Agradeço-te a paciência com que me ouviste a mais de dois mil anos de distância. Foste amável, mas pretendes seguir por ti o caminho para o Pai. No entanto queres compreender da mesma maneira que Euclides, teu mestre, compreendia a Geometria dele. Por vezes, há até quem chame ao Pai, o Grande Geómetra; Desengana-te porém irmão... Ele não é um geómetra e a Sua Verdade nunca será demonstrada à maneira de Euclides, teu mestre.
O Pai apenas se pode mostrar, ver-se, e foi ao que Vim: Vim afirmar que Aquele que É vos Ama; Vim dar-vos a certeza de que, apesar de tudo, o Amor supera o Ódio; E principalmente, Vim para instaurar a Vida no próprio coração da Morte.
Mas Agostinho, se queres complicar o que é simples, explicarei as vezes que forem necessárias; tu e eu sabemos que um dia, como o Sol, o próprio Universo morrerá, mas até lá há muito tempo, a Humanidade ainda tem milhões de anos para a sua Cristificação.
A questão fundamental, meu irmão, é esta: o Todo existe antes das partes; podes inverter os termos, mas com os raciocínios de Euclides, teu mestre, nunca lá chegarás; terás sempre de confiar no teu coração... em Mim. Pensa Agostinho, porque tudo se resume a isto: a Eternidade existe antes do Tempo.
Pretendes que é indigno do Pai, admitir que tu, Seu filho, não te podes salvar por ti próprio. Como queiras, estarei contigo sempre que precisares de Mim. Amo-te
Outra raça e outro século me deram existência; Desde moço trilhei uma vereda diferente, a cada passo mais larga e mais plana. O meu ideal na vida, o norte distante mas seguro a que rumei foi sempre o de incluir, o de compreender o que de novo me aparecia na frente, não o de me salvar pondo de parte um qualquer elemento da minha humanidade.
Não é o meu lugar no paraíso que me interessa, mas a construção de um paraíso em que possam caber todos os homens e os seres que marcham sob a guia do homem e os que prendeu a natureza e os que se nos afiguram insensíveis e mortos. Decerto me hei-de salvar, mas só no dia em que puder, estreitamente ligados, abraçar num mesmo pensamento o teu sacrifício na cruz e as figuras que Euclides, meu mestre, desenhava na areia.
Para muitos serás o Salvador, para mim foste mais um problema. Por isso mesmo, e só por isso, terás contribuído para que um dia me vejas a teu lado entre os coros divinos. A tua vinda junto de mim não foi inútil Mas diria indigno da grandeza do Deus que te enviou poder supor que serias, mais que um incitamento a que por mim próprio me salve e tome no Céu o lugar que me cabe.
Agostinho da Silva, A eleição de Apolónio adaptado por cbs
Só agora me permito responder à tua interpelação. Faço-o sob a forma de post, à boa maneira evangélica.
Começo por dizer que a tira do Laerte não é uma representação do divino. É precisamente o contrário. É uma sátira sobre a representação do divino. Pretende figurar uma visão (por natureza redutora) que se tem sobre o divino. Repara: estão lá as barbas brancas, o triângulo e o olho da omnisciência, e a acção passa-se num céu de nuvens. É assim que muita gente – inclusive das nossas Igrejas – vê Deus Pai. Esta expressão da representação do divino, ao dessacralizá-la (à representação, não ao divino) presta um maior serviço a quem, como qualquer crente, sabe que Deus é irrepresentável e que qualquer aproximação humana ficará aquém da Sua realidade (misteriosa para nós, na plenitude da palavra).
Po outro lado, o problema da proibição das representações de Deus prende-se com a impossibilidade da identificação do significado e do significante (lembramo-nos que o bezerro de oiro era adorado como um deus, precisamente por ser percepcionado como sendo deus). Nada disto se passa nesta bd do Laerte. Nós sabemos que não é Deus que está ali. No mesmo plano se colocam as outras representações – desde a da Capela Sistina à imagem da Virgem Maria de Fátima, passando pela iconografia popular da Igreja Católica. Nós (os católicos e os outros) sabemos que Deus não está nem é (n)a figura que o representa. Inventamos-lhe uma imagem, bem sabendo que Ele é irredutível ao nosso mundo sensorial. Como o é ao nosso mundo intelectual ou espiritual (por mais brilhantes teólogos ou fervorosos místicos que sejamos). O mesmo se passa com as fotografias dos filhos que os pais guardam nas carteiras e que mostram aos amigos dizendo “este é o meu filho”. Todos sabemos que a imagem não é o filho, nem que o “representa”. É uma simplificação (blasfema?) de uma realidade maior e irrepresentável.
