O Cristianismo, na essência, não é uma religião, penso eu. Cristo, não foi um profeta inspirado por um deus, Cristo é uma Pessoa, exemplar, que ao revelar Deus, Se revela a Si mesmo. No fundo, o Cristianismo não é, nem uma crença, nem um culto, é fundamentalmente uma experiência de Paixão e Amor revelado. Nesse sentido, para o cristão, Cristo é, absoluta e verdadeiramente, a Vida. cbs
Deus é um só Deus mas revela-se através de três pessoas. Por que é que nós não podemos seguir este exemplo entre nós os cristãos? Não haverá espaço para expressões diferentes sob o mesmo tecto? Confesso que vivo mais na realidade de não me dar bem con todos por mais que gostasse de ser amigo de todos. É claro que entra aí o pecado, mas a nossa história (no global) aponta mais vezes para uma atitude de divisão em vez de uma de reconciliação e união. Será que, no balanço, entristecemos Deus mais que O glorificamos? -Scott
afirmamos com toda a nossa certeza que não há certezas quanto a Deus, e que a Palavra que Ele nos conferiu não é objectiva nas Suas afirmações universais, mas que a nossa fé relativa satisfá-lO, pois nós acreditamos - não importando o quê, nem porquê, nem para quê - isto porque Deus Se deleita na nossa dúvida sobre Ele e tudo o mais, excepto a razão de duvidarmos - nunca cometendo, nós de boa-fé, a má-educação lógica de aceitar uma Verdade, esse conceito exclusivista e preconceituoso que nem direito concede ao erro das outras premissas - e de desaprovarmos nós - porque sim - de quem sequer conceba um Deus amoroso e compassivo, que manifeste um nome por que possamos clamar, uma Palavra pela que possamos conhecê-lO, e uma revelação que se faça inteligível e sensível à nossa humanidade caída, por Graça - para nossa humildade, e Sua Glória.
É que se houvesse revelação tão íntima, uma Palavra tão acessível, um Deus tão misericordioso, não precisaríamos de toda uma hierarquia de religiosos secludados numa cidade aurífera e cesária para relativizarmos o nosso pecado e interpretar o latim da Sua vontade - segundo múltiplas exegeses feitas com togas e batas compridas, com bordados caros - e assim crescermos na nossa dúvida; e até ao Dia, agirmos segundo ela, para que quando venha o julgamento, aleguemos a impossibilidade de O conhecermos no Seu amor. Nuno Fonseca
A questão crucial da História do Homem, é a luta entre o Amor e a incapacidade de amar, entre o Amor e a recusa do Amor (o Símbolo* e o Diabolo*) Do que precisamos realmente é de pessoas que tenham interiorizado o Cristianismo, e que o vivam como felicidade e como esperança e que, assim, se tenham tornado pessoas que amam, porque então serão imagens d’Ele.
Há domínios da vida em que hoje volta a ser preciso ter coragem para se declarar cristão e em que o perigo de uma ditadura de opinião se torna maior e é excluído quem não concorda com ela. Uma eventual ditadura anticristã será provavelmente muito mais subtil do que o que conhecemos até hoje. Será, aparentemente, favorável à religião, mas sob condição de que não sejam postos em questão os seus modelos de comportamento e pensamento. Joseph Ratzinger citado por AuraMiguel
A tolerância que admite, por assim dizer, Deus como opinião privada, mas que lhe recusa o domínio público, não é tolerância, mas hipocrisia. Bento XVI, Homilia 2/10/2005
Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente rotulado como fundamentalismo. Enquanto que o relativismo, isto é, o deixar-se levar de um lado para o outro, ao sabor de qualquer vento de doutrina, surge como única atitude digna dos tempos modernos. Vai-se assim constituindo uma ditadura do relativismo que não conhece nada como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e os seus quereres. (Bento XVI, Homilia da missa pro-eligendo pontífice, 18/05/2005) cbs
Viva, isto interessa-me Pedro. Acho que o problema é mais do que um fenómeno de relação entre religiões. O essencial radica, creio, na identidade do Cristianismo e na sua relação com o mundo, em particular com o mundo actual. Porque os paninhos quentes com o Islão, parecem-me um caso particular da mesma atitude que tem com a Modernidade, mas com efeitos aparentemente contrários, "relativista" com um, "fundamentalista" com outra. Até que ponto é que a Igreja deve acompanhar o "outro" e onde começa o ponto em que tem de ter a coragem da resistência? Até que ponto é que a Igreja pode abrir-se ao que é diferente e aceitar o diálogo - que, não sendo dois monólogos, necessariamente altera partes da afirmação? E até que ponto a Igreja pode abrir-se ao que é novo, e resguardar-se da esclerose que a isola no passado? Em relação ao Islão, a Igreja faz figura de relativista, mas em relação à Ciência moderna faz figura de fundamentalista. Onde está situado o metacentro*? *o termo aplico-o propositadamente cbs
"Em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos." (Actos 4:12) Há alguma razão para que esta afirmação de Pedro acerca de Jesus Cristo, recebida do próprio Cristo e do Espírito Santo, não seja interpretada pela mesma bitola do célebre “Ama o próximo como a ti mesmo”? (O pormenor do nome é clarificador. O Salvador não é uma entidade mais ou menos indefinida, cuja nomeação voga ao sabor do contexto cultural ou do grau de educação do crente, mas uma pessoa concreta, que é acedida pelo nome.)
