domingo, março 04, 2007
Dez conselhos para a Quaresma dados por um católico (que também é Cardeal): o quinto (adenda 3)
"Devemos perdoar a quem nos ofendeu", "Amai os vossos inimigos".

Pensava eu que um cristão, na sequência da aceitação do mandamento do amor, nunca se devia ofender (pois a ofensa já pressupõe o pecado da susceptibilidade) e que não podia ter inimigos (pois só tem inimigos quem tem algo de eu/meu a defender).

Mas um cristão não é um computador e muito menos é Deus. Só Deus ou um computador nunca são susceptíveis nem nunca têm algo de seu a defender.

Os humanos podem-se ofender e podem ter inimigos. Só por alguns segundos. Depois devem perdoar a quem os ofendeu e amar os seus "inimigos".

Mas continuo a pensar que o melhor mesmo é limitar ao máximo a nossa "humanidade negativa" nesta matéria. Nunca nos ofendermos nem nunca ter inimigos. Esse deve ser mesmo o objectivo.

Nem me parece que seja assim tão difícil. É verdade que, sobretudo quando estamos mais fragilizados emocionalmente, é quase inevitável cair na susceptibilidade. Mas a susceptibilidade é o maior pecado porque reduz o amor entre os seres humanos pois reduz a comunicação. E o amor apenas se pode manifestar comunicando.

Mesmo um ateu sabe que quando se reduz a comunicação a Humanidade torna-se um pouco menos humana pois a comunicação inteligente é que permite definir a Humanidade. Quando a comunicação se reduz de modo definitivo é um mal irreparável que infligimos à essência da nossa condição humana.

Um cristão tem um dever um pouco maior. Ele sabe que a comunicação é importante não apenas porque ela é a essência da nossa condição humana mas também porque ela é indispensável à Salvação.

E qual o antídoto para esse pecado gravíssimo que é a susceptibilidade?

Parece-me que é o riso. O riso como disponibilidade. O riso como acto de amor (porque o riso também pode ser um falso riso quando é o resultado da vingança ou do ódio).

Talvez existam pecados (dos outros) que só são pecados (nossos) quando os levamos a sério.

Contrapor à nossa "humanidade negativa" a nossa "humanidade positiva".

Estarmos atentos.

E sim, rirmo-nos de nós próprios. Sempre.

timshel
posted by @ 7:45 da manhã  
9 Comments:
  • At 4 de março de 2007 às 10:51, Blogger cbs said…

    Obrigas-me…
    Praticamente concordo contigo, e mais admiro-te a inteligência e a bondade; sei que não gostas, mas tens de levar com isto porque é verdade e me fazes sentir obrigado a dizê-lo.

    A comunicação é a essência da nossa condição humana, sim, pois até, só por aí pode seguir o Amor revelado.
    O Homem é "ser-pelos-outros-com-os-outros", e é tanto mais pessoa quanto melhor relacionado com as pessoas, a Comunidade.

    O Amor, O revelado em Cristo, Absoluto, Aquele que referes, é a fonte última da nossa identidade e da nossa solidariedade humana.
    Vivemos porque o Outro (o Pai) nos ama e perdoa.
    Somos perdoados… existir, é ser perdoado. (peço desculpa de estar práqui a citar o Vaz Pinto, mas a minha simplicidade não diria melhor)
    Notemos contudo o seguinte: ser perdoado é "condicional", implica o reconhecimento de uma culpa, sem esse reconhecimento não há nada a perdoar.
    O perdão implica não apenas o reconhecimento da culpa, mas também implica o arrependimento, e mais, o desejo de reconciliação.
    Sem isso nem Deus Pode (poder Pode, mas noutra dimensão à qual nós não chegamos) pela simples razão de ser Sua Vontade respeitar a liberdade da pessoa.

    Já terás experimentado relações em que a permanente agressão torna impossível comunicar...
    Tu mesmo o disseste... há que parar a roda.
    Não significa isso falta de perdão, significa apenas e só uma escolha: continuar a falhar ou limitar o dano… e talvez reflectir na falha.
    Cristo revelou-nos uma Moral biunívoca e activa, funcionando activamente para os dois lados: faz ao outro o que queres que te façam a ti.
    Assim faço.
    Quando pisar o risco desejo que mo digam.
    E isso não traz desamor.

    Um grande abraço

     
  • At 4 de março de 2007 às 10:56, Blogger cbs said…

    Acresce que tenho muito mau feitio, e um trabalho desgraçado a deel proteger os outros :)

     
  • At 4 de março de 2007 às 13:35, Blogger zazie said…

    Conheci uma senhora que era assim. Uma plena cristã eheh
    Mas, a verdade, é que ela não demonstrava um grande leque de emoções. Ou seja, tinha amor aos seus e o resto era tudo muito idêntico- tratava toda a gente com enorme inteligência e essa paciência bondosa e, à custa disso, era desarmante.
    Várias vezes me questionei no que diferenciava aquela bondade inteligente da soberba defensiva. Suponho que fosse o humor e o hedonismo pela vida – era alguém que gostava de viver em paz.
    Só não sei se isto é receita cristã se filosofia budista

    “;O)))

     
  • At 5 de março de 2007 às 03:56, Blogger linfoma_a-escrota said…

    O seminarista caloiro entreolha
    as entidades inexistentes a cobalto
    que dançam de pés ao contrário,
    com cabelo grisalho mais gel
    completam o círculo dourado dos fraques,
    alimentam a ausência e
    apoderam-se bruscos do inverosímil.

