sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Ilustração: Isaías 53:5
Clique para saber o que está escrito na bata do carniceiro!
Isaías 53:5

Paulo Ribeiro
posted by @ 12:07 da tarde   2 comments
O que é um ”nascido de novo”?
A história de Kaing Guek Eav, alto quadro da máquina de morte dos Khmers Vermelhos, é exemplar, pelo seu radicalismo, do “novo nascimento”.
Graça.
Como pode alguém que matou e torturou milhares de homens, mulheres e crianças ser perdoado com um simples passo de fé, apenas aceitando a oferta divina? Pode ser perdoado porque Cristo morreu precisamente por esses pecados. O justo castigo merecido por Kaing foi suportado, na totalidade, por Jesus Cristo.
“Nova vida”.
O altivo revolucionário tão seguro de si (os fins justificavam os meios) baixou ao arrependimento e aos pedidos públicos de perdão. Não consta que tenha passado por campos de reeducação ou frequentado cursos de reciclagem doutrinária. O Espírito Santo transformou Kaing. Essa presença foi o reset, o recomeço (mente, princípios e atitudes) noutro caminho, no caminho de Deus.

(Outro caso, dos arquivos do Trento na Língua)

Pedro Leal
posted by @ 1:50 da manhã   1 comments
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
A Estreia Mais Naif no Trento
Vamos imaginar que as igrejas não tinham princípios fundadores.
Assembleias de gente que se crê cristã e para quem a sua relação pessoal
com Deus é única norma.
Não há livros de regras. Não há revelações mais importantes do que outras.
Não há sacerdotes nem dogmas.
Vamos imaginar que as pessoas se encontram para celebrar e partilhar com
alegria as suas descobertas e dúvidas enquanto caminham com Deus.

João Leal
posted by @ 1:13 da tarde   7 comments
terça-feira, fevereiro 24, 2009
O santo da minha primeira infância
Existiu na minha infância uma figura mítica que se encontrava associada a três palavras (terão sido possivelmente as primeiras palavras que aprendi a ler e, soube depois, eram castelhanas). As palavras eram "Anis del mono" e a figura era esta:

Caso alguém não saiba (eu, pelo menos, só soube recentemente), a figura do mono é uma caricatura (?) de Darwin.

timshel
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segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Fevereiro
Cá nos EUA o mês de Fevereiro é uma seca. As nossas meninas indignaram-se quando se aperceberam que não haveria Carnaval. E ainda por cima, o feriado que lhes calhou (Martin Luther King Jr.) é o único feriado nacional "opcional"... e a sua escola optou por não o celebrar. Ficou claro que estamos numa terra bem protestante que não quer nada dos católicos mas também mal reconhece a sua própria história.

Não levem isto mal. Gosto da gente por cá, mas é preciso abrir os seus horizontes.
posted by @ 2:25 da tarde   2 comments
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Yes, we can!
Simpáticos, os escritores de Trento indagaram por onde andava a voz feminina do mesmo... Pois ando distante da blogosfera. Isto de ser pastora (mesmo estagiária) e esposa produz alguns borrões na escrita. Ser fada do lar e teóloga colide infernalmente. Já lá dizia o apóstolo de todos os ditos: "As mulheres casadas pensam nos maridos..." Equilíbrio é o que procuro. Quem sabe voltarei e poderei intercalar metafísica com as melhores dicas para tirar nódoas e as promoções do Lidl...
Para já posso anunciar que a vossa Beguina vai ser ordenada - Não segundo a sucessão apostólica para alguns - mas ordenada any way...

Beguina
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quinta-feira, fevereiro 19, 2009
Pela efeméride os conhecereis
Qual a efeméride de 2009?


Pedro Leal

posted by @ 7:29 da tarde   3 comments
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Continuando numa linha soft
Ilustração: Bendito seja sempre o Cordeiro

Esta é a ilustração que estará nas futuras t-shirts da Igreja Baptista da Graça. As receitas com as vendas reverterão inteiramente para as obras nas suas instalações.
posted by @ 12:23 da tarde   3 comments
Humanautas

Apartado de todo o sentido, encontra o seu anseio no eco dos acontecimentos. De resto vai andando, representando-se como compreendendo mais ou menos a vida e tendo domínio relativo sobre si. Mas um mero estremecer o depõe no vazio de sentido, a pessoa amada deixa-o, ou o seu amor por ela abandona-o. Ou dá por si olhando o seu trajecto e não se reconhecendo nele. Ou simplesmente perde o prazer dos seus interesses, ou apenas o emprego. Já não se percebe. O que se passa afinal, o que é isto e onde estou – é o que o acomete.

