terça-feira, maio 12, 2009
Violência substancial
Percebe-se que a perversão da verdadeira impossibilidade do humano comungar com o divino a partir de si mesmo, ilegitimamente transformada em maldição de toda a natureza humana no seu sentido próprio, obnubile e correspondentemente impossibilite o reconhecimento do próprio humano; e que toda a dinâmica reflexiva se volatilize em nome duma suposta graça de Deus que a aniquile no seu próprio fundo, e por decorrência nos ponha em acção de aniquilamento de toda a humanidade em nós e no outro; abandona-se toda a dignidade própria, lealdade para com os outros e para com a verdade, assim como todo o sentido do bem e do belo; e que se cubra assim com um véu de maledicência tudo o que há de sagrado na natureza e na humanidade.

Percebe-se, e aterrados reconhecemos, a imitação demoníaca do divino a crescer em nós.

vítor mácula
posted by @ 3:46 da tarde  
23 Comments:
  • At 12 de maio de 2009 às 16:04, Blogger zazie said…

    «a imitação demoníaca do divino a crescer em nós».

    Pois é. Mas sou mais prosaica. Há imitações que se tratam com comprimidos.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 16:05, Blogger zazie said…

    Ou com a arte. O Schopenhauer tinha essa fezada no efeito da arte.

    Eu também tenho. Há que sublimar tudo. Porque a carne tem as costas largas e a cabeça é que gera monstros.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:11, Blogger Vítor Mácula said…

    os sonhos da razão, claro, sobretudo quando esta é ilusoriamente dominada pelo interesse obscuro do animal encurralado em que estarrecidos nos reconhecemos, ó mortais e reflexivos entes ;) também o Schopenhauer dormia com dois revólveres à cabeceira, sabe-se lá se à falta de arte LOL a arte como acesso à irrepresentável força da vida; o mundo enquanto representação nunca deterá esta nos seus modos próprios de vitalidade; o acesso vital como algo que nos restitui à própria vida; etc

    e sobretudo porque a arte sabe que imita, não no sentido de cópia formal, como que nos realismos de pacotilha, mas porque bebe da fonte vital em que tudo ocorre; e que uma representação artística ou poética que não toque e desperte a irrepresentável força da vida, nunca abre novos significados nem sentidos, espantos e interrogações; novos jogos formais que invoquem e despertem as forças do acontecer e da transformação.

    a ética conecta-se com isto, na questão das paixões e ideais especificamente humanos como o bem, a beleza, a justiça, a liberdade, etc poderem despertar e instanciarem-se enquanto formas vivas na experiência estética, tal como noutra experiência qualquer com mais ou menos fulgor; mas claro, nada disto é muito claro ;)

    o demoníaco não é uma categoria ética mas religiosa, e especificamente judaico-cristã, pelo menos neste texto LOL; aqui ela é utilizada no sentido de nos pormos acima da dinâmica humana, produzindo uma orientação e sentido que se querem puramente divinos, sem presença própria da humanidade e da criação; as epístolas de João debatem esta questão de modo exímio.

    a carne, pois. mas como noção judaico-cristã, sobretudo em S. Paulo, não corresponde ao “soma” grego ou à matéria sem “cabeça”; corresponde à existência integral do humano estar virada para Deus, e unificada na força do Seu espírito; ou desviada, e dissipada na multiplicidade de forças que a atravessam e transbordam; claro que há inúmeras conexões históricas e conceptuais disto tudo com as questões éticas do estóicos, e isso já em S. Paulo…

    bjocas, pá

    PS: Haldol, Risperdale e outras coisas que tal, devem ser usadas com muito tino, parcimónia e cuidosa orientação médica, senão é pior emenda que o soneto LOL mas seja como for, pelo menos por si só, são incapazes de resolver problemas estéticos, éticos ou religiosos.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:16, Blogger Nuno Fonseca said…

    High-Culture. Yeah!

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:24, Blogger Vítor Mácula said…

    Nuno: se não queres dialogar comigo, o que queres afinal?