    Todos os albergues de culto
    às respostas rezam para si mesmos,
    para que os rios de sangue,
    cujos ramos podres ajudaram a podar,
    não passem dum rumor hipotético
    e se evaporem balcânicas barragens
    para as encherem de novo, sem chuva,
    só com a liderança estimada dos
    veteranos puritanos cujo letal quinhão
    e desprogressivo apego à juventude
    mantêm no magnífico trono da mansão
    familiar de aparência imaculada,
    foi graças a muito soslaio de alecrim
    que tais botões aceitaram o sigilo dum
    cargo que desbarata conclusões precipitadas,
    decidem sempre poupar o sovaco real
    para hospitalizar as grandiosas paradas.

    O cheiro é semelhante a talho de peixe
    sem piedade pelas tripas dos antepassados,
    como personagens de jogo não hesitam
    e, sem desviar a cara, empunham a navalha
    que influenciará barbatanas de cardumes,
    nunca interrogaram auxilío a alguém porque
    vivem dentro duma bolha à prova de bala
    sem repararem na sombra de Rá aproximando-se...


    in trepidação/trepanação (ou a aus~encia de evolução)
    j.m.
    2004

    WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

     
  • At 6 de março de 2007 às 17:16, Blogger timshel said…

    julgo que o meu ideal de comunicação é um pouco mais que a paciência e a disponibilidade

    aconteceu-me algumas vezes com o dragão:

    é estar a lançar insultos ferozes (e finos, mordazes e inteligentes - da parte dele) um ao outro sem que nenhum de nós acreditasse que se estava realmente a insultar mas apenas pelo hedonismo e pelo prazer dos jogos de palavras aparentemente agressivas

    (sem querer parecer sexista, é um tipo de jogo realtivamente ao qual as mulheres em geral não acham piada, até porque muitas vezes não lhes faz qualquer tipo de sentido)

    julgo que as brincadeiras dos animais na infância em que simulam combates são o que demais parecido conheço com esta actividade (que eu coloco no topo dos níveis de comunicação)

    é apenas o prazer de um combate verbal que se sabe ser apenas a fazer de conta (na adolescência o combate físico com outros rapazes nestas circunstâncias dava o mesmo tipo de prazer)

     
  • At 6 de março de 2007 às 21:28, Blogger zazie said…

    Ah, só isso? mas isso é um dos grandes prazeres dos confrontos tribais. Ainda tenho esse vício desde o tempo da seita das zundapps gamadas.

    Até era capaz de jurar que poucas amizades das verdadeiras não começaram assim.
    Mas tens razão quanto às mulheres. Também penso que não faz parte da tradição feminina esse tipo de confrontos. E dizem que eu não sou nada masculina mas tenho essa experiência de infância por ter vivido num mundo muito masculino.

    Acho que grande parte dos meus conflitos de relação ainda derivam daí. Desse hábito onde os "mariquinhas" não entravam porque desconheciam esse prazer.

    Mas eu estava a pensar em questões bem mais fortes que os braços-de-ferro. Estava a levar a questão ao seu limite. Nas relações ao vivo, claro.

    No mundo virtual é tudo exagerado, para o bem ou para o mal. E, como só há espírito, é muito difícil manterem-se proximidades quando não existe qualquer comunicação ou empatia nas ideias e gostos.

    Ainda assim, mesmo nesse campo, a coisa pode acontecer. Por motivos fúteis e meras simpatias sem explicação.

    São muito saudáveis e devem ser preservadas essas simpatias inúteis. Devemos preservar a condescendência gratuita

    ehehehe

     
  • At 6 de março de 2007 às 21:36, Blogger zazie said…

    nem que seja para contrabalançar o oposto
    ehehe

    Mas a treta dos códigos é que é importante. O Dragão tem essa mania e eu também a tenho. Num dos casos foi ele que colocou sobre protecção certa pessoa com quem encanitava. Apenas pelo fair play demonstrado perante um post.

    Comigo aconteceu um caso idêntico com outra que, a partir daí, passou para o campo dos intocáveis com quem se troca apenas cortezias.

    No meu caso foi devido a enorme magnaminidade peranto um gozo muito forte que lhe fiz. Claro que nenhum de nós tinha motivos nem para gozar nem para simpatizar. Mas veio ao de cima essa força da segurança (ou até da vaidade que nunca se sente tocada com nada) e eu aprecio muito essas respostas de luva branca.

    Tenho um bom leque de "intocáveis". Alguns por motivos banalíssimos

    ":O))

     
  • At 6 de março de 2007 às 21:37, Blogger zazie said…

    No mundo virtual e ao vivo. Claro.

     
  • At 6 de março de 2007 às 21:41, Blogger zazie said…

    Mas esses insultos verbais podem ser uma terapia muito inteligente. Porque existe um jogo que pressupõe um "apertar de mãos" no final. É puro kung fu. Não admira que o Dragão o pratique

     
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