quinta-feira, janeiro 31, 2008 |
A Sinagoga |
Mediante a surpreendente pluralidade de religiões, que se dispõem entre elas quase em círculos concêntricos, chegamos à religião que mais próxima está de nós: a do povo de Deus da Antiga Aliança. As palavras da Nostra Aetate constituem uma viragem. “Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas… A Igreja não pode por isso, esquecer que foi por meio desse povo, com o qual Deus se dignou, na sua inefável misericórdia, estabelecer a antiga Aliança, que ela recebeu a revelação do Antigo Testamento e se alimenta da raiz da oliveira mansa, na qual forma enxertados os ramos da oliveira bravia, os gentios… Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio que fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos”
Os campos de concentração e o extermínio programado, sofreram-no precisamente em primeiro lugar os filhos e filhas da nação hebraica, apenas por serem hebreus. Auschwitz, talvez o mais eloquente símbolo do Holocausto do povo hebreu, mostra até que ponto se pode ir numa nação ou sistema construído sobre premissas de ódio racial e de vontade de poder, recordando que o anti-semitismo é um grande pecado contra a humanidade; qualquer ódio racial acaba, inevitavelmente por conduzir ao espezinhar da dignidade humana.(…)
A história dos hebreus em Roma é um capítulo aparte na história deste povo, estreitamente ligado de resto, aos Actos dos Apóstolos; defini os hebreus como os irmãos mais velhos na Fé. Este extraordinário povo continua a trazer dentro de si os sinais da eleição divina. Na verdade Israel pagou um alto preço pela sua própria “eleição”. Talvez através disso, se tenha tornado mais semelhante ao Filho do homem que, segundo a carne, era também filho de Israel (…) A Nova Aliança tem as suas raízes na Antiga. Quando poderá o povo da Antiga Aliança reconhecer-se na Nova – isso é, naturalmente, questão a deixar ao Espírito Santo. Nós homens, procuramos apenas não pôr obstáculos neste caminho. A forma de não pôr obstáculos é o diálogo cristão-judaico que, por parte da Igreja, é incrementado pelo Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos Cristãos.
João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Planeta 1994 cbs |
posted by @ 11:37 da manhã |
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quarta-feira, janeiro 30, 2008 |
Back to business |
Por falha imperdoável minha o Proslogium, blogue do nosso Luís, ainda não estava lincado aí ao lado.
Tiago Cavaco |
posted by @ 7:23 da tarde |
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terça-feira, janeiro 29, 2008 |
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E uma manhã dei-me conta de que os homens se perdem ou se salvam não exactamente por aquilo que pensam mas mais precisamente por aquilo que fazem e que, na análise do comportamento e do testemunho, é bem escassa a medida da razão. Reparei que as várias igrejas, ao darem-se piedosas e bem intencionadas teorias e piedosas e bem intencionadas regras de moral, se tinham esquecido da grande riqueza que possuíam e que talvez merecesse mais ser transmitida: o apelo a viver a vida dum Deus que se fizera homem e que terminara a sua experiência humana na amarga queixa ao Pai porque O tinha abandonado, e a tragédia exemplar do testemunho dos seus santos: aqueles que à regra, à forma, à teoria e ao rito tinham preferido viver um difícil testemunho. É que o espírito do homem é necessariamente um espírito incarnado. António Alçada Baptista em 1972 por cbs em 2008 |
posted by @ 9:07 da manhã |
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segunda-feira, janeiro 28, 2008 |
Maomé |
Um discurso diferente deve ser feito sobre as grandes religiões monoteístas, a começar pelo Islamismo. Na Nostra aetate lemos: “A Igreja olha também com estima para muçulmanos. Adoram eles o Deus Único, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra”. Graças ao seu monoteísmo os crentes em Alá estão-nos particularmente próximos.
Contudo, toda a riqueza da auto-revelação de Deus, que constitui o património do Antigo e do Novo Testamento foi, de facto, no Islamismo, posta de parte. Quem quer que, conhecendo o Antigo e o Novo Testamento, leia o Corão, vê claramente o processo de redução da Revelação Divina que nele se efectuou. É impossível não notar o afastamento daquilo que Deus disse de Si próprio, primeiro no Antigo Testamento por meio dos profetas, e depois, de forma definitiva no Novo, por meio do Seu Filho.
Ao Deus do Corão são dados nomes entre os mais belos conhecidos na linguagem humana, mas, ao fim e ao cabo, é um deus fora do mundo, um Deus que é apenas Majestade, nunca Emanuel, Deus-connosco. O Islamismo não é uma religião de redenção. Nele não há espaço para a Cruz e a Ressurreição. Jesus é mencionado, mas apenas como profeta preparando o ultimo profeta, Maomé. É recordada também Maria, Sua Mãe virginal, mas está, completamente ausente, o drama da redenção. Por isso, não apenas a teologia, mas também a antropologia do Islão é muito distante da Cristã.
Nos países onde as correntes fundamentalistas chegam ao poder, os direitos do homem e o princípio da liberdade religiosa são interpretados, infelizmente, muito unilateralmente: a liberdade religiosa é entendida como liberdade de impor a todos os cidadãos a “verdadeira religião”. A situação dos cristãos nesses países é, às vezes, deveras dramática. As posições fundamentalistas deste tipo tornam muito difíceis os contactos recíprocos. Não obstante, da parte da Igreja permanece inalterável a abertura ao diálogo e à colaboração.
João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Planeta 1994 cbs |
posted by @ 10:47 da tarde |
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domingo, janeiro 27, 2008 |
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Amigos, não é o temor do Inferno o que me há-de levar ao Céu; o Amor de Quem lá Se deixa ver e gozar, sim. cbs |
posted by @ 3:27 da tarde |
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sábado, janeiro 26, 2008 |
Buda |
Pois então, continuando a ler o Papa emocional (por contraposição ao intelectual), volto às outras religiões… a esta que lhe trouxe problemas assim na visita ao Sri Lanka em 1995. O respeito sincero não o impediu de amávelmente separar àguas: "If He were only a wise man like Socrates, if He were a prophet like Muhammad, if He were enlightened like Buddha, without any doubt He would not be what He is. He is the one mediator between God and humanity."