Ora, do mesmo modo, o ser-Deus não é redutível à palavra humana. Podemos aproximarmo-nos d’Ele, mas ficaremos sempre aquém da infinitude. Daí que mesmo as características que tu lhe apontas (“santo, amoroso, omnisciente e todo-poderoso”) são, além de discutíveis, parcelas de uma realidade que não conseguimos antever e, portanto, descrever. São também uma caricatura. Uma caricatura escrita, mas uma caricatura que se enuncia com as palavras grosseiras que temos para exprimir o indizível. Será blasfémia? Creio que não. É o nosso modo humano de pensar o sobrenatural.
O que se aproxima da blasfémia é a idolatria feita através de imagens ou de palavras, quando se exige uma coincidência entre a imagem ou a palavra com o que ela se esforça por representar. Neste sentido tanto é um desvio (teológico, digamos) sacralizar uma imagem, confundido-a com o que ela pretende simbolizar, como a sacralização da palavra, elevada à vontade inequívoca, definitiva e absoluta da condição divina. Como reclamar da Bíblia o depósito de toda a verdade de Deus. Como se Deus coubesse na Bíblia, como se o mundo se reduzisse à Bíblia, como se a Bíblia sequestrasse o humano. Na tua perspectiva, não será isso também uma caricatura, uma blasfémia? Eu penso que não.
Neste post discute-se uma questão pertinente. Embora me interesse a iconoclastia não estou com o Pedro (da minha família religiosa) em considerar o comic strip blasfemo e na condenação à Capela Sistina e companhia. Aliás, creio que aos cristãos (sobretudo aos evangélicos) faz falta um saudável convívio com a blasfémia e, já agora, um mergulhozito no tanque das subtilezas semióticas. É uma inocência imperdoável relegar para os rabiscos e volumes manuais o monopólio da imagem de adoração condenada pelos Mandamentos.
No princípio Deus criou os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; E havia trevas sobre a face do abismo; E o Espírito de Deus movia-se sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz. (Primeiro livro de Moisés, séc. VII a.c.?)
1687 O espaço absoluto sem relação com as coisas externas, permanece por sua natureza sempre idêntico e imóvel. O tempo absoluto, considerado em si, na sua natureza própria e sem relação com as coisas externas, decorre uniformemente e chama-se também duração. (Isaac Newton, Principia)
1948 O Universo não teve início nem terá fim e a sua densidade permanecerá constante porque a matéria é criada constantemente nos espaços vazios entre as estrelas; o movimento de afastamento, especialmente das galáxias distantes, mais fortemente submetidas à Constante de Hubble, são resultado da criação de novos átomos de hidrogênio, por efeito da gravidade do próprio Universo. (Fred Hoyle, Teoria do estado estacionário ou Criação Contínua)
2007 No princípio era o Nada. Um nada tão profundo que desafia a compreensão humana. A nossa história começa quando não havia espaço nem tempo. Do nada surgiu uma pequena centelha de luz brilhante. Era quase infinitamente quente. Dentro desta bola de fogo estava todo o espaço. Com a criação do espaço teve lugar o nascimento do tempo. O grande relógio cósmico começou a funcionar há cerca de 13 mil milhões de anos. (Heather Couper e Nigel Henbest, Big Bang, Dorling Kindersley, London 1997)
‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’.
A parábola do filho pródigo é uma das que mais me impressiona. Talvez porque coloca o mérito no seu devido lugar.
Graças ao desmedido zelo da Inquisitio Haereticae Pravitatis Sanctum Officium, foram inventadas as alheiras, por judeus engenhosos e de gosto apurado. Agora, por obra dos fabricantes oficiais destes enchidos, as mulheres portuguesas podem praticar abortos caseiros, livres, seguros e sem a humilhação do "aconselhamento". Basta que não interrompam voluntariamente a vida das pobres Listeria monocytogenes, através da competente cozedura das alheiras. Isto é que é relativismo. E do bom.
Soube hoje (através da coluna do João Pereira Coutinho no Expresso - por vezes, como hoje por exemplo, aparecem curiosidades interessantes neste tipo de artigos) que o Papa Urbano XVIII proibiu o uso do tabaco em 1624. A proibição seria removida no século seguinte. Mas durante algumas dezenas de anos fumar terá sido um pecado grave expressamente proibido pelo Santo Padre.
Eu não fumo mas também não tenho nenhuma posição particular no que diz respeito a estas questões (estou-me aliás fundamentalmente nas tintas para elas). Até gosto de canto gregoriano.
