terça-feira, outubro 14, 2008 |
Sto Agostinho não escolheu defender a predestinação e negar o livre-arbítrio do homem. Foi escolhido. |
"Procuremos entender a vocação própria dos eleitos, os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos para que cheguem a crer. O próprio Senhor revela a existência desta classe de vocação ao dizer: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu quem vos escolhi' (João 15:16). Pois, se fossem eleitos porque creram, tê-lo-iam escolhido antes ao crer nele e assim mereceram ser eleitos. Evita, porém, esta interpretação aquele que diz: 'Não fostes vós que me escolhestes'. Não há dúvida que eles também o escolheram, quando nele acreditaram. Daí o ter ele dito: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi', não porque não o escolheram para ser escolhidos, mas para que o escolhessem, ele os escolheu. Isso porque a misericórdia se lhes antecipou segundo a graça, não segundo uma dívida. Portanto, retirou-os do mundo quando ele vivia no mundo, mas já eram eleitos em si mesmos antes da criação do mundo.
Esta é a imutável verdade da predestinação da graça. Pois, o que quis dizer o Apóstolo: 'Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo?' (Efésios 1:4). Com efeito, se de fato está escrito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra esta presciência ao dizer: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi'. Isto daria a entender que Deus sabia de antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhidos por ele.
Consequentemente, foram escolhidos antes da criação do mundo mediante a predestinação na qual Deus sabia de antemão todas as suas futuras obras, mas são retirados do mundo com a vocação com que Deus cumpriu o que predestinou. Pois, os que predestinou, também os chamou com a vocação segundo seu desígnio. Chamou os que predestinou e não a outros, justificou os que assim chamou e não a outros; predestinou os que chamou, justificou e glorificou (Romanos 8:30) e não a outros com a consecução daquele fim que não tem fim.
Portanto, Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não porque já o eram. Diz o apóstolo Tiago: 'Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?' (Tiago 2:5). Portanto, ao escolher, fá-los ricos na fé, assim como herdeiros do Reino. Pois, com razão, se diz que Deus escolheu nos que crêem aquilo pelo qual os escolheu para neles realizá-lo.
Pergunto: quem ouvir o Senhor, que diz: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi', terá atrevimento de dizer que os homens têm fé para ser escolhidos, quando a verdade é que são escolhidos para crer? A não ser que se ponham contra a sentença da Verdade e digam que escolheram antes a Cristo aqueles aos quais ele disse: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi'."
- Sto Agostinho, Gratia (vol. II)
Nuno Fonseca |
posted by @ 7:47 da tarde |
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22 Comments: |
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Confundir presciência com predeterminação, anula a liberdade, esse dom de Deus; a harmonia pré-estabelecida e as escolhas nela implícitas, não são imposição.
Exemplo: "Deus sabia que Pedro o ia negar, não porque o decidiu, mas simplesmente porque o sabe desde a eternidade."
A eternidade escolhe présabendo, não prédeterminando.
(Um abraço, ó subtil Godofredo!)
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Predestinação significa predestinação - exemplo:
'Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade' (Efésios 1:3-5),
Ainda mais, predeterminação também significa predeterminação:
'Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho predeterminaram que se fizesse' (Actos 4:27-28).
E essa distinção entre presciência e predeterminação deve mais ao arminianismo que aos catecismos católicos-romanos. Repara no versículo donde se extrai esse conceito:
'Porque os que dantes conheceu [gr. 'proginosko'], também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho' (Romanos 8:29).
Repara que não é só o facto de que o próprio enunciado invalida essa distinção entre o pré-conhecimento e a predestinação (pois Aquele que conhece de antemão também predestina), mas o próprio vocábulo 'proginosko', que não só traduz etimologicamente 'presciência', mas também 'predeterminação'. Mais ainda, em linguagem bíblica, o verbo 'conhecer' (heb. 'yada'/gr. 'ginosko') mais do que o conhecer cognitivamente, significa amar, tal como ao descrever o conhecimento de Adão a Eva, ou até o acto de escolher:
'E atentou Deus para os filhos de Israel; e Deus os conheceu' (Êxodo 2:25)
O significado do amor por eleição encontra inúmeros paralelos, incluindo estes:
'Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro' (I João 4:19)
'Vós não me escolhestes, mas Eu vos escolhi' (João 15:16)
And so on.