Entre as religiões indicadas pela Nostra aetate, é necessário prestar especial atenção ao Budismo, que sob certo ponto de vista é, como o Cristianismo, uma religião de salvação. Todavia, convém logo em seguida acrescentar que as soteriologias do Budismo e do Cristianismo são, por assim dizer contrárias. (…) A soteriologia do Budismo constitui um ponto central, até mesmo o único, deste sistema. Todavia, tanto a tradição budista como os métodos dela derivados conhecem quase exclusivamente uma soteriologia negativa. (…) Na iluminação transmitida por Buda não se fala disso (de Deus). O Budismo é, em relevante medida, um sistema ateu. Não nos libertamos do mal através do bem, que provém de Deus; libertamo-nos dele apenas mediante a distanciação do mundo, que é mau. A plenitude, ou seja um estado de perfeita indiferença no que respeita ao mundo. Salvar-se quer dizer, antes de mais, libertar-se do mal, tornando-se indiferente em relação ao mundo que é a fonte do mal. Nisto culmina o processo espiritual. (…) Assim, não obstante os aspectos convergentes, há uma divergência essencial. A mística cristã de todos os tempos – desde a época dos Padres da Igreja do Oriente e do Ocidente, através dos grandes teólogos da escolástica, como São Tomás de Aquino, e os místicos do Norte da Europa, até aos carmelitas – não nasce de uma iluminação puramente negativa, que torna o homem consciente do mal que reside no apego ao mundo através dos sentidos, do intelecto e do espírito, mas sim da Revelação do Deus vivo.Este deus abre-se à união com o homem e suscita no homem a capacidade de unir-se a Ele, especialmente por meio das virtudes teologais: a Fé, a Esperança e sobretudo o Amor. (…) “Para chegar ao que não gostas, hás-de ir por onde não gostas. Para chegar ao que não sabes, hás-de ir por onde não sabes. Para chegar ao que não possuis hás-de ir por onde não possuis” (Subida ao monte Carmelo, I, 13, 11). Estes textos clássicos de São João da Cruz são, às vezes, no Oriente asiático, interpretados como uma afirmação dos métodos ascéticos próprios do Oriente. Mas o doutor da Igreja não propõe apenas a separação do mundo. Propõe a separação do mundo para a união com aquilo que está fora do mundo, mas não concebe tal separação como um fim em si mesmo, e não se trata do Nirvana, mas de um Deus pessoal. A união com Ele não se realiza apenas na via da purificação, mas por meio do Amor. (…) Ceder a uma atitude negativa em relação ao mundo, na convicção de que ele é para o homem apenas fonte de sofrimento e que, por isso, é necessário um distanciamento, não é só negativo por ser unilateral mas, também, porque é fundamentalmente contrário ao desenvolvimento do homem e ao desenvolvimento do mundo, que o Criador doou e confiou ao homem como tarefa própria. (…) Para o Cristianismo não tem sentido falar do mundo como de um mal radical pois, no principio do seu caminho, encontra-se Deus Criador, que ama a sua criatura, um Deus “que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas venha à vida eterna” (João 3, 16) (…) Não é por isso descabido pôr de sobreaviso aqueles cristãos que, com entusiasmo, se abrem a certas propostas provenientes das tradições religiosas do Extremo Oriente, em matéria, por exemplo, de técnicas e métodos de meditação e de ascese. Em alguns ambientes, tornam-se uma espécie de moda, que é aceite de forma bastante acrítica. Deve, primeiro conhecer-se bem o próprio património espiritual, e reflectir sobre se é justo pô-lo de parte de ânimo leve.
João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Planeta 1994 cbs |
posted by @ 7:07 da tarde |
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"Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo, desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dizímos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque, qualquer que a si mesmo se exalta, será humilhado, e, qualquer que a si mesmo se humilha, será exaltado." (Lc 18, 10-14)
Na típica pregação dominical (pelo menos em meios católicos) o enfâse na interpretação desta passagem das Escrituras costuma ir todo para a hipocrisia do fariseu que não reconhece as suas faltas. Sendo verdade que também é disso que se trata, julgo que muitas vezes não é referida a questão essencial. Porque podia dar-se o caso do fariseu ter analisado com inteira honestidade os seus actos e pensamentos e neles não ter encontrado falta. Improvável? Sim, mas possível. Podia tratar-se de um justo, de um homem que determinada e corajosamente se aplicava a seguir os preceitos do Senhor. Provavelmente um benemérito filantropo, um homem cândido e afável, gentil e honesto, atencioso para com aqueles que o rodeavam. Talvez tivesse adoptado como suas as crianças abandonadas das ruas de Jerusalém, talvez visitasse os leprosos corajosamente consciente do possível contágio, talvez a sua esmola dada aos idosos fosse de uma generosidade ímpar. Não faltaria quem lhe estivesse reconhecido, quem o louvasse como exemplo, quem o estimasse profundamente. Sobre ele qualquer maledicência seria imediatamente reconhecida como tal e também poucos seriam tentados a nela se exercitar pela grande bondade com que o publicano sempre os cumulara.
Seria necessário esboçar um retrato do publicano, com estes e outros meios consideravelmente superiores em eloquência, de tal forma que a própria assembleia se esquecesse da leitura original e desenvolvesse uma estima apaixonada por este homem do Senhor. E quando a assembleia já estivesse prestes a elevar este homem aos cânones dos santos, seria o momento apropriado para o padre mencionar o publicano.
Sim é certo de que se mostrava arrependido, mas que teria feito o publicano para que tal acontecesse? Como cobrador de impostos era dono de um temível poder sobre as populações. Possivelmente teria a balança ligeiramente desregulada para seu próprio benefício, taxando abusivamente as populações para seu proveito próprio, especialmente os mais ignorantes e desprotegidos, as idosas solitárias e miseráveis. Talvez o coração não se lhe movesse diante dos pedidos de clemência por parte da mãe de 10 crianças que batalhava diariamente para conseguir alimento para a sua prole. Não aceitaria sequer um ligeiro prolongamento do prazo sabendo muito bem que o seu marido voltaria a casa dentro de dias com o produto do trabalho de uma semana, suficiente para pagar os impostos. "Não arredo pé enquanto a totalidade do imposto não for paga" alegaria o cobrador, perfeitamente ciente de que seria objectivamente impossível que isso acontecesse. E então talvez exigisse favores de natureza degradante por parte da mãe. Não satisfeito ainda, talvez o exigisse das crianças também.