Faz parte da essência do amor querer amar sempre, mas é um facto que amamos apenas momentaneamente. A verdade do amor não concorda com a experiência do amor. É o princípio cruel do amor humano. O que Jesus Cristo nos trouxe foi o Amor Verdadeiro que assenta na Fé e por isso é perene. O reflexo deste Amor Transcendente transformou a crueldade da noite humana numa alvorada, como disse a poetisa:
"Não é por má vontade que eles reagem a todas as questões por meio de instruções e medidas administrativas; é antes a falta de vontade própria e de pensamento pessoal, que os leva a comportarem-se com os outros, como se comportam consigo mesmos, ou seja, "segundo a regra".
O seu próprio ego "entregaram-no a Cristo", tendo perdido a capacidade estrutural de notar que, aquele que em nome de Deus se recusa a viver a sua própria vida, faz da mensagem de Jesus (que era a mensagem da Liberdade humana) o programa tirânico de uma constante censura do pensamento e da consciência.
É assim, que entre os obedientes de hoje, se recrutam os chefes eclesiásticos de amanhã."
Eugen Drewermann, Fonctionnaires de Dieu, Albin Michel, Paris, 1993.
Tenho sempre variados problemas de consciencia. Um deles, aqui, é supostamente alinhar numa equipa (católicos) e meter golos na própria baliza. Mas, aos católicos justifico-me com a exigencia de ser mais rigoroso com a minha Fé do que com a dos outros; aos protestantes aviso, nada destas bicadas na Santa Madre me fez ou fará renegá-la... se há coisa que prezo é minha linha filial, serei filho da Madre até morrer, mesmo que seja Ela a excluir-me, coisa que até hoje recusou sempre - também é verdade que não tenho a importancia de Eugen Drewermann - com muita bonomia dos meus irmãos e seus ministros. cbs
O padre, no funeral: - Este irmão tem os seus pecados perdoados. Mas ainda não está purificado. Por isso vai para o Purgatório. E nós podemos ajudá-lo com as nossas orações e outros actos a seu favor.
Ce texte doctrinal, qui reprend les propositions d'un synode (assemblée) des évêques réuni en octobre 2005 sur le thème de "l'eucharistie", réaffirme également l'interdiction pour les catholiques divorcés et remariés d'accéder à la communion, à moins qu'ils ne s'engagent à vivre avec leur nouveau conjoint "comme amis, comme frères et soeurs".
cita o Miguel aí atrás
portanto meus meninos, a partir de agora, dormir em camas separadas e nada de convites pecaminosos
caramba, toda esta ambiguidade e perversão devem ser deliciosas
Mais um conselho para a Quaresma dado por um católico (que também é cardeal)
É no mínimo diferente a proposta de renúncia quaresmal que o cardeal Karl Lehmann faz neste tempo de Quaresma. Para o presidente da Conferência Episcopal alemã, os seus compatriotas devem fazer “jejum do automóvel”, deixando a viatura em casa, num gesto que respeita o ambiente. “Os tempos de penitência da Quaresma convidam-nos a repensar o nosso estilo de vida. Muitas vezes negligenciamos coisas que são nefastas para o nosso ambiente e para os nossos próximos”, explica Lehmann ao jornal popular “Bild”, citado pela AFP. “Aproveitemos o período de jejum para contribuir para a melhoria do clima, por exemplo, fazendo jejum do automóvel”, propõe o cardeal. [in Fátima Missionária]
«Le pape Benoît XVI a fermé la porte à toute évolution de l'Eglise catholique sur le célibat des prêtres dont il a réaffirmé "le caractère obligatoire", dans la première exhortation apostolique de son pontificat publiée mardi au Vatican. Ce texte doctrinal, qui reprend les propositions d'un synode (assemblée) des évêques réuni en octobre 2005 sur le thème de "l'eucharistie", réaffirme également l'interdiction pour les catholiques divorcés et remariés d'accéder à la communion, à moins qu'ils ne s'engagent à vivre avec leur nouveau conjoint "comme amis, comme frères et soeurs". Il adresse aussi un ferme avertissement aux "hommes politiques et législateurs catholiques" pour qu'ils s'abstiennent de voter des lois autorisant l'avortement, l'euthanasie ou les unions homosexuelles. Les valeurs de "la vie humaine de sa conception à sa fin naturelle", de "la famille fondée sur le mariage entre homme et femme", de "la liberté d'éducation des enfants" et de "la promotion du bien commun sous toutes ses formes" "ne sont pas négociables", souligne une nouvelle fois le pape. Ce rappel survient alors qu'un projet de reconnaissance des couples non-mariés, homosexuels et hétérosexuels, divise profondément la coalition de centre-gauche au pouvoir dans la très catholique Italie et que plusieurs pays européens s'interrogent sur les moyens d'aménager une "mort douce" aux personnes en fin de vie.» [da AFP]
Peço desculpa, amigos, mas este debate já foi - e não é com as imagens para chocar que se torna razoável. O que se quer, o que se queria, com o referendo à despenalização do aborto é tornar o aborto seguro, raro, precoce. Esta formulação foi defendida pelos do Sim e pelos do Não, cada um a apontar caminhos diferentes na penalização do acto. Houve quem entendesse (entre os quais me incluo) que, com o Sim no Referendo, é possível tornar o aborto raro, seguro, precoce: isto não significa apoiar o aborto, nem acabar com a imagética de um lado e outro (mas pode fazer-se o esforço para a tornar também rara), mas significa uma política séria de aconselhamento, que é o que acontecerá sempre, como acontece numa qualquer consulta médica, que não é meramente clínica, tem sempre uma forte componente de aconselhamento, naquilo que quer dizer esta palavra. Neste momento, o que importa é meter as mãos na massa, de um lado e do outro, para romper com este problema sério, em que mulheres morriam, em que fetos eram inviabilizados por más práticas, mas também em que muitas mulheres decidiam levianamente, na liberalizada clandestinidade, sem qualquer conselho (médico ou outro).
