento.

Pedro Leal
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domingo, fevereiro 17, 2008
And now for something completely different...
e em jeito de resposta à questão do cbs sobre o catolicismo nos EUA (que by the way é em si um mundo e tem de tudo).



Quem não sabe fica a saber que o Stephen Colbert é católico (para quem não sabe quem é o Stephen Colbert ele é ou foi um dos sidekicks do Jon Stewart). Para quem não sabe quem é o Jon Stewart, go and get cable TV right now!

Luís
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sábado, fevereiro 16, 2008
Flannery VII (de onde concordamos todos)
One of the effects of modern Liberal Protestantism has been gradually to turn religion into poetry and therapy, to make truth vaguer and vaguer and more and more relative, to banish intellectual distinctions, to depend on feelings instead of thought, and gradually to come to believe that God has no power, that he cannot communicate with us, cannot reveal himself to us, indeed has not done so, and that religion is our own sweet invention.

josé
posted by @ 4:38 da tarde   0 comments
Flannery VI (das certezas)
When we get our spiritual house in order, we’ll be dead. This goes on. You arrive at enough certainty to be able to make your way, but it is making it in darkness. Don’t expect faith to clear things up for you. It is trust, not certainty.

josé
posted by @ 4:22 da tarde   0 comments
Flannery V (do Tiago e do Catecismo)
The fact is though now that the fundamentalist Protestants, as far as doctrine goes, are closer to their traditional enemy, the Church of Rome, than they are to the advanced elements in Protestantism.

josé
posted by @ 4:17 da tarde   0 comments
Quem tem medo de Virginia Woolf?
Sem sequer ter lido metade desse relambório que suscitou a minha Flannery venho aqui dizer-vos que parece terem ensandecido todos. À simples transcrição de 4 boas frases daquela boa alma, cai o Carmo e cai também a Trindade. Salta o Tiago Oliveira a brandir a mortal contradição entre a doutrina da Igreja Católica e a prática dos seus (in)fiéis nomeadamente, claro está, na costumeira questão da concuspicência. Ao que o Luís se agiganta, quase ordenado já, numa trip jansenista a roçar o salafismo, juntando-lhe armas para dar uma coça alla romana ao Carlos do costume. E logo chega do deserto a Voz tonitruante, irritada talvez por lhe falarem de católicos a vasculhar o seu backyard, a acusar-me a mim de me estar a armar em esperto. Enfim, um daqueles processos de intenções tão tipicamente portugueses. E ao qual, como é meu princípio de vida, não vou tentar perceber nem ligar absolutamente nenhuma. Por isso continuo. E já a seguir.
josé
posted by @ 3:51 da tarde   2 comments
Isto não foi a Flannery, fui eu mesmo
Os protestantes só se armam em santos quando os católicos se armam em espertos.

Tiago Cavaco
posted by @ 10:59 da manhã   1 comments
tentando viver como cristão?
"O Anticristo pode nascer da própria piedade, do excessivo amor de Deus ou da verdade, como o herege nasce do santo e o endemoninhado do vidente. Teme, Adso, os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, que de costume fazem morrer muitíssimos com eles, frequentemente antes deles, por vezes em seu lugar. Jorge cumpriu uma obra diabólica porque amava de modo tão lúbrico a sua verdade que ousava tudo com a condição de destruir a mentira. Jorge temia o segundo livro de Aristóteles porque ele ensinava talvez a deformar deveras o rosto de toda a verdade, a fim de que não nos tornássemos escravos dos nossos fantasmas. Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é aprender a libertar-nos da paixão insana pela verdade."
"O Nome da Rosa", Umberto Eco (tradução de Maria Celeste Pinto, Edição Difel, pags. 485 e 486)

"Só saberá ser cristão quem assumir a ressurreição como uma superação de todos os limites. Talvez assim a fasquia esteja mesmo alta demais. Mas não é de todo inatingível. Porque cada pequena conversão antecipa, em pequena escala, a ressurreição plena.
Talvez o mais importante seja saber para onde vivemos voltados.
Talvez que se possa viver um cristianismo aceitável com uma prática quotidiana de vivência dos princípios cristãos, no respeito do princípio da proporcionalidade, e em que cada pequena conversão antecipa, em pequena escala, a ressurreição plena.
Recordo-me de um princípio comunista: "De cada um segundo as suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades".
Talvez o termo "capacidades" signifique também a capacidade de dar, a capacidade de partilhar, a capacidade de amar.
Talvez que o que se exige de um cristão seja, apenas e tão somente, dar, partilhar e amar um pouco acima das suas capacidades de dar, partilhar e amar.
É uma visão prosaica do cristianismo? Sem dúvida."
(eu, citando outros, há uns tempos atrás na Terra da Alegria, no post em que iniciei a minha colaboração nesse blogue)

timshel
posted by @ 10:44 da manhã   13 comments
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
A qual de vós é que lavo os pés?
No início do jantar, os apóstolos começam a brigar pelos lugares, alguém resmunga, queria uma posição mais honrosa, como conta Lucas (22, 24): “Houve também uma discussão entre eles: qual seria o maior?”
O Mestre exorta-os à humildade, mas não tem jeito: o bate-boca continua. Então, levanta-se da mesa, depõe as vestes, pega uma toalha, amarra-a na cintura e começa a lavar os pés dos convidados
cbs
posted by @ 11:57 da tarde   0 comments
Interlúdio na controvérsia :)
(...) tudo o que não é ser Santo, é não ser (...)
Sermoens IV, Lisboa 1679-1748 (p.136)
cbs
posted by @ 6:37 da tarde   0 comments
coisas simples e pequenas
Caro Tiago, à laia protestante, comento em forma de poste. Ou seja, "agora que já me mostraste onde posso ler o catecismo da minha própria igreja" (na sua versão inglesa e, na verdade, apenas o seu compêndio), respondo de forma muito incompleta à tua "pergunta de base":

Não, não é verdade. Ou será parcialmente verdade, mas apenas tal como acontece nas outras igrejas, congregações, movimentos, partidos políticos, associações, o que seja. Parece ser um problema bizarro para quem apenas responde directamente a Deus (ou o que entende ser Deus num determinado momento) e tem uma fé individualizada sem outro ancoradouro que não uma leitura acrítica de um livro onde julga estar aprisionada toda a palavra de Deus quando não o Próprio.

