domingo, janeiro 31, 2010
O caminho da perfeição. Ouvido hoje (mais uma vez) na missa dominical
Eu sei que todos nós já lemos e ouvimos a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios muitas vezes. Que este post é apenas mais uma repetição. O meu problema é que acredito nas virtudes da repetição. Este texto devia ser murmurado por cada um de nós a toda a hora.


Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada sou.

O amor é paciente, o amor é benigno; não é invejoso, não é altivo nem orgulhoso; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas o amor não acaba nunca.

De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá.

Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas o maior de todos é o amor.


timshel
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segunda-feira, janeiro 25, 2010
Nossa Senhora das Coisas Impossíveis
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...

Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real.

Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.

Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!

Momento de paganismo cristão, ao qual me licencio; e que mo perdoem os reformadores, que deixam romanos ao abandono nesta Cíbercatedral.
cbs (auxiliado por um Álvaro etílizado)

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domingo, janeiro 24, 2010
Estar no meio não é fácil (António Marujo, revista Ecclesia nº1145)

Mas para Aristóteles, aquilo que diferenciava a virtude do vício era o "justo meio" . Na perspectiva da excelência (areté) a virtude constitui um limite, mas na sua verdadeira essência, constitui um meio, o "justo". O justo meio opõe-se ao excesso e opõe-se ao defeito, por consequencia, fica mal visto pelos dois lados.
cbs

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quarta-feira, janeiro 13, 2010
Agulha
Na igreja ou vimos sempre de fora, ou dentro não estamos.

vítor mácula
posted by @ 2:26 da tarde   28 comments
domingo, janeiro 10, 2010
O documentário “O Grande Silêncio”, sobre a comunidade de monges cartuxos nos Alpes, é extraordinário.
Só se pode ficar maravilhado com a diversidade de opções com que Deus presenteia o Homem na sua vivência espiritual.

Joao Leal
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sábado, janeiro 09, 2010
O problema do fundamentalismo
Li há uns anos no blog "a bordo" uma excelente definição dos problemas do fundamentalismo.

"O problema do fundamentalismo, cristão ou islâmico, socialista ou capitalista, é outro; não é o de advogarem doutrinas e referentes; o problema é de não deixarem na teoria e na prática, espaço para os aceitarmos. O problema é que parecem imunes ao facto de Deus nos ter conferido liberdade."

Várias vezes os Papas e a Igreja Católica se têm pronunciado contra o fundamentalismo mas devo admitir nunca vi ninguém colocar tão bem o problema do fundamentalismo como o Fernando nesse post que referi: o problema do fundamentalismo é que parece imune ao facto de Deus nos ter conferido liberdade.

O fundamentalista é, contudo, aparentemente, “justo”. A sua rejeição da liberdade tanto se aplica aos outros, como, aparentemente, a si próprio. Explicarei depois porque digo “aparentemente”.

Esta rejeição da liberdade assume duas formas quando em comunicação com alguém com quem se sinta em divergência. Na primeira forma, repete obcessivamente uma cassette, recusando um verdadeiro diálogo assente na argumentação e contra-argumentação. Na segunda forma, que é mais normal, o fundamentalista, quando confrontado com argumentos que coloquem em causa as idiossincrasias pessoais que julga serem a “Verdade” (quando na realidade são apenas a sua verdade) afasta-se do diálogo com o outro diferente e fecha-se na sua seita recusando qualquer tipo de comunicação.

Quando anteriormente disse que o fundamentalista apenas aparentemente rejeita a liberdade para si próprio, é porque na realidade, penso que ele quer apenas, em nome da "defesa da Fé", preservar tão somente a possibilidade de se manter num quadro que lhe permita um certo conforto psicológico. O fundamentalista religioso quer a Fé sem as agruras de chegar a ela pela Razão. No fundo tem receio da Razão. Mas, como referiu um certo Papa, “A Fé e a Razão constituem como que duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” O mesmo Papa que disse “Não tenhais medo!”

A expansão actual do fundamentalismo religioso (e não religioso) é uma das manifestações actuais de uma componente fundamental da natureza humana: a irracionalidade. Contudo, se outra razões não houvesse para não ter medo, bastaria recordar os dois mil anos de história que a Igreja Católica tem atrás de si no combate à irracionalidade (muitas vezes feito de aparentes alianças com ela – em qualquer guerra de longo prazo, em certos momentos, o inimigo não se pode combater de frente).