Seria preciso pintar o quadro mais negro possível, de tal forma abjecto, de tal forma vil e deplorável que se apagaria da assembleia qualquer memória do publicano original e vissem neste homem um garantido condenado ao fogo do Inferno. Seria provável até que a assembleia ficasse chocada com a própria imaginação tétrica do sacerdote, não correspondendo à imagem sacrossanta que usualmente transparecia. E quando a este ponto se tivesse chegado, seria altura de afirmar:
"Pois bem, o que Jesus nos diz é que o segundo homem saiu justificado e o primeiro não".
Este é de facto o escândalo do cristianismo, não apenas o facto do publicano se salvar mas o do fariseu não se salvar.
Porque verdadeira causa de escândalo não é apenas o publicano ser perdoado, é o publicano entrar primeiro que o fariseu, ou seja, poder vir a entrar primeiro que eu!
Claro que me diriam que este seria um cenário altamente improvável, que as obras também dizem alguma coisa sobre o estado espiritual das pessoas e a sua abertura à Graça salvífica. Concedido, e daí a importância das obras na Salvação. Mas é fundamental não esquecer que as obras adquirem mérito pela Graça com que são imbuídas, pela sua associação a Cristo. E se para Deus existe mérito, para nós as nossas próprias obras mérito algum devem ter. Mas este é o paradoxo do cristianismo, a confusão da justiça divina que Jesus também menciona na parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20). A essência de tudo isto é maravilhosamente descrita nesta deixa do Stárets Zóssima nos Irmãos Karamázov:
"«Mãezinha, minha pombinha, na verdade cada qual tem culpa perante todos, por todos, só que as pessoas não o sabem e, se viessem a saber, seria imediatamente o paraíso na Terra» Meu Deus, penso eu e choro, isto não pode ser mentira... na verdade posso ser eu o mais culpado, por todos, posso ser eu o pior homem do mundo" Luís
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posted by @ 3:27 da tarde |
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quinta-feira, janeiro 24, 2008 |
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O escândalo do Cristianismo é este: um monstro desta envergadura (leitura não recomendada aos mais sensíveis) ficar totalmente limpo de culpa por um simples toque de Deus.
Pedro Leal |
posted by @ 11:04 da tarde |
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terça-feira, janeiro 22, 2008 |
O Tiago já a recomendou 500 vezes |
mas foi só após me deparar mais uma vez com o raio da First Things neste post sobre a "Catholic Renewal" nas universidades americanas que me decidi tornar assinante (on-line que dispenso o papel). O artigo Catholic Scholars, Secular Schools é genial e diz claramente aquilo que (pelo menos também para mim) deveria ser a reflexão filosófica católica moderna nas academias.
Actualmente a tal reflexão oscila entre dois pólos: universidade "católica" em que se discute tudo e mais alguma coisa mas já ninguém sabe o que é de facto ser católico (caso da grande maioria das universidades jesuítas) ou universidade católica tradicional (caso de algumas poucas espalhadas pelos EUA) onde toda a gente sabe o que é ser católico mas ninguém sabe discutir com o mundo exterior segundo os seus próprios standards de exigência filosófica, científica ou racional. Frequentemente ficam escandalizados se alguém põe alguma coisa em dúvida nem que seja para aprofundar a doutrina, já que ela tem que ser continuamente testada pela razão como tão brilhantemente diz o autor: Catholic tradition is a living thing to be contested as well as upheld, not a gentle legacy to be perfumed and powdered.
Solução proposta? Núcleos católicos de gente verdadeiramente preparada (e católica) nas universidades seculares. Expôr a sã doutrina ao são exame. É assim que somos testados, é assim que aprendemos alguma coisa e só assim poderemos alguma vez aspirar a ser mais do que a Igreja que passa de geração em geração, juntamente com a mobília, a loiça de motivos campestres e uns trocados que os progenitores lá conseguiram não esbanjar ao longo da vida.
P.S.: O artigo da First Things é citado a propósito do debate sobre o aborto que o núcleo católico da Universidade do Colorado promoveu. Vale a pena ler o resumo e as considerações do autor do blog.
Luís |
posted by @ 7:57 da tarde |
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E por vezes ainda, o ecumenismo é claramente demais... |
Quando o timshel se sai com uma destas "Segundo Skinner, a felicidade nada mais é que a produção de comportamentos premiados. Para o Catecismo da Igreja Católica também."
Não só não vem nada disso no Catecismo como essa afirmação não pode sequer ser apelidada de cristã. Se queres uma definição de farisaísmo acabaste de a fornecer. Também tenho muitas simpatias intelectuais fora do cristianismo mas não tenho a desonestidade intelectual de forçar a Igreja a dizer coisas que não diz só para que as minhas simpatias estejam todas muito integradas.
Mas vejamos o que diz o Catecismo:
Capítulo primeiro
A dignidade da pessoa humana
II. O desejo de felicidade
1718 As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de origem divina; Deus pô-lo no coração do homem para o atrair a Si, o único que o pode satisfazer:
«Todos nós, sem dúvida, queremos viver felizes, e não há entre os homens quem não dê o seu assentimento a esta afirmação, mesmo antes de ela ser plenamente enunciada». [1]
«Como é então, Senhor, que eu Te procuro? De facto quando Te procuro, ó meu Deus, é a vida feliz que eu procuro. Faz com que Te procure, para que a minha alma viva! Porque tal como o meu corpo vive da minha alma, assim a minha alma vive de Ti.»[2]
«Só Deus sacia».[3]
1719 As bem-aventuranças descobrem a meta da existência humana, o fim último dos actos humanos: Deus chama-nos à sua própria felicidade. Esta vocação dirige-se a cada um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja, povo novo constituído por aqueles que acolheram a promessa e dela vivem na fé.
