segunda-feira, junho 30, 2008
Luz
Os mortos guardam, no mal que a verdade não anula, no silencioso terror do que não sabemos, que não podemos conhecer. É no silêncio dos mortos o único lugar onde distracção alguma entra, em que não se desfoca a atenção do que é estar vivo e não saber de que se trata afinal, do princípio ao fim. O que é morrer? É a pergunta que subjaz a todas as outras, qualquer uma, é a respiração do acto e da reflexão. Talvez se conseguíssemos formular outra pergunta, acerca da vida mortal que somos, pudéssemos não exprimir nem produzir o mal, mas tal não nos é outorgado. Somos uma espécie amaldiçoada dizia o céptico romeno, por vezes com raiva, outras com melancolia.

Deus é aquilo que contém o vazio, que lhe é anterior, é a dedução simples da vida não poder brotar do nada, o mistério da anterioridade do ser. E é sobretudo o lugar onde a pergunta pode ser outra, e de que não fazemos a mínima de como será, até calarmos a morte.

Talvez alguém já tenha calado a morte, como poderia eu sabê-lo, que nunca o fiz?
Vítor Mácula
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Do Trento da Língua para o mundo
O que se está a passar por estes dias com a Comunhão Anglicana mostra que a bitola da autoridade bíblica é transversal e persistente.

Pedro Leal
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segunda-feira, junho 23, 2008
Fazei o mar deflagrar nos rios, e não esboroar as suas margens 3
- O problema da comunhão, disse Hervé, acabado de chegar e sentar e acesso o cigarro, o chá pedido e enublado, é que a confirmação é da ordem do indemonstrável, do mundo nunca visto nem visível nos interstícios da terra onde vivemos e sufocamos. Aquele que não tem nome exprime-se, sim, mas no incomunicável, fora de todas as regras possíveis, absolutamente fora, a confirmação do divino, a sua presença em e para nós, é única e propriamente expressa – no milagre, disse Hervé cheirando o chá e sorvendo-o soprando.

- E essa malta dos evangelhos re-exprime-o até adequadamente, à papo seco, continuou Hervé, nem se percebe muito bem o que acontece, claro, e nessa incompreensão dá-se o reconhecimento, o denso reconhecimento da voz do deus a chamar-nos. Estás a ver? Igreja é isto, a comunhão nisto, o resto é contratualidade e confusão, o resto é o mundo, e ambos vão, Igreja e mundo, mutuamente contaminando-se, o fermento e o pão, o trigo e o joio, e desesperado daquele que pretende na terra separá-los, sequer distingui-los, tudo isso são conversas de comadres assustadas, a fugir esbaforidas, e isto também é Igreja mas isso seria outra conversa.

- Foda-se, Hervé, disse ele bufando e sorrindo, num minuto consegues logo cansar um batalhão, e acendeu um cigarro, pediu outro café, já era o quarto do dia, se calhar tenho que diminuir nos café, pensou.

- Sim, é melhor estar-se nas tintas para essas questões, disse Hervé, é melhor.

- Não foi bem isso que eu quis dizer.

- É preciso atentar ao ritmo de si, das ideias e das coisas, e saber travar, embraiar, guinar o volante, cuidar da gasolina, do motor, disse Hervé, é preciso quero dizer para ser cristão. E riu, o Hervé, olhando o rio, O que eu quero dizer é que, de certa maneira, antes de falar já falámos demais, e é aí que se dá, ou não, a comunhão. Sei lá o que quero dizer! e ria, o Hervé, cada vez mais, e ele ria com o Hervé, o rio olhava para ele e ele ria, gostava de o ouvir, ao Hervé, gostava de ouvir o seu simulacro de cinismo, a sua esperança e lucidez cega.

- À tua, Hervé, disse ele embatendo a sua chávena na de Hervé, Seja o que fôr que um brinde de chá e café signifique.