Até logicamente esta falsa dicotomia arminiana cai por terra. Considera a seguinte ilustração: Deus pré-soube que comerás uma laranja, logo não irás comer uma clementina.
E olha que ali o Sto Agostinho também parece muito convencido disto, e desmente claramente essa posição, uma que Pelágio primeiramente defendeu:
'Com efeito, se de facto está escrito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra esta presciência ao dizer: 'Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi'. Isto daria a entender que Deus sabia de antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhidos por ele. (...) Portanto, Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não porque já o eram'.
§
Soli Deo Gloria.
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pré-saber é uma forma analógica do saber desde a eternidade; Deus não sabe antes nem durante nem depois: Deus sabe, do mais dentro e fora das coisas, Deus sabe.
predestinação idem. o destino não está pré-escrito em pedra: são linhas de força, sinais, etc; há sempre espaço na alma para a recusa, para a renegação, para o mal.
há sempre um perigo enorme de equivocidade na linguagem do sagrado, em que falamos de Deus com signos humanos; e também no pensamento; toda a teologia é no fundo teologia negativa (diz de Deus sobretudo aquilo que Ele não é).
ou então: Deus determina o mal, é seu agente primeiro; é uma posição, não é efectivamente a minha; considero que Deus é condição ontológica de tudo, e assim também da sua perversão e desordem, mas em segunda instância; permite-o por doação desse bem maior que é a liberdade, no sentido técnico.
mas tudo isto é muito difícil, claro.
o mano protestante Godofredo é que tentou inteligir isto, sobretudo na sua "Teodiceia".
seja como fôr, a liberdade, é para mim um princípio de fé, ou se se preferir, de concepção da criação.
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em linguagem tomista: Deus não age nas causas segundas; Tomás acede que excepcionalmente o possa fazer, mas acede a tal com muita relutância, numa confrontação com a possibilidade duma certa concepção de milagre: deste enquanto algo que ocorre não respeitando as causas naturais.
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Subscrevo tudo o que disseste, Vitor. Em especial quanto à concepção de mal, como derivada da liberdade.
No entanto, existe aquilo que podemos considerar o "mal" da "Natureza" não derivado da escolha humana, as catástrofes, as doenças, a morte... A essa espécie de "males", não se aplica a "mores", mas não deixam de consubstanciar algo que consideramos cruel, inumano, e que por vezes se atribui ao castigo divino.
Em todo o caso, eu não vejo esse tipo de fenómenos naturais como emergencias do mal, antes provações que aceito em nome da Vida, no ambito dos quais o humano se desenvolve na busca do Ser. Condição de Vida para ultrapassar a Morte.
julgo eu...
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Bem, cbs, aí entramos na zona hardcore, onde admito que fico um pouco à toa. Quero dizer, perante a criança morta com leucemia ou por um terramoto, calo-me. Sinto uma espécie de terror em tentar pensar ou explicitar coisas dessas. Calo-me e rezo. Confio, ou tento confiar, que tem um sentido em Deus, sim. Sinto sempre um certo revolver das entranhas com justificações à Godofredo (o melhor dos mundos possíveis, e cada mal particular concorre para o bem da totalidade) ou à Chardin (necessário à mutação evolutiva). Deve ser por aí como dizes, sim, faz parte da provação, da conversão concreta. O mal é o assunto mais denso do mundo decaído, é de certo modo a sua essência. Mas nego também que seja castigo particular.
Uma amiga minha trabalhou na ala infantil de oncologia do S. José; aguentou dois ou três meses. E outra: num encontro com o Lobo Antunes nas Caldas da Rainha, há uns anos, alguém lhe perguntou como aprendeu a escrever, ou porquê que escrevia, já não me lembro muito bem, e ele respondeu: Por causa da primeira criança que eu vi morrer à minha frente. E contou a estória, que rimadamente, também se passara no S. José.
