segunda-feira, julho 06, 2009
Peregrinos
É lixado este professor hebreu. Eu bem sei que muitos, e terrivelmente encartados de história e exegese e ciências diversas, sabem perfeitamente que este é um professor que estudou na grécia e em roma e no oriente, mas o velho hebreu está-se nas tintas para isso. O que ele fez a vida toda, senão rezar. E concentrar-se na incompreensibilidade que se esconde em qualquer texto, palavra a palavra, mesmo no de sentido mais claro. Qual o sentido do próprio acto de dizer, de dizer seja o que for. Tentem lá responder sim, mas não à pergunta, seja ela qual for, tentem sim responder ao porquê de se perguntar, seja pelo que for. Foi o que o velho hebreu fez nos seus tempos livres, fora da oração - ou melhor, em conjunto com esta. Se neste momento lhe dissermos que ele visitou a áustria ou a inglaterra, dir-nos-á: Ainda não compreendeste o que está em jogo.
O ácido que corrói o mundo e o tempo e abre a vida ao que há quando não há mundo nem tempo, é uma bebida típica e exclusiva da terra prometida a Abraão, e daí se derramou para roma e grécia e oriente e áustria e inglaterra, e aí mesmo onde estás se continua a derramar sobre ti em toda a tua vida. Conta uma história estranha, o avô hebreu, está-se nas tintas para a história e para a exegese e para todo o saber que pretenda deter em si o seu sentido. Dorme nas traseiras de todos os lugares, e ao contrário do que possa parecer a um olhar mais imediato, a sua vida é uma permanente festa. A própria lepra é para ele motivo de alegria, não por si evidentemente e como referido.
É ele que aponta para o sentido dos tempos, porque o ama muito antes de este sequer se entrever.
E isto eu tenho que fazer diz o discípulo, ainda bastante assustado, porque é-lhe requerido que não fique nas traseiras mas que siga viagem lugar a lugar como quem não pertença a nenhum, nem sequer às traseiras de algum.
Anda, pega nas tuas coisas, no que conseguires daquilo que precisas e daquilo que amas, vá, desanda, eu estarei sempre aqui. E o discípulo sem identidade nem lugar segue viagem, tão só como aquele a quem Deus não se mostra senão na hora da sua própria morte, do discípulo, que sabe que terá de O buscar na oração, na beleza escondida no rosto do mundo, no lume secreto do medo - e no vazio de sentido de todos os lugares ele sabe que terá de O buscar sem contudo o encontrar.
E quem sabe se lhe vem à cabeça que o velho hebreu afinal não está nas traseiras, está um pouco confuso, o discípulo, quem sabe se de súbito ou gradualmente começa o discípulo a pensar saber que não há traseiras e talvez nem sequer hajam lugares. E que sem primeiro e de algum modo ter havido traseiras e lugares, ele não teria confusamente percebido que talvez nenhum destes afinal há, e que a pergunta é outra. A mesma. Desde sempre. A que não se sabe se alguém perguntou, e que no entanto já foi respondida.

Suspende-se aqui a bloguice; se nenhuma pura violência irromper, regressa-se a 5 de Outubro 2009. Saudações a todos, precisa e imprecisamente – na saúde e na doença, nas afinidades e nas divergências, a verdade nos acompanhe pois, onde dói e onde alegra; sangue e santidade ergamos: a Deus, até já, à vossa!

vítor mácula
posted by @ 1:19 da tarde  
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