terça-feira, outubro 21, 2008
A questão do “eu posso” 2

Um louco que se toma por rei é um louco, dizia Lacan.
Um rei que se toma por um rei não o é menos. Mas não é do poder de um rei, do imperador ou do perfeito romano que aqui se trata, é de qualquer poder, em geral, e, em primeiro lugar, destes poderes elementares que a fenomenologia da carne reconheceu serem constitutivos da nossa corporeidade originária e cujo exercício reiterado assegura o sustento e o desenvolvimento de toda a existência humana.

Condenar um homem à crucifixão, isso supõe outros homens, homens com mãos, soldados, carrascos, assassinos, e em cada um deles, a capacidade de prender, apoderar-se de um objecto ou de um corpo, bater, enterrar, erguer – capacidade sem a qual crucifixão alguma, jamais, teria tido lugar.
São todos esses poderes indistintamente, apesar da hierarquia, do desprezo ou do prestígio de que se revestem aos olhos dos homens, que são desprovidos de todo o verdadeiro poder, porquanto cada um deles não tira o poder de si mesmo, mas só de uma doação em relação à qual não há poder algum, nem mesmo, vimo-lo, o de aceitar ou de recusar.

De onde vem esta doação? Do alto, diz Cristo.
E isto quer dizer, em primeiro lugar, que nenhum homem, com efeito, detém qualquer poder, pois que este nunca é de si mesmo que o recebe.
Michel Henry, Encarnação uma filosofia da carne, p.195

Leio pois, somos livres mas... só com Deus;
ou por outra, o poder é dado do Alto (da Vida Absoluta) e está presente em baixo (a vida humana), tanto no mero acto de fechar a mão, como no de pregar um cravo...
Mas se essa liberdade consumar a separação (da Vida), o resultado é o Fim (a Morte).
Daí o resgate do Homem, a Encarnação que religa a carne.
Pergunta Pilatos: És rei?; Cristo responde: És tu quem o diz.
E aos apóstolos: Sem Mim nada podereis fazer;
Precisamente... nada podereis fazer, absolutamente nada!
cbs
posted by @ 12:37 da manhã  
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