Mas a vida tem mais cores. Muitos casais católicos (a maioria, admite-se) não cumprem os conselhos normativos (quase técnicos) da Igreja quanto aos métodos de contracepção mas não o fazem porque, de acordo com a sua consciência, iluminada pelo Espírito Santo, e muitas vezes depois de aconselhamento espiritual, decidem não o fazer. Contrariam as disposições técnicas do Catecismo (versão compêndio)? Talvez. Mas, ainda assim, não nos precipitemos: leia-se com cuidado o que diz o mesmo:
«2368 Peculiaris huius responsabilitatis ratio ad procreationem regulandam refertur. Coniuges, iustis de causis, possunt suorum filiorum procreationes intervallis separare velle. Ad eos pertinet comprobare eorum optatum ex caeco sui amore (ex «egoismo») non promanare, sed illud iustae generositati paternitatis responsabilis esse conformem. Praeterea suum agendi modum secundum criteria moralitatis regulabunt obiectiva: “Moralis [...] indoles rationis agendi, ubi de componendo amore coniugali cum responsabili vitae transmissione agitur, non a sola sincera intentione et aestimatione motivorum pendet, sed obiectivis criteriis, ex personae eiusdemque actuum natura desumptis, determinari debet, quae integrum sensum mutuae donationis ac humanae procreationis in contextu veri amoris observant; quod fieri nequit nisi virtus castitatis coniugalis sincero animo colatur”.»

Vês, Tiago?
É claro que o ponto 2370, na sequência da nefasta encíclica Humanae vitæ, e reafirmada pela exortação apostólica Familiaris consortio, vem dizer que «Continentia periodica, methodi ad procreationem regulandam fundatae super auto-observationem et recursum ad periodos infecundas, sunt criteriis obiectivis moralitatis conformes. Hae methodi corpus verentur coniugum, teneritudinem promovent inter eos et educationi favent authenticae libertatis. E contra, est intrinsece malus quivis «actus qui, cum coniugale commercium vel praevidetur vel efficitur vel ad suos naturales exitus ducit, id tamquam finem obtinendum aut viam adhibendam intendat, ut procreatio impediatur: Naturali verbo, quod reciprocam plenamque coniugum donationem declarat, conceptuum impeditio verbum opponit obiectivae contradictionis, videlicet nullius plenae sui donationis alteri factae: hinc procedit non sola recusatio certa ac definita mentis ad vitam apertae, verum simulatio etiam interioris veritatis ipsius amoris coniugalis, qui secundum totam personam dirigitur ad sese donandum. [...] Discrimen anthropologicum simulque morale, quod inter conceptuum impeditionem et observationem intervallorum temporis intercedit [...], implicat duas personae ac sexualitatis species, quae inter se nequeunt conciliari».
Mas o essencial aqui, como em qualquer situação de natureza moral, são os ditâmes das consciências dos esposos, iluminadas pelo Espírito, no seio de uma vivência conjugal que se crê ser um reflexo do amor divino.

É claro que é mais fácil apontar o dedo. Tanto mais fácil quando nem se coloca a hipótese de se viver a sexualidade sob a forma de uma relação matrimonial católica.
E nada disto tem a ver com uma "vivência intelectualizada" do catolicismo, seja lá o que isso for. É precisamente o contrário. Trata-se de uma vivência completa, do intelecto, do coração e da carne. É o intelectualismo que faz discorrer grave e definitivamente sobre a condição alheia, ao ponto de diferenciar, para efeitos de regulamentação da moral sexual na constância do matrimónio, a legitimidade do uso do termómetro ou da análise dos mucos vaginais em detrimento da utilização do látex.

Mas, summo rigore, nem posso falar com propriedade sobre o assunto: não sou casado.

Carlos Cunha
posted by @ 4:22 da tarde   16 comments
A Flannery que não merecia o José
Que nos obriguem, a nós protestantes, a mostrar que esse catolicismo cívico e intelectualizado é hipócrita ainda aceitamos. O que nunca vos perdoaremos é que nos obriguem a revelar que a nossa vivência da fé é efectivamente preferível à vossa.

Tiago Cavaco
posted by @ 4:21 da tarde   0 comments
Flannery IV (da ordem das coisas)
What one has as a born Catholic is something given and accepted before it is experienced. I am only slowly coming to experience things that I have all along accepted.

josé
posted by @ 1:34 da tarde   0 comments
Flannery III (do jansenismo)
I like Pascal but I don't think the Jansenist impulse is healthy in the Church. Jansenism doesn't seem to breed so much a love of God as a love of asceticism.

