domingo, julho 25, 2010 |
Os racionais |
Passando em revista a história luminosa da ciência humana, vejo um salto qualitativo quando Descartes foi buscar o método à Geometria – julgo que foi aí, que a dúvida começou a afastar a razão da fé – e daria depois o mérito a Galileu. Foi ele que iluminou as mentes e abalou os dogmas, ao introduzir o rigor da matemática na observação da Natureza, ao abrir caminho para o primeiro marco teórico da ciência moderna: a mecânica newtoniana. Mas, no segundo quartel do século passado, tornou-se evidente que alguns fenómenos não podiam ser explicados pelas leis de Newton. Situavam-se no domínio dos átomos ou no domínio das galáxias. Para tais dimensões, infinitamente pequenas ou infinitamente grandes, onde os “corpos” se deslocam à velocidade da luz, Einstein inventou a mecânica relativista, mudando drasticamente as antigas concepções fundamentais da matéria, do espaço e do tempo. Na prática, a descrição clássica não ficou inválida, mas ficou restrita ao sistema físico onde nos movemos. De tal modo, que ficou difícil a muitos, tanto a ingénuos como a sábios racionalistas, integrar a nova física na mundivisão arrumada que tinham por adquirida.
Depois disso, na dimensão subatómica, alguns fenómenos mostraram há grandezas físicas que estranhamente, não assumem quaisquer valores arbitrários, como é regra na mecânica clássica. Assumiam apenas alguns valores restritos (quantuns) e para as descrever foi necessário inventar uma nova teoria: a mecânica quântica. Como já acontecera antes, a mecânica quântica revolucionou a nossa concepção do universo físico. E uma das mudanças foi a quebra do determinismo físico. Porque se na mecânica clássica é possível, conhecidos os dados, prever o movimento e a situação do objecto em instantes posteriores, na mecânica quântica, a possibilidade de prever o futuro de um sistema cede lugar à incerteza (princípio de Heisenberg) não permitindo conhecer, em simultâneo, a posição e a velocidade de uma partícula. Novamente foi difícil a muitos racionalistas – entre eles, o génio Einstein – absorver a mudança, dada a alteração implicada nas concepções já estabilizadas do mundo físico.
O que se vai vendo, é a aquisição de sucessivas mundivisões científicas, que em função de novos dados observados, entram em crise e desembocam em novas hipóteses explicativas. Essas hipóteses ou Teorias não mudam tudo, regra geral acomodam e integram grande parte do conhecimento anterior. Mas mudam a essência da visão do mundo, e cada novo patamar revoluciona a estrutura conceptual anterior. Contudo permanece a crença de o Universo tem uma estrutura racional, e de que após a investigação racional, a verdade será finalmente desvendada. Mesmo que a visão da Ciência hoje apareça com lacunas – logo, essencialmente errada – pensamos que com mais informação, com mais dedução e indução, chegaremos ao real escondido por detrás das aparências, que um filósofo chamou numenal. Eu diria que é uma visão de fé, uma visão muito cristã… Vejo nitidamente (convictamente) uma Luz na distância. Os racionais dizem-me que é uma ilusão, uma miragem da mente onde nada se distingue de concreto. Concretos são os passos que dão. Centrados nos próprios passos, olham os pés, não levantam o olhar. Mas eu que sou coxo no andar, sinto que vejo algo ao longe, onde Alguém me disse para olhar. E por vezes, parece-me que os racionais, como que perdidos andam para trás.
cbs Etiquetas: razão e fé |
posted by @ 12:07 da manhã |
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