- Prosit, disse Hervé, que signifique Igreja ou está tudo fodido.

E riram, ainda mais.

- Que se foda o ecumenismo, essa é que é essa, disse Hervé, se nos pusermos a atentar nas diferenças vivas ainda acabamos por apercebermo-nos que cada qual tem a sua metamorfose cristã, o seu pedaço irredutivelmente singular, a sua pequena e absoluta, pessoal, funda e fundamental – relação com o criador, com a vida também, somos irredutivelmente nós mesmos. A comunhão tem sempre um fundo de abraço cego (sim, aí a referida lucidez) e de confiança bruta que esse fundo esteja em Deus, com Deus, por Deus, e nada mais (por aí, a lucidez).

- É um pouco doido, isso tudo, riu-se ele.

- Exactamente, disse Hervé, e não riu. O amor de Cristo nos reuniu, e nada mais.

- Confessar-se pecador.

- Sem mais. Afastado de Deus, e abraçado por Ele. Isto já parece uma peça de teatro daquelas de maçada intelectual! e voltou a rir, o Hervé, desta vez riu, não se aguenta muito tempo na consciência do pecado, que é a primeira coisa que sucede ao pormo-nos perante Deus, a primeiríssima coisa, ou pelo menos ali não se aguentou, neles, Hervé com os seus cinquenta e tal anos de desencanto e convicção, e ele com os seus vinte e poucos de confusão e decisões; não se aguentou muito, ali com o chapinhar da água e os cordames rangendo, geralmente fica-se em terra e ali ficaram rindo e de vez em quando suspeitando, estremecendo, algures pensando e sentindo e clamando pela incarnação, Vinde senhor Jesus era o que diziam calando e doutros assuntos conversando ou nem por isso, faça-se o milagre do pão e do vinho, do chá e do café, do sangue e da alma, do eu e do outro faça-se.

- Cristo é a vinda concreta e completa a ser-se humano, e assim Tudo o que fizeres a alguém, é a Mim que o fazes. O outro torna-se um absoluto, isto para nós é uma total estapafurdice, claro, a nossa disposição uns perante os outros ser a de ajoelharmo-nos e lavar os seus pés, entregarmos a vida ao outro, toda.

- Sim, a Igreja, como que suspirou por entre os dentes, ele, o outro, e interrogava-se se ele e Hervé estariam nesse soçobro de amor um perante o outro, naquele momento um com o outro e com as restantes pessoas ali em redor, o empregado de mesa, os clientes, a marabunta de pessoas ribombando na cidade do outro lado do rio, haveria um limite de anelo?

- O Escrivá, disse Hervé, numa ida ao México em 1970, ao entrar num centro da secção feminina, uma camponesa índia ajoelhou-se de encontro a ele para beijar-lhe os pés e ele de imediato ajoelhando-se com ela Isso não, minha filha, isso não, somos iguais, somos filhos de Deus, com a diferença de que não sou senão um pobre pecador, por quem é preciso rezar muito.

Um arrepio percorreu a nuca dele, do outro, algo de sentimental mas mesmo assim, um pequeno extâse de emoção e nervo, anseio, como se tal união em violência de comunhão fosse algo que ele reconhecesse com intenso desejo sem saber muito claramente a que corresponderia, o que seria ser e fazer isso, como se fosse possível, ou melhor dito: impossível e desconhecido, e no entanto exigido no máximo desejo. Deus ele mesmo, ou isso ou a morte, é evidente, pensou ou disse, para onde o coração desagua e a mente e os dias se põem ao serviço

- Dá ideia que tinha percebido a coisa, o homem, rematou Hervé rindo, que o beijo da paz é um mútuo encontro no soçobro. E a verdade é que não podemos saber se alguma vez alguém teve ou não um momento de real e verdadeira comunhão, para além de Cristo, claro, não podemos saber.

Calaram-se, e de alguma maneira estavam rezando na tarde, rezando um com o outro ou querendo que assim fosse, cada um à sua maneira, à sua maneira viva.