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o décimo
Não te deixes sempre levar pela publicidade que te propõe descontos. Com efeito, se algo te custar menos trinta por cento, o teu guarda-vestidos rebenta e transborda igualmente trinta por cento.
Esperando ser interpretado de forma mais abrangente do que na última vez. A juntar à leitura já mencionada, acrescento o melhor tempero.
He is not Jesus thou he has the same initials.
Jarvis Cocker!
"It´s the end: why don´t you admit it? It´s the same from Aushwitz to Ipswish: Evil comes I know from not where. But if you take a look inside yourself - maybe you´ll find some in there."
As tragédias devem ser lembradas (mesmo que já houvesse nomes...)
Passou ontem um mês sobre a votação no referendo da despenalização do aborto. Do fim da morte de mulheres, da prisão de mulheres, do fim dos fetos inviabilizados pelo aborto liberalizado e clandestino. E da luta pela vida.
Caros amigos, existe o essencial e o supérfluo. O que é central e o que fica na periferia. Deixo-vos aquilo que realmente interessa, o resto são banalidades.
Este senhor, que é o vocalista dos Killers, é mormon e lamenta o preconceito dos europeus em relação à religiosidade imanente dos americanos. Criticou os Green Day por terem posto uma data de miúdos ingleses a cantar "don't wanna be an american idiot" e não está preocupado em promover a sua confissão via banda.
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o sétimo
Durante a Quaresma levanta-te sempre da mesa com um pouco de fome. Os dieticistas são muito mais severos pois pedem-te para fazeres isso todo o ano. Uma pessoa em cada três sofre de obesidade.
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o sexto
Se estás um quarto de hora a fazer zapping sem sucesso, apaga a televisão e pega num livro. Ou aproveita para falares com aqueles que vivem contigo: é melhor fazer zapping entre humanos e funciona sem telecomando.
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o quinto (adenda 3)
"Devemos perdoar a quem nos ofendeu", "Amai os vossos inimigos".
Pensava eu que um cristão, na sequência da aceitação do mandamento do amor, nunca se devia ofender (pois a ofensa já pressupõe o pecado da susceptibilidade) e que não podia ter inimigos (pois só tem inimigos quem tem algo de eu/meu a defender).
Mas um cristão não é um computador e muito menos é Deus. Só Deus ou um computador nunca são susceptíveis nem nunca têm algo de seu a defender.
Os humanos podem-se ofender e podem ter inimigos. Só por alguns segundos. Depois devem perdoar a quem os ofendeu e amar os seus "inimigos".
Mas continuo a pensar que o melhor mesmo é limitar ao máximo a nossa "humanidade negativa" nesta matéria. Nunca nos ofendermos nem nunca ter inimigos. Esse deve ser mesmo o objectivo.
Nem me parece que seja assim tão difícil. É verdade que, sobretudo quando estamos mais fragilizados emocionalmente, é quase inevitável cair na susceptibilidade. Mas a susceptibilidade é o maior pecado porque reduz o amor entre os seres humanos pois reduz a comunicação. E o amor apenas se pode manifestar comunicando.
Mesmo um ateu sabe que quando se reduz a comunicação a Humanidade torna-se um pouco menos humana pois a comunicação inteligente é que permite definir a Humanidade. Quando a comunicação se reduz de modo definitivo é um mal irreparável que infligimos à essência da nossa condição humana.
