“Nem todos os artigos da doutrina de Deus são do mesmo género. Há alguns cujo conhecimento é de tal modo necessário que ninguém deve duvidar deles, porquanto se trata de decretos e princípios da Cristandade. (…) Há outros, que estão em disputa entre as Igrejas, sem no entanto romperem a unidade destas.” Jean Calvin, “A instituição cristã”
“Ao expor as doutrinas, os teólogos lembrar-se-ão de que há uma ordem, uma “hierarquia” das verdades da doutrina católica, em virtude da sua relação mais ou menos estreita com o fundamento da fé cristã.” (Concílio Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo)
Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar
Letra e Música de Gilberto Gil; Voz de Elis Regina
Quando José Pacheco Pereira escreve no seu blogue que ”a caridade não é a missão do Estado. A missão do Estado é garantir a nossa segurança, sem mas, nem ambiguidades”, aproxima-se muito da perspectiva puritana acerca da responsabilidade individual e o papel do Estado, sobre a qual postei aqui na passada semana. Este é um bom exemplo de como os extremos, neste caso ateísmo (JPP) e pia religiosidade, podem, discordando em quase tudo, encontrar pontos comuns. (Nota: é interessante verificar que, na ausência de uma religiosidade subjacente, o liberalismo cria figuras como a “mão invisível” que orienta os mercados. Um pouco, como o “acaso”, regulador e criador, engendrado pelos evolucionistas).
"Quando mais leio este elenco mais me convenço que ele é feito do acaso e não contém qualquer mensagem. Mas estas páginas incompletas acompanharam-me por toda a vida que desde então me restou viver, muitas vezes as consultei como oráculo, e quase tenho a impressão de que quanto escrevi nestas folhas, que tu agora lerás, ignoto leitor, mais não é que um centão, um carme figurado, um imenso acróstico que não diz nem repete mais que aquilo que aqueles fragmentos me sugeriram, e já nem sei se eu falei até agora deles ou se falaram eles pela minha boca. Mas, em qualquer dos casos, quanto mais recito a mim mesmo a história que daí saiu menos consigo compreender se nela há uma trama que vai para além da sequência natural dos eventos e dos tempos que os relacionam entre si. E é coisa dura para este velho monge, às portas da morte, não saber se a letra que escreveu contém algum sentido oculto, e se contém mais de um, muitos ou nenhum."
"O Nome da Rosa", Umberto Eco (tradução de Maria Celeste Pinto, Edição Difel, pags. 498/499) (já mesmo no fim)
"Na origem, o riso é (...) do domínio do diabo. Tem algo de maléfico (as coisas revelam-se de repente diferentes daquilo por que se faziam passar) mas também tem em si uma parte de alívio benfazejo (as coisas são mais leves do que pareciam, deixam-nos viver mais livremente, cessam de nos oprimir sob a sua séria austeridade).
Quando o anjo ouviu pela primeira vez o riso do Astucioso, foi tocado pela admiração. Passava-se o caso durante um festim, a sala estava cheia de gente e as pessoas foram acometidas, uma após outra, pelo riso do diabo, que é horrivelmente contagioso. O anjo percebeu claramente que aquele riso era dirigido contra Deus e contra a dignidade da sua obra. Sabia que devia reagir depressa, de uma forma ou outra, mas sentia-se fraco e indefeso. Como não era capaz de inventar nada sozinho, macaqueou o adversário. Abrindo a boca, emitiu sons entrecortados, sacudidos, com intervalos superiores aos do seu registo vocal (...), mas dando-lhe um sentido oposto. Enquanto o riso do diabo designava o absurdo das coisas, o anjo queria, pelo contrário, regozijar-se com o facto de tudo aqui em baixo estar bem ordenado, sabiamente concebido, ser bom e pleno de sentido.
Assim, o anjo e o diabo estavam face a face, e, mostrando as bocas abertas, emitiam quase os mesmos sons, mas cada um exprimia pelo seu clamor coisas absolutamente contrárias. E o diabo olhava para o anjo que ria, e ria-se ainda mais, tanto melhor e tanto mais francamente quanto o anjo que ria era infinitamente cómico."
