segunda-feira, julho 27, 2009
Palma Inácio
Existem coisas curiosas na vida, na política e na blogosfera.

Vem isto a propósito da morte de Palma Inácio. Os jornais enchem-se de artigos sobre ele. Uma polémica incendeia a blogosfera sobre ele. Muitos posts se escrevem sobre ele (ver, por exemplo, aqui e aqui - são simples exemplos pois não há cão nem gato blogosférico que não solte o seu tímido latido ou o seu rugido feroz sobre este homem).

Curiosamente (sempre curiosamente), nestes últimos meses antes da sua morte, em que ele oscilava entre internamentos hospitalares e estadias em lares, imerso na mais completa solidão, ninguém falava dele.

Ou pelo menos (ou pelo mais) sei que quase ninguém falava com ele.

timshel
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Os Irmãos Leal nos EUA

Há uns meses atrás numa viagem de trabalho, encontrei-me defronte disto... No TEXAS! Não sabia que outros trentistas se tinham deslocado para lá! Para que saibam... já estou noutra banda por iso não posso ser cliente.
-Scott
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sábado, julho 25, 2009
NIB 0007 0000 0073 8184 5512 3
"O Patriarcado de Lisboa vai ajudar a criar 500 microempresas na área social em dois anos. Os empresários serão desempregados ou jovens à procura do primeiro emprego que montarão pequenos negócios como oficinas, lavandarias ou serviços de restauração. O projecto Igreja Solidária, lançado há um mês, quer ainda, juntamente com o Estado, empregar mais duas mil pessoas nos centros paroquiais.
A Igreja, através das suas instituições, vai funcionar como mediador. "Vamos propor às pessoas que montem o seu negócio, garantindo a aquisição dos serviços. O financiamento caberá ao Banco Espírito Santo, com quem fizemos um protocolo, e que já disponibilizou 50 mil euros", explicou ao DN Maria do Rosário Líbano Monteiro, da coordenação do projecto.
Os empresários poderão ter um financiamento até cinco mil euros para adquirir meios de produção ou de fundo de maneio e ainda um acompanhamento na concepção e execução do projecto. "Não se trata de um serviço em que a pessoa vai ao balcão do banco. É um serviço personalizado, acompanhado por nós", explica a também vice-presidente do Centro Social Paroquial do Estoril, onde já vão arrancar três projectos.
Os centros sociais terão uma dupla missão. Por um lado, incentivar as pessoas a criar o seu trabalho, numa tentativa de inverter o ciclo de pobreza. Por outro, funcionar como credibilizador junto da entidade bancária, ajudando à concretização do negócio e garantindo o escoamento dos produtos.
Estes serão consumidos pelos próprios centros, numa primeira fase, mas deverão ser alargados à comunidade, para que o negócio se expanda. "Daqui a uns tempos, estes empresários estarão a criar trabalho", adianta Rosário Líbano Monteiro, sublinhando que é preciso criar trabalho e não emprego.
Em Lisboa, as instituições da Igreja têm ainda capacidade para empregar mais duas mil pessoas. Francisco Crespo, director da pastoral sociocaritativa da diocese, diz que, com a crise e o aumento das necessidades, é preciso reforçar a capacidade de resposta. "A pedido do Instituto de Emprego, fizemos esse levantamento. Alargando as nossas valências, precisamos de mais duas mil pessoas."
No entanto, alerta, tem de haver financiamento do Estado. "Nós precisamos de mais pessoal, mas só podemos empregar com apoio do Estado. Actualmente, a Segurança Social já não paga todos os protocolos que tem connosco." A responsável do centro paroquial do Estoril concretiza: "Vão entrando utentes para os serviços e a Segurança Social paga o mesmo. Por exemplo: fazemos 67 apoios domiciliários e só recebemos pagamento para 43 utentes".
Nos últimos dias, têm chegado dezenas de pedidos de ajuda às paróquias. Para muitos não há resposta, diz Francisco Crespo, sublinhando os casos mais dramáticos de quem pede dinheiro para pagar as dívidas. Por isso, apela, todos devem contribuir, em especial os crentes. "Podem fazê-lo na sua paróquia ou através da conta do projecto Igreja Solidária, no NIB 0007 0000 0073 8184 5512 3".