Olhando a sua própria ausência, evita o suicídio com uma pequena narração. Uma explicação do amor perdido, uma análise sociológica do trabalho, uma reordenação do seu próprio trajecto, e mergulha na fremente ilusão: a partir de agora é que é, a partir de agora o acto e a lucidez.

Até à próxima.

Pois é precisamente a cisão entre o viver-se e o doar sentido – que o aparta de si, fundamentalmente alienado.

Alguém viesse, que unificasse o acto e a narração, afinal esse é o secreto eco dos acontecimentos.

Alguém cujo viver fosse o seu próprio significado, afinal essa é a secreta esperança das palavras.

Alguém que simplesmente – seja.
.
vítor mácula
posted by @ 11:21 da manhã   7 comments
Provocação em forma de grunhido


Música: Antidemon - Avé Maria Não !!

Paulo Ribeiro
posted by @ 10:51 da manhã   2 comments
domingo, fevereiro 15, 2009
Efficiency, joy and evolution
What does man seek?
It is not pleasure, surely, that we seek most constantly; it is not happiness.
It is what you Americans express so well in your word “efficiency”.
This word expresses the tendency of evolution; it voices the fundamental tendency within us, which is that of creation.

We seek efficiency, or, perhaps, it would be truer to say that we seek the immediate product of efficiency, which is joy.
Joy is not pleasure, but the satisfaction of creation.
Making money gives pleasure no doubt, to the artist; his joy, however, comes only from seeing the picture grow under his brush, from feeling that he is bringing something new into the world.
It is joy which, in some form or other, man always seek.

Extracts of the Columbia University Lectures of Henri Bergson,
(The Chronicle, XIII, 6 Mars 1913)


Encontrei este post, quando escaranfuchava em arrumos, nas profundezas do meu blog. Bergson veio salvar-me o pensamento, como Cristo veio para me salvar a alma. Apesar da sua filosofia, desde cedo se encaminhar para o cristianismo, comigo nem tudo bate certo; em especial um ténue e difuso pantéismo que se desprende do bergsonismo. Agora, quanto ao evolucionismo estamos em sintonia... assim, o meu filósofo acompanha-me a levar "porrada" dos manos criacionistas. Hélas! apenas lamento a desilusão ;)
cbs
posted by @ 2:01 da tarde   0 comments
sábado, fevereiro 14, 2009
O silêncio...
... quando não é revelação, é desdém.
cbs
posted by @ 7:07 da tarde   0 comments
Deus, ó Deus!
Quando a morte a luz me roube
Ganhe um momento o que perderam anos
Saiba morrer o que viver não soube
Bocage - cbs
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quinta-feira, fevereiro 12, 2009
A minha forma de comemorar Darwin.
Aos naturalistas/empiricistas que se definem singelamente por 'comunidade científica', pergunto: porque nos desencorajam a escutar teólogos subacademizados com a pretensão de biólogos, e celebram vossas mercês a vida dum teólogo subacademizado com a pretensão de biólogo?

Nuno Fonseca

[ps: Foi um bálsamo verificar que enquanto o calvinista aqui de serviço se ausenta, logo uma pia alma romanista cita-nos BB Warfield. Assim, sim.]
posted by @ 10:31 da tarde   1 comments
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Maravilhosa Graça
Maravilhosa Graça
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segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Evolution

Foi com alguma surpresa que, ao consultar na wikipedia, a biografia de Benjamin Warfield, li assim:

“I do not think that there is any general statement in the Bible or any part of the account of creation, either as given in Genesis 1 and 2 or elsewhere alluded to, that need be opposed to evolution.”

Penso exactamente a mesma coisa.
Devo pois classificar-me na espécie dos evolucionistas criacionistas, lol
E já agora, aproveito a conjuntura, para recomendar a visita ao Museu de História Natural.
cbs
posted by @ 11:37 da tarde   6 comments
Intermediários
De um livrinho escrito há quase cem anos – “O Plano da Salvação”, de Benjamin Warfield, cito três parágrafos sobre o sacerdotalismo, uma questão “fracturante”, nem sempre perceptível, entre romanos (e ortodoxos) e protestantes. Esta é a perspectiva evangélica:

“Em primeiro lugar, o sistema sacerdotal separa a alma do contacto directo e da dependência imediata do Deus Espírito Santo como fonte de todas as suas graciosas actividades. Interpõe entre a alma e a fonte de toda a graça um corpo de instrumentos dos quais a faz depender; e assim entrega a alma à concepção mecânica da salvação. A Igreja, os meios de graça, tomam, no pensamento do cristão, o lugar do Deus Espírito Santo, e assim o crente perde a alegria e o poder que vem de uma consciente comunhão directa com Deus.”
“Os dois tipos de piedade provocados pela dependência, quer de instrumentos da graça quer da comunhão consciente com Deus, o Espírito Santo, como Salvador pessoal, são absolutamente diferentes e esta diferença, do ponto de vista da religião vital, não é favorável ao sacerdotalismo. É por isso que, no interesse de uma religião vital, o espírito Protestante repudia o sacerdotalismo. E é este repúdio que constitui a verdadeira essência do Evangelicalismo. Precisamente o que a religião evangélica quer é a dependência imediata da alma de Deus, e só Deus, para alcançar a salvação.”
“Em segundo lugar, o sacerdotalismo trata Deus, o Espírito Santo, fonte de toda a graça, com completa indiferença pela Sua Personalidade, como se Ele fosse uma força natural, operando não quando, onde e como Lhe agrada, mas uniforme e regularmente sempre que as Suas actividades são permitidas. Apresenta-nos a Igreja como “instituto da salvação” ou como “armazém da salvação”, com aparente inconsciência de que isso é o mesmo que falar da salvação como algo que pode ser acumulado ou armazenado para ser usado sempre que seja necessário.”


Pedro Leal
posted by @ 12:10 da manhã   13 comments
domingo, fevereiro 08, 2009
Dos valores degradados: um auxílio inopinado de Nietzsche… (2)
É o próprio Nietzsche quem, apoiado na filologia genética, nos explica duas coisas:
a) Que toda a cultura ocidental é banhada pelo Cristianismo, mesmo a Ciência com a sua verdade científica, mesmo o Ateísmo com a sua verdade de consciência.
b) Que a negação de Deus deixou órfã a moral laica, a qual perdendo a referência de origem, acaba necessariamente vazia na crise do niilismo

Para o filósofo, no momento em que o homem nega Deus, e consequentemente os valores de Deus, deverá aprender a ver-se a si mesmo, como criador de valores; quando percebe que não existe eternidade para além da vida, deve assumir os valores da própria vida que são de luta, de alegria e de vitória sobre o mundo (paganismo dionisíaco), a negação da auto-supressão ascético-cristã.

Eu diria que o filosofo escolheu o egoísmo em detrimento do altruísmo, o que por si só, já nega qualquer valor, uma vez que o conceito de moral implica um grupo, uma sociedade, onde as regras se apliquem; o indivíduo exercendo a sua vontade única e sem peias, nega a possibilidade real de valores morais. Para além do Bem e do Mal apenas existe o nada, a perda completa de referências, o relativismo e a arbitrariedade...
Contudo, podemos igualmente dizer, que aceitando Deus transcendente, não um deus imanente, e retomando os valores cristãos subsumidos no Amor ao próximo, poderá o Homem transformar o estado de niilismo em que mergulhou ao separar a fé e o saber.
Na realidade, o núcleo do pecado humano na perspectiva cristã, é a pretensão de substituir o único Deus verdadeiro, por outros deuses, sejam eles forças cósmicas, sejam sistemas ideológicos, sejam outros seres humanos, ou até cada sujeito humano, feito deus de si mesmo.
A critica ao niilismo - que resultou da secularização ateia, e notemos aqui, que a América do Norte é exemplo de uma secularização diferente, bem conjugada com a religião – sem recorrer ao Super-Homem de Nietzsche, pode realizar-se em nome de uma relação equilibrada com o sagrado – só Deus é Santo… - e de uma compreensão correcta do mundano e do humano: nada de imanente pode ser absoluto ou divino em si mesmo.
A valorização ou sagração do mundo humano apenas encontra fundamento na relação com o Criador, constituindo uma mediação, nunca um fim em si.
Por outras palavras, a sacralização, como mediação do único Sagrado verdadeiro e transcendente, é que pode constituir alicerce da verdadeira secularização; o temporal é assim colocado no seu lugar: imanente e relativo, finito e passageiro.
cbs
posted by @ 3:37 da tarde   5 comments
sábado, fevereiro 07, 2009
Dos valores degradados: um auxílio inopinado de Nietzsche… (1)