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:25, Blogger zazie said…

    Delicioso o comentário. É outro post.

    Pois, esquecia-me do detalhe dos revolveres do Schopenhauer.

    Quanto às gotas, acredito e não sou médica.

    Mas tenho para mim que um bom mergulho na praia também lava muita coisa.

    De resto, tudo pode ser estético.

    Quem brinca com isso são os laibach. Acho deliciosa essa desmontagem que mimetiza pelo "tom"/

    Wann immer wir Kraft geben
    geben wir das Beste
    all unser Koennen, unser Streben
    und denken nicht an Feste

    Und die Kraft bekommen alle
    wir bekommen nur das Beste
    wenn jedermann auch alles gibt
    dann wird auch jeder alles kriegen
    Leben heisst Leben!

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:28, Blogger Vítor Mácula said…

    ó punk industrial Antígona, não queres traduzir os versos dos Laibach, carago? LOL

     
  • At 12 de maio de 2009 às 17:41, Blogger Nuno Fonseca said…

    Tava no gozo, Vítor. Vá, divirtam-se.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 18:13, Blogger maria said…

    Olá, mano


    pois, eu não sei se é o demoníaco, mas que é um grande inferno, é.

    "o demoníaco não é uma categoria ética mas religiosa, e especificamente judaico-cristã, pelo menos neste texto LOL; aqui ela é utilizada no sentido de nos pormos acima da dinâmica humana, produzindo uma orientação e sentido que se querem puramente divinos, sem presença própria da humanidade e da criação".

    Completamente de acordo.

    beijos

     
  • At 12 de maio de 2009 às 18:14, Blogger zazie said…

    Eu tinha as letras dele e até andei no gozo a enviar isso quando os alemães ganharam o campeonato da bola
    Ahahahahaha

    Mas é de se morrer a rir porque soa tudo a nazi e depois a letra é uma patuscada perfeitamente anódina

    “:O))))

    Tipo: Quando nos esforçamos damos o melhor e todos recebem a força que nós recebemos porque a vida chama a vida

    Ahahahahahahha

    Beijocas, tenho ali o Hogarth à espera.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 18:17, Blogger maria said…

    Zazie,

    pelos comprimidos não vamos lá. Mas distinguir que a religião não é tudo a mesma coisa, sim.

    Li hoje um artigo que talvez ainda coloque no blogue. É um autor que desconheço, por isso, o meu receio, mas concordo com a análise da(s) religião que faz.

     
  • At 12 de maio de 2009 às 19:02, Blogger zazie said…

    MC,

    Estas coisas podem ter muitos nomes- um deles também se pode chamar religião.

    Mas o problema não é da religião, assim como o problema não é da teoria ou, até mesmo da ideologia.

    Mas também é sempre "por causa" disso tudo. Se é que me faço entender.

    Tem de haver sempre um Sancho Pança a contrabalançar o quixotismo.

    E agora vou tratar da paparoca.

    Fiquem bem.

    Aquela passagem da carne ser o Ser, tinha obrigação de a saber porque me farto de a citar no mundo às avessas, quando é a raposa que predica às galinhas para as levar para jantar.

    E aí há trocadilho entre o mais profundo do meu ser e bem dentro das minhas entranhas

    ehehe

     
  • At 12 de maio de 2009 às 19:10, Blogger zazie said…

    Mas o problema da perversão dessa impossibilidade do humano comungar com o divino não me parece que leve a aniquilações individuais.

    Tem sempre de haver projecção no Outro- e aí, no proselitismo é que as coisas se misturam e complicam.

    Porque implica chamar e afastar; demarcar território- porque tende sempre para o maniqueísmo.

    O autismo precisa sempre de plateia. Por isso é que os loucos do deserto não estavam sós e não precisavam de proselitar- viviam a exemplaridade com os animais selvagens. E esses não são pretexto para exclusão ou eleição- são boa companhia.

