Friedrich Nietzsche lançou um olhar crítico à tábua de valores europeus no final do séc. XIX, bem como à sua génese. Detectou que os valores supremos, absolutos, desde há muito se têm vindo anular. Essa crise de valores, define-a como uma situação de
Niilismo (do latim
nihil, nada) em que a desvalorização leva à ausência de finalidade, e por fim à morte da cultura senão mesmo do Homem.
Afirma o filósofo, que toda a história da cultura ocidental, a partir de Platão, teve surtos niilistas que marcaram a decadência das civilizações: o Helenismo destruiu a Grécia antiga; o Cristianismo matou a Roma imperial; a Reforma terá reduzido a Renascença.
A razão dessas fases de decadência reside na lógica interna niilista, presente
ab initio, desde a revolução socrático-platónica – depois integrada pelo cristianismo – na busca da Verdade.
O ideal ascético da supressão do eu, com a ficção de um outro mundo – de um “mundo verdadeiro” opondo-se ao mundo da “vida” – representa para Nietzsche, uma forma de realizar a morte no seio da vida.
Segundo Nietzsche, primeiramente o Homem imolou-se ao Além religioso, pelas privações de uma existência ascética. Quando o ideal religioso entrou em falência, foi substituído na Modernidade pelo ideal científico, mas o sacrifício permanece. Que a vida seja sacrificada à verdade revelada, ou à verdade científica, nada muda na ideia de fundo: o
ideal ascético.
Finalmente, a supressão não só do ideal-deus, mas de todos os ideais, quaisquer que sejam, desvenda um
princípio de negação presente no ideal ascético. O ateísmo, como o niilismo, resulta da aplicação desse princípio, de pôr em prática sem qualquer restrição, o ideal da sinceridade escrupulosa (religiosa), e em seguida da honestidade intelectual rigorosa (cientifica), ambas geradas pela moral ascética
sob a influência do Cristianismo.
Porque, também o ateísmo é, no sentido genealógico,
“a catástrofe imposta pela disciplina, duas vezes milenar, do instinto de verdade que no final das contas interdita a mentira da fé em Deus (Nietzsche, Genealogia da Moral, 3ª dissertação)
cbs