domingo, fevereiro 24, 2008
Da unidade e visibilidade da Igreja

Levanta-se aqui a questão do corpo da Igreja e da sua visibilidade.
Quando se fala do corpo da Igreja como distinto da sua alma, a palavra corpo não significa o Corpo místico, porque o Corpo místico compreende, evidentemente, tanto a alma como o “corpo” da Igreja (até compreende os anjos, diz S.Tomás).
O corpo das Igreja é, antes de mais, todos os seres humanos que (pertencendo-lhe aberta e normalmente se estiverem baptizados) recebem a Graça e a Caridade (alma criativa da Igreja) – os homens, seres carnais e espirituais ao mesmo tempo.
(…)
Além disso, o corpo da Igreja desafia toda a comparação com o corpo humano; efectivamente, esse corpo, completa e perfeitamente formado na Igreja, estando também ela plenamente formada, apresenta uma unidade orgânica perfeita e acabada pela personalidade (na única Igreja, a Igreja Católica); sendo assim, este organismo perfeitamente formado para se estender, transborda, tal como a alma da Igreja, de uma parte para formações já organizadas mas não integradas na sua perfeita unidade (as confissões cristãs não-católicas), por outro lado, para a grande diáspora das pessoas humanas que, nas familias religiosas não-cristãs ou nas familias espirituais a-religiosas, se abrem à Graça de Cristo e à Caridade.

Como é que poderemos imaginar tudo isto?
Talvez possamos pensar numa grande ave de fogo que arrastasse atrás de si um fogo que é ainda o corpo animado pela sua alma, mas sem a perfeita unidade orgânica que têm na própria ave; fogo que enquanto nele houver unidade orgânica, é ainda visível - mas, cada vez menos, à medida que se for afastando da perfeita unidade que tem com a ave - mas sempre fogo, que pode também perder toda a sua unidade orgânica, numa vasta galáxia de estrelas, em cada uma das quais brilha de uma maneira visível aos anjos, mas invisível aos homens, porque a única unidade que junta ainda as estrelas em questão, como os outros membros do corpo da Igreja, é a Caridade (…)
Por outras palavras, a Igreja é essencialmente visível, mas esta visibilidade não é plena, senão na Igreja Católica, e é esta a sua glória: ela é a única que empunha o facho de Deus na sua integridade, assim como é a única que é a Igreja do Verbo Encarnado.
A visibilidade do corpo da Igreja diminui, à medida que se escapam, cada vez mais, à perfeita unidade desta, todos aqueles que lhe pertencem nas outras familias espirituais.

Jacques Maritain, O camponês do Garona1966
cbs

posted by @ 8:07 da tarde  
11 Comments:
  • At 24 de fevereiro de 2008 às 20:54, Blogger Tiago Oliveira said…

    Ó cbs,

    eu compreendo essa necessidade sempre presente dos católicos em defender a sua "universalidade" enquanto unicidade. Está-vos no sangue.

    A dificuldade é que, tirando toda a demagogia, essa ideia não tem qualquer fundamento . A não ser, claro, outra das grandes bandeiras católicas que é a tradição. Por outras palavras, aquilo que permite que possam dizer tudo o que quiserem como uma justificação que retire toda a carnalidade subjacente, mascarando-a de uma áurea espiritual.

    Já agora, conta-se que um certo cristão morreu. Ao chegar ao céu, na primeira visita guiada, após passar por vários locais, o guia pede-lhe silêncio e diz-lhe:
    - Aqueles ali são os católicos. Não façam barulho porque eles pensam que são os únicos que estão no céu.

     
  • At 24 de fevereiro de 2008 às 23:36, Blogger Pedro Leal said…

    Concordo com o Tiago. A própria história do Cristianismo é clara neste ponto. Tirando os tempos iniciais em Jerusalém, nunca houve uma igreja mas sim várias igrejas cristãs, independentes entre si.

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 13:31, Anonymous Anónimo said…

    estes textos são mesmo estranhos...

