Enquanto o chefe da Igreja Católica Romana se prepara para visitar, com enorme pompa e circunstância, o pobre rectângulo luso, multiplicam-se as teias de aranha nos antros frios e enferrujados do Concílio Trental.
Venho oficialmente retirar-me do Trento na Língua por excesso de língua de quem nada percebe sobre Trento.
Cristo disse para cortar a mão que nos faz pecar: cá fica o meu coto.
Obrigado Luís Sá e, em certa medida, CBS, por nos agraciarem com algum Catolicismo abençoado neste depositório de várias nuances de Protestantismo (algumas, feitas até por dentro). A minha conversão agradece-vos.
O meu testemunho para com os meus queridos 'irmãos separados', porém, nunca se esgotou aqui, e persistirei a lutar para atraí-los a Casa, onde pertenço - e eles também, ainda que o desconheçam.
O futuro do Trento e da minha participação nele não parece de todo luzidio. Mas ele há coisas que não consigo evitar de partilhar tal o encanto. Aqui vai.
O Catolicismo português - o verdadeiro, diga-se - sempre zelou por uma atitude muito in-your-face em relação à fé (o do tipo do jimbras que se descamisa para mostrar o Terço, o da chavalada com o pullover do Colégio, a iconografia na carteira, a liturgia-de-ourives que adorna a beata, etc). Hoje em dia, pelo contexto em que nos achamos, tais actos de ousadia cristã e orgulho crístico (aqueles que S. Paulo elogiava, espero eu) são contraculturais - e têm o seu quê de subversivo. E eu amo coisas como essas, como sabem. Coisas assim:
Quem não descobriu a alegria de não ser deste mundo estando nele não sabe ainda por que os mártires morrem a cantar hinos cristológicos. Quem não tem gozo em ser contracultural, ainda não provou a cereja no topo do bolo do Cristianismo. Mas, claro, vai sempre a tempo.
Entro pela porta larga do Trento, cabisbaixo e céptico. Cabisbaixo, porque o Vítor Mácula decidiu (quiçá ajuizadamente) cortar a língua precisamente na semana em que me põe aqui a linguarejar. Céptico, porque embora ache alguma graça ao Trento, nunca fui homem de grandes “ecumenices” (jamais beijarei a mão do papa! ouviste Nuno?). Veremos até quando suportarei(s) este pobre protestante neste "Tridentum" Anglo-Romano. Jorge Oliveira
O fim está perto, o fim está perto, o fim está perto, perto do fim. O presente aberto, o passado curto, o futuro certo e o Eterno perto de mim. Samuel Úria porcbs
Ontem casei-me. Quer dizer, casaram-me no Cartório Notarial, ou lá o que era aquilo, de Sintra e não numa Igreja ou pela Igreja. A grande dúvida teológica que não tenho é: será que Deus abençoará o meu casamento nestas condições?
A minha tarefa postadora no Trento termina aqui; nenhum motivo religioso ou inter-confessional esteve em jogo; e também nada que tenha que ver com o que tem decorrido, interessante e interpelantemente, nos posts e comentários.
Agradeço ao ex-trentista Tiago Cavaco o convite para no Trento se aturarem os dislates e expressões da minha conturbada e contínua conversão; agradeço aos irmãos Leal, ao Cbs e ao Timshel, a civilidade e humanismo com que, em divergências e concordâncias, sempre enriqueceram o diálogo, e me fizeram crescer espiritual e teologicamente; a vós, à Beguina, ao Nuno Fonseca, ao Paulo Ribeiro, ao Rui Alme, e aos restantes postadores com quem não tive diálogo directo ou nem estive em simultâneo no Trento, assim como à Hadassah, à Zazie, à MC e restantes comentadores e silentes leitores – agradeço o tudo e tanto que aqui blog-vivi e aprendi.
A Zazie diz algo a que sou muito sensível e que sempre me fez espécie enquanto deambulava pelas periferias do centro do Cristianismo que se acha na Santa Sé:
"Eu quero saber se a Igreja com quem simpatizo aceita isto [inserir política progressivista de extrema-esquerda] de um fiel.
E digo-te que se o aceitar, para mim acabou-se e a Igreja Católica estará definitivamente cortada."
Ela elabora:
"Duvido que o Papa defenda e aceita um fiel a defender literalmente isto [inserir política progressivista de extrema-esquerda] - donde me restará sempre o Papa como base duma Igreja que tenho desejo de me aproximar mais."
No fim, remata:
"Nem um pé mais avanço para uma instituição que possa ter-se tornado numa vergonha tamanha que qualquer ateu bem formado renega'.
Respondendo: por estes mesmos receios e pressupostos me pude manter ateu e não-Católico durante tanto tempo. Católicos de cafetaria, não-praticantes e mal-praticantes sempre foram a minha melhor desculpa para blasfemar a Igreja: eles serviam a melhor prova de que tal instituição não era para ser tomada a sério, visto que nem os seus acreditavam no que criam. Via a hipocrisia de quem põe Terço e látex; de quem confessava antes da Eucaristia os seus pecados e confessava os pecados do outros depois desta; de quem fazia vénias ao Papa e ao político do 33º grau do Grande Oriente Lusitano em contra-agenda à Santa Sé; a quem tudo isto lhe fazia sentido: Avés e candomblés, Catecismo e onanismo, Sagrada Escritura e tarada fissura, etc etc.