Igreja é algo assim, é difícil, pensou Hervé, pensaram ambos, aliás. É impensável, sentiram ambos, no fundo de si sentiram. É mesmo preciso haver um deus acrescente-se sem saber se um ou outro ou ambos o sentiram ou pensaram; oxalá, digamos assim, oxalá também agora connosco e com seja quem fôr e onde estiver; oxalá.

(O ideal concreto – seria ter fé.)

Vítor Mácula
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sábado, junho 21, 2008
Stonehenge não salva
Trinta mil pessoas celebraram o solstício em Stonehenge.

Quando Jesus Cristo caminhou entre os homens este ritual já tinha três mil anos. Segundo parece, hoje está de boa saúde e em crescimento. "Nada de novo debaixo do sol", portanto. O paganismo, a Idade da Pedra do espírito, contínua a ser o grande desafio para os cristãos.

Pedro Leal
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segunda-feira, junho 16, 2008
Tela habitada





















Helena Almeida
posto por Vítor Mácula
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sexta-feira, junho 13, 2008
Hiato e Admoestação.
Trentistas amigos, escrevo-vos para dar parecer do meu silêncio. Vou ausentar-me por umas quantas semanas, pois esperam-me os 40 dias no ermo que todo o homem de Deus necessita para a sua santificação e regeneração no Espírito. Em breve volto ao ringue apologético.

Entretanto, insisto em dizê-lo apenas por amor e porque o Paracleto mo urge a fazer, mas Vítor, amigo, gnosticismos neoplatónicos são o que são. Ler facultativamente é uma coisa - validar textos apócrifos que claramente contrariam a Palavra de Deus é outra. A importância de o lembrar aqui, na pág da frente, é para que se entenda que esta mensagem não é para um indivíduo, mas que representa certa negligência comum, que deve ser publicamente contestada.

Jesus não é quem queremos que seja - Deus não será quem preferimos que fosse. O Reino não está dentro de nós, pois o homem pós-adâmico é filho da desobediência e merece apenas o inferno. A maior revelação de mim mesmo enquanto crente é simples: ao ler o Evangelho encontrei-me: sou um pecador imperdoável. Ponto. Toda a minha natureza - até o intelecto - é degenerada.

O procurar ao Senhor, compreender o Evangelho e confessar o amor a Cristo para a salvação, vem apenas e só de Deus, que pela graça nos move o espírito a tanto. Jesus é o autor de toda a fé. E isto é cristianismo elementar. 1º semestre do 1º ano.

A Deus toda a soberania.
Selá.

Nuno Fonseca
posted by @ 9:24 da tarde   94 comments
Fé e razão
O Vítor tinha dito que Ratzinger sustenta, ser o Cristianismo essencialmente racional e não místico – no sentido de êxtase místico (mas a mística não se esgota aí, a conversão de Agostinho posta pelo Pedro tem também esse carácter) – enquanto as outras religiões é que seriam místicas por excelência.
Sem ter lido mais do que a famosa aula de Regensburg (a da citação do Paleólogo), procurei a sua perspectiva da relação entre fé – é mística e distinta, mesmo para o Ratzinger - e razão.
Parece-me que o contraponto fundamental está na visão islâmica de que a vontade de Deus, sendo absolutamente transcendente, não está limitada pela racionalidade – Ibn Hazm, citado, vai ao ponto de admitir que, nem a Sua palavra o limita a Si mesmo, admitindo a contradição.
Ao que o imperador bizantino argumenta com a noção contrária, de que agir irracionalmente é agir contra Deus, porque a natureza divina, o Logos, é racional.

