terça-feira, maio 19, 2009
Encontros improváveis
Quando José Pacheco Pereira escreve no seu blogue que ”a caridade não é a missão do Estado. A missão do Estado é garantir a nossa segurança, sem mas, nem ambiguidades”, aproxima-se muito da perspectiva puritana acerca da responsabilidade individual e o papel do Estado, sobre a qual postei aqui na passada semana. Este é um bom exemplo de como os extremos, neste caso ateísmo (JPP) e pia religiosidade, podem, discordando em quase tudo, encontrar pontos comuns.
(Nota: é interessante verificar que, na ausência de uma religiosidade subjacente, o liberalismo cria figuras como a “mão invisível” que orienta os mercados. Um pouco, como o “acaso”, regulador e criador, engendrado pelos evolucionistas).

Pedro Leal
posted by @ 11:28 da tarde  
15 Comments:
  • At 20 de maio de 2009 às 00:14, Blogger zazie said…

    Muito pertinente essa nota.

    Mesmo muito.

     
  • At 21 de maio de 2009 às 02:11, Blogger Nuno Fonseca said…

    Todos os estados são uma teocracia. O que põem sobre o trono teocrático pode não se chamar 'deus', mas há uma fonte moral e ética que transcende estas, fazendo-as, no entando, ser obedecidas. Negando a transcendência, tem-se a redundância: o Estado tem como missão a garantia da segurança, pois é esse o papel do Estado.

    JPP está a um passo de entender a falha do seu materialismo/naturalismo.

     
  • At 22 de maio de 2009 às 18:33, Blogger maria said…

    Pedro,

    confesso que não entendo onde queres chegar. E se concordas com o JPP.

    Eu discordo completamente. Prefiro esta opinião do Pedro Magalhães:

    http://outrasmargens.blogspot.com/2009/05/num-pais-serio.html

     
  • At 22 de maio de 2009 às 19:19, Blogger zazie said…

    A primeira parte do post do PL é ideológica e só pode ter opinião ou debate político.

    A segunda- a nota- é teológica e particularmente interessante.
    E até acaba a negar o que sustenta ideologicamente a primeira parte- a tal política.

    Foi um bom post- daqueles sintéticos e "directamente para a veia".

    Há que reconhecê-lo

    ehehe
    Estou-me a rir mas não estou a gozar.

     
  • At 22 de maio de 2009 às 19:23, Blogger zazie said…

    De resto, a propósito de criminalidade nem entro em discussão porque já se tornou pretexto para insultar os pobres.

    Como quem é pobre tivesse de ser criminoso.

    O resto é mesmo política e nada tem a ver com caridade.

    Tem a ver com lei frouxa de código penal imbecil e com políticas irresponsáveis de porta aberta.

    Mas o interessante é mesmo a nota.

    Na nota é que está a tacada ao mito que também fez do carcanhol utopia- à conta da fezada na tal mãozinha.

     
  • At 22 de maio de 2009 às 20:35, Blogger maria said…

    sim, isso percebi. queria perceber era a posição do PL. Fiquei baralhada com a aparente contradição que referes, Zazie. Não me parecia muito à PL.

    Também não me interessa entrar nisto pela discussão "Bela Vista", não é que seja indiferente às pessoas que lá vivem. Mas não é preciso pegar num caso particular.

    Mas qual o papel do Estado na protecção dos cidadãos, sobretudo os mais desfavorecidos, incapazes etc.? Só conta a responsabilidade individual?

     
  • At 23 de maio de 2009 às 00:06, Blogger musaranho-coxo said…

    A posição do PL é mais que conhecida.

    Tens aí dezenas e dezenas de posts onde ele sempre a afirmou.

    Há que ser justo, o PL não empastela. Defende x posições políticas e isso é lá com ele.

    E faz ligação entre essas posições e a tradição calvinista e isso até é curioso porque tem uma grande verdade histórica.

    A parte da nota é que é teológica e, no outro dia, eu disse algo parecido no post do Tim- aquele onde o Tim falou do Deus Acaso e das leis do darwinismo social.

    Este é um excelente post para se lhe contrapor.

    Ambos dizem metade da verdade. E este é muitíssimo pertinente por ter mostrado que o tal "Acaso" também é lei. A lei possível para o ateísmo que depois tem de desencantar uma protecção "natural" a tal mãozinha invisível.

    Este post do PL foi brilhante.

     
  • At 23 de maio de 2009 às 00:07, Blogger musaranho-coxo said…

    phónix! outra vez....

    Foi o danado do musaranho que me apanhou a cache do computador.

    Mas pronto, já sabem quem é

    ":O?

     
  • At 23 de maio de 2009 às 00:10, Blogger musaranho-coxo said…

    O papel do Estado é questão política e, é um facto, que nada tem a ver com caridade.