Gostaria de concluir sublinhando aquela que, do meu ponto de vista, é a mais grave consequência do fundamentalismo: a violação, por uma razão demasiado irrisória, do mandamento do amor. Para o fundamentalista, o outro é alguém de quem nos afastamos, apenas e tão só, porque pensa de um modo diferente.

timshel
posted by @ 3:32 da tarde   12 comments
São muitas as semanas que se passam sem que fale com cristãos sobre a fé.
Vejo-me perante Deus algumas vezes durante cada dia e a oração tornou-se comum.
Às vezes tenho a noção de incorrer no erro de usar a superstição em vez da religião.
A minha experiência tem sido a seguinte: não tendo igreja a que chame minha, considero que Deus é fundamental para a ideia que tenho de mim. Cada vez mais.
Não sou católico nem protestante. E poderá parecer que digo isto com um qualquer orgulho e ares de superioridade. Acredite-se ou não, digo-o de um modo neutro: nem me entristece, nem me alegra. É onde Deus me levou a estar.
Espantam-me os que querem a normalização da vida espiritual cristã. Não os percebo.
O Espírito do Senhor é como o vento, sopra onde e como quer, e pode muito bem ser, se Ele quiser, e eu tiver a maturidade e obediência para O ouvir, que daqui a uns tempos possa estar no meio de um grupo cristão perfeitamente empenhado. Seja como for, desde que perceba nisso a Sua vontade.
Gostava de falar das experiências que tenho tido com Deus, mas não sei como. São coisas demasiado simples para ser levadas a sério se ditas.
Desejo-vos um bom ano. Ao contrário do meu irmão, não sinto que esteja ainda na altura de sair.
Vou tentar usar mais vezes o convite que me deram.

Joao Leal
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sexta-feira, janeiro 08, 2010
Dogmas de Fé
Diz-nos hoje no Púbico, o Miguel Esteves Cardoso: A ciência e a religião são diferentes em tudo, excepto na veneração (…) Lemos e vemos cientistas dizer, na voz baixa de quem está na missa, que tudo na natureza é complexo e maravilhoso.
Complexo significa aquilo que o cérebro humano, até agora, ainda não conseguiu compreender completamente. Mais valeria dizer inexplicável por nós. Têm também os cientistas a pretensão que algum dia se há-de perceber tudo, e nessa convicção, nota-se o dogma da fé.


Tá bem e tá mal.
Tá bem porque na ciência existe um dogma de fé.
Tá mal porque essa fé não consiste, na pretensão de que “um dia se há-de perceber tudo” (isso era a fé do positivismo, não a da ciência actual), mas sim na crença de que o Universo é prenhe de racionalidade, e por isso, compreensível. É diferente.
Tá mal ainda, porque complexo não significa inexplicável, significa sim que não é simples, mas apesar disso é compreensível.
Bom.
Mas isto suscitou-me a ideia nítida de que a incompreensão, quando humilde – isto é, consciente – provoca a fé. Diria até que a incompreensão última da existência, é um dado imediato da transcendência. E assim, uma certeza que pode sustentar o primeiro passo para procurar Deus.
De onde, não é legítimo (intelectualmente, claro) ao ateu negar Deus. A única posição racional (não religiosa) legítima é a agnóstica, dizer: não sei... porque ando distraído, acrescentaria.
Felizmente para além da razão, temos a faculdade de intuir.
Felizmente surgiram profetas.
Felizmente também, Ele revelou-Se.
cbs

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Íman
Que o nosso rumo seja o fulgor do vento que arrebata as velas para dentro de todas as Ítacas.

vítor mácula
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quinta-feira, janeiro 07, 2010
Um moratorium.
Resolvi, por precaução, fazer um pequeno moratorium para melhor estudar a história da Igreja e a reler certas passagens bíblicas cruciais, suspendendo, por ora, qualquer decisão. Faço-o a pedido de irmãos de fé preocupados, a quem devo uma pensada reconsideração em câmbio pela preocupação insistente e sincera que me mostraram.

Por vezes, vejo-me a desejar ter uma fé mais kierkegaardiana e a simplesmente não racionalizá-la (ou pelo menos não tanto). Porém, foi a pensar que me converti; e nada me faz crer quem quem ama a Deus 'de toda a alma' e 'de todo o coração' deva abster-se de o fazer 'de todo o entendimento' (Mt 22:37).