Fónix, fónix ;)
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Pois Vítor As crianças. eu costumo olhar para o Holocausto, mas as crianças na oncologia pediátrica… a minha mulher esteve voluntária num serviço desses, e sente-se uma imensa revolta com Deus, sim. Que pai aceita ver assim o seu filho, sem intervir, se puder, ou não é omnipotente? (confesso que não vejo Deus como um Omni-abstracto, mas como a Pessoa, eventual motivo de discussão, outra) Também já ouvi o Lobo falar desse episódio, ainda há poucos dias em entrevista com o Mário Crespo, essa criança que por ser pequenina para caber na maca, foi levada para a morgue ao colo envolta num cobertor, mas ia um pésito de fora, pendurado… o pé que todos nós temos de fora, dizia ele.
Por vezes pergunto-me se não ando a usar a minha inteligência, para justificar um credo que não compreendo, Vítor… mas a verdade é que o Amor que Dele sinto é tanto, apesar da Dor, que só me vêm à alma as palavras de Pessoa (no poema ao fanático de Alcácer): É na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa Em sonhos que são Deus
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'Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas' (Isaías 45:7).
A razão por que o mal existe é por que Deus tem um propósito nele.
A Queda foi decretada por Deus, e tudo o que corre está predestinado a acontecer pela vontade do Senhor que o ordenou antes da Criação, fora de tempo e espaço, para a Sua glória.
'Receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Job com os seus lábios' (Job 2:10).
Enquanto homens caídos todos temos uma consideração demasiado boa sobre a nossa natureza. Mas é errónea: somos miseráveis e imperdoáveis desde a nascença, e merecemos todo o mal que nos venha a acontecer, pois pecamos - por sermos pecadores. O referido Sto Agostinho não confessa senão nojo pela sua infância e até natalidade depravada.
'Ao que lhe replicou o Senhor: Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo; ou o que vê, ou o cego?. Não sou eu, o Senhor?' (Êxodo 4:11).
Quem se surpreende pelo mal que existe no mundo e o porquê de ele existir, não conhece o Soberano, que é glorificado em tudo o que passa, e que tudo decretou desde a eternidade.
Sejamos humildes, aceitemos, e calemo-nos:
'Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição? (Romanos 9:20-22)
§
Soli Deo Gloria.
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Meu caro Nuno Cá está! Excelente linha para uma clivagem :)
Sim, aceito a vida que o Pai nos doou, e não reclamo das condições desta, mesmo que por vezes me saia dos lábios: "Pai, porque nos abandonaste?"
Mas, como diz o bolivariano, “no me calo”! Nuno, perdoa-me, por vezes parece-me que estás mais a falar de Zeus do que do único Deus-Pai, que a tudo criou. O mesmo Deus que diz, como dizes, “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?” é o também o Deus que diz também “Não vim para condenar o Mundo, mas para salvá-lo”; tu gostas mais de pegar por um lado, eu gosto mais de sublinhar – e isto também respeita à discussão sobre o sofrimento natural, condição básica da vida humana no Mundo – que é Deus-Pessoa, que é Aquele que não poupou o Seu próprio Filho e por nós o entregou ao Mundo e à condição do sofrimento.
E j’agora toma lá o meu In-Credo:
- Não, não acredito que “o mal – o “mal” natural, bem entendido – exista por Deus ter nele um propósito; acredito, isso sim, é que o primeiro humano, por ambição, nos meteu numa enorme embrulhada, nos colocou nesta condição decaída que culmina com a Morte, de onde Deus, apesar da ofensa nos veio depois a redimir. Deus só tem um propósito, repescar-nos do sofrimento, para onde livremente nos atiramos todos os dias da nossa vida.
- De todo, não acredito, que sejamos “miseráveis e imperdoáveis desde a nascença” e ainda menos que “merecemos todo o mal que nos venha a acontecer”, acredito sim que somos profundamente ligados ao nosso Criador, que nos desligámos, que caímos no “Pecado do Mundo” como disse João, mas que somos amados pessoalmente por um Deus-Pai que nos escolheu, não é um amor abstracto, que nos quer curar do Mal que nos contamina, por nossa escolha, nunca por Sua culpa. Se Deus é por nós, se Ele nos amou primeiro e se continua a ser o primeiro a amar-nos, como podes pensar que, apesar da ofensa, somos imperdoáveis?; Se Ele nos chama Filhos e irmãos do Seu Filho unigénito, como podes pensar que, apesar do erro nosso, somos merecedores de todo o mal?