Friedrich Nietzsche lançou um olhar crítico à tábua de valores europeus no final do séc. XIX, bem como à sua génese. Detectou que os valores supremos, absolutos, desde há muito se têm vindo anular. Essa crise de valores, define-a como uma situação de Niilismo (do latim nihil, nada) em que a desvalorização leva à ausência de finalidade, e por fim à morte da cultura senão mesmo do Homem.
Afirma o filósofo, que toda a história da cultura ocidental, a partir de Platão, teve surtos niilistas que marcaram a decadência das civilizações: o Helenismo destruiu a Grécia antiga; o Cristianismo matou a Roma imperial; a Reforma terá reduzido a Renascença.
A razão dessas fases de decadência reside na lógica interna niilista, presente ab initio, desde a revolução socrático-platónica – depois integrada pelo cristianismo – na busca da Verdade.
O ideal ascético da supressão do eu, com a ficção de um outro mundo – de um “mundo verdadeiro” opondo-se ao mundo da “vida” – representa para Nietzsche, uma forma de realizar a morte no seio da vida.
Segundo Nietzsche, primeiramente o Homem imolou-se ao Além religioso, pelas privações de uma existência ascética. Quando o ideal religioso entrou em falência, foi substituído na Modernidade pelo ideal científico, mas o sacrifício permanece. Que a vida seja sacrificada à verdade revelada, ou à verdade científica, nada muda na ideia de fundo: o ideal ascético.
Finalmente, a supressão não só do ideal-deus, mas de todos os ideais, quaisquer que sejam, desvenda um princípio de negação presente no ideal ascético. O ateísmo, como o niilismo, resulta da aplicação desse princípio, de pôr em prática sem qualquer restrição, o ideal da sinceridade escrupulosa (religiosa), e em seguida da honestidade intelectual rigorosa (cientifica), ambas geradas pela moral ascética sob a influência do Cristianismo.
Porque, também o ateísmo é, no sentido genealógico, “a catástrofe imposta pela disciplina, duas vezes milenar, do instinto de verdade que no final das contas interdita a mentira da fé em Deus (Nietzsche, Genealogia da Moral, 3ª dissertação)
cbs
posted by @ 11:37 da tarde   0 comments
A fronteira entre o Bem e o Mal
De manhã, quando vou para o trabalho, passo por uma igreja que, àquela hora da manhã, embora aberta, costuma estar sempre vazia. Outras vezes tem uma ou duas pessoas. Normalmente, quando a igreja está vazia, em vez de rezar em silêncio, como faço quando se encontra lá mais alguém, rezo com um tom de voz médio como se estivesse a falar com alguém, seja porque sou um daqueles que gosta de ouvir a sua própria voz, seja porque me permite concentrar melhor na oração, seja porque gosto do som da oração a ecoar na penumbra da igreja.

Um destes dias, após me ter certificado com um olhar em redor, que mais ninguém lá se encontrava, começo a minha oração em voz alta a partir de uma das filas mais afastadas do altar como é meu hábito. De repente, vejo um vulto a surgir de um banco da primeira fila, um olhar furioso para trás e passo rapidamente ao modo mute, embaraçado.

Reconheci o vulto. Era um sem-abrigo que por vezes se encontra ainda a dormir na igreja num banco lateral quando lá vou à minha oração matinal. O cardeal do país onde me encontro - um país bastante frio - deu instruções para aquecer as igrejas e deixá-las abertas para os sem-abrigo lá se poderem abrigar se assim quiserem. Normalmente, no banco onde ele costuma estar a dormir, consigo vê-lo, e, consequentemente, rezo em silêncio. Contudo, por razões que ignoro (talvez para se sentir fisicamente mais perto de Deus), nessa noite tinha decidido dormir no banco da primeira fila (motivo pelo qual não o vi).

Eu deveria ter pensado nessa hipótese antes de ter começado a rezar em voz alta.

Mas existem sempre circunstâncias em que o Mal ocorrerá necessariamente como consequência das nossas acções, por mais cuidado que tenhamos.