Nuno Fonseca
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quarta-feira, janeiro 06, 2010
Termina hoje a minha participação no Trento na Língua. A decisão já tem alguns meses, e é agora o momento de a cumprir. Como o tempo não estica, desta vez são os blogues que cedem a prioridade. Nestes três anos de Trento houve altos e baixos, algumas tempestades e algumas calmarias, às vezes convicções, outras vezes dogmas, gritaria e silêncio. De tudo isto levo principalmente o valor do diálogo: quando é honesto vale sempre a pena. Muitas vezes, quando as diferenças eram marcantes, foi quase um diálogo de surdos. Mas, vendo bem, e falando por mim, houve sempre qualquer coisa que ficou. Um obrigado, por isso, a todos os companheiros de blog, extensível aos comentadores e, já agora, aos leitores. O meu desejo para todos é que possam encontrar-se com Jesus Cristo, o Salvador. Se ainda não aconteceu, estão a perder o mais importante.

Um abraço.

Pedro Leal
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segunda-feira, janeiro 04, 2010
O caminho da evolução
Por mais que usasse a metáfora da árvore da vida, o próprio Darwin não tinha assim tanto a dizer acerca do caminho concreto da evolução. Esse tema praticamente não é discutido na Origem. As ideias que ele tinha sobre o assunto – particularmente, a de filogenia – estavam aí, mais implícitas do que expressas. Mas embora Darwin dissesse pouco acerca do assunto, pelos meados do século XIX já andavam outros a descortinar e a confirmar os traços gerais da história da Terra. O registo fóssil estava a ser descoberto, e percebia-se que tinha um padrão interpretável, desde as formas mais antigas, como as trilobites, até aos peixes vertebrados, aos anfíbios, aos répteis, aos pássaros e aos mamíferos.

Hoje cremos – repito, cremos – que a grande explosão da Vida, no Câmbrico, data de há cerca de 550 milhões de anos. Isto é uma mera fracção da história da Terra, que se estende a uns 4,5 mil milhões de anos, ou até da história da Vida, que terá cerca de 3,7 mil milhões de anos. Encontramos aqui um primeiro ponto de potencial conflito entre darwinistas e cristãos. O Génesis já inclui a sua própria história da Criação, de como Deus fez o Céu e a Terra, com os seus habitantes, no espaço de seis dias – na verdade são duas histórias divergindo nos pormenores; numa, Adão e Eva surgem juntos; noutra Eva é feita a partir de Adão. Não são dadas datas em absoluto, mas com suficiente engenho, podemos trabalhar retrospectivamente, usando as genealogias do Antigo Testamento, e verificar que a Criação ocorreu há cerca de seis mil anos, quatro mil antes de Cristo.

Mas a revelação filogenética dos fósseis, não era o único guia da história da Vida. Outras técnicas implicavam a comparação entre diferentes aspectos anatómicos, e o recurso a analogias e dissemelhanças embriológicas. Apesar de, superficialmente os organismos parecerem muito diferentes, existiam homologias subjacentes nas formas embrionárias, que podiam revelar conexões, sem serem necessárias provas fósseis. De facto, estes conceitos nem eram sequer evolucionistas. A filosofia idealista alemã (Naturphilosophie), já no início do século XIX buscava ligações harmónicas na Natureza, vendo essas semelhanças anatómicas como provas da acção do Espírito do Universal.
cbs

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Dawkins, o dogmático 2

I should confess, although quite gratuitously, that I derive a certain malicious delight from Dawkins’ consternation at the persistence of young-earth fundamentalism in even the most educated of societies. At one point in The Greatest Show on Earth, he records—at somewhat tedious length—the transcript of an interview he gave to a not very well-informed antievolutionist by the name of Wendy Wright.
Again and again, Wright asserts that there is no fossil evidence of intermediate forms between earlier primates and human beings; and, again and again, Dawkins attempts to disabuse her of this vacuous “mantra” (as he calls it) by pointing out that there certainly is such evidence and by directing her to it, but all to no avail. His answers fly past her without any discernible effect, and she simply repeats her question, over and over. The reason this amuses me, to be honest, is that, whenever he himself turns to philosophical issues, Richard Dawkins is Wendy Wright—or, at least, her temperamental twin.
(…)
Anecdotally, I know for a fact that numerous attempts have been made, not to convince him that there is a God, but merely to apprise him of the elementary errors that throng his arguments. Like poor Wendy, he simply does not grasp what he is being told, so engaged is he in repeating over and over the little “mantras” he has devised for himself.
Which only brings me back to where I began. For the most part, The Greatest Show on Earth is an admirable piece of work, one that provides a necessary service as well as—and perhaps better than—any rival text. It is precisely the sort of thing Dawkins does best, and so the sort of thing that is—when he does it—a pleasure to read.
David B. Hart in First Things
cbs