    Nós perdemos o sentido de integração no Todo da Criação. E sem ela não há ordem nem harmonia.

    E já estava a lembrar-me das campainhas das ovelhas que fecham o ciclo da vida do burrico baltazar, do meu Bresson.

     
  • At 13 de maio de 2009 às 11:13, Blogger Vítor Mácula said…

    Oi, mana.

    O demoníaco corresponde a separações e divisões ilegítimas, e respectivos isolamentos; no limite, corresponde sempre a ser-deus-sem-deus. Aqui trata-se da mútua exclusão, para a qual tendem as nossas gentis cabeças cristãs, entre o sentido da Criação e o da Salvação, o da "imago dei" e Deus, o da Natureza e da Graça, o amor humano e a agape, etc; produz-se assim a representação dum super-mundo que se orienta na aniquilação da Criação, pretendendo-se substituto desta, e que se constitui e configura na pura negação da obra de Deus.

    As paixões reflexivas (éticas, estéticas, etc) são clarões da "imago dei"; aniquilá-las é retirar o barro das mãos de Deus.

    A incarnação, ao revelar Deus, revela no mesmo movimento o sentido originário do humano; é na confluência de ambos que se dá o fulgor da comunhão e regeneração, como já se indicia no magnífico debate de Abraão com Deus acerca da destruição de Sodoma etc

    O bem é a possibilidade do mal, claro; mas aniquilar o primeiro não me parece grande resposta ;) é aliás assim mesmo que se instaura o mal.

    bjocas

    PS: Que raio ou como andas tu a ler Kierkegaard? LOL

     
  • At 13 de maio de 2009 às 11:43, Blogger Vítor Mácula said…

    "Mas o problema da perversão dessa impossibilidade do humano comungar com o divino não me parece que leve a aniquilações individuais."

    Bem, o que eu quis dizer foi que ao negar-se a validade própria do humano, se aniquila este; e não é por isso que se chega a outro lado senão termos, precisamente, estragado o humano (no que constitui a queda, ou seja, fazemos uma capicua LOL). Ou religiosamente parafraseando o Bloy: Não é porque se odeia o humano que se ama Deus ;) que por sua vez parafraseia S. João etc ;)

    bjoca, Antígona

     
  • At 13 de maio de 2009 às 11:51, Blogger Nuno Fonseca said…

    Ó cabecinhas tóinas, quantas vezes é preciso dizer-vos que o pecador original/depravação total encontrado nas Escrituras não é descrito com o fim de odiarmos o ser humano como criatura de Deus feito à sua imagem, mas para lastimarmo-nos e irarmo-nos da nossa carne/natureza caída/morte espiritual, até ao arrependimento e satisfação em Cristo?

    PAREM COM AS DISTORÇÕES! CESSEM DE MONOLOGAR A PARTIR DE BONECOS-DE-PALHA ARGUMENTATIVOS! SEJAM MAIS CATÓLICOS E MENOS ROMANOS - QUE DIZIAM DOS PRIMEIROS CRISTÃOS 'ODIADORES DA RAÇA HUMANA'!

    Irra, vocês conseguem transformar qualquer calvinista meditativo num Lutero irascível.

     
  • At 13 de maio de 2009 às 12:20, Blogger CC said…

    Lutero? O que disse isto sobe o judeus: «Em primeiro lugar, as suas sinagogas deveriam ser queimadas… Em segundo lugar, as suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas… Em terceiro, os seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados… Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte… Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus… Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem… Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão na debulhadeira, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão com o suor do seu rosto… Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade … Portanto, fora com eles…»?

    Este Lutero? :)

     
  • At 13 de maio de 2009 às 13:27, Blogger Nuno Fonseca said…

    CC,

    Não foste tu um dos que se insurgiu, quando pus aquelas fotos do Hitler a apertar mãos com bispos romanos ao assinar a concordata com o Reich? Se foram tidos como baixos os meus métodos de argumentação na altura (e arrependi-me deles), não te mostras acima deles.

