quarta-feira, junho 23, 2010
Anti Clericalismo
Algo mudou no inicio da era moderna, quando o protestantismo criou uma nova historiografia, como o objectivo de mostrar que a Igreja está manchada pelo pecado, totalmente corrompida e destruída; já não é a Igreja de Cristo, pelo contrário, é instrumento do Anticristo. Assim, corrompida até ao fundo, já não é Igreja, mas Anti-Igreja.
Naquele momento alguma coisa mudou, e necessariamente nasceu uma historiografia católica para a combater, para mostrar que, não obstante os pecados que inegavelmente tinham sido cometidos e que eram demasiado evidentes, a Igreja Católica ainda continuava a ser a Igreja de Cristo, sempre a Igreja dos santos, a Santa Igreja.
Nesse momento de contraposição entre duas historiografias, na qual a católica se via constrangida à apologética, a mostrar que a santidade da Igreja permanecia, naturalmente atenuou-se a voz da confissão dos pecados da Igreja. A situação agrava-se depois com as acusações do Iluminismo, pensamos em Voltaire (esmaguem a infame!) e no aumento dessas acusações até Nietzsche, com quem a Igreja não só aparece como Anti-Igreja, mas também como o grande mal da Humanidade, que contém em si toda a culpa, que destrói e impede o progresso, sendo os pecados da Igreja aumentados a ponto de se tornarem verdadeiros mitos, de modo a que toda a história das cruzadas, da Inquisição, da feitiçaria, se conforma como uma única visão de absoluta negatividade da Igreja.

Neste panorama a Igreja é obrigada a mostrar que, não obstante os elementos negativos da sua caminhada, continua a ser o instrumento da salvação e do Bem. E não da destruição da Humanidade.
Joseph Ratzinger (Dicionário por Marco Tosatti, Paulus Editora 2006)
posto por cbs

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terça-feira, maio 11, 2010
Na tormenta...
Em breve o lado teutónico foi esquecido. Suave, delicado, grande intelectual, o novo Papa que sabia não poder contar com o efeito mediático de João Paulo II, nem fazer esquecer "o bom" Papa João XXIII (...) conseguiu fazer esquecer que era alemão e tivera o magistério da disciplina e vigilância da Igreja.
Duas encíclicas encontraram um eco atento nos meios intelectuais católicos e, para além deles, em gente que não esperaria dele textos teológico-proféticos, como os de alguns dos seus famosos predecessores. Tranquilamente, esse grande teólogo e filósofo, a par do movimento de ideias da sua pátria, relembrou na ordem da exegese, e em termos originais relativamente à tradição, a leitura da mensagem cristã como Amor, renovando-a na sua semântica, ao ter em conta os laços estruturais entre Eros e Agape.
(...)
O mesmo fará na revisitação e explicitação da doutrina social da Igreja, o que surpreendeu - dentro e fora dos meios católicos - gente que há muito o tinha catalogado - nessa matéria em particular, mas também nos domínios da ética e dos costumes - como um dos Papas mais conservadores, uma espécie de Pio IX redivivo. O que é totalmente inexacto.
E de súbito, como em simetria com a crise do Ocidente na ordem profana (economia, política e ética), sofrida pelo comum dos mortais como uma ameaça e um desafio ainda em curso ao tipo de civilização que é a nossa, abate-se sobre a Igreja uma espécie de vendaval ético-histórico, ampliado pelo mediatismo planetário, (...) o mais apto para atingir a Igreja instituição e a feri-la, não no coração da sua mensagem, mas na imagem que a define e caracteriza a sua missão "exemplar".
Em nada, a título pessoal, Bento XVI tem a ver com esse escândalo, por ele mesmo descrito e sofrido como tal, mas foi sobre ele, sucessor de Pedro, que caiu o reflexo profano, mundano, desse fait-divers que não se parece com nenhum outro. É uma injustiça objectiva e ninguém o saberá melhor do que ele. A Igreja não é nenhuma barca angélica. Está no mundo e pertence ao mundo. Não existe para impedir o mundo de passar mas para santificar o mundo que passa. De resto, já tem no seu fundador o mais incontornável dos juízes.

Eduardo Lourenço, hoje no Público, dado pelo Rui passsado pelo cbs (vale a pena ler tudo)

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posted by @ 12:37 da tarde   1 comments
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