E mais ainda, Deus segundo creio não nos ordena que amemos, Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o Seu Amor, e desta “antecipação” de Deus, como resposta, faz despontar em nós o Amor. O “mandamento” do amor só é possível porque não é mera exigência: o Amor pode ser “mandado” porque antes nos é dado. Volto a pedir que me perdoes no meu optimismo talvez ingénuo e seguramente pouco bíblico e mal informado. Isto que exprimo sinto-O… em mim. Nuno, meu irmão, Jesus tentou meter-nos nas nossas tolas duras, a doçura, a moderação, a afabilidade e a paciência; acredito que o poder do Céu, sem ser transigente (que quererá isto dizer, ao falar de Deus?) é essencialmente Amor, isto é benevolente...
um abraço em Cristo
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Caríssimo CBS,
Tentarei ser o mais sintético possível, pois falta-me tempo ao fim-de-semana para me delongar na blogsfera. Por isso, resumirei o que há pouco escrevi assim:
1. O homem foi criado enquanto ser bom e capaz de glorificar a Deus. 2. Com a Queda, o homem degenerou completamente, e ficou incapaz de escolher amar o Senhor, ou tão-pouco agradar-Lhe, nada merecendo senão o inferno. 3. Deus, preferindo ser misericordioso do que unicamente justo, escolheu um povo para herdar o Reino, para Sua glória - comprou-os pelo sangue redentor de Cristo, e predestinou-os à salvação.
Mas apesar de justificado, CBS, o cristão nascido de Deus, habitando ainda em vida na sua carne corrupta, tem que afirmar junto com o apóstolo:
'Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum' (Romanos 7:18).
De facto, é preciso ser-se santo para compreender o quanto se é pecaminoso.
E o merecimento, CBS? O próprio conceito de graça elimina-o, pois é a sua antítese. Se eu merecesse ser salvo, mano, não seria por/de graça que Cristo me absolviria (e já agora; do quê, se lhe seria digno?).
Enquanto homem miserável, só sou reconciliado com o Pai apenas por misericórida absoluta; e enquanto pecador imperdoável, o perdão divino só vem por graça - imerecida e compassiva, sob um amor incondicional e incondicionado; pois nada em mim há melhor que o pedófilo, o homicida, o adúltero, o fornicador.
E o facto de Jesus Cristo morrer pela minha pessoa para me salvar de mim mesmo não faz senão Deus infinitamente glorioso.
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Soli Deo Gloria. Non Pelagio.
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Meu caro Nuno Para além de prezar a tua presença aqui, vejo-te inteligencia e saber. Não sei se por juventude, a verdade é que também te reconheço uma determinação que muitas vezes raia a teimosia. E a teimosia, digo-te por exepriencia própria, torna-nos estreitos o pensar.
Neste caso, parece-me que no fundamental não andamos longe (se abstrair-mos da questão do "Mal como propósito de Deus"), é mais no tom que vejo a clivagem; quando tu e Agostinho nos impregnam de "nojo", quando nos zurzimos como "miseráveis imperdoáveis", a mim não me parece que haja grande diferença entre essa atitude e aquelas mulheres, tão criticadas, que se arrastam de joelhos em sangue na Cova da Iria. Poderá ser mais intelectual, mas na atitude, não me parece que difira muito.
Repito; se tu preferes deitar-te por terra e rasgar as vestes, eu (sem deixar de reconhecer que erro e não sou digno que Ele entre na minha morada) prefiro lembrar estas palavras “Não vim para condenar o Mundo, mas para salvá-lo”. É uma questão de atitude e... optimismo.
abraço em Cristo
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"O homem foi criado enquanto ser bom e capaz de glorificar a Deus."