"O Livro do Riso e do Esquecimento", Milan Kundera, (Publicações Dom Quixote, tradução de Tereza Coelho, pags. 65 e 66)
"O Anticristo pode nascer da própria piedade, do excessivo amor de Deus ou da verdade, como o herege nasce do santo e o endemoninhado do vidente. Teme, Adso, os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, que de costume fazem morrer muitíssimos com eles, frequentemente antes deles, por vezes em seu lugar. Jorge cumpriu uma obra diabólica porque amava de modo tão lúbrico a sua verdade que ousava tudo com a condição de destruir a mentira. Jorge temia o segundo livro de Aristóteles porque ele ensinava talvez a deformar deveras o rosto de toda a verdade, a fim de que não nos tornássemos escravos dos nossos fantasmas. Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é aprender a libertar-nos da paixão insana pela verdade."
"O Nome da Rosa", Umberto Eco (tradução de Maria Celeste Pinto, Edição Difel, pags. 485 e 486)
"A haver avivamento, só pela Igreja Católica" e depois, juntando o polegar e o indicador "Nós somos assim, pequenininhos".
Mais tarde, disse-me ainda "Se muitos baptistas que eu conheço soubessem como é realmente a Igreja Católica na acção social, de certeza que se mudavam para lá num piscar de olhos."
Aqui fica a resposta ao post sobre mim que Zazie não permite que seja publicada no blogue pessoal dela. Extraiu um comentário meu fora de contexto e persiste em distorcer o conteúdo do meu debate com ela, caricaturando a minha postura e difamando apenas porque discordo de si. Sublinho que a dada altura, Zazie recusou-se a continuar o debate que iniciámos no post que enderecei ao Timshel aqui, no Trento, revertendo a discussão para o blogue dela. Depois, ao confrontá-la com o porquê de não manter a altercação pública, redundou de novo naquele spam de insultos e blasfémias. Assim, vemos como seria o procedimento dela.
Enjoy:
"Autorização concedida! Primeiro que tudo, a hipótese 3 é obrigatoriamente errada, porque não sou pastor. A questão do 'ocidentalizado' também é questionável, porque venero um judeu. Anyway, Zazie, todos no Trento partilhamos da opinião que és interessante e tens coisas muito pertinentes a dizer e até se circulou a ideia de integrares o plantel, mas porque cedes sempre ao insulto? Creio que és capaz de melhores argumentos. No nosso desdém comum pelo jacobinismo, sabemos que calar perspectivas e discordâncias em nome da 'união' e do 'bom-senso', começa em revoluções libertadoras, mas que redundam sempre em reinos de terror. O que te peço é doutra ordem: quero continuar a conversar contigo sem ter que vestir o casaco e deixar-te com a conta das bebidas por pagar.
E quanto à controvérsia, deixa-me explicar a intenção de listar estes versículos, porque percebi que não percebeste o intento por trás disto. Adianto isto: não faz parte da agenda cristã, evangélica, reformada qualquer género de conquista do poder pela espada. Cremos que a Escritura está certa quando afirma que o Evangelho vencerá e que temos uma guerra em vista - mas que esta é travada não contra a carne, mas contra o espírito. Ou seja, o mundo será redimido por Cristo um coração de cada vez, pela conversão de cada homem ao Evangelho, pelo amor.