A primeira impressão que se tem quando se lê a Bíblia sem mais, que é afinal a primeira maneira de ler seja o que for, é uma espécie de multiplicidade disparada. Passa-se algo de semelhante ao que nos acontece com os grandes romances: uma série infinda de acontecimentos e personagens interpelam-nos, narram-se e são narrados, numa sucessão confusa de peripécias e sentidos. De Adão a Jesus há uma linha, uma genealogia, um trajecto; Abraão, Moisés, David, Job, Maria Madalena, e tantos outros, invadem a nossa casa e passam a habitar nela, como irmãos mais velhos que nos contam como a vida é, o que significa estar aqui sem mais, vivos, se é que significa alguma coisa. A nossa própria vida, claro está.
O personagem que doa unidade a tal panóplia é, como se sabe, o denominado Deus. Que ele se apresente sob diversos números e nomes, sentidos e modos, da sua pluralidade genésica à sua unidade mosaica, do arbusto em chamas ao trovão e à brisa suave até à humanidade de Jesus – ele é o personagem transversal, cujos inúmeros rostos e significados constituem precisamente essa transversalidade.
Deus é dado como um ir-a, um chamamento que ecoa de Adão escondendo-se à conversão cristã. Este referente faz com que os textos bíblicos sejam atravessados por uma peculiar remissão para fora de si próprios, isto é, para fora da sua leitura, assim como dos seus próprios conteúdos. Vai e faz, vem e escuta – é o estertor que os atravessa. São textos que dizem: isto é contigo que nos lês, é maximamente contigo. E isto que é contigo, não é algo contido nestas palavras e contextos, isto que é contigo é o Deus eterno que te criou e chama. Ele te revelará o que és na tua verdade e vida. É como se este personagem fosse uma intensificação da experiência geral da narração, e que a sua habitação em nós deflagre com tremenda presença e força no concreto da nossa vida. Quer abracemos a sua presença, quer a neguemos – nunca mais somos os mesmos. E há que dar uma certa razão aos que pretendem que o monoteísmo é perigoso, visto ser verdade que, na aceitação ou na recusa, pode enlouquecer qualquer um.
A dinâmica de tais textos, no seu apelo a um diálogo vivo, ao empurrarem-nos para fora das suas narrativas mergulhando-nos na nossa, dá-se também nos seus próprios conteúdos. Todos se centram em encontros e diálogos: pessoas, anjos e deuses, que mutuamente se transformam. Para clímax de tal indiciação, temos o próprio Deus revelando-se no humano, fazendo-se carne em Jesus, esse mesmo Deus que regateara com Abraão os justos de Sodoma e que debatera a existência de Job com Satanás, fazendo um trato com este. A inclusão, no corpo canónico do novo testamento, de uma alargada série de epístolas, confirma veementemente a dialogalidade originária do judaísmo; e a trindade cristã é outro eco desta estapafúrdia noção de que no princípio está o diálogo, a mútua palavra que escuta e é escutada.
'Sim, Nuno, o problema é pretenderes teres o juízo religioso sobre outros (o juízo final ou total ou espiritual ou apocalíptico, o que quiseres) substituindo-te assim ao divino'.
Se isto é verdade, e se é pretensão mostrar juízo 'religioso' sobre os outros substituindo-me ao divino, não fará o mesmo o autor desta acusação ao julgar religiosamente esse a quem ele responde? Vamos com calma.