Um cristão tem um dever um pouco maior. Ele sabe que a comunicação é importante não apenas porque ela é a essência da nossa condição humana mas também porque ela é indispensável à Salvação.
E qual o antídoto para esse pecado gravíssimo que é a susceptibilidade?
Parece-me que é o riso. O riso como disponibilidade. O riso como acto de amor (porque o riso também pode ser um falso riso quando é o resultado da vingança ou do ódio).
Talvez existam pecados (dos outros) que só são pecados (nossos) quando os levamos a sério.
Contrapor à nossa "humanidade negativa" a nossa "humanidade positiva".
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o quinto (adenda 2)
O quinto conselho do Cardeal nas palavras de Cristo:
"Eu, porém, digo: Amem os vossos inimigos. Bendigam os que vos maldizem. Façam o bem aos que vos odeiam. Orem por quem vos persegue! Assim procederão como verdadeiros filhos do vosso Pai que está no céu. Porque ele faz brilhar o Sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e manda a chuva cair tanto sobre justos como injustos.
Se amarem só quem vos ama, de que vale isso? Até os que vivem sem Deus o fazem. Se forem amigos só dos vossos amigos, em que serão diferentes de qualquer outro? Até os descrentes o fazem. Vocês, porém, devem ser perfeitos, como é perfeito o vosso Pai no céu."
"Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda."
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o quinto (adenda 1)
O quinto conselho do Cardeal nas palavras de Steinbeck:
"O insulto está directamente relacionado com a inteligência e a segurança e as palavras "filho da puta" só ferem quem não estiver seguro acerca da mãe."
Regressemos por um momento à aparição a Tomé (Jo 20, 24-29), o discípulo que não acredita na ressurreição, céptico e teimoso, que se recusa, sem fundamento, a acreditar no testemunho do resto da Comunidade. Jesus dirige-se expressamente e directamente a Tomé e acedendo ao seu “capricho”, mostra-lhe as chagas do lado e das mãos, o mesmo sinal que já dera aos restantes discípulos reunidos.
Mas aqui, a interpretação do sinal, a apreensão do significado realizada por Tomé, é inequívoca, é expressa, e vai mais fundo: Meu Senhor e Meu Deus! É o primeiro reconhecimento explícito da Fé cristã integral, o pleno reconhecimento do significado da ressurreição de Jesus: Ele é o mesmo Jesus, Ele é Deus e Senhor.
Todo o Evangelho de S. João converge assim para a figura e a Fé de Tomé. O próprio Jesus, depois do reconhecimento de Tomé, continua: porque Me viste, acreditaste. Bem aventurados os que sem terem visto, acreditam (Jo 20, 29)
Para acreditar, todos precisamos de ver, de ter sinais. Mas, poucos, como Tomé, viram directamente o grande sinal, que é o próprio Jesus ressuscitado… Ao comentar este ultimo passo, Santo Agostinho faz o seguinte comentário: Que viu Tomé? A humanidade ressuscitada de Jesus. E em que acreditou? Na sua divindade. Viu uma coisa e acreditou noutra.
É este o dinamismo permanente de toda a Fé cristã: ver uma coisa e acreditar noutra, ver os sinais e interpretar o seu significado.
António Vaz Pinto, Revelação e Fé, Editorial A.O. Braga (vol. II, pág. 148 com uns cortes) cbs
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o quinto
Quando alguém te diz algo de desagradável não penses em responder-lhe do mesmo modo. Isso não permitirá restabelecer o equilíbrio mas apenas fará com que caias na engrenagem. Cala-te antes um minuto e a roda parará.
PS.: No contexto actual da blogosfera este conselho é talvez o mais importante de todos. Espero por isso fazer algumas adendas a este post durante o fim de semana.
Não disse Flaubert que a felicidade é uma mentira; se afinal, temos de (nos) mentir para sermos felizes... Na lógica aristotélica, a hipótese pode parecer absurda: se amamos, não mentimos. Como podemos sequer pensar nisso? Amor e confiança são a mesma coisa.
Seja! Mas conjugar amor e verdade pode ser igualmente insustentável: qual a liberdade de um ser obrigado a viver sem privacidade? Se a autonomia é um dos direitos fundamentais do ser humano, será mais correcto exigir-lhe que renuncie a essa autonomia e não minta ou aceitar que exerça esse direito mentindo? E como respeitar o outro, se o ofendemos com a verdade?
P.S.: ando por aqui a postar convictamente uns disparates sobre este pecado venial, que achei melhor vir-vos confessar :)