terça-feira, junho 30, 2009
Notícias de Paulo
O Vaticano anunciou a descoberta de um fresco do século IV que retrata S. Paulo, tendo afirmado que se trata da imagem mais antiga que se conhece do apóstolo.
A notícia foi divulgada no dia de encerramento do Ano Paulino.
Bento XVI encerrou o Ano Paulino, na Basílica de São Paulo "fuori le mura", deixando duras críticas à "moda" que considera que uma "fé adulta" implica não dar ouvidos "à Igreja e os seus pastores".
cbs
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quarta-feira, junho 24, 2009
Os anabaptistas
(Nota: Este post estava prometido ao cbs há já algum tempo. E o prometido é devido.)
Na noite de 21 de Janeiro de 1525 uma dezena de homens reuniu-se numa casa de Zurique. Eram antigos discípulos do reformador Zwínglio, que haviam rompido com ele após um debate público realizado poucos dias antes. Acusavam o ex-mestre de não assumir todas a consequências dos princípios da Reforma, e, sendo considerados derrotados no debate, tinham agora três alternativas: retratação pública, abandono da cidade ou prisão. Em “Revolucionarios del siglo XVI – Historia de los anabautistas”, de W.R. Estep, relata-se essa reunião (mantive o texto em espanhol para evitar eventuais deturpações tradutivas).
“Los dramaticos sucesos de la inolvidable reunión se han preservado em “The Large Chronicle of the Hutterian Brethren”. El relato lleva la marca de un testigo que probablemente no era outro que George Blaurock.
“Y sucedió que estaban juntos hasta sentir ansiedad, sí, de tal manera tenían oprimidos los corazones. Comenzaron a doblar sus rodillas ante el Dios Altísimo de los cielos denominándole el Conecedor de los Corazones y oraban pidiendo que les mostrase su divina voluntad y les diera de su misericórdia. La carne y la sangre no les guio, puesto que bien sabían ellos que tendrían que sufiri las consecuencias.
Después de la oración se levantó George de “la casa de Jacob” y pedió a Conrad Grebel que, por amor a Dios, le bautizase com le verdadero bautismo cristiano, sobre la base de su fe e de su conocimiento. Y arrodillándose com tal solicitud y deseo, le bautizó Conrad, puesto que en aquel entonces no había ministro ordenado todavia para realizar tal menester.”
Después del bautismo de manos de Grabel, Blaurock procedió a bautizar a todos los presentes. Entonces, los recién bautizados se comprometieron a ser verdaderos discípulos de Cristo para vivir vidas separadas del mundo, enseñar el evangelio y conservar la fe.
Habia nacido el anabautismo. Com este primier bautismo se constituyó la primera iglesia de los hermanos suizos. Está claro que fue ésta la accion más revolucionaria de la Reforma. Ningún outro suceso simbolizó tan completamente el rompimiento com Roma. Aquí, y por primera vez durante la Reforma, un grupo de cristianos se atrevió a formar una iglesia según se pensaba que era el modelo del Nuevo Testamento. Los hermanos acetuaban la absoluta necesidad de una entrega personal a Cristo como algo esencial para la salvación y prerequisito del bautismo.”
A perseguição que se seguiu foi brutal, às mãos tanto de católicos como de protestantes, mas a violência não impediu o crescimento do movimento anabaptista. Entretanto, algumas franjas do movimento caíram em excessos, sobretudo os denominados “espiritualistas”, que trocaram a autoridade das Escrituras pela alegada influência directa do Espírito, o que trouxe descrédito e deu renovados pretextos aos perseguidores. Ainda assim os anabaptistas continuaram a sua caminhada. Hoje os seus descendentes são membros das igrejas menonitas, huteritas, amish, entre outras.
Para a maioria dos historiadores, não há uma relação directa entre os anabaptistas e o grosso dos evangélicos actuais. No entanto, se não são filhos, pode-se dizer que são sobrinhos. Ou seja, e tentando sintetizar, a maior parte dos evangélicos assume a teologia protestante, partilhando as principais doutrinas com os reformadores magistrais (Lutero, Calvino, Knox, etc), mas quanto à eclesiologia estão ao lado dos reformadores radicais (anabaptistas): uma igreja local e denominacional, livre de vínculos territoriais, políticos, estruturas eclesiásticas, credos confessionais e identificações étnicas, formada voluntariamente por membros regenerados (não aceitando, portanto, o baptismo infantil), tendo como modelo a Igreja do Novo Testamento. Daqui derivam também princípios como o da liberdade religiosa e o da separação entre religião e Estado.