O Vítor, a quem admiro a escrita e a capacidade de desconstrução, mostra, porém, resistência às declarações bíblicas, principalmente as absolutas e universais. Objectivando, isto não é inédito; muito menos no Trento. É apenas a atitude liberal - que tantas vezes se livra até à libertinagem - e que faz esquecer de que é da Escritura que se liberta. É, também, a tendência abstractizante - que tantas vezes resulta em hermetismo/gnosticismo e no ídolo da dúvida (o típico do crente da Nova Era) - que omite o seu prefixo, ab, que se dista do centro. E na teologia, esse eixo é Deus; a periferia, a anátema.
Com o tempo - e com a experiência da leitura para a qual a faculdade (ao menos nisso) contribuiu - fui aprendendo a desconfiar da linguagem; certos dialectos idiossincréticos, como mostrou George Orwell. Depois, passei a escutar com mais meticulosidade discursos históricos, políticos, filosóficos. O estudo da lógica foi-me essencial para o que se passaria a seguir. Desde então, não compactuo com liberalizações de significado, nem abstractizações semióticas - pois reparei que por hábito, são normas pelas quais os -ismos humanos mais totalitários e genocidas se promoveram (cf. socialismo 'científico' vs. gulags da Sibéria, vs. khmerismo do Camboja, etc). É a falácia do idiolecto.
Prefiro o terra-a-terra da Escritura, de palavras humildes e perfume campestre, que os romanos pré-evangelizados viam como despojadas, sem as flores, oiros e púrpuras dos seus Virgílios, mas que bastou, na sua objectividade e síntese invencíveis, para derrubar a cosmovisão pagã, e as que se lhe depararam desde então.
Ao lembrar os mártires que morreram sob a glória de Deus nesses dias, medito sobre como os cristãos pós-modernos, na sua sensibilidade abstractizante e liberal, responderiam à espada. Se viveriam a sua fé em Jesus Cristo, como Ele se revelou na Palavra de Deus; ou se até se submetiam aos deuses falsos e comiam das carnes sacrificiais, através de a) sobretolerância e concílios ecuménicos, pois segundo o Vítor e a Zazie a devoção dos pagãos poderá ser do agrado do Deus verdadeiro, por ser demonstração de fé, embora mal conferida; e b) tal como nos terços e nas santas louças não se é venerada a substância, mas o significante saussurreano, traguemos.
Quanto à acusação do Vítor de que eu tomo o lugar de Deus por mostrar à luz da Escritura desvios da Escritura, permitam-me que use a mesma para responder:
'Não repreendas ao escarnecedor, para que não te odeie; repreende ao sábio, e amar-te-á' (Provérbios 9:8).
'Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o recto juízo' (João 7:24).
'Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra' (II Timóteo 3:16-17).
Prefiro a humildade de aceitar uma leitura mais literal da Palavra que a potencial presunção de impôr a minha interpretação, liberal e abstracta, sobre ela, para evitar o gáudio da epistolatria humana. Nada afirmo sobre Deus que não venha da Escritura.
Se sim, caro irmãos, amem-me. Mas amem-me ao ponto de me repreender, ajuizar, rectificar sob a luz dEla. Pois outra não é a vontade de Deus.
'Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. E para onde eu vou vós conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim' (João 14:1-6).
Perguntei-lhe uma vez, quantos caminhos existem, ao todo, para Deus. Não fazia ideia nenhuma do que ele iria responder. Poderia ter dito "um único" ou "vários". O cardealnão precisou de muito tempo para responder. Disse: "tantos como há pessoas".
"Quando um homem que vive no seio do cristianismo vai à casa de Deus, do Deus verdadeiro, com a verdadeira representação de Deus no espírito, e então reza, mas não em verdade; e quando um homem vive num país pagão, mas reza com toda a paixão do infinito, mesmo que o seu olho se poise sobre um ídolo: onde há mais verdade? Um reza a Deus em verdade, embora reze a um ídolo; o outro reza ao verdadeiro Deus, mas não em verdade, e reza portanto e em verdade a um ídolo."
Johannes Climacus, alias Kierkegaard posto por Vítor Mácula
Do episódio intitulado 'Expiação' da série Serviço de Urgência, surge uma crítica à impraticabilidade da espiritualidade da Nova Era, quando certo indivíduo se confronta com uma emergência moral, no meio do desespero com que uma pós-modernidade sem ética lhe infectou, e em que um homem, em pleno leito de morte, aclama a uma Autoridade Supra-Existencial para que justifique a sua humanidade, a que vê, num momento de lucidez moribunda, como iníqua e irredimível.