The mysterious name of God, revealed from the burning bush, a name which separates this God from all other divinities with their many names and simply asserts being, "I am", already presents a challenge to the notion of myth, to which Socrates' attempt to vanquish and transcend myth stands in close analogy.Within the Old Testament, the process which started at the burning bush came to new maturity at the time of the Exile, when the God of Israel, an Israel now deprived of its land and worship, was proclaimed as the God of heaven and earth and described in a simple formula which echoes the words uttered at the burning bush: "I am".This new understanding of God is accompanied by a kind of enlightenment, which finds stark expression in the mockery of gods who are merely the work of human hands (cf. Ps 115).
God does not become more divine when we push him away from us in a sheer, impenetrable voluntarism; rather, the truly divine God is the God who has revealed himself as logos and, as logos, has acted and continues to act lovingly on our behalf. Certainly, love, as Saint Paul says, "transcends" knowledge and is thereby capable of perceiving more than thought alone (cf. Eph 3:19); nonetheless it continues to be love of the God who is Logos. Consequently, Christian worship is, again to quote Paul - "λογικη λατρεία", worship in harmony with the eternal Word and with our reason (cf. Rom 12:1).

Julgo não sair daqui, nem o exclusivo da racionalidade, nem uma oposição entre mística e razão. Segundo o Ratz, o Cristianismo é mística, mas Deus é racional; o princípio da identidade, “Eu Sou”, e o princípio da não contradição, o “Logos”, são inerentes ao Ser divino.
Nesse sentido, o Cristianismo - revelação do Deus Ùnico - será Amor, místico e racional. Isso pode, de facto, distingui-lo no quadro das religiões - se bem que o conceito de Logos (o Verbo e a Verdade) difere da racionalidade científica, que Ratinger considera redutor, fruto da deselenização do cristianismo, ligado à Reforma, ao Liberalismo, e por aí fora... mas restinjo-me aqui ao Logos,
Para já não vejo incompatibilidades. Resta-me ler mais…
cbs
posted by @ 12:17 da manhã   8 comments
quarta-feira, junho 11, 2008
A conversão de Agostinho, narrada pelo próprio
«Indaguei as profundezas ocultas da minha alma, arranquei os seus piedosos segredos e, quando os tive todos juntos diante dos olhos do meu coração, eclodiu em mim uma grande tempestade que provocou um dilúvio de lágrimas… Com efeito senti que era ainda escravo dos meus pecados e na minha miséria não cessei de repetir entre gemidos: “Até quando continuarei a dizer: amanhã, manhã? Porque não agora? Porque não acabar neste momento com os meus horríveis pecados?”.
Estava eu a fazer-me estas perguntas e chorava com a mais viva dor no meu coração, quando senti de repente uma voz infantil numa casa próxima. Não seria capaz de dizer se era voz de menino ou de menina: sei, no entanto, que continuava a repetir o refrão: “Toma e lê! Toma e lê!”. Olhei em volta e pus-me pensar se haveria algum jogo em que as crianças repetissem estas palavras, mas não me lembrava de alguma vez tê-las ouvido antes. Enxuguei as lágrimas e levantei-me a dizer que só podia ser Deus que me ordenava que abrisse o livro das Escrituras e ler a primeira passagem que surgisse aos meus olhos. De facto, eu já tinha ouvido dizer que Antão tinha entrado numa igreja enquanto se lia o Evangelho e tinha pensado que se dirigiam a ele pessoalmente as palavras que ouviu ler: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres; depois, vem e segue-me!”. Esta mensagem divina tinha-o convertido imediatamente.
Apressei-me então a voltar para onde Alípio estava sentado, porque, quando me levantara para me ir embora, tinha deixado ali o livro das cartas de Paulo. Peguei nele, abri-o e li as primeiras palavras que me surgiram diante dos olhos: “Não nas orgias nem na embriaguez, na imoralidade ou na lascívia, não nas contendas ou ciúmes, pegai antes nas armas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não queirais contentar a vossa natureza pecadora nem satisfazer os seus desejos”.
Não quis ler mais, nem tive, aliás, necessidade. Num instante, tendo chegado ao fim da frase, foi como se a luz da fé tivesse inundado o coração, fazendo desaparecer todas as trevas da dúvida».