Pedro Leal
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quinta-feira, junho 18, 2009
Do martelo e da aurora
para Klatuu Niktos

Mas o eterno enquanto rosto de Deus, não corresponde à intemporalidade da idealidade, seja à de um teorema seja à dos estertores da beleza, e muito menos às cristalizações da mente assustada; corresponde sim à interrogação: Onde isto tudo que desaparece irrevogavelmente? Pois o fiat da vida é o seu próprio decorrer; viver executa-se enquanto crescente aniquilação de si. E o eterno, precisamente, não trata aqui da retenção ou retorno do que há, mas da voz que fala no próprio não-haver.

Para um cristão, o último acto está sempre por ocorrer, e a temporalidade não resolve a sua perca retornando a si mesma; e é esta incapacidade estrutural e dinâmica de se refazer, que pode ou não abrir para algo de inesgotável que advém na própria perca.

A fé não trata de preencher a negatividade temporal com o sonho da imortalidade, nem de dar forma imaginária às forças obscuras do ser e da vida: a fé trata de um diálogo limite com o nada, com o não-havendo da vida que se escoa, consciência funda da palavra orante, a que não cala o silêncio nem confunde o eco. Deus é a voz que fala no deserto do mundo, não porque negue este, mas porque é este mesmo que se nega a si próprio no seu próprio acontecer: o fogo da terra alimenta-se da sua própria combustão, e a sua eternidade é uma dor sem fim no abismo da negação; mas aquele que olha o vazio de frente, vai ao fim da vertigem do tempo, e escuta o Deus que se revela na impossibilidade da combustão se doar a si mesma: o sem-nome, o da peregrinação naufragada no murmúrio da incessante busca; este é um Deus que dança no fundo do próprio abismo, quando a corda ou o nosso porvir próprio se quebram ou largam; e é também um Deus que lança cordas e porvires, e que na sua humanidade caminha por cima do tempestuoso abismo, no centro mesmo da vertigem; e que diz que a mais pequena ternura, a mais pequena pedra da menos notória berma – são já vitória e fundação.

Eis um Deus que dança, não a música da terra, nem a das esferas celestes ou das fúlguras ideias e paixões; são antes estas que a música do Deus dançam, em ponto e contraponto, ilhas e afundamentos. De que nos valeria a leveza, se não erguesse o peso do mundo?
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vítor mácula
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terça-feira, junho 16, 2009
O deus pão
“Jesus está no deserto e repousa. Então chega o diabo: “És tu o Filho de Deus, então diz às pedras que se tornem em pão. (…) Eis que não só tu passas fome mas milhões de pessoas morrem de fome. Eles são fracos e incapazes de entusiasmo por ti, por Deus, se não lhes deres, primeiro, o pão. Todos eles esperam num deus, estão ansiosos por um mensageiro de Deus que os ajude; mas o seu primeiro desejo é que lhes dêem de comer. Então sim, deixarão tudo e seguir-te-ão, a ti se apegarão, adorar-te-ão e endeusar-te-ão, caso consigas o que nenhum homem consegue. (…) Caso não o faças, eles odiar-te-ão, maldizer-te-ão, expulsar-te-ão, porque entendem que tu não os amas. Ao contrário, concluem que os odeias. Pois, se os amasses, ter-lhes-ias dado pão. Se és Filho de Deus, então manda que as pedras se tornem em pão e satisfaz a eles e a ti”.
Jesus reconhece nessa voz, que aparenta ser de amor intercedente, a voz do diabo. Foi um reconhecimento nunca antes visto. Ele repele o diabo: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. Certamente poderia produzir pão, mas os homens o adorariam como aquele que lhes fornece pão e não como o Deus que também na fome, na privação, até mesmo na cruz e na morte, ainda é Deus. Não seria amor Deus iludir o homem acerca do que Deus realmente é. Concerteza ganhar-se-iam milhões de corações. Mas para quem? Certamente para o deus do pão da felicidade, nunca, porém, para Deus, aquele que tem honra em si mesmo. Não aquele que é Deus até sob a cruz e na morte. Deus manifesta-se a si mesmo por si mesmo e jamais pelo pão.”


Um texto de Dietrich Bonhoeffer, de 1932, em Tentação.

