sexta-feira, janeiro 18, 2008
Já que andam todos a ler o Ratzinger, deixem-me ouvir o Woityła
Desde o início, a revelação cristã lançou à história espiritual do homem um olhar que, de certo modo, integra todas as religiões, mostrando a unidade do género humano a respeito dos últimos e eternos destinos do homem.
(…) A Igreja vê o esforço a favor desta unidade como uma das suas próprias tarefas.
(…) "Os homens esperam das diversas religiões resposta para os recônditos enigmas da condição humana, os quais hoje como ontem, profundamente preocupam os seus corações:
Que é o homem?
Qual o sentido e a finalidade da vida?
Que é o pecado?
Donde provém o sofrimento e para que serve?
Qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira?
Que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte?
Finalmente, que mistério ultimo e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?
Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai." (Nostra aetate, 1-2)
(…) "A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, não raramente reflectem um raio da verdade que ilumina todos os homens" (Nostra aetate 2)
(…) As palavras do Concílio retomam a convicção, há tanto tempo radicada na tradição, da existência das chamadas semina Verbi (sementes do Verbo), presentes em todas as religiões. Consciente disso, a Igreja procura individuá-las nestas grandes tradições do Extremo Oriente, para traçar, sobre o pano de fundo das necessidades do mundo contemporâneo, uma espécie de via comum. Podemos afirmar que, aqui, a posição do Concílio é inspirada por uma solicitude verdadeiramente universal. A Igreja deixa-se guiar pela fé em que Deus Criador quer salvar todos em Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens, pois redimiu a todos. O Mistério pascal está igualmente aberto a todos os homens e, nele, a todos está também aberta a estrada para a salvação eterna.
(…) O Concílio dirá também que o Espírito Santo opera eficazmente também fora do organismo visível da Igreja. Opera precisamente, a partir destas semina Verbi, que constituem quase como que uma comum raiz soteriológica* de todas as religiões.
(…) Assim pois, em vez de nos surpreendermos de que a Providencia tenha permitido uma tão grande variedade de religiões, deveríamos antes admirar-nos dos numerosos elementos comuns que nelas se encontram.
João Paulo II, Atravessar o limiar da esperança, Planeta 1994 (pag. 76 em diante)

* numa perspectiva salvífica, de cura do mal.

O Concílio Vaticano II postou estas palavras na declaração conciliar Nostra aetate onde sedefinem as relações da Igreja Católica com as religiões não cristãs. Espero sinceramente, ó José, que não me venha agora o Ratz a dizer "És indecente ó cbs! Confrontar um gajo, assim, a frio, com disparates por ele escritos há mais de quarenta anos!"
cbs na fase cubista :)
posted by @ 11:07 da tarde  
3 Comments:
  • At 19 de janeiro de 2008 às 13:37, Blogger Pedro Leal said…

    O discurso meias-tintas católico é sempre difícil de perceber... mas tem a vantagem de servir para quase tudo :)
    Não deixa de ser significativo que em 1994 Ratzinger fosse o Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ou seja, este texto teve que lhe passar pelas mãos.

     
  • At 19 de janeiro de 2008 às 14:31, Blogger cbs said…

    é mais que isso Pedro... o texto do João Paulo II, cita partes da declaração notra aetate (tá linkada)de 1965. Tenho a certeza que o Ratz tava "engajé" na visão inter-religiosa do Vaticano II.
    Que por acaso é a minha rigorosamente - meias tintas e tudo, lol... mas não as vejo como meias tintas.
    Será ainda, a de Sua Santidade?

     
  • At 20 de janeiro de 2008 às 15:54, Blogger josé said…

    Cbs,
    não vejo aqui qualquer contradição inter-papam pelo que subscrevo o qque ambos dizem das outras religiões. dizer-se que todas as religiões contém sementes da Verdade é algo com que, ainda hoje, concordo profundamente. não me esqueço da minha descoberta de que o hinduísmo é, no seu fundamento profundo, uma religião monoteísta, não me esqueço da beleza única do misticismo sufi islâmico - ainda hoje o Rumi é um dos meus profetas. nem que o budismo contém coisas que são absolutamente comuns com o cristianismo. agora o que hoje acho absolutamente é que a mais prefeito e completo caminho de regresso a Deus está na Fé em Jesus Deus encarnado, morto e ressuscitado. mas não é aqui nos comments que eu vou explicar isto ;)...

     
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