Esse é o fim último do Homem. A salvação em Deus por Cristo, com Cristo e em Cristo. Enquanto isso, somos bons e maus quando calha. Com a liberdade que nos foi dada, vamos fazendo escolhas.
"Com a Queda, o homem degenerou completamente, e ficou incapaz de escolher amar o Senhor, ou tão-pouco agradar-Lhe, nada merecendo senão o inferno."
Só cai quem esteve em cima. O homem nunca esteve em cima. Tem em si sementes do bem e do mal. É capaz de escolher com os dons que recebe de Deus.
"Deus, preferindo ser misericordioso do que unicamente justo, escolheu um povo para herdar o Reino, para Sua glória - comprou-os pelo sangue redentor de Cristo, e predestinou-os à salvação."
Ámen. A TODOS os homens. "Não há homem ou mulher, judeu ou grego, escravo ou homem livre..." (Paulo)
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Caro CBS,
Não se trata de masoquismo pessoal, mas apenas uma constatação real, que Deus nos oferece pela Escritura. Não foques em mim, nem nas mulheres da Cova da Iria, mas atenta aos versículos que te dei, estuda o seu contexto em privado, pede ao Senhor entendimento onde te faltar, e prepara o teu coração para aceitar a Verdade, por muito adversa que seja à nossa humanidade.
Deus te abençoe.
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Cara MC,
'Ámen. A TODOS os homens. "Não há homem ou mulher, judeu ou grego, escravo ou homem livre..." (Paulo)'
R:. O versículo que escolheste apenas demonstra a variedade dos homens que Deus predestina à salvação, que sim, é de TODOS os tipos. Mas daí a dizer que o Senhor predestina todos os homens absolutamente vai muito. Pergunta: Há algum versículo sequer que confirme o que afirmas? Repara que o que me disseste leva a crer que defendes o universalismo, heresia historicamente censurara pela igreja, em especial pelo Sto Agostinho, e claro, Jesus Cristo:
'Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramemnte: Nunca vos conheci' (Mateus 7:21-23)
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Soli Deo Gloria.
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Uma pessoa vai dar uma volta e quando chega só encontra vitupérios e acusações de heresia...Só no Trento mesmo!
Ó meu ruminador de versículos bíblicos (eu estou na galhofa, note-se bem) eu não te disse já que não leio a Bíblia dessa maneira? Não ando à cata de versículos para legitimarem o que digo. Porque quando menos me cuido aparece outro em contraditório. Quer queiramos quer não, os livros bíblicos, são assim.
E, para veres que, basta querer, encontro contraditório para o que defendes (e a interpretação que fazes de Paulo é um bocado a atirar ao alvo, certo?) Quando se lê um texto bíblico uma das primeiras coisas a ter em conta é o que o autor quereria dizer. Tão "simples" quanto isso. Não é o que queremos lá encontrar, nem o sentido mais belo ou mais profundo...é o que ele quis dizer de facto. O que dizes de Paulo é uma interpretação tua. O que eu digo, idem. Melhor dizendo, das nossas Igrejas ou grupos religiosos. Porque é que "ainda" há quem se dedique a estudar a interpretação dos textos?
Mas para te vincar que para Deus não há perdidos, aqui fica uma citação à boa maneira evangélica. Embora eu estranhe que vocês nunca citam Lucas e raramente os Evangelhos, é no Paulo que se revêem...Grande apóstolo, mas os Evangelhos vão mais ao "cerne".
«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar?" (Lc 15,4)
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Nem mais... tou contigo nesta MC o que não significa que todos se safem, é claro Nuno! ;)
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MC,
1- 'Ó meu ruminador de versículos bíblicos (eu estou na galhofa, note-se bem) eu não te disse já que não leio a Bíblia dessa maneira? Não ando à cata de versículos para legitimarem o que digo. Porque quando menos me cuido aparece outro em contraditório'.
R:. Obrigado de antemão pela alcunha 'ruminador de versículos bíblicos', que é o único elogio que se pode fazer com referência ao campo lexical bovino. Avançando, a Escritura não permite que se leia desta ou doutra maneira, porque não se abre a interpretação, mas interpreta-se a ela mesma:
'Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação individual. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo' (I Pedro 1:20-21).