Os Católicos que fazem excepções conscientes ao seu Catolicismo (fenómeno também conhecido por 'heresia' ou 'apostasia') estão, por conveniência mediática e para exemplo de propaganda negra (aquela que se faz passar por aquilo a que se opõe), na fachada da parte mais visível da Igreja visível, pois fazem-se visíveis. O catecúmeno quer Cristo, mas lá estão já eles de braços benvindores para o receber na tertúlia das periferias iscarióticas; o crente quer comunhão com quem se senta na Cátedra de S. Pedro, mas estes se oferecem para comunhão com as opiniões deles e as suas várias nuances interpretacionais do Magisterium Dixit que soam com maior objectividade e literalismo à última moda da agenda do Bloco; o recém-Cristão quer a Bíblia, mas é recebido por estes altos críticos com inúmeras alegorizações e reinterpretações do Texto Sagrado que são todas menos a mais óbvia. Toleram toda a diversidade menos uma que seja unívoca; desejam toda a tolerância piedosa aos desviados desde que esta não inclua os 'farisaicos' tradicionalistas; ecumenizam tudo, menos o que tenha pretensão de Verdade (que nunca é moralmente mais pretensa que a deles que tudo inclui, em especial as contradições).
À Zazie, e em nome dos Católicos que acreditam no que crêem, tomando forte o testemunho dos poucos fiéis Papistas deste blogue (cujo testemunho, caso do Luís Sá, me trouxeram à plenitude da Fé) digo: o Dogma não muda. O Papa, sob Cristo, rege. A Igreja nunca mudará. A Esposa do Senhor é fiel e não O trai. Como Cristo prometeu, as portas do Hades não resistirão à Sua expansão. Os bispos Kungs aborcionistas, pró-gay, pró-contracepção, pró-ordenação de mulheres e o que mais lhes levante o rabo a jeito da pica do espírito da época sempre terão nos Bentos XVIs da nossa Sé uma anulação dos seus ofícios e ameaças de excomunhão.
Quem quer essa 'outra' igreja, vá, por exemplo, para igreja anglicana - ou o que resta dela. Verá muitos lugares vazios e um enchorrilho de gente com coluna vertebral a sair em êxodo para Roma (os 'fariseus'). Lá, terão a fé cor-de-arco-íris que anseiam e o desrespeito e descrédito do Mundo, que não vê nela nada de diferente ao que já tem, nada da salinidade do Sal da Terra e só trevas e incerteza em lugar do que devia ser a Luz do Mundo e a relevância que é Cristo - não uma à custa dEle.
O que é o ódio, onde e como habita e toma forma nos actos, usos e relações; tratamos aqui de algo fundo e denso, que tem raízes no indizível da alma, no centro mesmo do sentido do ser e da vida.
Como uma névoa ele se propaga, sem lugar logístico nem linguístico; assim pode um pai dar-lhe forma na relação com um filho, quando o castigo e a opressão são o fim oculto de um meio pedagógico e ético legítimos; ou um amante com um amado, quando a divisão e a anulação são o fim oculto das inevitáveis desavenças magoadas e confusas; é assim que se pode odiar na verdade, imprópria e retoricamente falando: agindo e relacionando-nos sem a caridade de fundo que, orientando o nosso ser e vida, impede o uso de verdades éticas e epistemológicas para demoníacos e desumanos fins.
É algo que não é cernável por estrita argumentação nem se patenteia por motivos fixos ou determináveis, pois não se constitui nos elementos de ser e verdade que possam haver na vida e na palavra, mas no sentido e dinâmica com que age nestes; é que tudo é bom e belo e permitido no seu fundo autêntico, mas a edificação maligna trata de pegar no que é bom e belo, a própria e exuberante vida e sua sacralidade – e funda a sua habitação no vazio de si mesmo, com o ódio próprio do orgulho que não aceita a sua necessidade ontológica da natureza e do divino; e que sem a abertura e aceitação destes como sua sustentação vital e espiritual, reprime a primeira e nega o segundo com uma relação idolátrica qualquer.
É por ser de fundo e queda que é originante da maldade, destruição e desumanização que se patenteiam na história da humanidade, em que sem a ironia ou o silêncio místico, seja o que fôr de bom, belo e humano – acaba sempre por espatifar-se num terror sem nome e numa opressão sem fim; e é por ser de fundo e queda que espreita em todas as nossas células e palavras, sobretudo nas amorosas e verdadeiras, como uma serpente nas folhas da clareira, uma ressaca sem fim nas manhãs de festa e alegria.
Aqui, apenas o olhar límpido entrevê a sua presença; e por isso os animais e toda a natureza, as crianças e os poetas – o reconhecem de imediato e instinto: a má onda, o ácido da terra; o esgar da falsidade e da divisão traiçoeira, que se oculta nas potestades sociais e pessoais da mundanidade separada.
GK Chesterton sobre os meio-cristãos, os 'católicos' de supermercado, os semi-santos encalhados no Purgatório, e todo o tipo de vómito de Cristo.
"Não conseguem ser cristãos, nem conseguem deixar de ser anticristãos duma vez por todas. A atmosfera que respiram é, toda ela, de reacção: é uma atmosfera de amuos, perversidades, críticas mesquinhas. Continuam a viver à sombra da fé, mas perderam a luz da fé.
Ora, a melhor relação que podemos ter com o nossos lar espiritual é vivermos suficientemente perto dele para o amarmos; a segunda melhor, porém, é vivermos suficientemente longe para não o odiarmos . . . O pior juiz de todos é aquele que, hoje em dia, mais se presta a fazer juízos: é o cristão mal formado, que se vai transformando gradualmente num agnóstico maldisposto, enredado até ao fim numa batalha cujo começo nunca compreendeu.'
inO Homem Eterno, trad. Mª José Figueiredo, Alêtheia Ed.
'Conheço as tuas obras, que não és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca!' (Apocalipse 3, 15-16)