josé
posted by @ 1:31 da tarde   0 comments
Ainda a recuperar o fôlego.
Caro José,confesso que não pude deixar de ter um sorriso nos meus lábios ao ler este teu post.Em primeiro lugar, porque concordo com o Tiago Cavaco: "abençoado protestantismo".Depois não pude deixar de verificar uma curiosidade que desmascara o que dizes. Então vejamos:- O católico, segundo dizes nas palavras de Flannery, considera que a voz de Deus é apenas ouvida através da santa madre e, como tal, tudo o que acredita como verdade é o que a igreja diz que é verdade. O católico diz que o papa é o representante de Cristo na terra e quando fala é como se Cristo falasse.- O protestante, por seu lado, embora respeite a igreja, considera como responsabilidade sua analisar todas as coisas e se considerar que Deus espera algo dele falo-á independentemente da igreja estar ou não com ele.Pois é meu caro, o cómico em relação a isto é o seu resultado prático.O católico considera aquelas coisas em relação à igreja e ao papa, no entabto desrespeita a igreja, da qual diz ser a detentora da voz de Deus, a cada passo que dá. Veja-se os católicos aqui do blog. Retiranto uma ou duas excepções, o católico pensa como lhe apetece, vive como muito bem entende, mas diz que Deus apenas é ouvido através da santa madre. Cómico não é? Vejam-se as diferenças doutrinais que se verificam neste blog entre os católicos e essa frase que colocas só dá vontade de rir. Vocês discordam do papa a torto e a direito, mas dizem que ele é como Cristo, é o seu representante. Belo respeito que têm por cristo. Se alguma marca se pode atribuir à maior parte dos católicos é que a igreja não tem qualquer influência sobre a sua vida. Para um católico é normal dizer que o papa está errado (o que segundo a doutrina católica é o mesmo que dizer que cristo está errado). Pelo contrário, o protestante acredita no que já mencionei. No entanto, a ironia disto tudo é que, com todas as diferenças de opinião que temos, verificarão que um protestante respeitará muito mais a igreja do que um católico. Por exemplo, os baptistas que aqui postam afirmam professar os princípios baptistas. O ensino da igreja foi, na realidade, importante e formador do que são enquanto pessoas hoje. A conclusão prática disto é que eu sou baptista e professo as doutrinas baptistas. Vocês são católicos e professam o que muito bem entendem e estão-se perfeitamente a barinbar na prática das vossas vidas do que o papa ou a igreja pensam sobre elas.Caros católicos, respondam a esta simples pergunta: quantos de vocês católicos aqui professam integralmente os ensinos da santa madre (que é, segundo o José e a Flannery, os ensinos do próprio Deus)?


Embrulhemos pessoal. Embrulhemos que coisa mais certeira não se escreveu neste blog desde que há memória. Isto devia ser emoldurado e colocado como filactéria na fronte da nossa intelectualidade católica bem-pensante. Só tenho pena do Tiago se ter adiantado a mim já que iria escrever coisa parecida na continuidade deste post criticando ainda um pouco da casuística jesuítica empregada pelo timshel (que amigavelmente desperta o jansenista que há em mim).

Respondendo à tua pergunta (e descontando essa de que quando o Papa fala é como se Cristo falasse que não é verdade) eu professo integralmente os ensinamentos da Santa Madre e tento viver de acordo com eles. Mas sei que são poucos os que o fazem em particular em determinadas matérias sensíveis (e antes isto fosse arrogância, antes fosse), especialmente na "intelectualidade" católica neste país (não é assim noutros). Isto cria a mais nojenta (sim, nojenta) consequência da casuística jesuítica que Pascal criticava nas suas cartas provinciais, a de que os pobres e desgraçados que levam a sério o que a Igreja diz são esmagados pelo peso das suas culpas e a gente bem-pensante e influente safa-se de viver de acordo com o que quer que seja recorrendo aos "casos particulares". Ou isso ou então consolam-se moralmente por se admitirem como grandes pecadores numa pretensa humildade sem mexerem uma palha para repararem a mais pequena falta. Também era o Pe. António Vieira que dizia coisas como "Ver e não remediar é não ver." ou "Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos, têm diante dos olhos as nossas manchas, como hão-de conceber virtudes?", ou ainda "Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como se hão-de converter?". Não é um apelo ao puritanismo exacerbado, mas a um mínimo de exemplo moral consequente e de autêntica vivência de Igreja que impliquem verdadeiras escolhas de vida.

Luís
posted by @ 12:26 da tarde   2 comments
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Porque nem toda a tradição é respeitável.
Começa hoje em Santarém o primeiro julgamento de um dos inúmeros crimes perpetuados ao abrigo da mais idiótica evocação da "tradição académica". Coisa reaccionária e provinciana, criticada já por Eça de Queiros e Ramalho Ortigão, as praxes recorrem às mais primárias tácticas intimidatórias degradando e humilhando em nome de uma tradição que hierarquizava os estudantes segundo o ano em que estavam, sinal infeliz de um país bacoco onde poucos chegavam ao Ensino Superior. Acredito que a passividade com que são aceites pela generalidade dos habitantes deste país revela bem a miséria da nossa sensibilidade moral, que dadas as circunstâncias propícias se poderá vir a manifestar em coisas bem piores.

Também isto é cristianismo e também isto é dignidade humana.