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domingo, janeiro 03, 2010
Feliz Ano Novo e que seja Novo também em certas estruturas da Igreja
"Os votos de Feliz Ano Novo e o correspondente incutir de esperança não resistem a uma denúncia como a feita na RTP pelo padre Jardim Moreira, presidente da rede europeia antipobreza. Segundo as suas palavras, o cónego Manuel Martins, da Sé do Funchal, na Madeira, famoso por falar nas homílias ‘na defesa das crianças e dos pobres’, foi pressionado pelos poderes vigentes a mudar de paróquia. Agora, está na sua terra natal, o Machico. Entrementes, terá sido investigado por ‘suspeita de comunista’.

O porta-voz da diocese do Funchal negou a denúncia e disse que a mudança se fez a pedido do próprio. Nem vale a pena discutir. Há tiranetes por todo o lado do País, da Madeira a Viana do Castelo. E o pior é que esses poderes se entranharam de forma que já nem damos conta. Parecem o mesmo que a Coca-Cola para Fernando Pessoa: "Primeiro estranha-se e depois entranha-se." Quantos anos têm ainda de vir para conseguirmos ser também livres por dentro?"

(João Vaz no Correio da Manhã)

timshel
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Eleição

Ao terceiro dia de 2010 já tenho feita uma das leituras do ano. Do livrinho com o sermão de Spurgeon sobre a doutrina da Eleição deixo aqui um pequeno trecho:
"Não obstante, há alguns que objectam: - É muito difícil aceitar que Deus tenha escolhido alguns e tenha deixado outros!
Ora, é por esta altura da minha exposição que desejo fazer-lhes uma indagação: Há alguém que deseje ser santo, que deseje ser regenerado, que deseje abandonar o pecado e andar em santidade? Alguém poderá responder-me: “Sim, eu quero!” Pois muito bem, nesse caso, Deus escolheu a esse alguém. Mas eis que outra pessoa talvez replique: “Não, eu não quero ser santo, e nem quero desistir das minhas paixões e dos meus vícios!” Neste último caso, retruco: Porque, então, ficas aí queixando-te do facto de Deus não te ter escolhido? Pois se tivesses sido escolhido, não apreciarias, de acordo com a tua própria confissão, o facto de teres sido eleito. Se Deus te tivesse escolhido para a santidade, terias afirmado que não te importarias nem um pouco com isso.
Porventura, já reconheceste que preferes viver no alcoolismo, e não na sobriedade, que preferes viver na desonestidade, e não na honestidade? Amas mais os prazeres mundanos do que a piedade cristã. Assim sendo, por que razão ficas murmurando perante o facto de Deus não te ter escolhido para a piedade? Se porventura amas a piedade, então Deus escolheu-te para viveres piedosamente. Caso contrário, que direito tens tu de dizer que Deus deveria ter-te dado aquilo que não desejas?"

Pedro Leal
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sábado, janeiro 02, 2010
Da minha conversão ao Catolicismo.
'It's impossible to be just to the Catholic Church. The moment men cease to pull against it, the feel a tug towards it. The moment they cease to shout it down, they listen to it with pleasure. The moment they try to be fair to it, they begin to be fond of it.' - GK Chesterton, The Catholic Church and Conversion

'The Catholic Church is the only thing that saves a man from being a child of his age.' - idem
Decidi 'sair do armário' no Trento na Língua. Depois de 3-4 anos a cruzar por Genebra, parece-me adequado que proclame a vitória de Roma sobre a minha alma. Sei que há quem fique escandalizado com esta conclusão, quem duvide se não é odisseica a trajectória da minha peregrinação de fé. Porém, Chesterton, que contribuiu no ano passado para a minha conversão, defendia-se perante os seus críticos alegando que, na aventura que é a Ortodoxia, se vê como um velejador inglês que, num erro de cálculo, parte do Tamisa, dá toda uma volta ao mundo, e chega ao estuário londrino a pensar que descobriu as índias orientais. Para este, chegar à plenitude e pureza do Cristianismo durou toda a sua vida adulta. Fico feliz por, aos 25 anos, me ver chegado a Casa. Fico também aliviado que, ao contrário das milhenas de pastores e presidentes de seminário e teólogos da fina flor do Evangelicalismo (em especial, Calvinistas como Scott Hahn, Peter Kreeft, Francis Beckwith, etc), não me vi vestido com a toga de Westminster quando me lancei ao meu nado rio Tibre adentro.