Feito o disclaimer, quando postei este comentário, falava-se sobre como a cosmovisão judaico-cristã não encaixa na humanista. Sobre a moralidade e a ética, disse-te que Deus - sob a pressuposição que falávamos, ou seja: o Deus bíblico - não se submete a nada. É soberano. E isso consola saber. Todos concordam que 'Deus é amor', mas o que adiantaria ser ele amor, se não é soberano sobre ele? Que me adianta uma divindade amorosa, mas impotente? Assim funciona com a ética e a moral cristã, como celebrada na teonomia: estes são padrões que não são exteriores a Deus, e não estão por cima dele. Ele não os viola, mas isso é porque é racionalmente impossível que o faça, porque o mal é desobediência ao Deus que é amor, justiça, paciência, misericórdia; e Deus, não se desobedecendo a ele mesmo, não faz o mal. A sua vontade é o bem, logo é tudo o que ele faz. Para mais sobre o assunto, por favor lê esta resenha dum livro do filósofo Gordon Clark a propósito: http://www.monergism.com/evilproblem.html
Agora a parte delicada: creio mesmo no que estes versículos dizem; ou seja, Deus ordenou mesmo isto. Antes de me chacinares como os judeus aos ameliquitas, deixa que te explique: se os judeus não o fizessem a eles, eles fá-lo-iam aos judeus. Deus falava prescientemente ao seu povo segundo a narrativa do Talmude, de forma que a ordem foi cautelar, mais do que arbitrária, como descontextualizadamente se pode atribuir. Segundo a teonomia do OT, o homicídio arbitrário é um pecado. Contudo, é justificado se em autodefesa. Foi o caso. Mais ainda: se o povo hebreu fosse genocidado, a semente de David não se prelongaria até à geração em que o Messias apareceria para redimir o seu povo do pecado adâmico. Seria grave a este ponto: literalmente o nosso fim.
Agora podes é argumentar sobre a validade do texto bíblico na questão de que se é verdade que o Deus omnisciente, omnipotente, omnipresente, omnibenévolo é o da Escritura. Sendo tu católica, penso que partilhas o estatuto que atribuo à Palavra: o de verdade axiomática e base da cosmovisão do cristianismo.
§
SOLI DEO GLORIA"
Repito que a Zazie é livre de comentar, mas não pode maldizer os intervenientes e membros, nem spammar o blogue. Justo?
Nuno Fonseca
Actualização: Parece que concordámos num armistício. Zazie sempre vai debater e os ânimos de ambas partes foram mitigados. Para um calvinista logocêntrico como eu, custa-me admitir o poder da imagem, mas a esta rendi-me:
O detalhe da insígnia da FlorCaveira com o brazão de Lutero por baixo bordados num chapéu de Puritano é simplesmente priceless.
"Os Puritanos tinham mais confiança na responsabilidade social individual do que nas agências governamentais e sociais. Para eles, a acção social eficaz começava com o indivíduo. Richard Greenham escreveu:
“Certamente que se os homens fossem cuidadosos em reformar-se a si mesmos primeiro, e depois às suas famílias, veriam as múltiplas bênçãos na nossa terra, sobre a igreja e a comunidade. Pois de pessoas particulares vêm famílias; de famílias, cidades; de cidades, províncias; e de províncias, regiões inteiras.”
Tal declaração é uma rejeição implícita da posição liberal moderna de que o modo de combater os males sociais é multiplicar agências sociais. Que as pessoas como indivíduos são decaídas os Puritanos sabiam tão bem como nós. Mas eles também sabiam que as instituições não escapavam aos efeitos da Queda e são, de facto, o produto de pessoas decaídas. M. M. Knappen resume a teoria Puritana quando escreve:
“Quando o Puritanismo é comparado aos modernos sistemas colectivistas, aparece o seu individualismo. Os pensadores do século dezasseis não depositavam fé no Estado como tal. A integridade de um sistema não salvaria ninguém. Integridade deve haver, mas também deve haver cooperação pessoal e responsabilidade individual.”
Os Puritanos eram igualmente individualistas na sua abordagem à ajuda financeira. Eles opunham-se à caridade indiscriminada e insistiam que ajuda fosse dada apenas àqueles em genuína necessidade. William Perkins pode ser considerado como típico quanto ao pensamento Puritano a respeito de mendigos e vagabundos. Perkins disse que eles “são (na maior parte) uma geração maldita”, “pragas e chatos” tanto para a igreja como para o Estado. “É a boa lei da nossa terra”, acrescentou ele, “agradável à lei de Deus, que ninguém deveria pedir, se é capaz de trabalhar”. A injunção de Paulo de que “se alguém não quiser trabalhar, não coma” (II Tessalonicenses 3:10) foi um dos textos mais frequentemente citados entre os Puritanos."