    Sei dos erros do Lutero, e não o defendo quanto a estes, porque a minha fé está em Cristo e a minha doutrina na Palavra de Deus. 'Examinai todas as coisas e retende o que é bom'. E há muito bem a reter de Lutero. Onde não haja, lastima-se; onde haja, glorifica-se Deus por agir neste pecador para nossa bênção.

    Não somos nós os jesuitas/casuistas, CC, que defenderiamos todo e qualquer santo da nossa igreja - em especial ela mesma - à custa da verdade histórica, de Jesus até.

    Se enveredasse no teu jogo sujo, haveria muita coisa que podia dizer sobre a ICAR. Mas ainda acredito no diálogo racional, apesar de ainda não conhecer muitos católicos no Trento - exceptuando o CBS e antigo Luís Sá - que não usem o insulto e a blasfémia e o desdém para debater.

    Surpreende-me.

    §

    SOLI DEO GLORIA

    (PS: Conheço o anti-semitismo tardio de Lutero, e este texto até poderá ser legítimo, mas desconfio sempre de citações em refª bibliográfica e chacinada por reticências constantes)

     
  • At 13 de maio de 2009 às 16:21, Anonymous Anónimo said…

    Zazie,

    não faço puto ideia do que se passou.
    Vou-te dar da minha moral: usas armas verbais que ninguém usa contigo, sabendo que aqui te vai chamar porca ou imbecil.
    Pessoalmente, só por isso, vejo-te como uma pessoa neste aspecto injusta. No entanto, tens tanta coisa fixe para dizer.
    Gostava de perceber: porque é que adjectivas dessa maneira o pessoal que não concorda contigo?

     
  • At 13 de maio de 2009 às 16:25, Anonymous Anónimo said…

    "ninguém te vai chamar", claro : )

     
  • At 13 de maio de 2009 às 16:39, Blogger zazie said…

    Ninguém insultou.

    Se quiseres saber o que se passou vai ao meu blogue.

    Eu agora tenho os comentários filtrados porque estou a trabalhar.

    Mas podes lá deixar que depois publico e explico-te em que consistiu a censura.

    Como já estava à espera por conhecer o endemoninhado, guardei tudo em copy paste.

    Ele andou a fazer limpeza nos históricos para que não se saiba as velhacarias que já tinha feito.


    O que é porco é que censurou precisamento o que era mera citação do que ele disse e até genuina preocupação da minha parte por ele estar doente

     
  • At 13 de maio de 2009 às 16:42, Blogger Vítor Mácula said…

    Huuuuuum... pois. Seja como fôr eu não vejo a coisa assim para o protestante/católico, que coisa, não insultemos o Tillich LOL Eu há uns tempos aqui no Trento, num post-surto místico, intensificava a tendência de tudo ser nada perante Deus (o que num certo e teológico aspecto, é relevante); e foi a senhora Hadassah que me recolocou o contraponto certo. Penso que se trata dum dos pecados próprios do cristianismo, e em que estamos sempre a resvalar.

     
  • At 14 de maio de 2009 às 01:34, Blogger CC said…

    Caro Nuno,
    era uma brincadeira sobre a tua expressão "Lutero irascível" - queria ilustrar a ira de Lutero.
    Não era minha intenção menosprezar o homem nem reduzi-lo a essas suas afirmações menos felizes.

    Mas não é justa a tua comparação com os teus postes primitivos (bem sabes que o problema não foi as imagens), pois, como facilmente compreendes, a Igreja (ICAR), para os católicos, tem maior significado que tem o Lutero para qualquer protestante, por mais que admire o homem. Falamos de realidades bem distintas.

    As reticências são saltos nas citações, fruto de trabalho apressado. Deviam estar entre parêntesis.

    Em todo o caso, se ofendi alguém, peço desculpa - embora não deixe de recordar que, há menos de uma semana, colocaste uma frase de um Papa do século XVII, sem qualquer contexto, com o propósito de? Tu saberás.

    Abraço sincero.

     
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