sexta-feira, janeiro 30, 2009 |
Rezo pelo Papa |
Existe na psiquiatria, psicologia e ciências afins dois termos que designam uma realidade difícil. São eles "conflito positivo" e "conflito negativo". O conflito positivo ocorre quando queremos e podemos fazer bem a alguém mas existem vários candidatos e apenas podemos, por força das circunstâncias factuais, fazer bem a um, implicitamente excluíndo os restantes (ou então não fazendo bem a nenhum). O conflito negativo ocorre quando existe algo de mal que vai necessariamente ocorrer e apenas podemos escolher a quem é que o mal vai cair (o exemplo típico no direito penal é o caso do agulheiro que vendo um comboio ir contra outro com muitas pessoas apenas tem a possibilidade de o desviar para uma linha onde irá embater contra outro comboio com menos pessoas do que aquele contra o qual iria colidir se não interviesse).
Qual o lugar do amor, a essência do cristianismo, o único Mandamento que o Senhor nos deixou, nesta dura realidade?
Todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos confrontados com este tipo de conflitos terríveis. O Santo Padre está a viver neste momento, de um modo mediático, um desses conflitos, ao integrar os nossos irmãos tradicionalistas de Lefebvre comprando simultâneamente um conflito com os nossos irmãos judeus.
Sei por experiência própria que neste tipo de conflitos apenas podemos rezar.
timshel |
posted by @ 6:21 da tarde |
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16 Comments: |
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rezar... fazer o melhor possivel: acolheu, não excomungou, como amíude se acusa a Igreja. entregar o resto a Deus. vi isso na imprensa. a Paz de Cristo há-de o proteger.
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Ao contrário dos levebvrianos, os judeus não são "irmãos". Talvez, com muito boa vontade, uns primos afastados.
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muita coisa há a dizer sobre este tema, mas podemos começar por dizer que não basta rezar. (também teríamos que ir reflectir sobre o que é a oração).
O Papa não está à frente da Igreja para agradar a maiorias ou minorias, mas para ser fiel ao Evangelho. Que tal se, pura e simplesmente, acabassem as excomunhões?
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Meu caro CC! que saudade! deixa-me enviar-te um abraço. e deixa-me dar-te noticia da confusão de emoções que me suscitas, prazer por te "rever":) tristeza pela afirmação :(
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MC a excomunhão parece-me algo de factual. ou bem que comungamos ou bem que não comungamos. se existe um domínio de fé, mais ou menos determinado (quer a gente goste quer não), e se alguém dentro dele se retira, o facto é que já não comunga desse domínio de fé. Não quer isso dizer que esteja errado, apenas já não há comunhão. Podemos é manter a porta aberta, e por acaso, até foi o que fez o Papa. Acolheu...
Por acaso, ainda hoje li uma noticia do bispo Williamson, o tal que negou as camaras de gás, a pedir desulpa ao Papa pelo sofrimento que lhe causou com as suas "afirmações imprudentes"(sic)
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cbs,
sim, a excomunhão é algo de factual. Deveríamos ter muito mais em conta a comunhão. Mas acontece que a excomunhão ocorre com muito mais frequência do que devia. Pode acontecer por simples questões orgânicas da Igreja.
Se quiseres ler uma entrevista do teólogo Hans Kung, fica aqui o link. Ele põe o dedo em algumas feridas. Não vejo razões para este homem da Igreja ter sido objecto das sanções que foi. Infelizmente há muitos mais. para os quais não se vê a boa vontade do Papa.
Ele refere e muito bem, a meu ver, que não basta pedir desculpas ao Papa. O povo judeu foi ofendido, muitos católicos sentem-se ofendidos, o diálogo inter religioso começa a soar a propaganda para embalar gente simples, enfim, são muitas as questões que se levantam com esta nova atitude de Bento XVI.
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aqui fica o link:
http://www.periodistadigital.com/religion/object.php?o=1076945
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obrigado Mc já li o Kung, mas não me convenceu muito. Sei que ele se empenha no ecumenismo, mas nao gosto da forma como fala do papa, que me leva a pensar em questões pessoais. De qualquer forma, discordo da posição do Papa (a oficial) em muitas coisas, como por exemplo na erradamente chamada questaõ da eutanásia, ou na do brasileiro Boff. Mas nem o Boff nem o Kung foram excomungados, aliás há quanto tempo não há excomunhoes? Agora aqui... posso estar a ver enviesado, mas neste caso não dou razão ao Kung. O papa já condenou o negacionismo e essa é a posição correta. Não acho aceitavel que outros lhe criem peias ao dialogo com quem ele quiser, e concordo com a porta aberta aos que quiseram voltar. Mas, alem disso o Kung afirma que o Papa chamou desumanos aos muçulmanos, e eu lembro-me muito bem do assunto (até fiz posts sobre isso). Não é verdade de todo. O que ele fez foi citar o Paleologo para dizer que "agir de forma não razoável e violenta é contrário à natureza de Deus" Mais, é agir contra Deus em seu nome... uma blasfémia. E a resposta dos pretensos ofendidos foi violenta, como que lhe dando razão...
eu não tinha de inicio nenhuma simpatia pelo B16 (sou do João XXIII) mas à medida que o vejo ser ataco de dentro e de fora da igreja, começo a gostar mais deste homem brilhante e inteligente. Lamento, mas é a minha visão, eventualmente enviesada, admito :)
abraço em Cristo
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cbs, vamos começar por partes.