"Santos no Mundo – os Puritanos como realmente eram", Leland Ryken (Editora Fiel, pag. 190 e 191)
Percebe-se que a perversão da verdadeira impossibilidade do humano comungar com o divino a partir de si mesmo, ilegitimamente transformada em maldição de toda a natureza humana no seu sentido próprio, obnubile e correspondentemente impossibilite o reconhecimento do próprio humano; e que toda a dinâmica reflexiva se volatilize em nome duma suposta graça de Deus que a aniquile no seu próprio fundo, e por decorrência nos ponha em acção de aniquilamento de toda a humanidade em nós e no outro; abandona-se toda a dignidade própria, lealdade para com os outros e para com a verdade, assim como todo o sentido do bem e do belo; e que se cubra assim com um véu de maledicência tudo o que há de sagrado na natureza e na humanidade.
Percebe-se, e aterrados reconhecemos, a imitação demoníaca do divino a crescer em nós.
A.N. Wislon, foi um novo ateu toda a sua vida adulta, militando até a sua agenda em associações seculares/humanistas e debatendo cristãos, cuja fé via como irracional e subversiva à espécie humana. Recentemente, converteu-se a Cristo ao vislumbrar a beleza da Páscoa e na narrativa bíblica de que todos somos parte. A maioria, contrafeitos. Outros, rendidos a aceitá-la.
Eis a pequena semente que sopra fugaz em todas as coisas e rostos, no soçobro da alma nós a vimos e vivemos, inteiramente na sua vinda em plena e divina estranheza.
Toda a nossa ida ao bem e ao belo, e toda a nossa justa ira, no oposto se elevavam e dirigiam; mas o próprio deus nos visitou na carne e no rosto do seu filho, humilde entre todos. Não na mentira nem no disfarce, sem logro e sem ilusões ele nos mostrou o deus verdadeiro, que adentro de todas as coisas e relações se esconde, mostrando-as e libertando-as no agir próprio delas; e que fulgura dito e contradito em todas as palavras e actos, que se buscam a si próprios, na medida em que se perdem no apocalíptico tempo.
Nós queríamos um mundo de luz e força que separasse os iníquos dos justos e deflagrasse nos primeiros a destruição; mas ele trouxe a luz do mundo no seu ser, a que desde o princípio dos tempos jaz na noite primeira, no segredo da vida que põe em marcha as coisas que são, no nada que foram e no vazio que serão. Ainda hoje e sempre, raramente o reconhecemos e amamos, a alma é traiçoeira, e a vontade de força e poder é o espinho que a nossa inteira carne continua a rasgar, e a resgatar; pois é na fragilidade do mundo e no rumor da sua fugacidade, que o deus a si próprio nos conduz.
Soubemos o que sempre fora dito pelos santos e profetas: que toda a potestade que se forma como poder de si, é força de morte; a segunda morte, a que apodrece a alma na vitória de inacabáveis destruições; a que ergue as torres do orgulho e nos separa da criação, fechando e sufocando a vida, num mundo que se pensa justificado no nada de si; a que nos afunda nas trevas do isolamento mais fundo; esse, que vem do desespero e da separação primeira; que erguendo-se tonitruante clama vir reconfigurar a vida à sua maneira e adequação, e que nesse clamor abafa a única coisa em que estas afinal se desvelam: o sopro de si que se perde no outro e na criação, e que estes ama na sua inteira diferença; e que nas infindas e originais formas e forças da vida, se reencontra mergulhado no verbo do deus criador, a quem tudo retorna depois do vazio, em divina plenitude.
Há católicos e há Católicos e os verdadeiros hão de se identificar. Isto foi o comentário de um palestrante (sendo traduzido). Muitas são as vezes em que nós os evangélicos queremos "separar as águas" ou mesmo o joio do trigo esquecendo-nos da parábola sobre os mesmos (Mat. 13.24-30).
Ainda participo no Trento... para aprender com outra gente que se identifica com o Senhor.