Luís
posted by @ 1:41 da tarde   1 comments
Flannery II (das revelações particulares)
When the Protestant hears what he supposes to be the voice of the Lord, he follows it regardless of whether it runs counter to his church's teachings. The Catholic believes any voice he may hear comes from the Devil unless it is in accordance with the teachings of the Church.

josé
posted by @ 12:51 da tarde   19 comments
Flannery I (da essência da Igreja)
The merit of the Church doesn't lie in what she does but what she is. The day is going to come when the Church is so hemmed in and nailed down that she won't be doing anything but being, which will be enough.

josé
posted by @ 12:41 da tarde   0 comments
flannering apart
Vou iniciar aqui uma rubrica. Para complementar as citações de CS Lewis, um protestante que podia ter sido católico, de GK Chesterton, um protestante que se tornou católico, e que o Tiago nos tem ofertado, vou começar a pôr aqui citações sumarentas da Flannery O’Connor, uma escritora católica em pleno Sul Protestante. Dizem-me da Cavalo de Ferro que o meu post anterior sobre ela não teve grande impacto nas vendas do livro e isso contunde o meu lado professormarceliano. Daí que vou começar a debitar, uma ou duas de cada vez, só para terem uma ideia, e na língua original para que se perceba bem a senhora.
Até porque foi nos redutos inóspitos que Roma e os Bárbaros se aprenderam a conhecer. Começa já a seguir.
josé
posted by @ 12:40 da tarde   0 comments
Palestra de Sábado adiada
Os Madeirenses Errantes vão ter de esperar. Assim que houver nova data informo. Passem a palavra. Obrigado pela compreensão.

Tiago Cavaco
posted by @ 12:36 da tarde   0 comments
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
É verdade tim, e concordo inteiramente contigo,
mas às vezes é o contrário que sucede, como dizia Graham Greene no In a Sort of Life: "Many of us abandon Confession and Communion to join the Foreign Legion of the Church and fight for a city of which we are no longer full citizens."

Espiritualmente não é menos perigoso e moralmente não é menos hipócrita.

Luís
posted by @ 4:31 da tarde   1 comments
Casamentos pela Igreja caíram 40%
"Da crise actual, uma Igreja emergirá amanhã que terá perdido muito. Será uma Igreja pequena e terá de começar do início. Já não será capaz de encher muitos edifícios construídos nos seus tempos áureos. Ao contrário do que aconteceu até hoje, ela apresentar-se-á muito mais como uma comunidade de voluntários.
Como pequena comunidade, ela exigirá muito mais a iniciativa de cada um dos seus membros e certamente reconhecerá novas formas de ministério e criará cristãos com uma formação sólida que serão chamados à presidência da comunidade. O normal cuidado das almas estará a cargo de pequenas comunidades em grupos sociais com alguma afinidade.
Isto será atingido com esforço e exigirá muito empenho. Tornará a Igreja pobre e numa Igreja dos pobres e humildes. Tudo isto exigirá tempo. Será um processo lento e doloroso."
(Joseph Ratzinger, em 1971, "Fé e Futuro" escrito ainda antes da sua nomeação para bispo - via Zé Filipe, Terra da Alegria)

A notícia que dá o nome ao título do post pode ser uma boa notícia. De facto, em 90% dos casos os casamentos católicos pela igreja nada significavam em termos de fé da parte dos protagonistas. Eram simplesmente folclore e estatuto. Este tipo de práticas religiosas sem qualquer conteúdo é, normalmente, o melhor aliado do ateísmo.

timshel
posted by @ 5:57 da manhã   1 comments
Caros católicos, caros protestantes

Sabiam que houve um êxodo protestante português no Século XIX da Madeira para os confins da Terra? Ferreira Fernandes, autor do livro "Madeirenses Errantes", e David Valente vão contar tudo. Vinde todos que a igreja é pequena mas o coração grande.

Tiago Cavaco
posted by @ 12:28 da manhã   3 comments
terça-feira, fevereiro 12, 2008
"Antropologia Teológica vs. Teologia Antropológica" revisitada
"A visão de Cristo que abrigas
é da minha visão a maior inimiga:
a tua tem um grande nariz torto como o teu,
a minha tem um nariz arrebitado como o meu (...)
Ambos lemos a Bíblia noite e dia,
onde tu lês preto, branco eu lia."
William Blake
-
Muito antes de William Blake, esta imagem já sido dada durante a vida de Jesus:
"Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Baptista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas." (Mateus 16:13-14).
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Por isso, em tempo de Quaresma, permanece a pergunta:
"Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?" (vs. 15)
A resposta de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (vs. 16) continua apenas a ser possível porque "porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus".
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Tiago Oliveira
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domingo, fevereiro 10, 2008
Algumas considerações muito breves.
Tiago deixo para amanhã as elaborações sobre os sacramentos. Mas para já, dois pontos rápidos em resposta aos teus:

1. Não ouvirás de nenhum católico dizer que o sacramento da Eucaristia foi instituído e descoberto por S. Tomás de Aquino. Claro que ele lhe deu uma roupagem teológica indelével na igreja ocidental, mas que é uma novidade basicamente fenomenológica e não ontológica, ou seja, descrevendo o processo da consagração em detalhe mas não acrescentado grande coisa sobre a natureza desse sacramento. E para não irmos aos Padres da Igreja (nos quais para começar estou longe de ser especialista e depois são sujeitos às mais variadas interpretações) ou aos costumes da igreja primitiva (na qual a celebração da Ceia do Senhor vem inclusivamente descrita na Bíblia por S. Paulo) uma prova cabal de que isto antecede em muito S. Tomás de Aquino é a manutenção da Eucaristia (com outro nome) como sacramento na igreja do Oriente, que sofreu pouca ou nenhuma influência escolástica, mas que preservou o depósito de fé na sua essência de Cristo verdadeiramente encarnado.

2. Nunca me ouviste dizer que Deus forçava as bocas dos participantes. A participação é obviamente opcional. O que eu disse é que o sacramento não ficaria sem fruto apesar de todas as insuficiências pessoais e nisto não faço mais do que interpretar as Escrituras: "Assim como a chuva e a neve descem do céu e não voltam para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come, o mesmo sucede com a Palavra que sai da minha boca; não volta sem ter produzido o seu fruto, sem ter executado a Minha vontade e cumprido a Sua missão' (Is 55,10-11)." Assumindo que Cristo é a verdadeira Palavra, e a Eucaristia verdadeiro Cristo, esta consequência parece-me bíblica.