Aqui

timshel
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quinta-feira, julho 23, 2009
Soul rebels

Pedro Leal
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sábado, julho 18, 2009
Todos animais
Quanto aos homens penso assim: Deus põe-os à prova para mostrar que, em si mesmos, são como animais. De facto, os destinos do homem e do animal são idênticos: do mesmo modo que morrem estes, morrem também aqueles. Uns e outros têm o mesmo sopro vital, sem que o homem tenha nenhuma vantagem sobre o animal, porque tudo é fugaz. Uns e outros vão para o mesmo lugar: vêm do pó, e voltam para o pó. (Eclesiastes 3, 18-20)

Duas narrações da Criação são relatadas nos primeiros capítulos do Génesis. A mais antiga, correspondente, grosso modo, ao 2º capítulo, escrita no tempo do rei Salomão (séc. X a.C.), de tradição javista, é claramente antropocêntrica. Apresenta o homem como centro primeiro da Criação, à volta do qual tudo o mais é gerado com o propósito de o servir: a natureza como lar para o Homem, os animais como resultado da procura de um auxiliar que lhe seja semelhante, e na mesma condição a mulher, criada a partir de uma costela de Adão. A segunda narrativa, mais tardia, ligada à escola sacerdotal, foi escrita durante o exílio na Babilónia (séc. VI a.C.), e corresponde ao 1º capítulo do Génesis. Aqui não há propriamente um centro da Criação. Deus vai criando a luz, a água, o firmamento, a terra, as árvores, as estrelas, os animais, peixes, pássaros, etc., e, em cada momento, maravilha-se com a sua obra: «E Deus viu que era bom». Só ao 6º dia Deus criou o Homem, «homem e mulher os criou», em simultâneo e em paridade. Nesta segunda narrativa, é atribuída ao Homem o domínio sobre todos os seres vivos mas, ao contrário da primeira, não lhe é conferido o poder de dar o nome aos animais – esse poder que significa uma autoridade superior, uma subjugação do nomeado. Pelo contrário. O homem é um elemento, entre outros, da Criação de Deus, na qual se insere e se relaciona como entre iguais. Parece mesmo haver aqui um apelo ao vegetarianismo (Gen. 1,29), apenas derrogado depois do dilúvio (Gen. 9,3). No entanto, este assombro com a Criação, na qual o Homem se integra plena e irredutivelmente, ficou esquecido por todo o pensamento cristão até aos nossos dias. Se a autoridade de São Paulo ensina que é toda a natureza que anseia pela libertação do pecado de Adão, esperando a redenção por Cristo, pois «toda a criação tem gemido e sofrido dores de parto até agora» (Rom. 8:22), a teologia subsequente – amarrada ainda mais ao antropocentrismo da perspectiva cristã do mundo – tem-se negado a reflectir os factos incontestados da evolução do mundo que nos revelam as modernas ciências naturais. Há uma forte resistência ideológica na teologia cristã em abandonar o conceito de singularidade do homem como ponto alto da Criação (ainda que contrariado ao longo de alguns textos canónicos). Com efeito, a mudança de paradigma do judaísmo/cristianismo face aos mitos pagãos é demasiado radical para permitir um olhar neutro: onde antes o homem se integrava na natureza, agora é a natureza que se integra no universo humano. No entanto, estão visão é demasiado estreita para ser satisfatória. Basta que nos questionemos um pouco. Dizia Konrad Lorenz que «o missing link entre o macaco e o homem somos nós». Ainda que assim o não entendamos, podemos sempre perguntar-nos em que tempo histórico se deu a mudança evolutiva definitiva entre os ramos genealógicos do macaco e dos hominídeos. A questão fundamental com que S. Tomás de Aquino resolveu a questão da imortalidade dos animais em contraponto aos humanos («nos animais não encontramos qualquer aspiração à eternidade; só são eternos como espécie, na medida em que neles existe uma aspiração à reprodução, através da qual perdura a espécie», Summa contra gentiles, II, 82) ressurge com os conhecimentos científicos contemporâneos. Sabemos hoje, por exemplo, que o homem e o macaco partilham 98% do genoma. Sabemos igualmente que o homem não é produto de intervenção pontual, determinada no tempo, de um acto concreto, mas sim o resultado (ainda em evolução) de um processo que se estende no