Pedro Leal
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segunda-feira, junho 15, 2009
Da Imaculada Conceição 2
Num tempo em que a maioria dos teólogos da Escolástica era contrária à doutrina da Imaculada Conceição porque, transmitido por geração carnal (o tema da carne infecta); Duns Escoto não se limita a declarar a sua opinião, mas procura fundar mais solidamente a sua verdade, integrando-a num contexto doutrinal mais vasto como é a doutrina do primado absoluto de Cristo, primogénito de todas as criaturas, principio e fim de tudo quanto existe.
A síntese teológica de Duns Escoto assenta neste principio fundamental – Deus est rationabilissime volens – o que significa que a razão, a ordem, a sabedoria são a regra do Querer ou Amor infinito, que preside à criação de tudo quanto existe fora de Si.
Duns Escoto pôs assim como base da reconstituição do real, ou seja, da ordem actual, a Encarnação do Verbo de Deus, obra-prima – summum opus – do amor de Deus Pai. É em função deste mesmo principio – a vontade divina soberanamente racional e ordenada – que desenvolve toda uma argumentação em favor da Imaculada Conceição, refutando, de caminho, as principais objecções da tese contrária (Ox. III D. XXXII) perante as quais São Bernardo, São Boaventura e Santo Tomás de Aquino, por exemplo, recuaram.

Mas é evidente que Duns Escoto teve precursores que lhe forneceram elementos que desempenham papel fundamental na sua argumentação. E foi sobretudo em Oxford onde ensinava Guilherme de Ware, seu mestre, que lhe veio maior abundância de inspiração e consistência doutrinal. Com efeito, depois de ter exposto a doutrina comum tese Maculatista – Guilherme acrescenta: segundo uma outra opinião, Maria não contraiu o pecado original; é esta a opinião que eu defendo, porque se me enganar, não estando certo da opinião contrária, prefiro errar por excesso (superabundância) atribuindo este privilegio a Maria, a errar por defeito, diminuindo ou recusando-lhe qualquer prerrogativa (AA.VV. …quaestiones disputatae de immaculata conceptione…, Quaracchi, 1904, p. 4).
Guilherme de Ware
demonstra possuir já, em substância, o famoso silogismo posteriormente atribuído a Duns Escoto: potuit, decuit, ergo fecit; pôde, convinha, portanto fez. Convém que o filho honre a sua mãe e aquilo que Ele pôde fazer convinha que o fizesse, segue-se que o fez, porque um filho deve honrar a sua mãe, mas na explicação que dá, prisioneiro ainda da doutrina agostiniana da transmissibilidade do pecado original pela infecção da carne, decide-se mais por uma santificação do que por uma redenção preservativa.
A solução definitiva do problema estava reservada a Duns Escoto que, apoiado em S. Anselmo, rejeita liminarmente a teoria da transmissão física do pecado original, dizendo que este é de ordem moral e não física, que reside na vontade e não na carne. Residindo na alma, basta que no primeiro instante da sua existência Deus preserve Maria de toda a mácula original para que seja imaculada (Ox. III d.3 q.1 n.9)

O grande mérito de Escoto consiste em ter recolhido e sistematizado os elementos dispersos, defendidos por alguns teólogos que o precederam, e com eles construíram uma síntese doutrinal definitiva, que não só salvaguarda o principio da universalidade da redenção do pecado original, mas exalta ainda os méritos de Cristo na Sua função de Salvador único, pois Cristo é medidor da Graça não só quando purifica do pecado já contraído, mas mais perfeitamente ainda quando preserva do pecado original, contraído pelo resto da humanidade. De facto, é mais perfeito preservar do que libertar a pessoa amada depois de ela ter caído.
Do mesmo modo e pelos mesmos motivos, cai igualmente por terra a objecção de alguns teólogos segundo os quais a Imaculada Conceição de Maria retiraria alguma coisa à honra e glória de Cristo, que desse modo ficava privado do mérito de ter resgatado a Sua mãe. Ora não só a resgatou como o faz de uma maneira mais perfeita e mais digna do Seu Amor.

Manuel Barbosa da Costa Freitas por cbs
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domingo, junho 14, 2009
Da Imaculada Conceição
Em conformidade com a teologia de São Paulo exposta na Carta aos Colossenses sobre o primado absoluto de Cristo “por meio do qual e para o qual tudo foi feito” (Col 1,16) e em virtude do principio da vontade divina, soberanamente racional e ordenada, Duns Escoto argumenta deste modo: se Cristo, o filho de Deus feito homem, ocupa o primeiro lugar na hierarquia dos seres criados antes de toda a criatura, portanto, antes de Adão e Eva, por cuja desobediência o pecado entrou no mundo, certamente Maria a sua Mãe, lhe está intimamente unida e subordinada, pois sem ela não poderia ter assumido a natureza humana.
Escoto infere daqui que a predestinação absoluta de Cristo, exaltada por São Paulo, depõe, por si só, a favor da exclusão de Maria da herança do pecado original.
Isto na linha de direito ou de principio.

