terça-feira, fevereiro 26, 2008
A Una e Santa

imagem reduzida a pedido de várias familias que se ofuscadaram com a romana lux

Obviamente esbarramos também neste ponto. Para vocês unidade é unicidade. Unidade é sujeição a Roma. Unidade é submissão incondicional à autoridade papal. É necessário dizer mais? (Tiago Oliveira)

Talvez sim, caro Tiago :)
Talvez… mas na minha modesta opinião, parece-me que, enfim, encontrámos um bom pomo de discórdia.
Creio que, da forma como vocês veem a Igreja católica, esta confunde-se com um grande corpo administrativo cuja função se esgota em recordar a alguns humanos que Deus existe.
Mas ao focarem apenas o vosso olhar no aparelho, parece-me que vos escapa o essencial: a vivencia do catolicismo.
Sendo papista, o Papa, tal como o vejo, não é o senhor todo poderoso de um domínio humano. A Igreja é o corpo de Cristo – S. Paulo chama-lhe em “corpo” cuja cabeça é Cristo.
O Papa não se serve, ele é um servidor de Cristo, e também por isso, o Papa não submete ninguém, é aceite por todos, por todos os católicos, independentemente de diferenças e correntes de opinião; porque as há, como vocês sabem, até pelo exemplo aqui no Trento.
Porquê então essa aceitação, que tu Tiago, chamas de unicidade?
Porque existe, para além de tudo, uma solidariedade sobrenatural ligando os membros humanos da Igreja Católica, solidariedade que nós apelidamos de comunhão.
Não se trata nem de imposição, nem de submissão incondicional, trata-se de comunhão voluntária inspirada pela Graça de Deus… penso eu, na minha pobreza teológica, lol
Limitar-me-ei no entanto, a propor mais uma leitura do velho filósofo católico:

A personalidade pressupõe a unidade; não há personalidade sem completa unidade de ente e de vida.
É por causa da sua completa unidade que a Igreja ou o Corpo místico tem a sua personalidade; por outras palavras, é por causa da completa unidade em que os seus membros estão reunidos, pela apostólica, pela do Baptismo, pela dos outros sacramentos e pela da obediência a Pedro.
Assim, na posse da sua completa unidade e da sua personalidade, a Igreja é, ao mesmo tempo misteriosa e visível. É visivel ou manifestada exteriormente pelos três caracteres que acabo de mencionar:
- profissão da mesma Fé
- regeneração pelo mesmo Baptismo
- reconhecimento da autoridade do Soberano Pontífice

Jacques Maritain, O camponês do Garona, 1966 (p.214)
cbs

posted by @ 4:07 da tarde  
7 Comments:
  • At 27 de fevereiro de 2008 às 04:37, Blogger Nuno Fonseca said…

    'A personalidade pressupõe a unidade; não há personalidade sem completa unidade de ente e de vida'.

    Saudações, CBS.

    Unidade não é uniformidade. Eis o mal do catolicismo. É que o Deus cuja Igreja Lhe é feita à semelhança é triuno -- uno e diverso. A título de exemplo, tens o primeiro nome dado a Javé no Tanaque: Elohim -- singular na semântica, plural na gramática.

    Assim é o Seu Corpo. Sejamos brancos e negros, pobres e abastados, doutos e singelos, criativos ou categóricos; profetizemos ou preguemos, cantemos ou oremos -- todos somos únicos e iguais perante o nosso unificador: Jesus Cristo.

    Apenas nEle jaz a união dos diversos.

    Paz.

     
  • At 27 de fevereiro de 2008 às 22:38, Blogger cbs said…

    Saudações Nuno
    Sejas bem regressado
    "Unidade não é uniformidade"- certo
    "Eis o mal do catolicismo" - errado

    Nuno, a ICAR é tudo menos uniforme; existem correntes e movimentos, sensibilidades e culturas católicas diversas, por tudo quanto é lado.
    Por exemplo, o catolicismo no Japão, bem diferente do ocidental.

    Refiro de novo que a comunhão entre os católicos não implica uniformidade mecânica, longe disso.