passado, ao longo de muitos milhares de anos. Podemos mesmo perguntar, ao lado de Eugen Drewermann («Da Imortalidade dos Animais – Uma Esperança às Criaturas que Sofrem»), se são apenas os homens o objecto da salvação, as únicas criaturas merecedoras da graça, da fé e da ressurreição, então desde quando existem os homens? Ora, esta errónea concepção antropocêntrica da doutrina cristã (errónea porque baseada em falsos pressupostos) tem legitimado um pecado maior contra a Criação de Deus: o desprezo por toda a natureza, a utilização cruel de todas as formas de vida e a iníqua relação com os animais, tornados produto económico sem qualquer autonomia, submetidos a sofrimentos injustificados e a tratamentos cruéis, sem respeito, sem reconhecimento da dignidade inerente à sua condição de pares da obra do mesmo Criador. Com a cumplicidade de todos nós, outros animais.
Carlos Cunha posto aqui num saudoso passado
responsabilidade do cbs
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quarta-feira, julho 15, 2009
(...) Subitamente, como o perpassar de uma asa branca, vi-o com a cabeça triste e sozinha inclinada sobre o ombro esquerdo. Lembrei-me da sua vida, da sua solidão, dos seus espantosos distúrbios espirituais. Lembrei-me da indiferença atormentada com que assistia ao espectáculo da vida. Antes eu sentia-me ligado a ele por sentimentos complexos, em ocasiões contraditórias e tão variáveis como a sua personalidade. Naquele instante, porém, não tive a menor dúvida de que havia começado a estimá-lo entranhadamente. Acreditei ter descoberto dentro de mim essa misteriosa força que desde o primeiro instante me induziu a protegê-lo e senti na carne viva a dor do seu quartinho sufocante e escuro. Vi-o sombrio e derrotado, sufocado pelas circunstâncias. E, de repente, a um novo relance dos seus olhos, amarelos, duros e penetrantes, tive a certeza de que o segredo da sua labiríntica solidão havia sido revelado pela tensa pulsação da noite. Antes que eu próprio tivesse tido tempo de pensar porque o fazia, perguntei-lhe:
— Diga-me uma coisa, doutor: o senhor acredita em Deus?
Ele olhou-me. O cabelo caía-lhe sobre a testa e todo ele ardia numa espécie de sufocação interior, embora o seu semblante ainda não mostrasse nenhuma sombra de emoção ou embaraço. Disse, com a sua parcimoniosa voz de ruminante, inteiramente recobrada:
— É a primeira vez que alguém me faz essa pergunta.
— E o senhor, doutor, já a fez a si mesmo alguma vez?
Não pareceu indiferente nem preocupado, apenas interessado na minha pessoa. Nem ao menos na minha pergunta e muito menos na intenção dela.
— É difícil saber — disse.
— Mas uma noite como esta não lhe causa medo? Não tem a sensação de que existe um homem maior que todos os outros a caminhar pelas plantações enquanto nada se move e todas as coisas parecem perplexas ante a passagem desse homem?
Agora ele ficou silencioso. Os grilos enchiam o ambiente, mas cantavam além do morno, vivo e quase humano odor que vinha do jasmineiro plantado em memória da minha primeira esposa. Um homem sem tamanho caminhava, sozinho, dentro da noite.
— Não creio que nada disso me perturbe, coronel. — E ele agora parecia perplexo, também ele, como as coisas, como o alecrim e o nardo no seu ardente lugar. «O que me perturba», disse, e ficou a olhar-me nos olhos, concretamente, com dureza: «O que me perturba é o facto de existir pessoa como o senhor capaz de afirmar com segurança que sente esse homem a caminhar na noite.»
— Procuramos salvar a alma, doutor. Essa é a diferença.
E então fui além do que me propunha. Disse: «O senhor não o ouve porque é ateu.» E ele, sereno, imperturbável:
— Pode acreditar, coronel, não sou ateu. O que acontece é que me perturba tanto pensar que Deus existe como pensar que não existe. Então prefiro não pensar nisso.
Não sei porquê, mas tive o pressentimento de que era exactamente isso o que ele me ia responder. «É um perturbado de Deus», pensei, ouvindo o que ele acabava de me dizer espontaneamente, com clareza, com precisão, como se o tivesse lido num livro. Eu continuava embriagado pelo torpor da noite. Sentia-me mergulhado no coração de uma imensa galeria de imagens proféticas.
(...)