Luís
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sábado, fevereiro 09, 2008
Get in the ring
O truque do Luís é antigo (acho que tem a ver com o boxe): obrigar-nos a ir às cordas. Aos extremos. E depois, encurralados, aviar-nos à grande e à romana. Só que o Luís tem de recordar-se que para além da Bíblia os protestantes também lêem a História. E que nem tudo na vida se resume a um oito e oitenta (por muito que isso nos facilite a retórica). A ironia, e aqui como o chapéu, é que quem se diverte é o Pedro Leal. "Não querem ser amiguinhos? Então levem com a presunção vaticana", pensará com razão. E apesar do Luís ser o meu católico preferido, é-o também porque me recorda do privilégio que é ser protestante.
O tal truque do Luís é especialmente bem sucedido em países mediterrânicos porque: A) conhecem muito pouco de religião; B) conhecem muito pouco de religião que não seja de origem católica. Assim, o Luís diz que "ou Roma ou nada" e as pessoas, mediterrânicas, claro, são levadas a acatar. O que o Luís terá é de explicar o lugar do ritual antes do bom Tomás de Aquino o normalizar sacramentalmente na Suma Teológica de 1113. O expediente é antigo: assim como há protestantes convictos de que o cristianismo hibernou até acordar em 1517 às portas de Vitenberga outros católicos asseveram a pés juntos que a coisa só começou condignamente após o Espírito ser traduzido em versão tomista.
Valeria a pena continuar até às questões mais longínquas que a discussão acorda: o que é realmente o sacramento e, perdoem-me a expressão, que raio é isso da presença corpórea de Cristo na Eucaristia? Claro que tínhamos de passar pela universalização romana, pelo papel atribuído à Igreja, pela Graça versus Lei, pela uniformização política que uma administração terrena da Salvação pelos sacramentos permite, pelas barbas do Calvino e pela eloquência carismática dos pentecostais em relação ao polido auto-convencimento católico do mistério da missa. E, já agora, e porque o Luís acorda o velho e anacrónico baptista que há em mim, pelo que dizem as Escrituras sobre a vida na Igreja (continuamos a estudar os Actos dos Apóstolos em S.Domingos amanhã, amigo).
Claro que para o Luís "o Pedro encarna mais a ambição evangélica de despojamento de rituais e imagens" porque encarna mais a ambição evangélica de despojamento de rituais e imagens que mais convém ao Luís para minimizar a pertinência litúrgica protestante não-sacramental. O Luís, astuto no ringue, sabe que os truques nos fazem ganhar combates quando os adversários estão distraídos. Mas desta vez o Luís terá de se recordar que:
1. o cristianismo existiu antes de 1113, peno de rituais e da presença do Espírito
2. apesar da Tradição e Magistério assumidos pela Igreja Católica qualquer boquinha se abre para a hóstia porque o dono da boquinha subjectivamente para isso de dispôs e contra isto batatas (nem o Cristo no altar desce para empurrar o seu corpo, so you say, pela garganta abaixo do fiel)
3. tornar indissociável o ritual do sacramento do foi um uppercut que me falhou os queixos.
Com isto tudo ainda tenho um sermão para refinar. Cheers, bom amigo!

Tiago Cavaco
posted by @ 11:08 da tarde   5 comments
Onde pós-moderna e naturalmente se defende que não é preciso sacramento para haver ritual (mas sem tempo agora)
Luís, agora que tenho de terminar o meu sermão de amanhã (meu vigor pós-moderno embora não me barbeie) não tenho tempo de te dar a atenção que mereces. Mas desde já me insurjo violentamente contra a usurpação de associar importância dada à liturgia com natureza sacramental. Céus. Audácia. Quantos séculos de História do Cristianismo para o caixote de uma penada? E, mais tarde, recordando-nos da displicência com que Lutero ficou apenas com dois de sete sacramentos? Também a justificamos com proto-pós-modernismo? Hei-de aqui voltar.
Não vale a pena fugir ao essencial. Que humanidade reside fora do ritual? O vigor católico é evidente mas a tentativa de monopólio será o verdadeiro truque pós-moderno: em tempos de GPS só com demasiada benevolência é que todos os caminhos vão dar a Roma.

Tiago Cavaco
posted by @ 10:15 da tarde   0 comments
Um "aliado" improvável.
Nesta questão estou com o Pedro, quando ele diz que "Olho para a história dos evangélicos e vejo que a sua grande força foi terem sido capazes de abdicar do conforto de rituais, intermediários e figurações". O Tiago aponta correctamente que essa força também é uma fraqueza e um conforto em si mesmo, mas nessa duplicidade os evangélicos não são diferentes dos católicos. Julgo que o Pedro tem toda a razão em apontar como a grande força evangélica a sua iconoclastia (que aliás não surge verdadeiramente com os protestantes mas sim com os muçulmanos). Ou já estaremos porventura esquecidos de como Zwingli encetou a Reforma na Suiça (dando ostensivamente largas ao seu apetite por carne suína em dias de Quaresma)?

E depois o Tiago surge com uma atitude absolutamente pós-moderna (mais uma vez dando razão ao Pedro) quando diz que "A discussão do ritual é crucial. Nunca a Reforma nem mesmo a sua face não-conformista, mais radical e nossa, baptista, julgou poder viver a fé sem ritual. Talvez o horizonte incida na problemática do sacramento, onde as implicações são muito mais diversas que as apontadas.". Tiago aponta-me uma denominação protestante que dê verdadeira importância à liturgia que não seja por natureza sacramental? Os anglicanos ou os luteranos mantêm a liturgia porque mantêm o sacramento e não o contrário.

