terça-feira, março 20, 2007 |
o mérito e a Graça |
‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’.
A parábola do filho pródigo é uma das que mais me impressiona. Talvez porque coloca o mérito no seu devido lugar.
timshel |
posted by @ 7:19 da tarde |
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5 Comments: |
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se bem me lembro, o Pai não diminui o mérito do filho mais velho, que ficou.
O que é patente é o arrependimento do mais novo, que recebe o Perdão e a Alegria do Pai pelo seu retorno. E noutra vertente o Ciume do filho que ficou, por se achar mais digno do Amor do Pai.
A lição parece-me ser que isso não altera em nada o Amor do Pai pelo que pecou, ou seja que Mérito e Amor são coisas distintas. E de facto na vida, em especial na vida actual, muitas vezes confundimos as duas; ser campeão, o melhor seja no que for, não é o mesmo que ser santo, por vezes é até o oposto.
Todavia o mérito do irmão mais velho em não ter abandonado o Pai, mantém-se.
Será assim? parece-me a mim :)
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mas haverá algum irmão mais velho que nunca abandonou o Pai?
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Caro Tim No comentário anterior falei mais para não estar calado, mas fiquei a matutar enquanto passeava os cães... Vai daí, resolvi dizer-te mais umas coisitas, a ver no que dá…
Concordo contigo em que a Graça (que prefiro chamar Amor Transcendente) tem um valor universal e absoluto, diferentemente do Mérito. É o que os Cristãos chamam ao fruto da redenção alcançada por Cristo; A Graça é o Amor Transcendente dado por Deus aos Humanos, uma oferta de comunhão na Sua natureza divina.
O mérito diferentemente da Graça, tem um valor estrito e próprio. Mas tem valor. Colocar o mérito no seu devido lugar, como dizes é dizer que o mérito é o valor que se adquire por fazer, por fazer bem feito (esse é o carácter utilitário) Depende do valor do próprio acto e é relativo às condições em que se realiza. Concordo contigo se o que dizes tem a ver com esta diferenciação.
E concordo ainda mais se pensarmos na deificação do mérito que a sociedade competitiva de hoje faz. Campeões como Mourinho ou Schumacher, os melhores naquilo que fazem, são colocados num pedestal como exemplo a seguir, tidos como bons, vistos como superiores. E não são mais que excelentes executantes de actos determinados limitados; saltar mais alto é só isso, saltar.
Ser bom no sentido moral é coisa diferente; não implica mas também não é incompatível com a boa execução de um acto determinado. Por isso a actual confusão entre valor de Mérito e Virtude resulta muitas vezes numa redução moral. Até aqui parece-me que concordamos.
Depois há a minha dúvida… Até porque já te conhecendo um pouco, perdoa-me a prosápia, pareceu-me que reduzias o valor do mérito devido ao seu carácter utilitário. Podemos estar aqui a falar de filosofia moral mas também de filosofia económica.
E eu acho que o mérito tem aplicação meritória (perdoe-se a redundância), como categoria de eficácia; No sentido utilitário… sem esse mérito também se perde a Humanidade. A concentração de que o humano é capaz, e que está na base do “fazer bem feito” é no fundo o que distingue o homem do animal. O animal é o grande distraído da Natureza, sempre à mercê das impressões externas, enquanto o homem é capaz de se recolher e concentrar. É também a concentração o que distingue uma habilidade normal da de um campeão que se consegue ultrapassar a si mesmo.
Parece-me que por detrás do “Fazer bem” utilitário, como por detrás do “Amor Transcendente” revelado, está sempre uma vontade, uma vontade feita de esforços, com avanços e recuos mas que afasta ou nos aproxima (se nos amarmos uns aos outros) e simultaneamente nos rebaixa ou nos eleva (se nos aperfeiçoarmos, segundo a vontade do Pai)
um abraço, na Paz :)
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Andas muito Kierkegardiano...
a soberba da obra e a graça da humildade
";O)
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Apenas comentando o texto, me parece que os dois filhos eram pródigos, o mais novo foi mais descarado que o mais velho e pediu o que era seu, o mais velho estava com o pai e nunca considerou o que era do pai seu. Parece-me que os dois filhos estavam perdidos, um fora de casa o outro dentro de casa. É possível estar perdido dentro da casa do pai.
OBS.: Muito legal o blog de vocês, abraços.
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se bem me lembro, o Pai não diminui o mérito do filho mais velho, que ficou.
O que é patente é o arrependimento do mais novo, que recebe o Perdão e a Alegria do Pai pelo seu retorno.
E noutra vertente o Ciume do filho que ficou, por se achar mais digno do Amor do Pai.
A lição parece-me ser que isso não altera em nada o Amor do Pai pelo que pecou, ou seja que Mérito e Amor são coisas distintas.
E de facto na vida, em especial na vida actual, muitas vezes confundimos as duas; ser campeão, o melhor seja no que for, não é o mesmo que ser santo, por vezes é até o oposto.
Todavia o mérito do irmão mais velho em não ter abandonado o Pai, mantém-se.
Será assim? parece-me a mim :)