(Gabriel García Márquez, in O enterro do diabo [título original: La Hojarasca], tradução de J. S., Publicações Europa-América, 1972)


(escolha de) Rui Almeida
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sábado, julho 11, 2009
Sobre os 400 anos da Confissão de Fé Baptista: a proto-democracia.
CAPÍTULO 21
LIBERDADE CRISTÃ E LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA

1. A Liberdade que Cristo comprou para os crentes, no evangelho, consiste na libertação da culpa do pecado, da ira condenatória de Deus, do rigor e da maldição da lei;1 e consiste na libertação dos crentes deste mundo perverso,2 da escravidão a Satanás,3 do domínio do pecado,4 da malignidade das aflições,5 do medo e do aguilhão da morte, da vitória da sepultura,6 e da perdição eterna.7 Consiste no livre acesso a Deus, no prestar-lhe uma obediência não suscitada por medo escravizador;8 e, sim, por amor, como o de uma criança, voluntariamente.9
Tudo isto, em essência, aplicava-se também aos crentes que viviam sob a lei.10 Sob o Novo Testamento, porém, a liberdade cristã é ampliada, na libertação do jugo da lei cerimonial a que a igreja judaica estava sujeita, na maior ousadia de acesso ao trono da graça, e maior medida do livre Espírito de Deus do que os crentes normalmente desfrutavam sob a lei.11
1 Gálatas 3:13.
2 Gálatas 1:4.
3 Atos 26:18.
4 Romanos 8:3.
5 Romanos 8:28.
6 I Coríntios 15:54-57.
7 II Tessalonicenses 1:10.
8 Romanos 8:15.
9 Lucas 1:73-75; I João 4:18.
10 Gálatas 3:9,14.
11 João 7:38-39; Hebreus 10:19-21.

2. Somente Deus é Senhor da consciência,12 e Ele libertou-a das doutrinas e mandamentos de homens que entrem em contradição com a Palavra ou que não estejam contidos nela.13 Por isso, acreditar em tais doutrinas ou obedecer tais mandamentos, por causa da consciência, é trair a verdadeira liberdade de consciência.14 A exigência de uma fé irrestrita, de uma obediência cega e total, significa destruir ao mesmo tempo as liberdades de consciência e raciocínio.15
12 Tiago 4:12; Romanos 14:14.
13 Actos 4:19; Actos 5:29; I Coríntios 7:23; Mateus 15:9.
14 Colossenses 2:20,22-23.
15 I Coríntios 3:5; II Coríntios 1:24.

3. Os que praticam algum pecado ou alimentam qualquer desejo pecaminoso, a pretexto da liberdade cristã, pervertem o desígnio principal da graça do evangelho, para destruição de si mesmos.16 Desse modo, eles subvertem a finalidade da liberdade cristã, isto é, que, sendo libertados das mãos de todos os nossos inimigos, possamos servir ao Senhor em santidade e rectidão perante Ele, sem medo, por todos os dias da nossa vida.17
16 Romanos 6:1-2.
17 Gálatas 5:13; II Pedro 2:18,21.

Nuno Fonseca
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sexta-feira, julho 10, 2009
Há quinhentos anos
Em 10 de Julho de 1509 nasceu João Calvino.

Pedro Leal
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quinta-feira, julho 09, 2009
Calvino e o calvinismo
Eu abraço a teologia calvinista não por causa de Calvino, mas porque a aprendi de Cristo”, disse George Whitefield, um dos principais do Grande Despertamento do século XVIII, a par dos seus amigos arminianos Charles e John Wesley (este pregou no seu funeral).