AGOSTINHO, Confissões VIII, 12

Pedro Leal
posted by @ 11:41 da tarde   4 comments
segunda-feira, junho 09, 2008
Citação
« Jesus disse : « Que aquele que procura não pare de procurar, até que encontre, e ao encontrar ficará abalroado de espanto. Espantado, reinará, e reinando, conhecerá o repouso. »
Judas disse : « Quem são aqueles que nos puxam para o céu, se o reino está no céu ? » Jesus disse : « Os pássaros do céu, os animais selvagens, tudo o que vive sob a terra ou sobre a terra, e os peixes do mar, vos puxam para Deus. E o reino dos céus está dentro de vós. Encontra-lo-á quem conhecer Deus, pois conhecendo Deus, conhecerão a vós próprios e saberão que são os filhos do Pai perfeito, e aprenderão também que são os cidadãos do céu. Vós sois a cidade de Deus. »
(…)
Jesus disse : « Façam apenas as obras da verdade. Se assim fizerem, conhecerão o mistério que ainda se vos escapa. »
(…)
Os discipúlos : « Senhor, como encontrar a fé ? » O Salvador disse-lhes : « Passando da obscuridade à luz da revelação. Este refulgir da inteligência ensinar-vos-á a encontrar a fé que manifesta o Pai sem pai. Que aquele que tem ouvidos para escutar escute ! O Mestre de todas as coisas não é o pai mas o ancião. Pois o Pai é somente a origem do que vai acontecer. Mas o seu pai é o ancião, Deus de todas as coisas desde o começo até aos tempos longínquos. »

Papiros de Oxirinco, 654 e 1081
posto por Vítor Mácula
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quinta-feira, junho 05, 2008
Krishna
Peter Seewald: Um dos novos problemas poderia ser que também a teologia pergunte, com uma premência cada vez maior, como se deve fundamentar que Deus só tenha encarnado na pessoa de Jesus e, por exemplo, não tenha encarnado também em figuras divinas da Ásia. Como é possível que uma única pessoa possa ser a verdade absoluta no processo histórico?

Joseph Ratzinger: Em primeiro lugar é preciso dizer que na história das religiões não há verdadeiros paralelos à fé cristã na divindade da pessoa de Jesus de Nazaré.
A figura que mais se aproxima d’Ele é a divindade hindu Krishna, que é adorada como avatar (descida de Deus) de Vishnu e atravessa a história indiana das religiões em diferentes variações, mas é concebida de modo completamente diferente do da fé cristã na união definitiva do Deus único com uma pessoa histórica determinada, através da qual Ele atrai a Si toda a humanidade.

A fé cristã situa-se na continuidade da fé judaica no único Deus, criador do mundo, que faz história com o homem, se liga a essa história e nela age, irrevogavelmente, para todos. A escolha não existe, portanto, entre Cristo e Krishna ou entre outras figuras possíveis.
Só há a escolha entre um Deus, que se mostra a Si mesmo, inconfundivelmente, como o único Deus de todos e se liga ao homem até á sua dimensão corpórea, e uma outra concepção da religião em que a divindade aparece em diferentes imagens e figuras, das quais nenhuma é definitiva. Através delas, o homem refere-se ao que é sempre inefável. É uma concepção diferente de verdade, de Deus, do mundo, do homem.

O Sal da Terra, entrevista de Peter Seewald ao cardeal Joseph Ratzinger, Ed. Tenacitas 2005 (pag.233)
cbs

posted by @ 7:27 da tarde   11 comments
quarta-feira, junho 04, 2008
"The revelation of God is the abolition of religion"

Karl Barth
, Church Dogmatics 1956

cbs
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O Cristianismo não é uma religião!

"The revelation of God denies that any religion is true.
No religion can stand before the grace of God as true religion."