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 18:29, Blogger Luís Sá said…

    "Concordo com o Tiago. A própria história do Cristianismo é clara neste ponto. Tirando os tempos iniciais em Jerusalém, nunca houve uma igreja mas sim várias igrejas cristãs, independentes entre si."

    Ai sim Pedro? Então dir-me-ás que cartas eram aquelas que o Apóstolo Paulo enviava a várias igrejas de cidades-estado gregas, em que com a sua autoridade expunha doutrina e aconselhava as populações locais? Estás-me a dizer que é bastante claro que nunca ouve um vínculo de unidade entre as várias igrejas cristãs? Em que história do cristianismo está isso? Não em nenhuma que eu conheça.

    A autoridade institucional é outra história, e sim a primazia de Roma vem relativamente tarde na história do cristianismo (mas relativamente tarde é uns séculos depois) mas ela era reconhecida como primus inter pares até pelos próprios cristãos orientais. Quanto ao formato actual de autoridade essa é outra história.

    Mas daí à vossa eclesiologia da autonomia local é que vai um passo gigantesco e absolutamente infundamentado. A estrutura da igreja primitiva era episcopal e conciliar e o resto é lirismo evangélico-bíblico que nada tem que ver com a realidade.

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 18:31, Blogger Luís Sá said…

    errata: "infudamentado" leia-se "infundado".

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 18:37, Blogger Luís Sá said…

    Aliás o que são os concílios e o corpus de reflexão cristã dos padres da Igreja senão um reflexo dessa mesma unidade visível? Ou vocês julgam por acaso que nesses concílios vinha gente de todo o mundo romano e que por acaso e pacificamente concordavam mesmo não havendo nenhum vínculo de unidade visível nem relações intensas e de autoridade entre as várias igrejas? Julgam que se definiu a Trindade ou a natureza de Cristo como quem discute o Benfica no café da esquina sem nunca se ter conhecido antes?

    A autonomia local é a desculpa absolutamente lamentável que arranjaram para poderem justificar as mais variadas doutrinas que vos saiem da cabeça e ainda assim se apelidarem de cristãos. Alguma vez na Igreja primitiva era tolerado o tipo de diferenças doutrinas que as igrejas protestantes têm actualmente umas face às outras?

    Bah give me a break.

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 18:46, Blogger Luís Sá said…

    Aliás lembro-vos que ao contrário da ideia que tentam sempre passar de que "os católicos estão isolados face ao resto do cristianismo" a maior parte do cristianismo é episcopal, incluíndo o protestante. Os únicos que não o são são precisamente os evangélicos. Católicos, ortodoxos, anglicanos, episcopais, luteranos, metodistas, you name it... Tirando os baptistas qualquer igreja com mais de 200 anos é episcopal. Serão os baptistas o único caminho para a salvação? Existirá aqui um caso de "arrogância baptista"? Espero que não se apoquentem por deixar que a igreja católica perca a exclusividade desses epítetos tão bonitos.

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 19:05, Blogger cbs said…

    É para mim curioso, como gostando de Teillard (e não concordando também em absoluto com ele) aprecio muito este conservador, e seu critico, o Jacques Maritain.

    Agora náo tou com tempo sequer pra ler com atenção, em especial o Luis... mas respondo-te apenas isto Tiago: eu acredito que é a Igreja Católica que dá visibilidade ao cristianismo, e também que a sua alma (a caridade) transborda para para toda a humanidade, sendo o preço a perda dessa mesma visibilidade...
    E Tiago, consegues imaginar um cristianismo sem a Igreja de Roma?
    Vocês nunca o reconhecem, mas a Igreja Católica é o núcleo do cristianismo e é dessa visibilidade que também participam todas as outras confissões cristãs; não assim, a afirmação contária.
    Antes até, pelo contrário...

     
  • At 25 de fevereiro de 2008 às 21:30, Blogger Tiago Oliveira said…

    Caros amigos,
    mais uma vez, lá está isto uma grande confusão.