Pedro Leal
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quarta-feira, julho 08, 2009
Calvino e as Escrituras
"Ainda muitos livros serão escritos procurando entender todas as dimensões sobre as quais a Reforma Protestante deixou o seu legado e as mudanças que causou para a história da humanidade. Para que esta reforma acontecesse, vários pequenos e grandes movimentos foram postos em curso pelo Senhor da História. Um destes movimentos deu-se na área da interpretação das Escrituras, que foi libertada da interpretação alegórica e da força da tradição da igreja da Idade Média. Grandes intérpretes foram levantados por Deus e capacitados com várias sortes de dons e talentos para que um grande salto pudesse ser dado na história da interpretação. Neste contexto é que aparecem os comentários de João Calvino, um grande teólogo, pastor, lingüista, intérprete e comentarista do seu tempo."
(...)
"Como filho de seu tempo, lutando contra séculos de interpretação alegórica e tendenciosa, Calvino deu passos visíveis em direção contrária. Ele afirma que “O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio”. A habilidade em ir “da mera letra, além” e observar a intenção das palavras e seu autor é fundamental para qualquer intérprete e, principalmente, para aqueles que vão interpretar as Escrituras."

Aqui.

Pedro Leal
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terça-feira, julho 07, 2009
Um pequeno passo para o homem, um grande passo para Deus
Aqui

timshel
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segunda-feira, julho 06, 2009
Iniciando a semana de Calvino

É já neste dia 10 de Julho que observaremos os 500 anos do nascimento do reformador, teólogo, pastor e professor Jean Cauvin. Como calvinista, devo a honra que um protestante deve limitar a um santo da fé: prezar somente a forma como Deus usou um tão condenável pecador, modelando-o num vaso para a glória, para que, segundo a graça, se anulasse e se entregasse ao Senhor, bradando o mote: 'Cor meum te offero, Domine, prompte et sincere!'.

Enumero as razões pelas quais devemos ser imitadores de Calvino, na mesma forma que o apóstolo Paulo o exigia perante a Igreja: ou seja, replicando o quanto no cristão viam que vinha de Cristo:

1. Calvino era um biblicista absoluto, cuja abordagem apologética baseava-se na autoridade da Palavra de Deus e não na verificabilidade empírica das Escrituras (cf. inerrantistas);

2. Calvino não cria que a Bíblia estava aberta ao juízo da humanidade, mas era a humanidade que se achava sob o julgamento dela;

3. Calvino acreditava que todo o cristão deve oferecer o seu coração a Deus pronta e sinceramente e obrar durante toda a sua vida para o Reino na terra pelo avanço do Evangelho;

4. Calvino não era um fundamentalista-separatista, mas um cristão ortodoxo que via a Palavra como autoritativa sobre todas as áreas da vida em que ela se afirma soberana – a saber: todas;

5. Calvino aceitava a verdade bíblica tal como no-la delegaram os santos de Israel e os apóstolos da Igreja: inadulterada, sem filtros epocais ou de tradição, nem com o pecado de desculpar o Deus soberano na sua ira como era hábito dos humanistas (Erasmo, Armínio, Grócio, etc);

6. Calvino foi talvez o maior exegeta que a Igreja conheceu. Não se conta um só sermão tópico no seu repertório: toda a sua pregação foi expositiva segundo uma fidelidade absurda. O reformador genovês comentava a Palavra livro por livro, capítulo por capítulo, versículo por versículo, positivamente absorvido no texto. Pregou mais de 300 vezes Génesis, 250 vezes Levítico, 200 vezes Actos. Neste último livro, foi interrompida a sua pregação ao ser deportado para Estrasburgo. Porém, quando Geneva o chamou de novo, Calvino recomeçou exactamente no mesmo versículo;

7. Calvino odiava a monarquia e toda a forma de tirania monadista, pois cria na depravação total do indivíduo e lamentava o erro de delegar todo o poder a um homem caído e corrupto. Promovia a teonomia bíblica, e no seu cumprimento pelas assembleias de homens apontados pela comunidade. Assim, antecipou em largos séculos a democracia e a autonomização das esferas sociais; a estas últimas, vendo-as interdependentes entre si, mas insofismavelmente dependentes da Palavra de Deus para prosperarem;