Barth Karl, Church Dogmatics. Vol. I, Pt. 2. Edinburgh: T&T Clark. 1956. pg. 325

cbs

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terça-feira, junho 03, 2008
Tudo tem o seu tempo determinado...
... há tempo de nascer e tempo de morrer.
E há tempo de reconhecer a morte.

Tiago Oliveira
(www.quemtemmedoloboantunes.blogspot.com)
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segunda-feira, junho 02, 2008
As certezas já são poucas, aproveitemo-las
Deus é bem claro na Bíblia. E se nós somos vagos naquilo em que Deus é claro, isso não é humildade. É arrogância. É arrogância colocarmos as nossas ideias como se elas fossem melhores que as de Deus.

(Outra citação de um artigo do Christian Post, que parece ir acompanhando os debates aqui no Trento… :) Não deve ser coincidência. O tema é candente.)

Pedro Leal
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Cor nostrum
O que és tu, meu Deus? Sei que és o infixável, o sussurro que percorre todos os momentos e coisas e por vezes, oh quão tanto e apenas por vezes – mal me tocas e eu fujo. E sei quão pouco és dessas fugazes impressões da minha carne anestesiada, que sugerem mais a tua ausência em mim do que a tua presença viva nos dias e nos sentidos.

O que és tu, meu Deus? Sei que estás substancialmente nas espécies eucarísticas, e que és o laço que fulgura em toda a abertura amorosa que nos dilacera perante um céu estrelado ou um rosto humano, uma mancha ocasional na parede ou o som do vento agitando os cortinados. Sei que és a beleza negada do mundo, e sei também que és na morte que me contempla e acolhe desde antes de eu sequer ter nascido. Sei que és na incarnação e no corpo místico. Mas tudo isto são formas incompreensíveis de te saber. Sei que te sei sem te saber. Porque e como me chamas não sei, mas sei que não o fazes directamente naquilo para que me dirijo, igrejas e sociedades, clubes e ideologias, identidades e confrontos, saberes e poesias, tecnologias e contratos. Como e porque me chamas não sei, meu Deus, a mim que de algum modo – de ti, certamente – amo a vida e nem por isso, o aqui estar no escorrimento dos dias e das noites, na deflagração e soçobro em que tudo acaba por se nadificar, sem antever sequer um pequeno motivo ou horizonte que a tal dê sentido.

O que és tu, meu Deus? Sei que podes tão marcadamente afirmar-te na tessitura das coincidências e discordâncias, e tão mascaradamente indefinir-te nessa mesma tessitura. Que podes em viva voz penetrada na minha revelar-me sinais e sentidos e nunca te esgotares neles. Que podes em ocorrências mostrar-te e guiar-me, numas simples palavras vindas do televisor no café e recontextualizadas em mim tão gritantes e confusas, ou num texto teológico trazido à minha ansiosa mente numa conferência ou pousado a meu lado no banco do autocarro onde me sento. Que te mostras e apelas nos confirmadores e contraditores e indiferentes – mas que mal volvo a atenção para te fixar, te propulsionas em suspeita e procura e desejo. Sei que te realizas em mim em toda a ternura e força com que me disponho a acolher a vida e a morte, em todo o esquecimento e consciência com que me disponho a crescer com os outros, com as plantas, com os animais, com as coisas, e sobretudo em todas as disposições que me cindem em bem e mal, justiça e injustiça, beleza e tédio, merda e maravilha – e em que cegamente toco a carne de que sou feito e assim chamada a trabalhar-se, a edificar-se, a reunir as asas e a queda nessa indizível linha que ambas supera.

O que és tu, meu Deus? Sei que és a resposta silenciosa à muda pergunta de que fujo mal sou e existo, e que não descansarei enquanto a minha vida inteira não assentar no teu mistério.

Vítor Mácula
posted by @ 11:49 da manhã   3 comments
Um blogue de protestantes e católicos.
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