III A bem-aventurança cristã
1720 O Novo Testamento emprega muitas expressões para caracterizar a bem-aventurança a que Deus chama o homem: a chegada do Reino de Deus, a visão de Deus: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8); a entrada na alegria do Senhor; a entrada no repouso de Deus:
«Lá, descansaremos e veremos; veremos e amaremos; amaremos e louvaremos. Eis o que acontecerá no fim sem fim. E que outro fim temos nós, senão chegar ao Reino que não tem fim?».[4]
1721 De facto, Deus colocou-nos no mundo para O conhecermos, servirmos e amarmos, e assim chegarmos ao paraíso. A bem-aventurança faz-nos participantes da natureza divina (1 Pe 1, 4) e da vida eterna. Com ela, o homem entra na glória de Cristo e no gozo da vida trinitária.
1722 Uma tal bem-aventurança ultrapassa a inteligência e as simples forças humanas. Resulta de um dom gratuito de Deus. Por isso se classifica de sobrenatural, tal como a graça, que dispõe o homem para entrar no gozo de Deus.
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus". É certo que "ninguém pode ver a Deus" na sua grandeza e glória inenarrável e "continuar a viver", porque o Pai é inacessível. Mas, no seu amor, na sua bondade para com os homens e na sua omnipotência, vai ao ponto de conceder aos que O amam esta graça: ver a Deus [...] porque "o que é impossível aos homens é possível a Deus"».[5]
[1] Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicae 1. 3, 4: CSEL 90, 6 (PL 32, 1312) [2] Santo Agostinho, Confissões, 10, 20, 29: CCL 27, 170 (PL 32, 791). [3] São Tomás de Aquino, In Symbolum Apostolorum scilicet «Credo in Deum» expositio, c. 15: Opera omnia, v. 27 (Parisiis 1875) p. 228 [4] Santo Agostinho, De civitate Dei, 22, 30: CSEL 40/2, 670 (PL 41, 804). [5] Santo Ireneu de Lião, Adversus Haereses, 4, 20, 5: SC 100, 638.
E o Catecismo até tem o condão de não ir directo ao assunto. Para isso temos o nosso tão mal-amado escolástico, tão "formal", mas que na sua formalidade tem o condão de ser absolutamente claro:
Article 5. Whether man can attain happiness by his natural powers?
Objection 1. It would seem that man can attain Happiness by his natural powers. For nature does not fail in necessary things. But nothing is so necessary to man as that by which he attains the last end. Therefore this is not lacking to human nature. Therefore man can attain Happiness by his natural powers. Objection 2. Further, since man is more noble than irrational creatures, it seems that he must be better equipped than they. But irrational creatures can attain their end by their natural powers. Much more therefore can man attain Happiness by his natural powers. Objection 3. Further, Happiness is a "perfect operation," according to the Philosopher (Ethic. vii, 13). Now the beginning of a thing belongs to the same principle as the perfecting thereof. Since, therefore, the imperfect operation, which is as the beginning in human operations, is subject to man's natural power, whereby he is master of his own actions; it seems that he can attain to perfect operation, i.e. Happiness, by his natural powers. On the contrary, Man is naturally the principle of his action, by his intellect and will. But final Happiness prepared for the saints, surpasses the intellect and will of man; for the Apostle says (1 Corinthians 2:9) "Eye hath not seen, nor ear heard, neither hath it entered into the heart of man, what things God hath prepared for them that love Him." Therefore man cannot attain Happiness by his natural powers.
I answer that, Imperfect happiness that can be had in this life, can be acquired by man by his natural powers, in the same way as virtue, in whose operation it consists: on this point we shall speak further on (63). But man's perfect Happiness, as stated above (3, 8), consists in the vision of the Divine Essence. Now the vision of God's Essence surpasses the nature not only of man, but also of every creature, as was shown in the I, 12, 4. For the natural knowledge of every creature is in keeping with the mode of his substance: thus it is said of the intelligence (De Causis; Prop. viii) that "it knows things that are above it, and things that are below it, according to the mode of its substance." But every knowledge that is according to the mode of created substance, falls short of the vision of the Divine Essence, which infinitely surpasses all created substance. Consequently neither man, nor any creature, can attain final Happiness by his natural powers.
Reply to Objection 1. Just as nature does not fail man in necessaries, although it has not provided him with weapons and clothing, as it provided other animals, because it gave him reason and hands, with which he is able to get these things for himself; so neither did it fail man in things necessary, although it gave him not the wherewithal to attain Happiness: since this it could not do. But it did give him free-will, with which he can turn to God, that He may make him happy. "For what we do by means of our friends, is done, in a sense, by ourselves" (Ethic. iii, 3). Reply to Objection 2. The nature that can attain perfect good, although it needs help from without in order to attain it, is of more noble condition than a nature which cannot attain perfect good, but attains some imperfect good, although it need no help from without in order to attain it, as the Philosopher says (De Coel. ii, 12). Thus he is better disposed to health who can attain perfect health, albeit by means of medicine, than he who can attain but imperfect health, without the help of medicine. And therefore the rational creature, which can attain the perfect good of happiness, but needs the Divine assistance for the purpose, is more perfect than the irrational creature, which is not capable of attaining this good, but attains some imperfect good by its natural powers. Reply to Objection 3. When imperfect and perfect are of the same species, they can be caused by the same power. But this does not follow of necessity, if they be of different species: for not everything, that can cause the disposition of matter, can produce the final perfection. Now the imperfect operation, which is subject to man's natural power, is not of the same species as that perfect operation which is man's happiness: since operation takes its species from its object. Consequently the argument does not prove.
Summa Theologica, Primeira parte da segunda parte, 5ª Questão, Artigo 5, de S. Tomás de Aquino.
O que para a Igreja constituí há séculos a felicidade é a visão beatífica ou a "vision of Divine Essence" (há que admirar a capacidade de síntese dos escolásticos). Que é sobrenatural e alcançada pela graça.
Perdoem-me os leitores do blog a extensão do post, mas julgo que é útil mesmo para os nossos irmãos protestantes perceberem aquilo em que realmente a Igreja Católica acredita.