Julgo que a ideia altamente romântica que tu ou o Tiago Oliveira acalentam é a de que se pode ter uma liturgia organizada sem valor sacramental. Ora o que contraria a tendência absolutamente natural para a dispersão e a liturgia a la carte do pastor nestas igrejas (e na católica) não é apenas uma qualquer disposição hierárquica ou filosofia pastoral, mas a consciência daquilo que se celebra. É o facto da celebração ser veículo inabalável da Graça que incute um respeito pela liturgia imutável. É a consciência do acto que se opera que incute a reverência.

É a convicção que o sacerdote opera in persona Christi oferecendo de novo o sacrifício propiciatório em prole do seu povo que faz com que o acto seja não dele, mas de Cristo, e que portanto as palavras não devam ser simplesmente as que lhe ocorreram "ao fazer a barba de manhã" (como há dias falávamos) mas sim as que a Igreja conserva como seu repositório inspirado pelo Espírito. Se o acto não tiver validade para lá e apesar do sacerdote, nada o move a ser fiel a uma liturgia organizada, e em verdade, não vejo porque alguma outra coisa o deveria mover nesse sentido.

O caso católico então é paradigmático. Se fores a 20 Eucaristias diferentes em Lisboa encontrarás 20 pequenas variações na liturgia de sacerdote para sacerdote. Alguns vão até extremos formidáveis, introduzindo comentários a torto e a direito, como que explicando a liturgia para o fiel ignorante (quase inevitavelmente, comentários que em nada ajudam). Mas as palavras da consagração e a estrutura geral da Missa permanecem imutáveis. E permanecem imutáveis não porque não haja desejo por parte do celebrante de as mudar, convicto de que ele saberia dizer melhor, mas porque corre o risco de celebrar uma Eucaristia inválida, ou seja, de não haver real consagração das espécies, ou com menos jargão católico, não haver real transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo.

Julgo que portanto se trata precisamente de pós-modernismo, aceitando benemeritamente a superfície e rejeitando o essencial, como se as duas coisas pudessem ser separadas. Mas dir-me-ás tu se estiver enganado.

Luís
posted by @ 7:33 da tarde   13 comments
Rituais
Boa discussão entre protestantes esta. Aproveito para malhar mais (no Pedro, evidentemente). "Olho para a história dos evangélicos e vejo que a sua grande força foi terem sido capazes de abdicar do conforto de rituais, intermediários e figurações. Isto porque tinham o mais importante: a presença de Cristo e a Sua Palavra", escreve. Muito certo se pensarmos que habitamos o Portugal de 1908. Quando estarás pronto a reconhecer mais 100 anos para poderes largar essa vaidade iconoclasta de protestante, bom Pedro? Não olhar para o tempo por zelo confessional é a calamidade que permite que a nossa auto-estima permaneça concretamente mitificada.
Hoje, e entre os protestantes evangélicos, o conforto ainda é o de "abdicar de conforto de rituais, intermediários e figurações" para poder não dar contas a ninguém de tão sublime e subjectiva fé. Uma trágica irresponsabilidade, digo eu.
Palavra que gostava de conhecer onde encontras tão valorosos protestantes no nosso país a prestar o serviço tão eficaz de levar o Evangelho aos perdidos. Andam-me a passar ao lado.

P.S. A discussão do ritual é crucial. Nunca a Reforma nem mesmo a sua face não-conformista, mais radical e nossa, baptista, julgou poder viver a fé sem ritual. Talvez o horizonte incida na problemática do sacramento, onde as implicações são muito mais diversas que as apontadas.

Tiago Cavaco
posted by @ 11:11 da manhã   1 comments
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Fasting television
Tiago, com estas modernices qualquer dia ainda estamos para aqui a falar de Carnaval evangélico (47 dias antes da Páscoa)…
Quanto ao artigo, nada a obstar ao jejum e à valorização da Páscoa (aqui devíamos ir até mais longe e olhar para o Ortodoxos que a têm como principal celebração anual). Parece-me que, no entanto, há uma certa leviandade pós-moderna em escolher rituais “por “menu“. Como se eles não estivessem agarrados a uma história e a um contexto doutrinário. Mas se assim pelo menos durante 40 dias “jejuam da televisão” e “oram e lêem a Bíblia diariamente”, que seja. O que os não ritualista podem fazer é desafiá-los continuar isso noutras alturas do ano.

Pedro Leal
posted by @ 12:36 da tarde   10 comments
Páscoa antecipada
"A Morte. É o aspecto de vida menos compreendido. Não é o "grande sono", mas antes, o grande despertar. É o momento em que acordamos, esfregamos os olhos e vemos as coisas como Deus as tem visto desde sempre." - Ken Gire

A morte não deixa de ser o inimigo, mas com a ressurreição de Cristo deixou de ser a ameaça de outrora. Nesta altura do ano, faz-me bem reflectir na minha culpa relativamente à "necessidade" da Sua morte. Fica sempre equilibrado com a fé na realidade de que eu já não vou morrer.
posted by @ 9:03 da manhã   1 comments
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
Não digam nada ao Pedro Leal
Protestantes adoptam uma Páscoa mais católica.

Tiago Cavaco
posted by @ 4:07 da tarde   2 comments
Vieira tris (concluindo)
Porque assim como no Sacramento tanto recebe um, como todos, e tanto recebem todos, como cada um; assim na glória tanto logram todos, como cada um, e tanto cada um, como todos. Cá na terra, como há a divisão de meu a teu, cada um logra os seus bens, mas não participa os dos outros: porém no Céu os próprios e os dos outros, tanto são comuns de todos, como particulares de cada um, porque lá não tem lugar esta divisão.(…) O Céu é uma república imensa, mas onde todos se amam: e está lá a caridade tanto no auge da sua perfeição, que todos, e cada um, amam tanto a qualquer outro, como a si mesmo.