O Tim diz que a decisão do Papa é uma decisão difícil e que reza por ele. Eu acho muito bem. Entendo por oração "um fazer passivo". Explico: entrego a tarefa nas mãos de Deus- tudo parte dele e só nele pode alcançar o sentido último - mas empenho-me activamente a fazer aquilo que entendo por "vontade de Deus".
O Papa terá que fazer igual no serviço que lhe foi confiado pela Igreja. Reconheço autoridade ao Papa, mas não uma autoridade absoluta. Ele com o colégio dos cardeais, bispos, teólogos farão de ponte entre os restantes fieis e Deus. Fazendo para que à semelhança do Mestre:"de todos os que me confiaste, nenhum se perdeu".
A excomunhão - não é como dizes, de vez em quando ocorrem excomunhões públicas, segue este link, por exemplo: http://www.zenit.org/article-19180?l=portuguese. Cito outros: sempre que acontecem as denominadas ordenações femininas. São posições extremadas. De parte a parte. Pergunto: quantas terão de haver para a cúria escutar o sentir de muitos fiéis?
Hans Kung, é natural que se sinta magoado com o Papa. Tinham relações de proximidade, por pôr em causa a infalibilidade papal, foi impedido de ensinar teologia. Nunca foi revogada essa ordem.
Por acaso já alguma vez leste o que escrevem os grupos ligados a estes bispos reabilitados. Lê e compara com o que Hans Kung escreve.
Peço desculpa pelo comentário extenso.
abraço
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Mc Não pensava que fossem correntes excomunhões (apesar daquele caso que linkas ser de desobediência directa). No entanto, discordo cada vez mais daqueles que pensam que a Igreja deve ser uma democracia à maneira politica; o Kung fala muito do Obama, mas Roma não é, nem nunca foi assim, e ele sabe. Se bem que o papa não é um déspota, é eleito, mesmo que o Kung se xateie, depois não é o governo-legislador-juiz ao mesmo tempo (a estrutura é similar à do Imperio romano) há o Colégio dos bispos, há as Conferencias episcopais, há uma série de outras instituições colegiais delegadas, que governam e supervisionam, repito, o papa é apenas a ultima instancia. E se alguma vez se democratizar à imagem dos parlamentos, a Igreja perde-se, penso eu. Para o bem e para o mal, foi a manutenção da tradição e a referencia ao bispo de Roma que ajudou o Catolicismo a atravessar os tempos. Não penso, com digo, que a questão da infalibilidade se coloque como absoluta; o próprio Ratz explicou que o significado é de uma última instância, quando necessária. Kung fala de primeiro se reconciliar com os da teologia da libertação (será impossível à ICAR aceitar o marxismo inerente) mas eles estão proibidos de falar, não foram excomungados. Kung diz ainda que o papa vê o mundo das janelas do Vaticano e perdeu a ligação com os fiéis, mas João Paulo II não fazia outra coisa senão passarinhar, e as criticas eram as mesmas.
E não, não li os gajos do Lefévre, tens razão. Mas parecem-me uma corja de conservadores que pensam a igreja imutável, contra tudo o que se afaste das suas ideias “puras”, começando pelo Vaticano II; só que, ao voltarem, voltam para o que rejeitaram, e não ao contrário, não é uma capitulação do Vaticano II, conforme acusa o Kung. Acho que a Igreja pos-concilio tem o dever de acolher "essa gente pré-conciliar", como diz o Kung. Acho uqe o futuro deve reabsorver o passado e não segregá-lo.
Agora, repito, sem muito amor ao papa, vou-me desagradando com as etiquetas que já lhe colam; o B16 é reaccionário (palavra vazia, por acaso) e pronto! Tal como o Bush era burro, o Obama o salvador… etc,e pronto! maniqueísmos...
Não estou com isto a acusar-te de nada, Mc, apenas a explicar onde me situo… admito que tenho muito que aprender, e também peço desculpa, que já fui longo.
abraço em Cristo
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comunhão com o quê, em quê, e em que sentido
excomunhão com o quê, etc
that is the question ;)
rezar pelo papa, claro. faço uma nota que essa associação de passividade à oração, me parece problemática. pois a oração é um contacto com o divino, que deve cristologicamente ocorrer no preenchimento dos nossos actos, sentimentos, disposições, meditações, rezas, etc
considerar os judeus primos e os "whathever" denominados cristãos também me parece problemático, e um retorno à não-catolicidade das identidades tribais. mas claro, os judeus são da Samária, esses blasfemos e hereges LOL
abraços, beijo
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correcção evidente: "e os "whathever" denominados cristãos" como irmãos
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passividade no sentido de entrega. não pode ser outro.
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entrega do quê a quem?
é que fiquei com a ideia que o teu "entregar as coisas nas mãos de Deus" correspondia a rezar e não fazer nada pelo assunto.
ora, a mim parece-me que uma oração que não me leve a uma prática correspondente ao conteúdo orado é como oferecer flores a alguém sem agir florescentemente na relação ;)
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correcção, ou melhor, acrescento, talvez não tão evidente:
entrega de quem ao quê?
entrega de quem a quem?
LOL
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rezar... fazer o melhor possivel: acolheu, não excomungou, como amíude se acusa a Igreja. entregar o resto a Deus.
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