De facto, foi predestinada desde toda a eternidade para ser mãe de Cristo, ou seja, para dar forma corporal ou física a Jesus, por obra do Espírito Santo, sem intervenção de homem algum. Nesta perspectiva, a sua existência precede intencionalmente a existência de Adão e de Eva. Na ordem concreta, biológica e histórica, por ter sido escolhida previamente para ser Mãe do Filho de Deus, Maria foi por ele preservada, como que imunizada contra o pecado original, por uma forma de redenção de carácter único e excepcional, que Escoto e os teólogos franciscanos designam de preservativa.
A redenção de Cristo aplicada a Maria funciona como factor inibitório, tornando-a imune a qualquer pecado. É evidente que a redenção preservativa assim entendida é mais perfeita do que a redenção que liberta do pecado anteriormente contraído. É também esta a forma mais perfeita do ponto de vista do Mediador que a concede e a mais digna da pessoa que a recebe, pois é mais perfeito ser preservado de cair em pecado do que ser libertado depois de nele ter incorrido.
A redenção de Maria, operada por Jesus em vista dos seus méritos, é uma redenção preservativa, operada de modo singular e único por um Mediador perfeitíssimo, porque o Filho de Deus redime sempre de modo perfeito na medida em que a criatura o permite. Escolhendo o modo mais adequado à dignidade de Maria, por sua vez escolhida de antemão para ser Mãe de Cristo, Filho de Deus, esta redenção é também adequada à omnipotência de Deus, preservando sua Mãe de toda a mácula desde o momento da concepção.
A doutrina da santificação ou redenção de Maria posterior à concepção, admitida pela generalidade dos teólogos antes de Duns Escoto não convence, na medida em que repugna à razão supor que a Mãe de Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, possa ter estado, ainda que por alguns instantes apenas, sob o poder de Satanás. A Virgem Maria como Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus, porque lhe anda intimamente associada, partilha de algum modo do primado absoluto de Cristo, que torna os dois simultaneamente queridos e predestinados antes, isto é, independentemente da queda de Adão. É esta também uma das razoes pela qual Duns Escoto considera incompatível com a Sagrada Escritura a atribuição da Encarmnação do Verbo ao pecado de Adão. Não há proporção entre a causa (ocasional = pecado de Adão) e o efeito (= a superabundncia da redenção) na opinião do Doutor Subtil, por isso Cristo encarnaria mesmo que Adão não pecasse, para revelar aos homens o imenso Amor que Deus nos tem e para a Ele regressarmos, em conhecimento e amor, com tudo quanto nos foi dado: quem quer ordenadamente, primeiro quer o fim e imediatamente as coisas mais próximas do fim… Portanto antes de qualquer mérito ou demérito Deus previu que Cristo lhe havia de estar unido em unidade de pessoa.
O rigor lógico da argumentação produzida por Duns Escoto merece a sua reprodução integral: Se a queda de Adão fosse a razão da predestinação de Cristo, seguir-se-ia que a obra prima de Deus – o summum opus Dei – seria totalmente ocasional porque a gloria de todos os demais seres não é tão grande, intencionalmente falando, como a de Cristo; e parece muito pouco racional (irracional) que Deus tivesse omitido uma obra tão importante (tantum opus) por uma boa acção de Adão, se ele por acaso não tivesse pecado.
E Duns Escoto continua: Deus ama-se, em primeiro lugar, a Si mesmo; em segundo lugar, ama-se a Si mesmo, amando os outros seres, e este é um amor casto; em terceiro lugar, quer ser amado por Aquele que pode amá-Lo em grau sumo, referindo-se a um amor que está fora de si mesmo; e em quarto lugar, prevê a união dessa natureza que deve amá-Lo em sumo grau mesmo que ninguém tenha caído. (Reportatio Parisiensis III).

