Diz-nos hoje no Púbico, o Miguel Esteves Cardoso: A ciência e a religião são diferentes em tudo, excepto na veneração (…) Lemos e vemos cientistas dizer, na voz baixa de quem está na missa, que tudo na natureza é complexo e maravilhoso. Complexo significa aquilo que o cérebro humano, até agora, ainda não conseguiu compreender completamente. Mais valeria dizer inexplicável por nós. Têm também os cientistas a pretensão que algum dia se há-de perceber tudo, e nessa convicção, nota-se o dogma da fé.
Tá bem e tá mal. Tá bem porque na ciência existe um dogma de fé. Tá mal porque essa fé não consiste, na pretensão de que “um dia se há-de perceber tudo” (isso era a fé do positivismo, não a da ciência actual), mas sim na crença de que o Universo é prenhe de racionalidade, e por isso, compreensível. É diferente. Tá mal ainda, porque complexo não significa inexplicável, significa sim que não é simples, mas apesar disso é compreensível. Bom. Mas isto suscitou-me a ideia nítida de que a incompreensão, quando humilde – isto é, consciente – provoca a fé. Diria até que a incompreensão última da existência, é um dado imediato da transcendência. E assim, uma certeza que pode sustentar o primeiro passo para procurar Deus. De onde, não é legítimo (intelectualmente, claro) ao ateu negar Deus. A única posição racional (não religiosa) legítima é a agnóstica, dizer: não sei... porque ando distraído, acrescentaria. Felizmente para além da razão, temos a faculdade de intuir. Felizmente surgiram profetas. Felizmente também, Ele revelou-Se. cbsEtiquetas: Fé |