8. Calvino criou a noção de Estado tal como a temos: a sua separação de poderes em assembleias e ministérios, as institucionalizações do casamento civil, dos bancos e consórcios, das universidades e da educação em geral, etc, todas reportam para a Genebra seiscentista, para a ofensa de muitos secularistas e ignorância de tantos cristãos;

9. Calvino cria que o indivíduo era um fim em si e nem as autoridades nem o todo da sociedade se podia sobrepor a essa obra de Deus, por mais malvada que se fizesse. Afirmou que a negação da consciência individual era o caminho para a ruína, e que até os mais vis governantes necessitam das nossas orações, mais do que as nossas lâminas nos seus peitos déspotas.

10. Calvino jamais quereria ser lembrado. Pediu para ser enterrado numa campa comum, sem inscrição na sua lápide. Mas que o Senhor me permita que o não faça a esse pobre pecador, tal como os santos que o enterraram, por virtude apenas da Escritura que nos diz:

'Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus' (Mateus 5:14-16).

Nuno Fonseca
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Peregrinos
É lixado este professor hebreu. Eu bem sei que muitos, e terrivelmente encartados de história e exegese e ciências diversas, sabem perfeitamente que este é um professor que estudou na grécia e em roma e no oriente, mas o velho hebreu está-se nas tintas para isso. O que ele fez a vida toda, senão rezar. E concentrar-se na incompreensibilidade que se esconde em qualquer texto, palavra a palavra, mesmo no de sentido mais claro. Qual o sentido do próprio acto de dizer, de dizer seja o que for. Tentem lá responder sim, mas não à pergunta, seja ela qual for, tentem sim responder ao porquê de se perguntar, seja pelo que for. Foi o que o velho hebreu fez nos seus tempos livres, fora da oração - ou melhor, em conjunto com esta. Se neste momento lhe dissermos que ele visitou a áustria ou a inglaterra, dir-nos-á: Ainda não compreendeste o que está em jogo.
O ácido que corrói o mundo e o tempo e abre a vida ao que há quando não há mundo nem tempo, é uma bebida típica e exclusiva da terra prometida a Abraão, e daí se derramou para roma e grécia e oriente e áustria e inglaterra, e aí mesmo onde estás se continua a derramar sobre ti em toda a tua vida. Conta uma história estranha, o avô hebreu, está-se nas tintas para a história e para a exegese e para todo o saber que pretenda deter em si o seu sentido. Dorme nas traseiras de todos os lugares, e ao contrário do que possa parecer a um olhar mais imediato, a sua vida é uma permanente festa. A própria lepra é para ele motivo de alegria, não por si evidentemente e como referido.
É ele que aponta para o sentido dos tempos, porque o ama muito antes de este sequer se entrever.
E isto eu tenho que fazer diz o discípulo, ainda bastante assustado, porque é-lhe requerido que não fique nas traseiras mas que siga viagem lugar a lugar como quem não pertença a nenhum, nem sequer às traseiras de algum.
Anda, pega nas tuas coisas, no que conseguires daquilo que precisas e daquilo que amas, vá, desanda, eu estarei sempre aqui. E o discípulo sem identidade nem lugar segue viagem, tão só como aquele a quem Deus não se mostra senão na hora da sua própria morte, do discípulo, que sabe que terá de O buscar na oração, na beleza escondida no rosto do mundo, no lume secreto do medo - e no vazio de sentido de todos os lugares ele sabe que terá de O buscar sem contudo o encontrar.
E quem sabe se lhe vem à cabeça que o velho hebreu afinal não está nas traseiras, está um pouco confuso, o discípulo, quem sabe se de súbito ou gradualmente começa o discípulo a pensar saber que não há traseiras e talvez nem sequer hajam lugares. E que sem primeiro e de algum modo ter havido traseiras e lugares, ele não teria confusamente percebido que talvez nenhum destes afinal há, e que a pergunta é outra. A mesma. Desde sempre. A que não se sabe se alguém perguntou, e que no entanto já foi respondida.