Padre António Vieira, Sermão da Segunda Dominga da Quaresma, Sermões p. 76 - p.80
cbs

PS: faço questão de notar, que o santo homem tá a falar do Céu. Do paraíso, mas no Céu. Porque na terra, como ele muito bem diz, há "a divisão de meu a teu" e de cada vez que os "angélicos" tentam instaurar um paraíso terreal, o mais que conseguem é "em vez de desterrarem os ladrões, os meterem das portas para dentro".
posted by @ 1:07 da tarde   1 comments
Vieira bis (muito actual, como dizia ontem o presidente)
Mas inventaram e fizeram os homens a este mesmo fim de conservar cada um o seu. Inventaram e firmaram leis, levantaram tribunais, constituíram magistrados, deram varas às chamadas justiças, com tanta multidão de ministros maiores e menores, e foi com efeito tão contrário, que em vez de desterrarem os ladrões, os meteram das portas para dentro, e em vez de os extinguirem, os multiplicaram: e os que furtavam com medo e com rebuço, furtam debaixo de provisões e com imunidade. O solicitador com a diligencia, o escrivão com a pena, a testemunha com o juramento, o advogado com a alegação, o julgador com a sentença, e até o beleguim com a chuça, todos foram ordenados para conservarem a cada um no seu, e todos por diferentes modos vivem do vosso.

Padre António Vieira, Sermão da Segunda Dominga da Quaresma, Sermões p. 71
cbs
posted by @ 12:17 da tarde   0 comments
Depois da festa, trancas à porta
Já existe um site dedicado à Cristianofobia. Aqui.

Tiago Cavaco
posted by @ 11:15 da manhã   2 comments
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
O 5º Império
E para os que não podem comprar os livros aqui vai um site com alguns sermões do jesuíta Vieira:
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/content/view/full/1161
a Beguina
posted by @ 6:01 da tarde   2 comments
Quarta-feira de cinzas II
É quarta-feira de cinzas e com tanto entusiasmo Vieirino (rightly so) torna-se necessário equilibrar a balança com um gesto ecuménico:







Denn es gehet dem Menschen wie dem Vieh;
wie dies stirbt, so stirbt er auch;
und haben alle einerlei Odem;
und der Mensch hat nichts mehr denn das Vieh:
denn es ist alles eitel.



Es fährt alles an einem Ort;
es ist alles von Staub gemacht,
und wird wieder zu Staub.

Wer weiß, ob der Geist des Menschen
aufwärts fahre,
und der Odem des Viehes unterwärts unter
die Erde fahre?


Darum sahe ich, daß nichts bessers ist,
denn daß der Mensch frählich sei in seiner Arbeit,
denn das ist sein Teil.

Denn wer will ihn dahin bringen,
daß er sehe, was nach ihm geschehen wird?

Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo, também, sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede:
como morre um, assim morre o outro,
todos têm o mesmo fôlego;
e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma,
porque todos são vaidade.

Todos vão para um lugar:
todos são pó,
e todos ao pó tornarão.

Quem adverte que o fôlego dos filhos dos homens
sobe para cima,
e que o fôlego dos animais desce
para baixo da terra?

Assim que, tenho visto que não há coisa melhor
do que alegrar-se o homem nas suas obras,
porque essa é a sua porção;

Porque, quem o fará voltar
para ver o que será depois dele?

O texto é de Eclesiastes 3,19-22 (versão original da tradução de Martin Luther, versão portuguesa de João Ferreira de Almeida), o compositor é Johannes Brahms, a obra é "Vier Ernste Gesänge" (Quatro canções sérias) das quais esta é a primeira, cantada pelo indescutível mestre das Lieder, Fischer-Dieskau.

Não há compositor genial mais subestimado que Brahms, não há maior mestre da metafísica encarnada na pauta. Um protestante que se preze conhece pelo menos o Ein Deutsches Requiem.

Luís
posted by @ 5:40 da tarde   0 comments
Hoje somos todos americanos
É quarta-feira de cinzas e Padre António Vieira fuXXin' rules.

Tiago Cavaco
posted by @ 4:03 da tarde   0 comments
Vieira
Antes de haver meu e teu, havia amor, porque eu amava-vos a vós e vós a mim: mas tanto que o meu e teu se meteu de permeio e se atravessou entre nós, logo se acabou o amor; porque vós já me não amais a mim, senão o meu, nem eu vos amo a vós, senão o vosso.No princípio do mundo, como gravemente pondera Séneca, porque não havia guerras?
Porque usavam os homens da terra como do céu.
O sol, a lua, as estrelas e o uso da sua luz é comum a todos e assim era a terra no princípio: porém depois que a terra se dividiu em diferentes senhores, logo houve guerras e batalhas e se acabou a paz, porque houve meu e teu.

