Essa decisão de duvidar, que foi o princípio da Ciência, o que é senão um acto mimético e semelhante, mantidas as devidas proporções, ao acto pelo qual Deus cria a verdade?
A nossa decisão de duvidar sistematicamente, exprime um poder infinito, o de rejeitar até as proposições em que acreditávamos piamente. Mas terá fundamento? Porque esse poder infinito de duvidar de tudo, é um mero poder negativo; quando chegar o momento de construir, essa construção, sendo livre sem qualquer espécie de dúvida, é livre só naquilo em que eu pude abster-me, naquilo em que eu pude recusar a minha adesão. Contudo, as verdades a que finalmente cheguei - continuando a acreditar piamente numa outra verdade, a da racionalidade universal - as ideias claras que consegui encadear entre as dúvidas, vou encontrá-las já feitas; foram criadas, antes de eu as descobrir: eu descubro, eu reconstruo, eu até re-crio… mas não fui eu quem as criou. cbs |