O Mal não é apenas a consequência de uma escolha humana.

timshel
posted by @ 7:11 da manhã   9 comments
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
III. Transcendente e imanente
Após Descartes (séc. XVII) a razão começou a autonomizar-se da fé. O filósofo ainda assentava a sua filosofia em ambas. Mas instaurou a dúvida sistemática como forma de pensar, inaugurando assim a ascensão da subjectividade (idealismo) na filosofia europeia.
Parece-me que a relação entre a religião e filosofia, depois entre religião e ciência – ou entre fé e saber – pode ser identificada no decurso da História da Teoria do Conhecimento, segundo duas ou três formas típicas:

a) A primeira, mais antiga, sustenta a identidade essencial entre o mundo sensível e o mundo supra-sensível (da metafísica), logo entre fé e saber; aqui a religião é filosofia, a filosofia é religião; podemos encontrar esta concepção no Neo-platonismo, no Gnosticismo, no Budismo e até nalguns modernos como será o caso de Spinoza.

b) Uma segunda concepção, dualista, separa completamente as duas esferas, a fé num mundo supra-sensível, e a razão do mundo fenomenológico. A mudança começa em Descarte, mas em rigor foi Kant o fundador desta concepção, segundo a qual todo o humano transporta já em si conceitos (idealismo transcendental), com os quais interpreta o mundo. Para Kant não é possível chegar à essência do ser (nómenos) porque as nossas estruturas cognitivas inatas (estruturas transcendentais do pensamento) limitam o conhecimento aos fenómenos; o conhecimento deriva da experiencia, mas sujeito às categorias do entendimento à priori, como o tempo e o espaço ou a causalidade, que ordenam os dados da experiencia. O conhecimento assim adquirido, sendo limitado e não sendo a realidade, é segundo Kant, verdadeiro e universal.

A partir do criticismo Kantiano, passa a ser a filosofia a levar (ou não) a Deus, mas trata-se de um Deus geómetra, abstracto. A religião fica restrita aos limites da imanência (da razão); o transcendente é excluído, não há um saber do supra-sensível, e a metafísica fica impossível como ciência.
Este discurso característico da modernidade, teve como consequência a autonomização do homem – chamaram-lhe humanismo. Desligando-se da fé, coloca a vida na temporalidade, e a religião como uma mera necessidade humana; mesmo quando admitia a existência de Deus (caso de Voltaire), questiona sempre a revelação divina. A razão torna-se numa via suficiente – intelectualismo – para assegurar da existência de Deus – deísmo – desconsiderando para tal, os dogmas de fé comuns às religiões teístas.

c) Mas essa separação entre a fé e a razão característica do mundo moderno, será mesmo definitiva, como Kant pensava?
Cremos existir uma terceira hipótese que, em lugar de afastar a fé, aceita esse dualismo seguindo numa direcção divergente: mantendo fé (religando ao transcendente) equilibrada com a razão (um caminhar imanente), como complementos com diferença de tonalidade, mas próximos, como duas faces dum mesmo rosto… aqui, o espírito religioso serve-se da razão como meio de pôr o vivido na ordem exigida pela natureza, mas serve-se da fé para o viver integralmente, à medida que se vai tornando senhor dessa ordem.
Julgo ser esta a marca da tradição cristã.
Cbs à Mc

posted by @ 11:07 da tarde   0 comments
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
II. A laicização da cultura cristã
Na história do cristianismo, após a sua assunção como religião imperial, por mais de quatro séculos, entre o XI e o XV, foi intensa a polémica na Europa Medieval, entre os teólogos e pensadores que defendiam a proeminência do Papado, e os que se posicionavam a favor da dominação dos povos pelo Império.
Só já nos estertores da Idade Média, Marcílio de Pádua (séc. XIV), sob a influência do averroísmo latino – distinguindo claramente a razão da fé – legitimou a separação dos poderes temporal e espiritual. Na obra Defensor Pacis (1324) fez uma critica radical à ambição da Igreja, de querer ser poder temporal apresentando uma bem elaborada doutrina do estado secular. A base da argumentação sintetiza-se na passagem do evangelho de Mateus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22,21)