    Vamos lá por partes:

    1- Tudo isto começou com o nosso amigo cbs e as suas citações, onde defendia, mais uma vez, a "Una Sancta" igreja. Por "Una" ele quer dizer única e por única quer dizer Igreja Católica Apostólica Romana.

    E, caro Luís, a história começa aqui. E, claro está, a não ser por filosofias e vãs subtilezas, tendo como base a famosa tradição (que significa o que já mencionei), esta defesa é uma falsidade.

    Mas, como a esta questão ninguém respondeu e não poderá faze-lo a não ser com os mesmos instrumentos enganadores, passemos à frente.

    A partir daqui, passamos então às distrações habituais:

    2- Caro Luís, tu dizes "Mas daí à vossa eclesiologia da autonomia local é que vai um passo gigantesco e absolutamente infundamentado (errata: infundado). A estrutura da igreja primitiva era episcopal e conciliar e o resto é lirismo evangélico-bíblico que nada tem que ver com a realidade."

    No entanto, o que significa autonomia da igreja? O que significa que a igreja primitiva era episcopal e conciliar?

    Se por episcopal queres dizer que a igreja primitiva tinha "episcopos", que a lideravam e pastoreavam. Sim Luís é verdade. Mas, estes eram aceites e até eleitos de entre a comunidade. Repito Luís: eleitos pelo povão, pela igreja, por cada membro que a compunha. Podemos ler:
    "E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido." (Actos 14:13)

    Aliás, a lógica de eleição já vinha desde cedo com os diáconos:
    "O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia." (Actos 6:5)

    Assim, aquilo que é "lirismo e que nada tem a ver com a realidade" é a imposição romana (aliás, bem ao estilo de césar) sobre os crentes e as comunidades locais.

    2- Quanto à autonomia local, ela existia. Existia primeiro, como já disse, porque até as lideranças eram escolhidas de entre a comunidade. Para além disso,

    a) Não vez na bíblia nenhuma igreja que se estruturasse de uma forma rígida, obrigada por uma hierarquia superior. Havia orientações, não mais.

    b) A autonomia estava apenas submetida à autoridade dos apóstolos. Que eu saiba, não existe nenhum deles vivo ainda hoje. A sucessão apostólica é outra bela invenção sem qualquer fundamento bíblico.

    3- Luís, quando dizes:
    "A autonomia local é a desculpa absolutamente lamentável que arranjaram para poderem justificar as mais variadas doutrinas que vos saiem da cabeça e ainda assim se apelidarem de cristãos."

    Como já disse, quem arranjou este artifício manhoso foram vocês. A tradição nada mais é que isso.

    Acreditamos na autoridade das Escrituras. O ensino apostólico está lá!

    E Luís, tu que falavas em lirismos, então não havia diferenças doutrinárias? Paulo tentava combate-las, mas elas estavam lá. A igreja primitiva, enquanto movimento, era tudo menos uma instituição facilmente definida.

    4- Acerca da Unidade

    Obviamente esbarramos também neste ponto. Para vocês unidade é unicidade. Unidade é sujeição a Roma. Unidade é submissão incondicional à autoridade papal.

    É necessário dizer mais?

    Bah give me a break.

     
  • At 26 de fevereiro de 2008 às 10:51, Anonymous Anónimo said…

    Cada vez mais estranho... : )

     
  • At 27 de fevereiro de 2008 às 01:02, Blogger Hadassah said…

    nem mais Tiago...

    Meus amigos
    A igreja "verdadeira" não é de Paulo, nem de Roma, nem de Lutero... a igreja verdadeira é de Cristo! É composta por almas salvas e verdadeiramente seguidoras de Cristo a verdadeira autoridade. Esta autoridade pede contas individualmente, não =pede contas» através de organismos ou instituições...

    De resto, Cristo é autoridade nas nossas vidas através do seu Espírito Santo e da Sua Palavra... Eu encontrei-O numa igreja protestante...onde até aos dias de hoje reconhece esta autoridade suprema, no entanto acredito que todo aquele que segue verdadeiramente esta autoridade, entregando-lhe a sua alma, fará parte da minha igreja.

     
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