A questão, pois, fica: como foi possível? Sinto que devo explicações. Primeiro que tudo, não mudei de fé. Apenas progredi no Caminho que Cristo palmeou para os Seus; um que não se fica pela epifania de Martinho Lutero no séc XVI. Não; ele inclui os 1500 anos anteriores, e inclui os S. Tomás de Aquinos, os Sto Agostinhos, os Sto Ireneus, os S. Clementes, Sto. Atanásios, os Sto Inácios e S. Policarpos que criam na Eucaristia, na Sucessão Apostólica, na Primazia Petrina, no Magistério romano, no Papado, no Dogma, etc. Homens que amavam a Escritura e tinham-na como infalível e inspirada: a própria Palavra de Deus. Estudei insistentemente estes velhos santos. Uns, foram discípulos directos dos Apóstolos, outros discípulos dos discípulos; mas todos - herdeiros da sua Tradição (II Tes 3:5-6). Tradição que nunca incluiu a Sola Scriptura: essa coisa tão antibíblica. O devoto papista, Agostinho de Hiponas, presidiu a esse Concílio Ecuménico em Cartago, no séc IV, e o Novo Testamento foi anexado ao Velho. O da Septuaginta; o dos deuteroncanónicos. Agostinho cria na Escritura; e a Escritura cria na autoridade da Igreja sobre a Verdade (I Ti 3:15-16); a Escritura cria, segundo a mesma, em Concílios humanos e a sua infalibilidade, como relata no Livro de Actos, sobre a assembleia reunida em Jerusalém: toma-os como infalíveis e autoritários sobre as consciências de todos os cristãos em todo o lado.

E a Sola Scriptura? Ao fim de muita martelada, II Ti 3:16-17, parece falar da suficiência e adequação da Escritura para todo o ministério de Timóteo: não duma autoridade exclusiva da Escritura ou dum monopólio epistémico da Palavra preservada. Além do mais, o rapaz, segundo S. Paulo, conhecia aquelas Escrituras desde miúdo. Ora, pois, nem quando S. Paulo lhe escrevia isto havia epístolas paulinas, nem petrinas, nem universais; nem o Apocalipse ou o Evangelho e S. João - quanto mais na sua meninice. A Escritura perfeita e suficiente era, afinal, um Velho Testamento. A julgar pelas citações ad verbatim e exemplos históricos do Apóstolo (Gál 5) era pior: um desses com os textos deuterocanónicos que os Protestantes retiraram do Cânone - a Septuaginta.

A dada altura, pois, não fui mais capaz da ginástica intelectual de crer que sacerdotes romanistas perservaram, copiaram, e escolheram perfeitamente o Cânone da minha Escritura Protestante - a mesma da qual, em pleno séc XXI - fazia eu uso para mostrar as suas idolatrias. Se todos criam no que criam e como eu próprio verifiquei que criam, o que me faria crer que tais papistas, marianos, eucarísticos não corromperam o Texto? Ou omitiram mais livros apostólicos? Ou acrescentaram até apócrifos, como a Epístola a S. Tiago (que nega a Sola Fide no seu segundo capítulo), essa que Lutero quis, por palavras suas, 'atirar para a fornalha'? Além do mais, este silêncio de 15 séculos em que as 5 Solas da Reforma nem em princípio existiram parecia contrariar, se é que a Ortodoxia é mesmo a Protestante, a promessa que Cristo fez a S. Pedro quando fundou nele a Sua Igreja: ou seja, afinal os portões do Hades sempre prevaleceram sobre ela. Até à Dieta de Worms, pelo menos. E mesmo após esta, concedamos que, para o Evangélico do séc XXI, Lutero ainda sofria de resquícios hereges, ao assumir que Maria merecia toda a reverência e veneração, e ao não negar o Purgatório. O próprio Calvino não via motivos para contrariar a crença na virgindade eterna da Virgem e acreditava na Eucaristia e na Presença Real de Cristo nela. Mais ainda, ao olhar para as 33000 igrejas evangélicas e suas várias denominações, choraria com o triunfo dos Anabaptistas radicais - gente que separou o Estado da Igreja, que nega a regeneração baptismal e recusa-se a aspergir os 'filhos da Aliança', os bebés da promessa abraâmica. Mas sobre a anarquia eclesiástica Protestante falarei mais tarde.