"(...) E ele demorou 90 segundos a definhar. Meses mais tarde, um agente da polícia apresentou o caso. O rapaz foi julgado pelo homicídio. Mas não cometeu o crime. — O senhor não tinha possibilidade de saber disso. Deus tentou impedir-me de matar aquele homem inocente, e eu ignorei-O. Como é que eu posso sequer esperançar por perdão? — Penso que por vezes é mais fácil sentirmo-nos culpados que perdoados. E isso significa o quê? — Que talvez a sua culpabilização destas mortes se tenha tornada a sua razão de viver. Talvez precise duma nova razão para progredir. Mas eu não quero 'progredir'... - Não vê que estou velho, com cancro? A única coisa que me sustém é o ter medo. Tenho medo do que se segue. — E o que pensa o senhor que isso é? Diga-me você a mim, ou é assim tão difícil? O que quer Deus de mim? — Penso que cabe a cada um de nós interpretar o que Deus deseja. Para que façamos o que nos apetecer - matar, violar, roubar,... - e isso, quando em nome de Deus, está certo? — Não, não foi isso que estou a dizer. Então, o que está a dizer, afinal? Porque tudo o que ouvi de si até agora foi só porcaria dessa Nova Era do 'Deus é amor', 'faz o que te dá na gana'! — Dr. Truman!... Não, eu não tenho tempo para isto agora! — Dr. Gregg, está tudo bem. Olhe, eu compreendo... - Não, você não compreende! Como pode ter coragem para dizer-me isso? Oiça-me lá: quero um capelão a sério, que acredite num Deus a sério, e num Inferno a sério. — Ouvi dizer que anda frustrado, mas precisa de se questionar se... - Não, eu não preciso de me questionar coisa alguma! Preciso é de respostas! E todas as suas perguntas e a suas incertezas só pioram tudo! — Eu... eu sei que o senhor está perturbado... - Preciso é de alguém que me olhe nos olhos, e me diga como encontrar perdão, porque a mim não me resta muito tempo. — Estou só a tentar ajudá-lo... - Não tente! Vá-se embora!"
Já está. Os nossos "pais" sairam definitivamente e os filhos apoderaram-se do blogue. ah ah ah!
Depois de alguma ponderação, várias bicas e muito pouco porrada (deculpem pela desilusão) os novos "admins" tomaram algumas pequenas decisões uma das quais pode ser mais óbvia e mais outra será evidente em breve. Tudo para revitalizar a nossa conversa e enriquecer a nossa procura da face de Deus.
'Parece-me que a atracção reside no oferecimento duma religião sem arrependimento. Pode-se ter a cura das enfermidades, a prosperidade para os filhos, a paz na alma e até mesmo o acesso a poderes sobrenaturais. (...) É a verdade em relação a todos os movimentos religiosos da Nova Era, principalmente da América do Norte e da Europa. O seu patrocínio pelos altos escalões da burguesia social (a dita 'raça yuppie') não é acidental, pois o que oferece é uma atraente síntese entre o consumismo ocidental e o mistério oriental'.
--Vinoth Ramachandra inA Falência dos Deuses
Os seus templos são as lojas de centro comercial, vendendo incensos curativos de cancros, ofertantes de prosperidade (e tosse), velas litúrgicas com olor a chás de mezinha, e ídolos a deuses orientais da fertilidade terrena ou sexual. Os seus livros sagrados incluem Oprah Winfrey e Paulo Coelho no seu cânone, que podem ser lidos no comboio, sob sonares de golfinhos-zen no i-pod, até voltar a casa, para um jantar de sementes de soja, salada biológica, e compostos de Ómega 3.
Sob este paradigma de crente, posso definir a ortodoxia da Nova Era como uma busca pelo divino sem necessidade de o alcançar, louvando a dúvida que o faz comprar mais ítens religiosos sobre culturas alienígenas e seus mistérios estéticos; venerando um deus amoral e sem ética, que não se distingue da bênção que provê, e se ausenta quando o crente age egotisticamente, sem consideração pelo cosmos; amando uma divindade de que é parte, e, por analogia, a mais ninguém que a ele, que outro não é que a si mesmo.
Após 5 minutos de conversação com um crente da Nova Era, vejo a sua cosmovisão desconstruída e provada ilógica, mas sem escândalo de quem me escuta, apatica- e acriticamente. Aí, lembro o que o salmista diz, sobre o homem se tornar no ídolo que adora:
'Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Semelhantes a eles sejam os que fazem, e todos os que neles confiam' (Salmos 115:4-8).