Luís |
posted by @ 12:53 da manhã |
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segunda-feira, janeiro 21, 2008 |
E às vezes o ecumenismo é um filme. |
Gertrud caminha no fio da navalha, na fronteira ténue que separa o amor como dádiva total do amor como diluição fácil e ansiada no outro. Não se contentando com a mediocridade do amor "razoável" (o qual a nossa era, cheia de psicanálises e diagnósticos de patalogias interiores, parece patrocinar como o amor dos "esclarecidos" num patético simulacro de sentimentos) nem tão pouco se perdendo no amado de tal forma que a vocação amorosa se torne numa horrorosa e tão frequente caricatura destrutiva e cega do que seria elevado, dir-se-ia que Gertrud pretende realizar o impossível equilíbrio. Este é O filme sobre o amor. Diria também que é O filme feminista no que a palavra tem de mais essencial. Talvez não seja por acaso que a peça na qual se baseia é de Söderberg, autor sueco, de um país onde a mulher já na época alcançara um estatuto que permitia saltar fora das convenções de ambos os lados da barricada sobre o que esta deve ser. É um filme que qualquer cristão, aliás, qualquer ser humano que se propõe a esta difícil empresa deve ver e rever com devoção. Não o posso recomendar o suficiente. E passa na Cinemateca amanhã às 21h30. Luís |
posted by @ 7:48 da tarde |
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domingo, janeiro 20, 2008 |
Às vezes o ecumenismo é um poema. |
A Hymn to God the Father
I Wilt thou forgive that sin where I begun, Which is my sin, though it were done before? Wilt thou forgive that sin, through which I run, And do run still: though still I do deplore? When thou hast done, thou hast not done, For I have more.
II Wilt thou forgive that sin which I have won Other to sin? and, made my sin their door? Wilt thou forgive that sin which I did shun A year, or two, but wallowed in a score? When thou hast done, thou hast not done, For I have more.
III I have a sin of fear, that when I have spun My last thread, I shall perish on the shore; But swear by thy self, that at my death thy son Shall shine as he shines now, and heretofore; And, having done that, thou hast done, I fear no more.
John Donne (1633)
Luís |
posted by @ 4:27 da tarde |
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sexta-feira, janeiro 18, 2008 |
Já que andam todos a ler o Ratzinger, deixem-me ouvir o Woityła |
Desde o início, a revelação cristã lançou à história espiritual do homem um olhar que, de certo modo, integra todas as religiões, mostrando a unidade do género humano a respeito dos últimos e eternos destinos do homem.(…) A Igreja vê o esforço a favor desta unidade como uma das suas próprias tarefas.(…) "Os homens esperam das diversas religiões resposta para os recônditos enigmas da condição humana, os quais hoje como ontem, profundamente preocupam os seus corações: Que é o homem? Qual o sentido e a finalidade da vida? Que é o pecado? Donde provém o sofrimento e para que serve? Qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? Que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte? Finalmente, que mistério ultimo e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos? Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai." (Nostra aetate, 1-2)(…) " A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, não raramente reflectem um raio da verdade que ilumina todos os homens" (Nostra aetate 2)(…) As palavras do Concílio retomam a convicção, há tanto tempo radicada na tradição, da existência das chamadas semina Verbi (sementes do Verbo), presentes em todas as religiões. Consciente disso, a Igreja procura individuá-las nestas grandes tradições do Extremo Oriente, para traçar, sobre o pano de fundo das necessidades do mundo contemporâneo, uma espécie de via comum. Podemos afirmar que, aqui, a posição do Concílio é inspirada por uma solicitude verdadeiramente universal. A Igreja deixa-se guiar pela fé em que Deus Criador quer salvar todos em Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens, pois redimiu a todos. O Mistério pascal está igualmente aberto a todos os homens e, nele, a todos está também aberta a estrada para a salvação eterna.(…) O Concílio dirá também que o Espírito Santo opera eficazmente também fora do organismo visível da Igreja. Opera precisamente, a partir destas semina Verbi, que constituem quase como que uma comum raiz soteriológica * de todas as religiões. (…) Assim pois, em vez de nos surpreendermos de que a Providencia tenha permitido uma tão grande variedade de religiões, deveríamos antes admirar-nos dos numerosos elementos comuns que nelas se encontram. João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Planeta 1994 (pag. 76 em diante)* numa perspectiva salvífica, de cura do mal.O Concílio Vaticano II postou estas palavras na declaração conciliar Nostra aetate onde sedefinem as relações da Igreja Católica com as religiões não cristãs. Espero sinceramente, ó José, que não me venha agora o Ratz a dizer "És indecente ó cbs! Confrontar um gajo, assim, a frio, com disparates por ele escritos há mais de quarenta anos!" cbs na fase cubista :)
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posted by @ 11:07 da tarde |
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ex-citações |
És indecente ó Cbs! Confrontar um gajo, assim, a frio, com disparates por ele escritos há mais de quatro anos! Disparates que ele pensava já estarem enterrados numa espessa camada de sedimentos boguísticos! Obrigá-lo a fazer aqui em público o que ele evita fazer em privado e que é explicar-se! Tás lixado comigo, pá! Vou chamar a Zazie para seres trucidado à saída da missa! Mas antes de pereceres em holocausto zaziano sempre terás direito não à explicação, que essa é minha e só minha, mas antes a uma interpretação. Realmente, no meu percurso de fé eu tive um período cubista, chamemos-lhe assim. Ou panteísta, se quiseres. Nessa altura, como católico destes tempos, tolhido por um higiénico horror ao Catecismo mas galvanizado pelo interesse do Papa João Paulo II no diálogo inter-religioso, eu procurei o meu encontro com Jesus que é Deus e procurei-O por todo o lado. Comecei por querer perceber os muçulmanos, coitados (estávamos em 2001, claro), e li sobre o Maomé, li os Sufis, cheguei mesmo a tentar ler o Corão! Depois li a História das Religiões do Trevor Ling que me levou a espreitar o Budismo e o Hinduísmo. Cheguei a ler o Bhaghavad Gitâ, ou lá como aquilo se chama, pela competente tradução e contextualização do António Barahona, esse autêntico brâmane. Tive o meu período judaico, com ajuda do Paul Johnson, descobri Isaac Luria e a Cabala, sobretudo o bom Maimónides que deu o nome ao meu Guia, fartei-me de conversar com o Nuno Guerreiro da Rua da Judiaria, reli o Pentateuco enquanto Torá! E, já avançado nesta deriva religiosa, consegui chegar mesmo aos nossos irmãos evangélicos onde, na falta de teólogos encartados, comecei a ler o Tiago Cavaco, hábito que mantenho ainda hoje. Tudo isso