Que a Câmara Municipal de Famalicão tenha levado, à boleia dos dinheiros públicos, mais de nove mil excursionistas ao Santuário de Fátima, não espanta ninguém. Pelo menos quem vive fora de Lisboa está habituado a este tipo de “afinidade” entre o político e o religioso. Mas, para além do reparo, sempre bem-vindo, o que a notícia traz de relevante é a clarificação das vozes e das perspectivas em jogo. Por um lado os dois tipos de laicismo: o jacobino, ateísta ou agnóstico, que quer a religião o mais confinada possível à esfera privada; e o cristão, naturalmente pró-religioso, que defende, em nome da liberdade, a imparcialidade do Estado em matéria religiosa. Do outro lado, a igreja dominante, atolada até aos cabelos em jogos de poder com séculos, que só quando pressionada abre mão dos privilégios, por mais pequenos que eles sejam. Neste triângulo, pouco amoroso, caminha a questão religiosa em Portugal. Que cada vértice clarifique e assuma as suas posições só pode ser positivo. Pelo menos perceberemos o que realmente está em causa quando a conjuntura levar cada um dos lados a alianças ou animosidades.
"Quer uma relação para toda a vida? Faça um contrato de trabalho, mas não case! Quer uma relação precária, de que se possa desembaraçar quando quiser e sem necessidade de nenhuma causa justa? Case, pois não há vínculo jurídico mais instável no sistema jurídico português! Moral desta história imoral: empregue a pessoa que escolheu para parceiro de toda a sua vida e case com a sua mulher-a-dias!" Gonçalo Portocarrero de Almada no Público de 2008-09-20 O artigo linkado, escrito há tempos no jornal, dá para sorrir com as contradições entre estereótipos, ditos de esquerda e de direita. Mas mais do que isso, parece-me a mim salientar não uma imoralidade (com que padre Gonçalo títula o artigo) mas uma amoralidade na qual o comum dos cidadãos navega hoje a sua desregrada vidinha. Achei por isso interessante a "sequela" que o historiador Rui Ramos lhe deu: "Eis o que os portugueses, em 2008, aparentemente desejavam: "trabalho" assegurado pelo Estado, e "afecto" sem responsabilidades. (...) Não somos assim? " cbs
Na Bíblia quando os profetas denunciam e combatem a exploração dos mais fracos pelos poderosos tocam quase sempre em dois pontos: a sobrecarga de impostos e a arbitrariedade e injustiça da lei. Parece claro que Deus deseja que cada um goze os frutos do seu trabalho e que a lei, aplicada com dureza e imparcialidade, equilibre e pacifique a sociedade. Olhando o que se vai passando por cá, apetece dizer que fazem falta cristãos que dêem mais atenção aos profetas bíblicos.
Desta vez a igreja anglicana faz-nos manchete pelo seu pedido de desculpas a Charles Darwin por reprovar-lhe, em vida, a teoria da evolução. Devia, quanto a mim, rogar-lhe o perdão por não o ordenar pastor após o seu seminário teológico. Porquê?
Assim, o biólogo acidental jamais procuraria nos Galápagos semelhanças entre tentilhões e bananas, de forma a provocar controvérsia face à cosmovisão (então) cristã da abadia de Westminster, causando que esta viesse a proliferar da futura cultura de tablóide que é hoje a britânica - a qualquer custo. Neste sentido, a Church of England é a Carolina Salgado da cristandade, vivendo dum mediatismo escandaloso para tentar justificar uma relevância já incompensável.
O anglicanismo, temo afirmá-lo, cisma aos poucos e hereticamente do cristianismo histórico. A sua atitude neoliberal nem é respeitável pela sociedade laica, que nunca aceitará uma igreja que pretende emergir na pós-modernidade através de não ser-se igreja. Ou, pelo menos, uma que é cristã. Mas amigos, nada de substimar o descrente: ele sabe que o desertor não será mais fiel para o inimigo do que fôra para o exército da casa.
Dessurpreendentemente, é sempre este o fim da igreja-estado. Não foi nada que não sucedera com os reformados holandeses ou os luteranos escandinavos. Metaforizando, estes cunharam a face de Cristo na moeda dum César que ainda a cobrou como sua; concordataram o chicote de Pilatos com as costas chagadas do Messias, e a saliva dos fariseus com o nu crucificado do Nazareno. Por esta e outras razões, também não elogio o catolicismo romano.