O dvd do filme do ano passado, baseado no livro de Evelyn Waugh, já está disponível. A história passa-se no anos 30 em Inglaterra. É acerca do poder da culpa Católica numa família de nobres ingleses e da perplexidade que uma vivência doentia da religião causa num elemento ateu que está de fora. É também um filme sobre homossexualidade e o desejo de poder. A religião triunfa, no fim. O parvo, afinal, era o ateu, que pensava que a culpa cristã era coisa que, depois de entranhada pudesse alguma vez voltar a sair.
1. Então vais refutar um ateísta falacioso caindo na falácia-de-bolso do ateu? A pergunta 'Será que Deus, sendo omnipotente, consegue criar uma pedra que nem ele mesmo pode levantar?' é fácil de responder: se Deus é omnipotente (ie, tem todo o poder) nada há acima dessa plenitude potencial; logo é ilógico perguntar se algo há que seja mais poderoso que a totalidade da potência. Não se replica tal questão, porque é paradoxal nas suas premissas.
2. Sem omnipotência não tens Deus. As 'calamidades naturais e o sofrimento gratuito' são resultado do pecado humano, que libertou o mal para o mundo. Porque deixou Deus o pecado e o mal entrar no mundo? Porque foi o seu propósito desde a eternidade; e não sendo autor destes, é autor dos seus autores, que autorou com este fim. Passando a citar algo que responderá também à dúvida do CBS sobre o fundamento bíblico da omnipotência:
'Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal [heb. rah - calamidade, destruição]; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas' (Isaías 45:7).
'. . . Fomos predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da sua glória' (Efésios 1:11-12)
'Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse' (Actos 4:26-28).
Segue-se um vídeo de admoestação intitulado 'Cosmovisões fracas criam cristãos fracos':
A eucaristia é o instante de baixar as armas, todas e em cada qual – de todo o conflito de interesses, ideias, sentimentos, práticas, modos de vida; o que fôr que seja que nos oponha em diferendo e exclusão, escuridão mútua.
Trata-se duma imundana paz, que se cruza com a doação substancial do deus vivo, afim de sermos capazes de o receber activamente; e de viver disso, e nisso.
(A milhas que estou disto, é realmente assustador; meros e fugazes são os instantes em que isso me toma verdadeiramente, a fé da igreja; assim me sustenha e sustente a oração dos irmãos, dos anjos e dos santos, o corpo de cristo; e indicie em mim, como que de longe, a tarefa e o caminho.)
Sem se dar conta que esta é uma manifestação de fé com a mesmíssima validade epistemológica que a de quem acredita que o Rei é Deus. É tão (in)demonstrável considerar que tudo é obra do acaso como considerar que é obra de Deus.
De facto, quem adora o Deus-Acaso está a professar uma fé num desconhecido ainda maior que Deus pois não sabe rigorosamente do que está a falar. O acaso é, com efeito e por definição, algo que, em última análise, não se consegue explicar (senão não seria acaso mas necessidade).
Contudo, parece a estes neo-ateus neo-agnósticos neo-liberais que esta fé na Ignorãncia é, de algum modo, superior à Fé em Deus, sobretudo à Fé no Deus-Amor dos cristãos.
E, na sua escala de valores, têm razão. Porque o Deus-Acaso não supõe nenhuma moral, nenhum “dever ser”, nomedamente nenhum imperativo amoroso como a solidariedade para com os mais fracos e os mais desfavorecidos. Os dogmas dos seguidores do Deus-Acaso, são, consequentemente, “a lei do mais forte” e “as leis do mercado”.
Afinal este Deus-Acaso é mais terreno do que o que parece.
PS.1 (4/5/09): Louvado seja Deus! Todas as pessoas que leram este post tiveram a Compaixão de não chamar a atenção à ignorância revelada neste meu post quando escrevi Ignorância com um til.
PS.2 (4/5/09): Claro que Deus não é omnipotente (daí as calamidades naturais e o sofrimento gratuito, nomeadamente). Pelo menos no sentido lógico do termo que os homens usam (Deus não consegue fazer uma pedra que Ele não consiga levantar). A omnipotência de Deus é a parábola da omnipotência do Amor.