Importante é que ainda como bom escrituralista, e sem dar por isso, comecei a crer no que não sabia eu ser Dogma. João 6, de repente, parecia a estar ensinar a Eucaristia (afinal, se Jesus falava apenas simbolicamente do Pão e do Vinho, porque confirmou Ele aos canafurnanitas que o acusavam de promover canibalismo que era o Seu Corpo 'verdadeiramente' Pão, e o Seu Sangue 'verdadeiramente' Vinho?); Mateus 16, subitamente, parecia conferir uma primazia apostólica sobre S. Pedro; I Coríntios 3, num momento, ensinava claramente o Purgatório; os capítulos iniciais de Lucas pareciam agora exaltar a Virgem para lá do mero 'respeito' Protestante, etc. Porém, como haveria eu evangelizar os meus irmãos Evangélicos sobre estas e outras realidades? No fim, era apenas a 'minha interpretação'. Que importa a suposta clareza e autoridade da Escritura, se a maioria dos Evangélicos consegue perfeitamente ler sobre 'arrebatamentos secretos' e helicópteros no Livro de Revelação, mas não vê a Transubstanciação em João 6, e fica impune se confrontado biblicamente?; se não vê qualquer Purgatório em I Coríntios 3, mas discerne o ambientalismo de Al Gore em Génesis 1?; se não compreende a veneração mariana presente nos capítulos iniciais de Lucas, mas entende a importância da apoiar o Estado de Israel até que o Templo seja restaurado e Jesus possa voltar, lendo [as notas de rodapé] do livro apocalíptico joanino? - Onde está, pois, a Sola Scriptura? Onde está a autoridade bíblica exclusiva? Nasceu e morreu na Dieta de Worms:

'A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e a simples lógica, não aceito a autoridade do Papa e dos Concílios, pois estes se contradisseram, e eu fico, pois, sem escolha. A minha consciência está sob o cativeiro da Palavra de Deus. Não poderei nem irei eu retractar-me, pois ir contra a consciência não é correcto nem seguro. Deus me ajude. Ámen.'

Porém, ao estabelecer a Igreja reformada, tendo já instituído o produto da sua consciência, a Concórdia, Lutero, argui assim:

'A minha doutrina não pode ser julgada por ninguém, nem pelos anjos. Quem não crer na minha doutrina, não poderá ser salvo.' [sic]

Quando se relativiza tanto a Palavra de Deus e se dilui a autoridade pastoral ao ponto da opinião; quando se vota a eclesiologia à anarquia, retirando à Igreja a legitimidade para 'ligar' e 'desligar'; quando se auto-ordenam bispos e presbíteros sem que sejam estes enviados por um sucessor apostólico; que Sola Scriptura resta, se nisto e em tanto mais a Escritura não é obedecida, nem fonte autoritativa existe para que se estabeleça e institutua objectivamente o que ela ensina, para todos os cristãos em todo o lado? Mas mais sobre o relativismo doutrinal Protestante mais tarde.

Porém, foi assim, pois, que caí do meu cavalo de Saulo. Não pude mais pontapear os aguilhões. Há anos, li sobre Henri Nouwen, e como este adormecia em oração, pedindo a Deus que Ele lhe desse uma razão para permanecer Protestante. Mas Deus deu-lhe, em vez, milhenas razões para se tornar Católico. Assim foi comigo. Sinto, hoje, intimidade com os cristãos de todos os séculos e de todo o mundo, do dia de hoje até aos Apóstolos e os seus discípulos, que rodeavam a Eucaristia, e em redor dela viviam, cristocentricamente e cruciformemente. Sinto, como Chesterton, que não sou já apenas um filho dos meus pais e um filho da minha era, mas um filho de Deus e da Sua Igreja, fundada no ano 33 em Jerusalém. E isto salva um pós-moderno, acreditem.

Pro Christo et Humanitate,
Nuno Fonseca

posted by @ 4:58 da tarde   30 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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