E, após meio paleio, forço-me a não reparar na anemia e abulia a quem dou a Palavra, com a mesma insipiência no trato como a comida sem sabor que digere; a mesma insapiência que a filosofia redundante e inconclusiva que professa. Num breve silogismo falado, concluo que falo com um panteísta, mas sobretudo com um ateu:
'Deus existe em todas as coisas. É o que vocês, cristãos, chamam omnipresença'. Não. A omnipresença significa estar presente em todo o lado. Isso é panteísmo: é afirmar que o deus existe em tudo e todos. 'Sim. Só Deus existe, e nada mais existe. Pois só o amor existe. E o amor é deus'. Mas se assim é, Deus não tem identidade. 'Como'? A identidade pressupõe um Eu e um Outro, pois não posso ser eu mesmo sem que algo outro que eu exista. Se digo 'sou diferente de ti', estou a identificar-me. Certo? 'Concordo'. Mas o vosso deus não pode dizer isso. Ele não tem identidade, pois não tem algo outro a ele. Não tendo algo outro a ele, implica que nada criou realmente. Se nada criou realmente, o seu amor não é amor, mas masturbação cósmica. E eu não posso amar uma pessoa assim, divina ou não. 'Mas deus não é um ser'.
Trata-se, assim, dum ateu que celebra a ilusão de deus conforme explicou Feuerbach, que, pelo contrário, a lastimava:
'A consciência que o homem tem de Deus é a autoconsciência humana; o conhecimento de Deus é o autoconhecimento humano. (...) Os seres humanos são vistos como tendo adorado a própria natureza'.
Tristemente, e em todos os crentes da Nova Era a quem evangelizo, constato os frutos espirituais da sua não-religião. Os mais ricos no seu estudo, logo abandonam a sua atitude piedosa, e após instantes de apologética, ou desistem da sua teologia e recolhem à busca eterna da divindade que não concebem encontrar, ou destemperam-se na ira, evadindo o debate. Nos mais modestos e comuns, é-me óbvia a sua falta de qualquer leitura que não dos seus manuais de auto-ajuda, que não os afastam, porém, dos seus hábitos de cannabis, haxixe, ou ácido; ou duma vida emocional instibilíssima; ou duma solidão que nem o chá dos brâmanes, nem o álcool do festival do Avante! pode redimir.
Resta-me o radicalismo da Palavra contra a cobardia pós-modernista da Nova Era, de que fala, como sintoma dos Dias do Fim:
'Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas' (2ª Timóteo 3:3-4).
Se Deus é amor, Ele tem que se amar com um nome e uma pessoa e uma identidade para que o amemos como ao homem intimamente se sente o amor, e se é amoroso, e se ama a vida e o bem-estar que o crente da Nova Era deseja, então odeia a morte e o pecado, pois se isto amasse, não amaria de todo (João 3:16).
Quem acha que tem deus, ou similar, dentro de si, espargido em centelhas;
Quem se auto-descobre e dá de caras não com um miserável pecador mas com um tipo fixe, com alguns defeitos por limar, é certo, mas, no fundo, boa pessoa;
Quem acha que a auto-purificação e a auto-edificação são possíveis através de actos, obras de arte, viagens interiores, rituais, leituras, diálogos ou boas intenções;
Quem pensa e age assim, em vez de palmadinhas nas costas, precisa saber que está no caminho errado e que Jesus Cristo viveu, morreu e ressuscitou para que aconteça o que nenhum homem ou mulher pode fazer.
Fazei o mar deflagrar nos rios, e não esboroar as suas margens 2
- O nosso pai é a culpa, a dilaceração confusa, dizia-lhe o amigo ao telefone, ainda ele mal despertara nem esfumara o sonho e o esquecimento do sono, olhava a janela e o céu lá ao fundo, entrecortado por dezenas de antenas de televisão, os pára-raios, a cruz da igreja no fundo azul, Ecumenismo e divisão demoníaca são movimento do mesmo acto, dizia-lhe o amigo, Pôr o problema de quem é ou não de Cristo, releva imediatamente da negação de fé, amor, fortaleza, e ele acendeu o cigarro estremunhado, semiergueu-se e bocejou e disse Vamos lá ver, Hervé, o melhor é eu acordar, e riu, ou sorriu, o primeiro fazendo que o amigo do outro lado do fio recebesse a ironia, e o segundo nada que se notasse pelo telefone.