Padre António Vieira, Sermão da Segunda Dominga da Quaresma, Sermões p. 70 (com dedicatória especial ao Tim e geral a todos o “comunas” católicos da nossa praça :)
cbs

posted by @ 3:07 da tarde   1 comments
cinzas
Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris

«Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse, perguntar-me-eis e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído: os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet»

Padre António Vieira, Sermão de Quarta-Feira de Cinzas, 1670

Carlos Cunha
posted by @ 12:47 da tarde   2 comments
Quarta-Feira de Cinzas
"Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica"
(Santo Agostinho)

timshel
posted by @ 12:24 da tarde   2 comments
terça-feira, fevereiro 05, 2008
Da religião na América
Em oposição às teses que sustentavam uma retracção da religião à medida que proliferavam os ideais de liberdade e de humanismo, na América, a vitalidade religiosa conduziu ao ideal de liberdade e à própria modernidade.
Helena Vilaça, Público 5-02-2008

A isto, importa-me ressalvar o laicismo do aparelho de estado, que é instrumental.
O facto do politico ser religioso não é contraditório com a neutralidade do estado perante as religiões, tal como com as ideologias. Assim como me parece um erro e uma redução escrever na constituição "a caminho do socialismo", parece-me também um erro a confessionalidade religiosa da coisa pública.

Repito que isso não é obstáculo à religiosidade na política - como demonstra a América - direi mesmo que, só com um espírito religioso poderemos resolver os problemas do Poder.
Não passa de um mito (falido) a ideia iluminista europeia de que o ateísmo, ou mesmo o agnosticismo, são avanços evolutivos da Humanidade. São avanços mas na direcção do vazio.
cbs
posted by @ 2:17 da tarde   5 comments
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
Se este blog não servisse para mais nada,
dar-me-ia por extremamente satisfeito se tivesse servido para isto apenas:

"I grew up in a tradition that believes Catholics are pagans," said Roberts, who was raised Southern Baptist and serves as a pastor in a Baptist church. "I never really understood that. Now I'd argue against that wholeheartedly."

Luís
posted by @ 10:29 da tarde   2 comments
domingo, fevereiro 03, 2008
Em minoria no terceiro milénio
Se a fé em Cristo encontra acesso aos corações e às inteligências, todavia, a imagem da vida nas sociedades ocidentais (as chamadas sociedades “cristãs”) – que é principalmente um contra testemunho – constitui um notável obstáculo à aceitação do Evangelho.(...)

“Se a Mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; mas logo acrescentava: “Se guardarem a Minha palavra, também guardarão a vossa” (João 15, 20)
Desde jovem senti que estas palavras contêm a essência mesma do Evangelho. O Evangelho não é a promessa de sucessos fáceis. Não promete uma vida cómoda. Põe exigências. E, ao mesmo tempo é uma Grande Promessa: a promessa da vida eterna para o homem, submetido à lei da morte; a promessa da vitória mediante a fé, ao homem ameaçado por tantas derrotas.
No Evangelho está contido um paradoxo fundamental: para encontrar a vida é necessário perder a vida; para nascer, é preciso morrer; para salvar-se, há que carregar a Cruz. Esta é a verdade essencial do Evangelho, que sempre e em toda a parte se chocará contra os protestos do homem.
(…) O homem espera talvez, no seu subconsciente um tal desafio; há de facto, nele uma necessidade de se superar a si próprio.
Só superando-se a si próprio, o homem é plenamente homem (Blaise Pascal, Pensées)
Esta é a verdade mais profunda sobre o homem.
Cristo é o primeiro a conhecê-la.

João Paulo II
, Atravessar o limiar da esperança 1994

cbs
posted by @ 12:07 da tarde   3 comments
sábado, fevereiro 02, 2008
New Age
Uma questão à parte é o renascimento das antigas ideias gnósticas sob a forma do chamado New Age.
Não se podem alimentar ilusões de que leve a uma renovação da religião. É apenas um novo modo de praticar a Gnose, isto é, aquela disposição de espírito que, em nome de um profundo conhecimento de Deus, acaba por interpretar mal a Sua Palavra, substituindo-Lhe palavras que são apenas humanas.
A Gnose nunca se retirou do terreno do Cristianismo, mas sempre conviveu com ele, às vezes sob forma de corrente filosófica, mais frequentemente com modalidades religiosas ou para-religiosas, em claro contraste mesmo se não expresso, com o que é essencialmente cristão.

João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança 1994
cbs
posted by @ 7:37 da tarde   0 comments
Entretanto, no Oriente faltam evangelizadores
-... e andamos aqui nós sem conhecer Cristo!
Protesta o aldeão cantonês temendo pela sua salvação.

Fiz-me entender quanto à validade da tua argumentação Pedro?

Luís
posted by @ 1:05 da manhã   6 comments
Entretanto, na Serra faltam padres …
- … e andamos nós p’ra aqui carregadinhos de pecados!
Protesta a aldeã, por não se poder confessar.

Pedro Leal
posted by @ 12:21 da manhã   0 comments
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
A Ciência
A mística cristã de todos os séculos – de homens de acção como Vicente de Paulo, João Bosco, Maximiliano Kolbe – edificou e edifica o Cristianismo sobre o que ele tem de mais essencial. Edifica também a cultura: em especial, a cultura ocidental, marcada por uma referencia positiva ao mundo e desenvolvendo-se graças aos resultados da Ciência e da Técnica, dois ramos do saber radicados tanto na tradição filosófica da antiga Grécia, como na Revelação judaico-cristã.
Lemos na Gaudium et Spes: (o Concílio) tem portanto diante dos olhos o mundo dos homens, ou seja, a inteira família humana, com todas as realidades no meio das quais vive; esse mundo que é teatro da história da humanidade, marcado pelo seu engenho, pelas suas derrotas e vitórias; mundo que os cristãos acreditam ser criado e conservado pelo Amor do Criador; caído, sem duvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado pela cruz e ressurreição de Cristo, vencedor do poder do maligno; mundo, finalmente, destinado, segundo o desígnio de Deus, a ser transformado e alcançar a própria realização.

João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança 1994
cbs
posted by @ 3:07 da tarde   2 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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