porque tive a intuição de que « a essência das revelações divinas que estão na génese das grandes religiões é muito semelhante». Pior, ocorreu-me que « a negação da Verdade das outras religiões prejudica objectivamente a afirmação da Verdade da nossa; a mútua exclusão e anatemização entre Religiões é fonte, talvez a maior, do ateísmo! A assunção profunda da Verdade da nossa religião obriga-nos a aceitar e respeitar a Verdade das outras religiões. O Ecumenismo não deve pois ser um esforço de tolerância: é um imperativo racional e teológico! » Soa bem como o caraças, não soa? Mas depois, lentamente, paulatinamente, fui caindo em mim, fui percebendo que padecia de um mal que nem original era: excesso de conhecimento sobre os Outros, falta de conhecimento sobre Nós próprios. E isso era bem patente nas estantes da minha sala! Tinha que reequilibrar os níveis e fi-lo, sempre de fora para dentro, começando com a Simone Weil, com o Victor Frankl, com a Edith Stein, todos ex-judeus chegados ao Cristianismo, como se precisasse do seu apoio para também eu redescobrir aquilo que a nossa Fé tem de único e irreproduzível. E andava eu às costas do Unamuno quando Ratzinger foi eleito Papa, facto que me desolou profundamente. Ora foi a tentar perceber este guardião da Fé Católica, ao lê-lo (o que não é fácil), que a minha antipatia por ele se tornou numa imensa admiração. E foi então que o meu deslumbramento inter-religioso deu lugar a uma vergonha embaraçada e logo depois a uma redescoberta maravilhada e que é a redescoberta daquilo que é tão essencial como distintivo no Cristianismo e, dentro dele, do Catolicismo. Aquilo que abafa todos os relativismos, aquilo que torna a nossa Fé num inigualável instrumento de Conhecimento. E seja dito também que este fórum trauliteiro também ajudou a cimentar o meu renovado catolicismo. E é nesta que eu estou, ó meu, ó Cbs dum camano! Só para teres uma ideia termino com uma citação comentada do grande Ratz, só para perceberes que essa cena do essencial ser comum e ser uma viagem e ser tal e coiso, não é nada assim: «Onde Deus é compreendido como puro nada em relação a tudo o que nos parece real, como é o caso do budismo, não existe uma relação positiva de ‘Deus’ com o mundo. Neste caso o mundo não está aí para que lhe demos forma, e sim para que seja superado, porque é a fonte do sofrimento. A religião serve então para mostrar os caminhos de superação do mundo, de libertação do peso da sua aparência, mas não nos fornece parâmetros para viver nesse mundo, nem formas de responsabilidade comum dentro dele. No hinduísmo, a questão é um pouco diferente. O essencial é a experiência da identidade: no fundo do meu ser eu sou um só com o fundo oculto de ser da própria realidade. A salvação encontra-se assim na libertação da individuação, ou seja na superação da distinção de todo o ser baseada no ser pessoa: é preciso eliminar a ilusão do si mesmo sobre si mesmo. Onde já não existe a singularidade da pessoa, fica difícil justificar a dignidade da pessoa individual». Percebe-se assim melhor algo que quase nós todos esquecemos há muito: que o personalismo, a responsabilidade perante o outro e a comunidade são valores profundamente cristãos, na sua essência. E quanto ao mundo, Ratzinger diz-nos que «o mundo não é apenas aparência que, em última análise devemos deixar para trás. Ele não é apenas a roda infinita dos sofrimentos, da qual devemos tentar escapar. O mundo é positivo. Ele é bom, apesar de todo o mal e todo o sofrimento que contém, e é bom viver nele».
(da Introdução ao Cristianismo que a todos recomendo) E mai nada! josé
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posted by @ 11:08 da manhã |
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quinta-feira, janeiro 17, 2008 |
querido proselitismo (ando com saudades das Testemunhas de Jeová) |
Como não quero ficar atrás do meu amigo Carlos Cunha, cito (com ligeiras correcções) também eu uma passagem admirável dum comentário da besta bota-fumo lá no seu tugúrio:
"As pessoas não vão à Igreja? Comepete-lhes ir buscá-las onde elas estão. Interessar-se por elas. Eu moro numa paróquia. Tem uma igreja que, dizem, é belíssima. Nunca lá entrei. Nunca lá fui nem a qualquer outra. Mas um filho da mãe dum padre nunca se deu ao trabalho de me vir perguntar porquê. E, no entanto, devia. Devia, ao menos, explicar-me porque é que eu devia lá ir. Qual o sentido que isso faria e a diferença que isso implicaria. Se eu fosse padre havia de chatear as pessoas. Vinha ter comigo e dizia-me: Jesus mandou-me perguntar por ti, meu irmão. E eu havia de lhe responder: tome lá, padre, calce estas luvas de boxe. Lutemos. Se aguentar dois assaltos pela sua fé, eu, César Augusto Dragão, pecador e iconoclasta, putanheiro danado, terei toda a honra em ir à sua igreja. Assim, há-de levar-me o diabo. Porque Deus nunca quis saber de mim."
timshel |
posted by @ 7:58 da tarde |
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quarta-feira, janeiro 16, 2008 |
Cristianismo em Rede – A Igreja na Net - relatório e contas |
Para os milhares de interessados que ficaram ontem à porta do Centro Nacional de Cultura e não tiveram a oportunidade de ouvir o meu pensamento esganiçado e a minha voz tortuosa, aqui deixo um atraente elenco dos tópicos que sustentaram a intervenção mais apagada da noite (de uma noite não especialmente interessante):
- agradecimentos; introdução (pressuposto da experiência pessoal sobre o tema) - a descoberta do mundo dos blogues (já na 2ª geração) em meados de 2003 = frescura, diversidade, liberdade (descomprometimento); renovação do discurso; - preocupações religiosas e assunção explícita ou implícita da confessionalidade em blogues não religiosos = [a bordo, cibertúlia, timshel e poesia distribuída na rua] - os blogues religiosos = voz do deserto e guia dos perplexos - percepção da expressão na blogolândia da diversidade de sensibilidades e vivências religiosas dentro do catolicismo - posicionamento político-religioso fora do catálogo oficial esquerda/direita = timshel - os protestantes na blogosfera: os animais evangélicos - a contra-reforma católica: a experiência inovadora e ímpar da terra da alegria = voz de leigos - a terra da alegria como espaço de abertura à interconfessionalidade - o trento na língua = experiência ecuménica singular - crítica: falta de debate dentro dos blogues e sites católicos sobre a Igreja - crítica: pouco debate sobre realidade social no trento na língua - ex: as medidas saloias do governo (retirada dos crucifixos e proibição da escolha de nomes de santos para as escolas); excepção típica: o aborto
encore: - o diálogo bloguista como incentivo ao aprofundamento do estudo sobre questões suscitadas; o regresso à instituição e ao comprometimento
Cumprimentos para Ana Cláudia Vicente, pelo inesperado e amável convite, para José Leitão, que acalenta a poética esperança de salvar o socialismo no PS; e para Bruno Cardoso Reis, que fugiu antes que eu pudesse conversar com ele.