A Igreja Católica actual coloca-se ao lado de Marcílio, e ratifica a divisão entre a Igreja e o Estado: "O Império Cristão tentou transformar a fé em factor político. A fraqueza da fé, a fraqueza terrena de Jesus, devia ser substituída pelo poder político e militar. Ao longo dos séculos, esta tentação apresentou-se de formas diferentes, e a fé sempre correu o risco de ser sufocada pelo abraço do poder. A fusão entre fé e poder político tem sempre um preço" (Bento XVI, Jesus de Nazaré, 2007)
cbs - à Mc
posted by @ 10:07 da tarde   12 comments
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
I. A simbiose histórica entre razão e fé na cultura cristã
A questão de partida é angústia do Homem perante a vida e o trágico destino final. Agindo, sentindo, pensando, o ser humano tenta compreender a realidade em que se insere, procura um sentido para a existência, busca uma causa primeira, em suma, busca a Verdade.
As religiões do mito primordial são a primeira resposta a essa interrogação fundamental. A função desse “saber” não é apenas explicativa, mas simultaneamente normalizadora (moral) da vida social, uma necessidade para a sobrevivência humana.
Curiosamente, houve um local, onde a moral não impôs as suas regras de comportamento, pela via religiosa. Na Grécia antiga desenvolveu-se um modo de pensar extremamente elaborado, a interrogação apoiada nas regras do juízo, aquela forma de pensar que depois designámos por pensamento racional ou filosofia (amor pelo saber).
E substituindo o Úrano primevo, tornado antropofágico, pelos deuses humanizados do Olimpo, a filosofia grega tomou para si o lugar das religiões míticas, na busca de respostas ao mistério do Ser. Com excepção dos cínicos, toda a filosofia grega conduz ao Absoluto, e particularmente Platão, identifica um mundo supra-sensível – acessível por meio da ascese – com a Alegoria da caverna, onde o homem vê sombras da Luz, dos arquétipos ou ideias puras, do Bem, do Bom, do Belo; valores positivos de onde decorrem outros, negativos, estabelecendo uma Moral, como um caminho para a Felicidade.
O cosmopolitismo do império romano, dominado de início pela filosofia grega, com destaque para os estóicos, veio permitir, por uma via judaica, a introdução da fé num deus único. A conjunção da filosofia grega com o judaísmo cristão, possibilitou essa simbiose entre razão e fé, desenvolvida depois, ao longo da idade média, pelos filósofos cristãos, como o platonismo de Agostinho de Hipona (séc. V) ou o aristotelismo de Tomás de Aquino (séc. XIII).
Introduzida a fé no domínio filosófico, a filosofia tranformou-se num poderoso auxiliar da religião, na busca de sempre: a Verdade absoluta.
cbs - à Mc
posted by @ 10:17 da tarde   4 comments
segunda-feira, fevereiro 02, 2009
Comunhão: Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. (Gl 3, 27-28)
Tudo o que for egoísmo, egocentrismo, desunião, crítica destrutiva, falta de justiça, de paz, de partilha entre os fiéis, é um atentado à unidade e à comunhão da Igreja.
Não podemos “fazer capelas”, temos de construir “igreja”, e esta é una, tem de estar unida pela acção unificadora do Espírito. Não à divisão e à discórdia, não ao egoísmo e à falta de amor, não ao isolamento e à falta de partilha.
O Catecismo da Igreja Católica pergunta: “Quais são os vínculos da unidade?” e dá a seguinte resposta: ‘Acima de tudo a caridade, que é o vínculo da perfeição’ (Col 3,14).

Mas esta unidade e comunhão não se realiza só entre os fiéis e Cristo, mas entre os fiéis uns com os outros. Unidos ao Papa, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos Consagrados, aos Leigos, todos unidos entre si, são a Igreja una.

Penso que sim Vítor, não é a matéria em si, que ajuda ou dificulta, é a forma. É a forma como abordamos cada problema que surge ao caminho.
Pareceu-me interessante este texto da Ecclesia sobre a Igreja e a Comunhão - na perspectiva católica, bem entendido - de onde saquei os parágrafos de cima.

Nota: Este blog foi suposto como um fight-club entre católicos e protestantes; acho que os protestantes agora estão de bancada, lol
cbs
posted by @ 6:07 da tarde   15 comments
Só o fio

Mas tudo pode ser obstáculo e véu na nossa relação com Deus - relíquias, teologias, pessoas, igrejas, textos, situações de vida, particularidades, trabalhos e ócios, arte, poesia, ciências, tardes na praia, etc - tudo depende dos modos da relação.

Mas tudo pode ser abertura e via na nossa relação com Deus - relíquias, teologias, pessoas, igrejas, textos, situações de vida, particularidades, trabalhos e ócios, arte, poesia, ciências, tardes na praia, etc - tudo depende dos modos da relação.

vítor mácula

posted by @ 5:38 da tarde   0 comments
flexão-zinha
A alma mística é o eixo da vida religiosa e a experiência mística fornece a única prova possivel da existencia de Deus. Deus é Amor e objecto de amor. Aqui reside toda a mística.
cbs
posted by @ 1:07 da manhã   0 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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