sexta-feira, fevereiro 29, 2008 |
Em frente |
"Já tem três filhos e não lhe convinha mais nenhum". O argumento, que ouvimos tantas vezes como justificação do aborto, serviu, na semana passada, para um infanticídio. Quem pode, aceitando a primeira situação, refutá-lo na segunda? É a localização física, dentro ou fora da mãe, umas horas, dias, semanas, a mais ou a menos, que definem se a vida é humana, se tem valor ou não? Já falámos muito sobre isto, mas, visto deste lado, a ferida continua não só aberta como começa a alastrar. Filósofos, como o utilitarista Peter Singer, defendem sem preconceitos o infanticídio. No Brasil, discute-se renhidamente se os índios da Amazónia podem manter o costume de matar os filhos indesejados ou devem estar sujeitos às leis que vigoram para os restantes cidadãos. No fundo, tudo começa quando alguém se julga competente para definir onde começa e acaba o valor da vida do outro. O que vem a seguir não costuma ser bonito.
Pedro Leal |
posted by @ 12:28 da tarde |
|
6 Comments: |
-
Pedro Dizes que "No fundo, tudo começa quando alguém se julga competente para definir onde começa e acaba o valor da vida do outro." e eu concordo contigo. Dizes também que "O que vem a seguir não costuma ser bonito." e ainda poderia aqui concordar também, mas o que me parece é que neste caso específico, "nos tempos que correm, não havia necessidade de fazer isto" como disse a vizinha. Mais, isto na actualidade (como dantes) continua a configurar um crime. Já o não a terem detido porque não havia flagrante delito, acho espantoso; têm o corpo do delito, têm a confissão, que é preciso mais para o delito se tornar evidente?!
Mas voltando à tua frase sobre o que vem depois, tenho de te lembrar que aquilo que vinha antes (da lei do aborto) ainda era menos bonito; aliás o caso que citas configura muito melhor a situação anterior do que a actual, onde uma mulher pode recorrer no inicio da gravidez ao hospital. Penso que achas que é a mesma coisa que matar o bébé recém nascido. Eu acho que não, acho que a diferença é enorme.
Mas tenho ainda de acrescentar que, apesar de ter votado "pelo aborto" - acho a questão fórmulada assim uma redução aberrante da compreensão do que está em causa, mas pronto... - na segunda vez, tenho pensado e preferia ter votado na despenalização apenas, sem deixar clara a condenção. parece-me é que por aí nunca mais lá íamos, e manter-se-ia a liberdade de quem vai a Espanha, com toda a porcaria das parteiras e quejandas situações - como esta que referes - para o comum das gentes. Sei que esta posição é quase singular neste blog, tirando o Miguel (parece-me é que tenho muito mais duvidas que ele) mas foi a perspectiva da saúde publica que me decidiu.
-
-
cbs
Acho que o aborto foi apenas o primeiro passo numa caminhada trágica. Por isso, vou coleccionando estes pequenos sinais. Mas pode muito bem ser forçada a ligação entre eles. Não sei. Não me importava nada de estar enganado.
-
Na perspectiva de relativização de valores, portantodo seu desparecimento progressivo, posso dar-te razão... Mas isso vem do século XX dominado pelos ocidentais... paradoxalmente, porque existem valores ocidentais fortes (penetrados de cristianismo)...mas paradoxalmente, ninguém lhes liga e o pragmatismo imediato é a unica regra. Parece-me que tudo começou com o afastamento de Deus e o positivismo. Mas só agora a confusão geral se nota bem.
Voltando ao assunto, no caso do aborto, pareceu-me uma necessidade social... ao menos reduz-se a hipocrisia de quem faz, e diz para não fazer...
-
Não percebo então, Pedro, como podem então evangélicos defender a pena de morte, como pode "alguém [julgar-se] competente para definir onde começa e acaba o valor da vida do outro". O que vinha antes era assim tão "bonito"?
-
Evangélicos?! Que eu saiba há apoiantes da pena de morte entre evangélicos, católicos, ateus, hindus, muçulmanos, agnósticos… Como também há opositores à pena de morte nos mesmíssimos grupos. A pena capital é um castigo. Um castigo extremo para quem cometeu actos de gravidade extrema. Podemos, ou não, achar exagerado o castigo. No aborto, e no infanticídio, temos a morte de um inocente. A questão não é saber se antes era ou não “bonito”. A questão é saber se ficou, ou vai ficar, pior.
|
|
<< Home |
|
|
|
|
Um blogue de protestantes e católicos. |
|
Já escrito |
|
Arquivos |
|
Links |
|
|
Pedro
Dizes que "No fundo, tudo começa quando alguém se julga competente para definir onde começa e acaba o valor da vida do outro." e eu concordo contigo.
Dizes também que "O que vem a seguir não costuma ser bonito." e ainda poderia aqui concordar também, mas o que me parece é que neste caso específico, "nos tempos que correm, não havia necessidade de fazer isto" como disse a vizinha. Mais, isto na actualidade (como dantes) continua a configurar um crime.
Já o não a terem detido porque não havia flagrante delito, acho espantoso; têm o corpo do delito, têm a confissão, que é preciso mais para o delito se tornar evidente?!
Mas voltando à tua frase sobre o que vem depois, tenho de te lembrar que aquilo que vinha antes (da lei do aborto) ainda era menos bonito; aliás o caso que citas configura muito melhor a situação anterior do que a actual, onde uma mulher pode recorrer no inicio da gravidez ao hospital. Penso que achas que é a mesma coisa que matar o bébé recém nascido. Eu acho que não, acho que a diferença é enorme.
Mas tenho ainda de acrescentar que, apesar de ter votado "pelo aborto" - acho a questão fórmulada assim uma redução aberrante da compreensão do que está em causa, mas pronto... - na segunda vez, tenho pensado e preferia ter votado na despenalização apenas, sem deixar clara a condenção. parece-me é que por aí nunca mais lá íamos, e manter-se-ia a liberdade de quem vai a Espanha, com toda a porcaria das parteiras e quejandas situações - como esta que referes - para o comum das gentes.
Sei que esta posição é quase singular neste blog, tirando o Miguel (parece-me é que tenho muito mais duvidas que ele) mas foi a perspectiva da saúde publica que me decidiu.