O conforto duma influência mundana sobre uma congregação nacional através dum reino terreno mitifica naturalmente um Reino dos Céus prometido por um carpinteiro judeu nascido duma recém-casada prenha de filho alheio ao pai. Envergonha (Romanos 1:16a).
Mas para liberar o poder do cristianismo é imperativa uma grandessíssima falta de vergonha, e a certeza que a maioria será ofendida pelo Evangelho.
'Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens' (I Coríntios 1:21-25).
Devido ao comentario alheio no poste original deste titulo, coloco a actualizacao aqui para nao entrar em confusoes. Estamos bem e esperamos ter luz em casa dentro da semana. A casa fica inteira menos uma janela e estamos com os sogros do meu irmao em San Antonio. Isto por conveniencia e convivio e nao por que seja rigorosamente necessario. Apesar do centro do furacao passar directamente por cima da nossa urbanizacao, a primeira inspeccao indica estragos apenas aos telhados e umas garagens. E claro que a ilha de Galveston foi decimada e a recuperacao vai levar bastante tempo. Esperamos comecar a ajudar nisto assim que possivel e a nossa igreja de certeza vai se encontrar no meio do esforco da comunidade. Obrigado a todos pelas oracoes e mensagens encorajadoras. Estarei de volta com os acentos do costume dentro de dias (espero eu).
Mais uma vez a cidade de Galveston (um bocadinho ao sul de Houston) prepara-se para a eventual chegada à terra de um furacão. O chamado "Ike" poderá ser de categoria 3 com ventos em excesso de 170 km a hora etc. etc. As placas luminosas na autoestrada avisam "verifique o deposito" e os supermercados lucram da venda de materias no caso do pior. Chegue onde chegar a tempestade, vai haver estragos e perda de vida... é uma situação assustadora e incerta pois só na sexta é que se sabe o destino de Ike.
No tempo devocional esta noite, falámos de onde fixamos os olhos. Se fixarmos os nossos "olhos" em Cristo (Hebreus cap. 12) a tempestade não desaparece de facto. Mas sabemos que Pedro começou por acompanhar o Senhor a andar pelas ondas e afundou-se apenas qunado olhou para as ondas e o vento.
Nas circunstâncias do pior, vale a pena saber onde colocar as nossas atenções. A situação é capaz de até piorar, mas ganharei forças e equilíbrio para enfrentar o pior. Foi mais ou menos esta ideia que quis transmitir na pequena reflexão sobre a mala perdida. A providência de Deus raramente (na minha experiência) transforma fisicamente as circunstâncias em que vivemos, antes somos nós que nos conformamos à Sua imagem. A questão é: Onde é que reside a minha confiança?
o Nuno reapresenta-se ao serviço, agora com alto teor de teologia reformada, saturado em calvinismo, e certo que por muita incompreensão e incredulidade que o catolicismo-romano lhe cause, este compensa, senão noutro, num aspecto: não é a comunhão anglicana.
O solo e o clima portugueses não são os mais indicados para cultivar stand-up comedy. Se já vi essa infertilidade como uma questão de língua, tenho-a agora mais como uma questão de linguagem. E não é que um país tradicionalmente católico careça de sentido de humor, carece sim de pungência performativa. Digo-o com a autoridade de quem sabe distinguir a tradicional homilia romana de um tradicional sermão protestante - a placidez de um e a brutalidade de outro.
Portugal foi país alimentado com a sólida e doce perenidade monolítica do latim que hoje, já transmutado para português, não perdeu a musicalidade sacra de outrora. Do outro lado do Atlântico há paragens mais jovens que se fundamentaram na epilepsia gospel, no espasmo linguístico, no Hard-Rock (of Ages).
Assim se separam as águas: quando o ouvir faz sorrir e meditar vs quando o ouvir faz rir às gargalhadas e chorar baba e ranho. Ora aí está.
Haverá excepções, mas raramente vi padres que em palavras me quisessem bater ou pregadores que me quisessem fazer festinhas. Quem não sabe throw a good punch não sabe throw a good punch-line.
E o facto de haver entre os judeus alguns dos melhores stand-up comedians estraga-me esta estereotipada argumentação? Nada disso: toda a gente sabe que esses narigudos conseguem intrometer-se bem nos meios quando farejam um bom negócio.