O pensamento de Duns Escoto sobre o problema da Imaculada Conceição impressiona pela extraordinária coerência de todas as verdades reveladas nele contidas, designadamente os mistérios da Encarnação e da Salvação. Escrevendo em 1302 contra a maior parte dos doutores e místicos, num tempo em que a Igreja ainda não tinha definido a sua posição, lembrado certamente da regra de pensamento de Guilherme de Ware, seu mestre em Oxford, que se impusera – quando se trata do poder de Deus e da gloria da Virgem Maria, se tiver que me enganar, que seja por excesso e não por defeito (Com. In Sent., L. III q. 25) – apresenta a sua opinião como uma forte probabilidade, sujeita no entanto, ao veredicto final da Igreja e da Escritura – si autoritati Ecclesiae vel autoritati Scripturae non repugnet, videtur probabile quod excelentius est tribuere Mariae (Ox. III d. 3 q. 1)

Manuel Barbosa da Costa Freitas por cbs
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Da amabilidade como marca cristã
Talvez a intolerância não seja senão uma inaptidão para separar o pensamento da acção. Porque a intolerância, se a analisarmos, consiste em trazer as ideias do opositor, não perante a razão, mas perante os nossos desejos. Apetites egoístas que ruidosamente nos impedem o discernimento.
Ora, separar a nossa inteligência da nossa paixão (como já disse antes) é necessário para nos podermos colocar na visão do outro. As doutrinas, aparentemente as mais opostas, tiveram muitas vezes uma origem comum, que nasceram umas das outras num evoluir permanente, e que frequentemente, ao condenarmos a opinião do outro, estamos também a condenar a nossa.

Aí estará então aquilo que eu designaria por amabilidade. Uma forma de exprimir as opiniões próprias sem agredir os outros; como já referi, implica saber escutar, tentar compreender a perspectiva oposta. Atitude de que nos julgamos dispensados, quando saímos do domínio das futilidades.
Onde a “delicadeza de espírito” é respeitada, creio que as divisões são menos fundas e as lutas menos encarniçadas. E o respeito pela opinião do outro só se adquire mediante um esforço contínuo, domesticando a nosso próprio instinto de intolerar.
Diz o Bergson que a amabilidade junta a elegância à força, e quando nos comunicarmos dessa forma, substituiremos a disputa sem sentido pela discussão inteligente, amortecendo o choque das opiniões.
A amabilidade é no fundo a faculdade de renunciar e de nos colocarmos no lugar do outro.
Claro que também haverá sempre a delicadeza da hipocrisia, mas entre a amabilidade verdadeira e a hipocrisia bajuladora existe a mesma distância que vai do desejo de servir o próximo (a palavra cristã para designar o outro) ao desejo de se servir dele.
Acho que isto é, se atentarmos nisto, a essência do cristianismo, passa no exercício da amabilidade com o próximo; é um poderoso indutor do conhecimento mútuo e aplica entre nós do Amor de Deus.
cbs
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quarta-feira, junho 10, 2009
Providencialismo ou intolerância, que é a sua filha legitima
Se a França tivesse uma Inquisição vigilante e cuidadosa de proibir os maus livros, nunca se teria divulgado a Enciclopédia e morreria nas trevas ou no borrador de seus ímpios autores as blasfémias vomitadas no século XVIII contra a santidade e verdade do Cristianismo.
Frei Fortunato de São Boaventura, O punhal dos corcundas 20, 1823

É cousa mais que provada pela experiencia que a religião é tão omnipotente para felicitar as nações como a impiedade para perdê-las; porém, não pode haver religião sem fé, nem fé com indiferentismo, ou, por outras palavras, com tolerância, que é a sua filha legítima. Quem sofre em boa paz a opinião alheia é certo que não tem grande confiança na própria.
José da Gama Castro, O Novo Príncipe, 1841

cbs



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terça-feira, junho 09, 2009
Anticlericalismo ou de fanático para fanático
Fanáticos, ouvi as coisas que eu vos digo:
Dentro d’essa prisão cruel do dogma antigo
A consciência não pode estar paralisada
(…)
Recoveiros de Deus, o frete que é preciso
Para irdes levar lá acima ao paraíso
A alma de um defunto: ó bonzos, vós podeis
Ir pedir emprestado um exército aos reis
E defender com elle o papa, o Vaticano,
Do cerco que lhe faz o pensamento humano,
Pondo adiante d’um dogma a boca d’um canhão,
Podeis encarcerar dentro da inquisição
Galileu; vós podeis, anões, contra os ciclopes
Roncar latim, zurrar sermões, brandir hyssopes
Que não conseguireis que a Liberdade vista
A batina pingada e rota d’um sacrista,
Que o direito se ordene, e que a Justiça queira
Ir a Roma tomar, contricta, o véo de freira!