- À tarde passarei aí, então, de manhã quero escrever, disse o amigo. Ele desligou o telefone que largado caiu para o chão emaranhando-se no seu próprio fio, e o cigarro durou o tempo de ele absorver a impressão matinal do sonho dessa noite, em que andara arrastando-se por estreitos tubos subterrâneos sem como nem porquê, apenas isso, rastejando por túneis apertados e uma luz amarela escura, intermitente, uma sensação de desamparo, de não-saber; e durou o tempo também de suspender as tiradas do amigo num eco silencioso, o tempo de beber o copo de água da cabeceira e levantar-se espreguiçando-se, Fumar em jejum é o pior que se pode fazer, lembrou ele o médico dizer-lhe há uns anos, Pois sim.
Os putos que vendiam cavalo e outros deslizes à porta do seu prédio já estavam no seu posto e ele cumprimentou-os o segundo cigarro do dia a fumegar nos seus lábios e entrou na cafetaria para tomar o pequeno-almoço. Tentou não dar muita atenção à televisão acesa, e muito menos tocar nos jornais espalhados pelas mesas. Era feriado, corpo de deus, coisa que já não se notava directamente nas ruas da cidade, ou melhor, não se exprimia tanto religiosa e publicamente, aliás as ruas da cidade eram cada vez mais neutras e abandonadas de vida e expressão, quase não pareciam já pertencer a ninguém, cheias de anúncios publicitários e transeuntes distraídos e cansados, alguns mitras e turistas e pessoal no desenrasque, no fundo andamos todos a cavalar, é o que é, pensava ele bebendo o café, a deslizar, cansados pois; era a mesma coisa no primeiro de Maio, sinos para um e anódinos panfletos para outro.
Quais de nós vivos, quais de nós mortos, era realmente dilacerante, quando somos ou não somos alguém, algo, nós próprios, vivos e respondendo, quais os dias de revelação e acção, quais os dias e as noites; qual o tribunal capaz de tal veredicto, qual o olhar, qual a lucidez; pagou o croissant com fiambre, os dois cafés, ainda fumou outro cigarro, eram nove e meia da manhã, feriado, já havia malta a beber digestivos ao balcão, à porta discutindo, um cão ladrava mais abaixo perto do videoclube.
Quando era pequeno gostava da escola, pensava enquanto descia a pequena avenida, gostava e ao mesmo tempo detestava, eram os dias do início, que afinal nunca mudaram muito, os dias da pergunta, a que não é enunciada e está no fundo de todas as que proferimos ou calamos, sentimos ou ressentimos; entrou no autocarro, era agradável descer até ao rio, o autocarro vazio sem a marabunta do trabalho, havia qualquer coisa na escravatura moderna que ribombava de violência e perdição, qualquer coisa de inagarrável que queria agarrar toda a gente e tomar o nosso lugar, as nossas decisões, e até o que sentimos e pensamos. Esticou as pernas e encostou a cabeça ao vidro; o autocarro acelerava, ia-lhe saber bem almoçar junto à água, com a cidade maior do outro lado do rio olhando para ele e os barcos passando, ia-lhe saber bem.
Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judeia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja que, no seu seio, leva a esperança do Mundo através dos montes da História. (…) Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como sua Mãe, como Mãe da esperança, Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o Seu reino! Maris Stella, Estrela do Mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 30 de Novembro, festa de Santo André Apóstolo, do ano 2007, terceiro do Pontificado (Carta encíclica Spe Salvi de Sua Santidade Bento XVI) cbs
Ipsilão do Público 2-05-08: "O evangélico, à semelhança do homosexual, tem de sair do armário e deixar de viver estigmatizado pela diferença. Tem de chamar os melhores e falar de igual para igual."
Tá. Cá te vamos esperar pacientemente, pai pródigo... cbs
Alguns, com muito poucos gestos, fazem muito. Outros, com muito mais acção, farão pouco. A diferença, parece-me, está na alma... A alma animal reage instintivamente. A alma humana age por reflexão. A alma cristã age reflectindo... mas reflectindo a Fé em Cristo.
Ajudar os outros a cristianizarem-se deveria seguir esta sequência, parece-me; Ajudar a passar progressivamente da acção instintiva à acção reflectida; e da reflexão à acção na Fé. cbs
Do encontro com George W. Bush, o Papa destacou a “feliz conjugação entre princípios religiosos, éticos e políticos” nos EUA, que considerou “um exemplo válido de sã laicidade, que valoriza a dimensão religiosa"