Carlos Cunha
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posted by @ 10:08 da tarde |
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Desassossego |
Na edição deste mês das Novas de Alegria, uma boa revista evangélica, a nota biográfica de um missionário pentecostal sueco falecido no final do ano passado: “O jovem casal Ebba e Eric viviam numa pequena e sossegada vila no centro da Suécia. O Eric era um empresário bem sucedido, sempre presente na diferentes actividades da igreja local, mas em 1951 ouviu uma voz dentro dele dizendo LISBOA, sem saber o seu significado (em sueco é diferente). No mesmo dia, por coincidência(!), ele encontrou um dicionário onde descobriu que Lisboa significava, em português, a capital de Portugal. Contou o sucedido à sua esposa e, por estranho que pareça, ela também tinha ouvido a mesma voz. Ambos sentiram que era em Portugal que Deus os queria, e sabiam que era importante serem obedientes à voz de Deus!” A relação pessoal com Deus traz sempre o risco do desassossego. Podem ser vozes ao ouvido, ou dentro da cabeça. Ou silêncios soberanos. Ou cutucadas estratégicas, nos encontros e desencontros da vida.
Pedro Leal |
posted by @ 1:13 da tarde |
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sábado, janeiro 12, 2008 |
Rute |
Não insistas comigo. Não vou voltar, nem te vou deixar. Para onde fores, eu irei também. Onde tu viveres, eu também viverei. O teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, eu também morrerei e serei sepultada. Sómente a morte nos poderá separar. ( Rute,1-16) Foi preciso um protestante e um judeu contarem a história, para que este pobre católico, com pouco mais que a primeira comunhão, aprendesse uma bonita lição de piedade, espírito de sacrifício e integridade moral. A história de Rute, a moabita antepassada de David… e de Jesus. Atenção José, tá-me cá a parecer que o rapaz tem uma estratégia astuta (como diria o Pedro Leal) para nos evangelizar. Pelo menos eu tenho ido a mais missas em S. Domingos de Benfica, do que no Lumiar, lol
cbs (imagem de Hayez)
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posted by @ 11:57 da tarde |
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sexta-feira, janeiro 11, 2008 |
Quando mais é menos |
Por pedido, coloco a citação de um "one liner" meu extraido de uma conversa de ontem:
"As melhores pregações que já ouvi em Portugal eram as do meu primeiro ano aqui. Pois, entendi apenas a metade."
Deixo a avaliação do que eu disse aos mais sábios, mas assumo a responsabilidade pelas palavras que eu proferi.
-Scott |
posted by @ 11:16 da manhã |
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quinta-feira, janeiro 10, 2008 |
Cristianismo em Rede – A Igreja na Net |
Cristianismo em Rede – A Igreja na Net é o tema do próximo colóquio promovido pelo Centro de Reflexão Cristã. Tem lugar no Auditório do Centro Nacional de Cultura, sito no Largo do Picadeiro, nº 10 - 1º andar, em Lisboa (metro Baixa-Chiado), na terça-feira, dia de 2008 (está quase, portanto), e terá início às 18:30 horas. Coloquiarão Ana Cláudia Vicente e os vossos servos Carlos Cunha e Tiago Cavaco - sim, nós mesmos, detentores do saber de experiência feito de espalhar a fé (e o Império, no caso católico) por essa rede fora. A palestra será tão aberta, mas tão aberta, que mesmo o povo poderá intervir. Estão todos convidados, portanto.
Carlos Cunha e Tiago Cavaco |
posted by @ 11:56 da manhã |
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segunda-feira, janeiro 07, 2008 |
O fanatismo da tolerância* |
«O Governo socialista de José Luis Zapatero resolveu suprimir o ensino religioso, facilitar o divórcio e permitir o casamento de homossexuais. O objectivo é o "reequilíbrio" da Espanha, que, segundo parece, trinta anos de democracia deixaram excessivamente católica e "franquista". Dentro do seu papel e do seu direito, o arcebispo de Madrid e o arcebispo de Valência convocaram uma pequena manifestação de protesto (160.000 pessoas) contra a "cultura do laicismo" e contra leis que alegadamente contrariam o "matrimónio indissolúvel" e a "transmissão da vida". O Governo de Zapatero acusou logo a Igreja de se intrometer na campanha eleitoral (a 9 de Março há eleições), de fazer um comício como um vulgar partido (no caso, o PP) e de "ignorar" e "não respeitar" os princípios da liberdade. Em Espanha, e na "Europa" inteira, ninguém se lembraria de criticar ou de inibir manifestações contra o ensino religioso, pela facilitação do divórcio ou pelo casamento de homossexuais. Como ninguém se lembra de criticar ou de inibir manifestações por formas de autonomia nacional que roçam, ou até entram, pelo separatismo. E obviamente ninguém pede que se ponha fim a uma certa propaganda islâmica ou, se preferirem, de ensino corânico, que prega a perversidade essencial do Ocidente e tenta promover a sua expeditiva eliminação. Tudo isto a "Europa" acha legítimo; e sobre tudo estende a sua simpatia. Em contrapartida, cai o céu se qualquer católico, padre ou Papa, se atrever a afirmar activamente o que pensa. A "Infame" deve estar calada ou, pelo menos, ser discreta. O fanatismo, o da Espanha (de Zapatero) e o da "Europa", não é novo; e o fanatismo anticatólico também não. É só estranho que este se funde na "diversidade" e o aceitem em nome da "tolerância". Uma "diversidade" imposta e limitada pela força do Estado, que não levanta a mais leve dúvida ou o mais leve incómodo. E uma "tolerância" reservada ou recusada pela ortodoxia oficial, que se tornou o argumento supremo da intolerância. O mundo moderno e a opinião que o sustenta autorizam o que autorizam e proíbem, muito democraticamente, o resto. As democracias, como se sabe, produzem com facilidade aberrações destas. Quem não gosta que se arranje ou se afaste. O Papa Ratzinger previu para a Igreja uma era de quase clandestinidade. Provavelmente, não se enganou».