Suspende-se aqui a bloguice; se nenhuma pura violência irromper, regressa-se a 5 de Outubro 2009. Saudações a todos, precisa e imprecisamente – na saúde e na doença, nas afinidades e nas divergências, a verdade nos acompanhe pois, onde dói e onde alegra; sangue e santidade ergamos: a Deus, até já, à vossa!

vítor mácula
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sábado, julho 04, 2009
Pedro Mexia
Quase tudo o que sabemos sobre Paulo está nas suas epístolas (…) e nos Actos dos Apóstolos. Que as cartas sejam tão canónicas como os Evangelhos prova a sua importância. (…) Cristo pregava com parábolas ou pelo exemplo, Paulo faz teologia. É o primeiro intelectual cristão.
(…)
A grande revolução Paulina consiste na convicção de que a fé em Cristo não se dirige apenas aos judeus mas a todos. (…) Além disso, os judaizantes defendiam o cumprimento estrito da Lei, enquanto para Paulo a Lei era suplantada pelo Espírito (…) A polémica entre Paulo e Pedro (…) revela até que ponto o cristianismo é também uma religião de polémica e de confronto, bem diferente de uma certa imagem beatífica e sentimental.
(…)
A “cristologia” de Paulo é curiosa. (…) Aquilo que valoriza acima de tudo é a morte e ressurreição. (…) E a ressurreição é a garantia da divindade de Cristo: Paulo diz mesmo que se Cristo não ressuscitou, a fé é vã.
(…)
“Não há judeu nem grego; não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus”. É uma afirmação espantosa. Todos somos chamados à e à liberdade, uma liberdade nova e uma fé que actua através do amor, ou da Graça.
A “justificação pela fé” é provavelmente o conceito teologicamente mais polémico de Paulo, e uma das bases do pensamento protestante. A “justificação” é uma escolha e uma aceitação. E a aceitação é o caminho da salvação. (hoje, no Público, para o Tiago Cavaco)

cbs
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quinta-feira, julho 02, 2009
Paulo e o túmulo
A 26 de Junho, o Cardeal Montezemolo, diz que “se tentou entrar no sarcófago com aparelhos microscópicos sofisticados, mas não foi possível pois o sarcófago tem uma espessura de 25 centímetro e não filtra nada”. Dois dias depois, o Papa Bento XVI afirma que “uma sonda foi inserida no sarcófago, guardado sob o altar principal. Dentro do local, foram descobertos um tecido de linho de cor púrpura laminado em ouro puro e outro de cor azul com fios de linho (...) Também foram encontrados pequenos fragmentos ósseos".
Não querendo armar-me em personagem do Umberto Eco, gostava de saber como se resolve esta aparente contradição entre o Cardeal, responsável pelo local onde está o pretenso túmulo, e o Papa. A hipótese de uma “pesquisa relâmpago”, de última hora, fica posta de lado porque os resultados demorariam sempre mais tempo a chegar. Como, então, e assumindo que os dois falam verdade, resolver o problema?
Mas, mistério à parte, este episódio do túmulo parece mostrar que está de boa saúde na Igreja de Roma a pretensão de autoridade baseada na posse de relíquias. Paulo, pelo que conhecemos dos seus escritos, que os católicos foram convidados a ler nestes últimos meses, certamente rejeitaria tal pretensão.

Pedro Leal
posted by @ 10:40 da tarde   2 comments
quarta-feira, julho 01, 2009
Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho
Nós somos loucos por causa de Cristo; e vós, como sois prudentes em Cristo!
Nós somos fracos, vós sois fortes!
Vós sois bem considerados, nós somos desprezados!
Até agora passámos fome, sede, frio e maus-tratos; não temos lugar certo para morar; e esgotamo-nos, trabalhando com as nossas próprias mãos.
Somos amaldiçoados, e abençoamos; perseguidos, e suportamos; caluniados, e consolamos.
Até hoje somos considerados como lixo do mundo, o esterco do universo.
(1 Cor 4, 9-13)

É este o nosso ministério que nos foi concedido pela misericórdia de Deus; por isso não perdemos a coragem. (…) Ao contrário, manifestando a Verdade, recomendamo-nos diante de Deus à consciência de cada homem.
(2 Cor 4, 1-2)
cbs
posted by @ 11:07 da tarde   6 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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