    Teoricamente o PL está certo. Falta o resto, que é a política que também não tem de ser teologia nem caridade

    ":O)))

    Mas a notinha altera tudo. Se o PL levar às últimas consequências o que tão brilhantemente escreveu só tem 2 saídas- ou dá em Católico anarquista, ou vira social democrata.

    ":O)))))

    (esta agora é charada para ele)

     
  • At 25 de maio de 2009 às 02:20, Blogger zazie said…

    toma

     
  • At 25 de maio de 2009 às 13:46, Blogger Pedro Leal said…

    zazie

    Quanto ao poema, para além da eventual parcialidade na abordagem, julgo que tem a ver sobretudo com um período de mudança. Imagino que algo de parecido poderia ser escrito por estes dias se em Portugal as IPSS deixassem de receber dinheiro do Estado.
    Quanto á charada, acho que o campo de manobra é um pouco mais vasto. Precisamente porque os valores são teológicos (justiça, responsabilidade, caridade, etc) e não políticos - fugi bem à questão ? :)

     
  • At 25 de maio de 2009 às 15:49, Blogger zazie said…

    Pedro:

    Não sei se percebeste que o poema não foi feito por mim.

    O poema era uma balada popular que se cantava em Inglaterra.

    Não imagino como é que tu consegues detectar parcialidade numa balada popular do século XVI.

    Mas posso passar-te numenos, aos milhares dos que acabaram por morrer à fome.

    Por outro lado, a tua comparação da assistência privada dos mosteiros aos pobres, com o Estado, é perfeitamente demagógica.

    Porque então, a bao da caridade puritana também era a mesma coisa que a assistência do Estado.

    Mas vou dar-te uma supresa. Sabes como começou a "assistência estatal"?

    Imagina...

    Imagina qual terá sido a primeira assistência e caridade Estatal depois do extermínio da privada dos monges.

    Olha, até me deste uma ideia.

    Vou fazer outro post a contar o aparecimento de outra instituição moderna para onde passaram a ser enviados esses vagabundos.

    E começou em Inglaterra.

    Imagina qual foi.

    Está é mais uma charada.

    A outra charada era simples- o liberalismo defende que existe sempre um equilíbrio natural que acaba por salvar tudo.

    Tu negas a lei principal em que assenta a tal fé liberal - a mão invisível do mercado.

    Então fica a pergunta- como é que podes defender o liberalismo de mercado?

    Como é que pode existir um sistema organizado se o fulcro dessa organização que é a mão invisível que tende a equilibrar todo o dinamismo do capitalismo, não existe?

    Isso era dizer que não há sistema mas caos.

    Não era?

    E no caos, a lei do mais forte serve apenas para quê?

    Para a tal caridade calvinista?

     
  • At 25 de maio de 2009 às 15:57, Blogger zazie said…

    O teu post foi brilhantemente pertinente por teres mostrado que a mão invisível é uma fé ateia e uma suposta lei da natureza.

    E não se sabe. Antes pelo contrário. O que cada vez mais se tem escrito por quem estuda o mercado é que não existe sociedade a fazer o mercado, mas o inverso e não há qualquer lei que faça disto um sistema equilibrado e orgânico.

    Então, se é fé, é fé partilhada entre crença religiosa e fé materialista.

    E como é que se resolve esta promiscuidade nos que são crentes em Deus?

    E depois, os valores, como tu dizes, são superiores aos descontos do IRS.

    Mas fica a pergunta- tu, ao pagares os impostos camarários para os esgotos, também te queixas e chamas a isso caridade estatal?

    Na verdade- como é que se pode desencantar a "caridade estatal" no meio de tanto desconto, que vai dos esgotos ao selo do carro e às brutas mordomias dos servidores dos Estado?

    hummm..?

    É complicado, não é?

    Mas dá sempre um ar de justiceiro atirar com os gastos com os pobrezinhos e não falar nos gastos com os brutos automóveis dos servidores do Estado, que também saem dos bolsos.

    - por caridade da ética republicana- imagino.

     
  • At 25 de maio de 2009 às 16:05, Blogger zazie said…

    E sim, fugiste bem à questão e tens brains

    ";O)

    Mas vou aproveitar para fazer o outro post porque esta temática é histórica e bem pertinente.

    A blogosfera também pode servir para se recordarem estas pequenas coisas.

    Toda a gente anda com o "estatismo" na boca e a solidariedade da ética republicana e esquecem-se de fazer um upgrade de como começaram estas coisas.

    O momento da Reforma é um momento charneira para se compreender muita coisa.

    E do Calvino ao Adam Smith e deste ao Marx é apenas um percurso- com variantes e reactivas dentro do mesmo.

     
  • At 25 de maio de 2009 às 16:07, Blogger zazie said…

    Já ninguém se lembra dos primeiros escritos do Marx apoiados nas experiências primitivas do comunismo das heresias.

    E nasceu tudo no mesmo lugar e a partir das mesmas guerras. E consequentes êxodos.

     
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