05.01.2008, Vasco Pulido Valente, no Público.
O problema também é português, claro. Notícias como esta não são apenas a face da saloiice do governo português e do primeiro-ministro. Inserem-se no ofensiva jacobina dos homens de avental, que tem expressão legal na Comissão de Projectos para as Comemorações do Centenário da República, criada pelo governo através da Resolução do Conselho de Ministros nº 170/2005, de 28 de Outubro. Essa Comissão, constituída por personalidades de alta estirpe e bem representativas do republicanismo luso, como Vital Moreira (presidente) Joaquim Romero Magalhães, Inês Pedrosa, Madalena Torres e David Ferreira, produziu um relatório de 91 páginas, concluído em Setembro de 2006. Aqui podem ler-se algumas das "ideias" da Comissão: - «completar os requisitos da laicidade do Estado» (na senda das medidas urgentes e essenciais que o governo tem promovido, como retirar todos os 13 crucifixos das escolas públicas ou alterar os nomes de santos das escolas, das freguesias, dos hospitais; quanto aos feriados religiosos, ainda não tocou, o que revela alguma falta de coerência - digamos assim); colóquios sobre os temas do «laicismo», do «pós-secularismo» e dessa instituição retrógrada que é a "família"; - «proceder à revisão do código civil em matéria de relações familiares, tendo em conta as novas realidades sociais» (isto é, corrigir por decreto-lei, a natureza, a antropologia e a biologia e equiparar o casamento às relações homossexuais; também aqui não se vai ao fim no raciocínio: restringem-se as "novas realidades sociais" apenas à união de duas pessoas); - incentivar «trabalhos lectivos de âmbito curricular e extra curricular, nos domínios da História, da Filosofia, da Análise de Actualidade, da Formação para a Cidadania, etc.» (Filosofia que, como se sabe, este governo suprimiu das disciplinas obrigatórias, de modo a evitar que os cidadãos aprendessem a pensar); - «convidar Filipe La Feria» para uma revista com o objectivo de «recriar a época (mas, sem hostilizar a monarquia)» (sic, pág. 54). Comentários para centenario.republica@pcm.gov.pt.
*título do artigo de VPV
Carlos Cunha |
posted by @ 11:34 da manhã |
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Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mt., 22, 21)
Curiosamente, este papa, que é tido como um papa reaccionário, no sentido de vir reiterar uma espécie de dogmática, sobretudo na ordem ética, que caracteriza a mensagem católica, é, a outros níveis, um papa menos reaccionário do que as pessoas julgam. Ele veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. Foi o primeiro papa a fazer uma pastoral, ou talvez uma encíclica, já não sei, sobre o tema do amor, na qual o “Eros” é tratado nas suas diversas conotações, e não apenas nessa conotação negativa e pecaminosa que o conceito tinha arrastado até hoje na visão cristã do mundo. As pessoas não dão atenção a estas coisas, mas são muito mais reveladoras do que as posições, mais fáceis, na ordem ideológico-política. Gostei muito desse texto, que cita Nietzsche sem “problemas de pluma”. Nietzsche!, repare bem, o assassino de Deus, o Anti-Cristo. Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o célebre atleta de Deus. Em todo o caso, estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena.
Eduardo Lourenço
cbs
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posted by @ 10:57 da manhã |
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domingo, janeiro 06, 2008 |
Guerras santas |
Quando questionado sobre as razões da vitória, anteontem no Iowa, Mike Huckabee , o baptista, respondeu: “só há uma explicação e não é humana. É o mesmo poder que ajudou um rapaz com dois peixes e cinco pães a alimentar uma multidão de cinco mil pessoas”. (Alexandra Prado Coelho no Publico 5/I/08).
Depois da morte de Deus, que Nietzsche imaginou, não parece sobrevir (pelo menos ainda) a criação de novos valores. Observa-se é o retorno a galope das religiões, por vezes no seu pior fanatismo. Do Islão ao Ocidente – acrescentaria o fanatismo europeu da “cultura do laicismo” com a sua “tolerância” selectiva, que de facto funciona muitas vezes como uma “religiosidade laica” (ver Polido Valente no mesmo jornal). Mas nem num lado, nem noutro, posso concordar com a politização das religiões. Aquilo que na América terá começado com Bush filho, não vai acabar e está para ficar. Não posso concordar com a presença a religião-politica – e a reacção anti-religiosa laica, em Espanha e antes em França, é também isso - porque não esqueço os resultado; já vimos, desde a velha guerra civil europeia chamada dos “Trinta anos”, até aos ódios recentes da Irlanda, da Bósnia, da Índia, do Islão radical, já vimos por aí o potencial de morte que essas clivagens arrastam, quando aplicadas na política.
E para além da posição politica, a questão parece-me também e acima de tudo ética. Expressa-se na formulação do imperativo kantiano “Age de tal maneira que uses a Humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca como meio” (Fundamentação da Metafísica dos costumes). É absolutamente intolerável a conversão de si, e do outro em puros meios, que é uma base do Totalitarismo. Isto envolve o inaceitável de assimilar a religião a uma forma de governo, de identificar a religião com o papel desempenhado por um governante. Jesus ensinou que o fim da nossa acção (que é amor) é o Outro (além do Pai), mas nunca as instituições humanas, como fins em si mesmas: dai a César o que é de César. E quando o evangélico Huckabee, pretende que o mesmo poder que ajudou Jesus, veio dar-lhe a vitória no Iowa, sugere que Deus afasta os outros, e não fica longe do velho maniqueísmo entre puros e imundos. cbs |
posted by @ 1:37 da manhã |
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Um blogue de protestantes e católicos. |
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