quarta-feira, outubro 06, 2010
Do “mundo sensível”
É pelo facto da vida se revelar originariamente a si, na sua experiencia patética, a qual nada deve ao mundo, que todo o ser vivente sabe, com um saber absoluto – neste saber da vida que o engendra a si, permitindo-lhe experienciar-se a si mesma, e viver – o que nele há de vida e de si mesmo. Mas o pensamento encontra-se, em relação à vida, na mesma situação que este vivente. Ele não pensa primeiro para viver em seguida. Nunca é ele – partindo, de alguma forma de si mesmo – que se orienta para a vida para a descobrir e a conhecer. O pensamento não conhece a vida pensando-a. Conhecer a vida é obra da vida e só dela. É unicamente porque a vida vem a si, nesta vinda patética a si mesma, sempre precedente, que alguma coisa como a vinda a si mesma de uma visão - assim como tudo o que ela vê – por exemplo, pode acontecer. A inversão da fenomenologia é o reconhecimento deste prévio, que nos interdita referir a vida a um pensamento susceptível de a tornar manifesta, mas pelo contrario, refere o pensamento ao processo da auto doação da Vida absoluta, fora do qual nada há.
A inversão da fenomenologia é o movimento do pensamento que compreende o que vem antes dele: esta auto doação da Vida absoluta, na qual ela mesma advém a si. A inversão da fenomenologia pensa a precedência da Vida sobre o pensamento. O pensamento da prioridade da vida sobre o pensamento, pode muito bem ser obra de um pensamento – do que desenvolvemos agora – no entanto, ele só é possível porque, na ordem da realidade e, por consequência, da própria reflexão filosófica, a vida já antes, se revelou a si.
É pois, a vida, no seu cumprimento fenomenológico efectivo, que permite ao pensamento:
- Ser um pensamento, uma cogitatio.
- Ser, eventualmente, este pensamento particular, embora essencial, que procedendo à inversão, se mostra capaz de pensar a prioridade da vida sobre o pensamento, como sua condição interior. É pelo facto do pensamento dado a si mesmo, trazer a vida em si como sua própria substancia, que ele pode representar-se nesta vida, e produzir dela a imagem. Todo o método fenomenológico, que se esforce por pensar a vida, repousa nesta doação prévia, que não é obra nem da fenomenologia, nem do pensamento. É sempre a vida que torna possível a sua auto-objectivação no pensamento, como condição interior deste pensamento.
É esta prioridade radical da vida que o pensamento esquece, constantemente, ao tomar-se pelo princípio de tudo o que podemos conhecer, de tudo o que existe para nós. Este esquecimento revela-se particularmente catastrófico quando se trata de pensar o corpo, ou o que com ele se liga numa relação invencível, a carne – a nossa carne. Só a fenomenologia da vida, cuja possibilidade acabamos de evocar, permitirá abordar esta questão do corpo e da carne, à luz de pressupostos fenomenológicos novos, susceptíveis de esclarecer um domínio onde, desde sempre, reina a mais extrema confusão.
Michel Henri por cbs

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