Abílio Guerra Junqueiro, Respposta ao Syllabus 1885
cbs


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sábado, junho 06, 2009
Não sei se isto é cristianismo ou alguma forma sofisticada de behaviorismo
Installing Love

Tech Support: Yes, ... how can I help you?

Customer: Well, after much consideration, I've decided to install Love. Can you guide me through the process?

Tech Support: Yes. I can help you. Are you ready to proceed?

Customer: Well, I'm not very technical, but I think I'm ready. What do I do first?

Tech Support: The first step is to open your Heart. Have you located your Heart?

Customer: Yes, but there are several other programs running now. Is it okay to install Love while they are running?

Tech Support: What programs are running ?

Customer: Let's see, I have Past Hurt, Low Self-Esteem, Grudge and Resentment running right now.

Tech Support: No problem, Love will gradually erase Past Hurt from your current operating system. It may remain in your permanent memory but it will no longer disrupt other programs. Love will eventually override Low Self-Esteem with a module of its own called High Self-Esteem. However, you have to completely turn off Grudge and Resentment. Those programs prevent Love from being properly installed. Can you turn those off?

Customer: I don't know how to turn them off. Can you tell me how?

Tech Support: With pleasure. Go to your start menu and invoke Forgiveness. Do this as many times as necessary until Grudge and Resentment have been completely erased.

Customer: Okay, done! Love has started installing itself. Is that normal?

Tech Support: Yes, but remember that you have only the base program. You need to begin connecting to other Hearts in order to get the upgrades.

Customer: Oops! I have an error message already. It says, "Error -Program not run on external components." What should I do?

Tech Support: Don't worry. It means that the Love program is set up to run on Internal Hearts, but has not yet been run on your Heart. In non-technical terms, it simply means you have to Love yourself before you can Love others.

Customer: So, what should I do?

Tech Support: Pull down Self-Acceptance; then click on the following files: Forgive-Self; Realize Your Worth; and Acknowledge your Limitations.

Customer: Okay, done.

Tech Support: Now, copy them to the "My Heart" directory. The system will overwrite any conflicting files and begin patching faulty programming. Also, you need to delete Verbose Self-Criticism from all directories and empty your Recycle Bin to make sure it is completely gone and never comes back.

Customer: Got it. Hey! My heart is filling up with new files. Smile is playing on my monitor and Peace and Contentment are copying themselves all over My Heart. Is this normal?

Tech Support: Sometimes. For others it takes awhile, but eventually everything gets it at the proper time. So Love is installed and running. One more thing before we hang up. Love is Freeware. Be sure to give it and its various modules to everyone you meet. They will in turn share it with others and return some cool modules back to you.

Customer: Thank you, God.


Lido na Internet em vários sites que reenviam de uns para os outros (basta ir ao google). Por isso não indico donde o retirei pois não sei, nem interessa, quem é o seu autor. Aliás, aparentemente, foi Deus.


timshel
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quinta-feira, junho 04, 2009
Campo de Ourique
Quãdo [Deus] escolheo entre as Naçoens do Mundo aos Hebreos na ley escrita, lhes chamou povo: Eritis mihi populus [Deut. 7,6].
Mas quando entre os Christãos escolheo a Nação Portugueza, como mais favorecida & amada, lhe naõ quis dar nome de povo, mas de Imperio, para sogeitar muitos povos, render muitos Reys, conquistar muitos Reynos, senhorear muitos mares & por meio da pregação Evangélica dilatar a Fé Catholica nas mais vastas províncias & terras dos Mouros & Gentios: Volo in te, disse Christo a este Sereníssimo & primeiro Rey de Portugal; Volo in te, et in semine tuo Imperium mihi stabilire, ut deferatur nomen meu in exteras gentes. (Spínola, Índia 1641)

Venha a nós, Senhor, o Vosso Reyno de Portugal…
cbs
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terça-feira, junho 02, 2009
Contra-cultura cristã
"A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe.”
Provérbios 29:15

O Estado diz que dar palmadas nos filhos é crime. A Bíblia diz que o castigo, que pode ser físico, faz parte da boa educação da criança. Vale mais obedecer a Deus ou aos homens?

(Para os que vêm no post uma apologia da violência digo, usando a boa tradição metafórica, que é absurdo querer proibir os fósforos por causa dos incêndios florestais.)

Pedro Leal
posted by @ 12:21 da manhã   20 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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