    E vêm-se-me ao espírito uma contradição que, paradoxalmente, vocês meus irmãos usam respeito dos católicos:
    - por um lado dizem que temos uma obediencia pavloviana ao Papa.
    - por outro criticam-nos dizendo que somos uma balda e que cada um faz rigorosamente o que lhe apetece.

    Das duas... uma

     
  • At 28 de fevereiro de 2008 às 03:24, Blogger Igreja Emergente said…

    Vai ser um prazer poder compartilhar aquilo que penso contigo caro Nuno.
    Me envie seu e-mail!(neldna@hotmail.com).
    Abraco

    Nelson Costa

     
  • At 28 de fevereiro de 2008 às 04:22, Blogger Igreja Emergente said…

    Basicamente, se o mundo pudesse ser reconciliado pelas sadias recomendações das Escrituras e pelas respostas despertadas por ela na bondade humana, os problemas do mundo teriam sido resolvidos dez minutos depois que Moisés desceu a montanha com os mandamentos(por que divisao e reforma?). Todos teriam lido os mandamentos e dito: “Ah, é claro”, e o problema estaria terminado. O problema é que os mandamentos são muito legais, mas ninguém nunca prestou muita atenção neles.
    Partindo desse ponto, pressumimos que qualquer texto sem contexto(sem Jesus) vira pretexto(sem levar em conta o que e simbolico, literal, humano ou cultural nas Escrituras...parafraseando os paradoxos e os irrelevantes subsidios arqueologicos, logo Jesus seria um Big problema).
    Por outro lado, se colocarmos a importancia da Cruz e da Graca(conforme a Igreja primitiva anunciava e fazia....sem direcao Biblica) acima daquilo que generalizamos "Palavra escrita de Deus", o poder do Nazareno seria algo que nao ficaria limitado aos muros eclesiaticos(Nao comia Ele com os imundos???),ou a textos compromissados.Ou seja, trocariamos as doutrinas, auto-capacitacao, a melhor interpretacao, os previlegios , etc pelo amor e a gratidao(ou a que nivel de conhecimento biblico deveriamos chegar para entender a Deus??? ).
    Cristo Basta.
    Bem Nuno,fiquei muito feliz por encontrar mais uma pessoa que deseja sinceramente debater nossas realidades, dizia meu velho Pai...a fe e linda mas a duvida nos leva a educao! Como disse no Coment. anterior: Me mande seu e-mail no seguinte endereco: neldna@hotmail.com...vai ser um prazer aprender contigo e debatermos mais essa questao.
    Abraco
    Nelson Costa.

     
  • At 28 de fevereiro de 2008 às 09:41, Blogger Scott said…

    ...não há personalidade sem completa unidade... que tal esquizofrenia? Ou até personalidades múltiplas?

    Tratam-se de "desordens," claro, mas existe sempre personalidade mesmo entre a desordem. De facto, são ampliações patogénicas do processos e mecanismos normais.

    As vezes fazemos uma tempestade numa chavena... e é divertido até alguém se escaldar

     
  • At 28 de fevereiro de 2008 às 12:11, Blogger Nuno Fonseca said…

    CBS,

    A igreja apostólica, se isto te dirá alguma coisa, era unida somente entre os diversos apóstolos e sua congregações pelo Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, pois nEle jaz a única liderança infalível, a contrário do Papa, que é um homem pós-adâmico, logo pecador e sofrível nas suas decisões, e que precisa tanto de ser reconciliado com Deus como tu e eu.

    Consulta as Escrituras e perceberás que os cristãos primitivos rejeitavam hierarquias, e preferiam alianças entre as igrejas, conforme o sistema hebraico de liderança horizontal entre as vários tribos, e reconheciam em Javé o Senhor de Israel, tal como nós, em Cristo, temos a cabeça da igreja.

    Paz.

     
  • At 28 de fevereiro de 2008 às 12:21, Blogger Nuno Fonseca said…

    Nélson,

    Benvindo ao Trento, mano.
    O mail segue em breve.

    Paz.

     
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