Dpois partes da pressuposição que só pode vir da tua fé de que primeiro teologo e depois vou à cata de versículos, sem sequer considerares a hipótese de que o que afirmo o afirmo por o declarar a Palavra primeiramente. E no que respeita à aparente contradição, ela deve-se à má hermenêutica, pois onde um versículo parece desdizer o outro, antes é um que se sobrepõe ao inicial, ou o completa. Esta era uma regra que Jesus aplicou sempre que discutia a Palavra, fosse contra fariseus o o próprio Iníquo:
'Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus' (Mateus 4:5-7).
Mas se versículos há em que tenhas dificuldade em conciliar, terei prazer em dar-te a hermenêutica dos mesmos.
2- 'O que dizes de Paulo é uma interpretação tua'.
R:. O que Paulo diz foi o que eu disse, porque o citei. És tu que tens que explicar o porquê de não creres na total degeneração do homem, na eleição de Deus e predestinação dos santos, e da doutrina da graça soberana de Deus, para resumir.
3- 'Embora eu estranhe que vocês nunca citam Lucas e raramente os Evangelhos, é no Paulo que se revêem...Grande apóstolo, mas os Evangelhos vão mais ao "cerne"'.
R:. Raramente citamos Lucas e os mais Evangelhos? Ó MC, por favor! Faz-me um favor e enumera o número de citações que extraí dos sinópticos. 'Ajuêlhô, agora tãe qui rezá!'. Além do mais, nenhuma parte da Palavra é mais importante do que a outra. O uso desta e daquela prende-se mais com objecto de estudo, que no caso da disciplina da soteriologia, a que estamos a abordar, nos obriga a pesquisar as instâncias das Escrituras em que ela é tratada a fundo - caso das epístolas paulinas; mas isto nada adiciona o que Jesus afirmou sobre como o homem pecador é atraído ao Pai.
E depois de me paternalizares sobre exegeses sem contexualização - sem me mostrares onde e quando o fiz, pois demonstras que nem foste verificar se os versículos que te dei estão encaixados nos respectivos capítulos, como, porquê, e para quê - vais mostrar-me uma parábola de Jesus sobre o estatuto do Sabbath no Novo Testamento para me refutares o carácter particular (ou seja, apenas para os escolhidos de Deus) da expiação na Cruz.
A minha única resposta é esta: sim, todos os judeus e até os fariseus se moviam e trabalhavam no Sabbath, apesar de estes hipocritamente censurarem Jesus por curar enfermos nesse dia. Desculpa, mas é a única resposta possível.
Se quiseres extender por interpretação pessoal o significado dessa ilustração para mostrar como o Senhor persegue o Seu rebanho para evitar que este se perca, concordarei contigo. Mas, de novo, não compreendo como contraria isso o facto de que o Senhor tem um rebanho, e os que não reconhecem a voz do Bom Pastor não são capazes disso PORQUE não são do Seu rebanho e não o contrário. Fi-lo, surpreendentemente, citando Jesus, num dos Evangelhos sinópticos:
'Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho de mim. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem' (João 10:25-27).
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Soli Deo Gloria.
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"ajoelhô tem que rezá!" Nem mais!!! :)))
Acuso a "acusação" de paternelização.É um mau hábito, tenho de arranjar penitência equivalente.
Paremos com o ricochete bíblico, por agora. Postas mais alguma coisa e eu não garanto que... :)
E esclareçamos algo muito importante: Nem todos respondem ao chamamento do Pastor. Ou não vão respondendo. Acredito que o Homem tem liberdade para dar um Não claro a Deus. Mas o Deus em quem creio só pode "morrer" de desgosto por isso.
O que eu digo - e isto é uma afirmação jesuânica - é que todos são chamados (escolhidos) nem todos ousam responder "Sim".
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A afirmação jesuânica é mais: 'muitos são chamados, mas poucos escolhidos' (Mateus 22:14).
Mas sim, o homem tem a liberdade de negar Deus, não a tem é para o aceitar, pois está tão escravizado pelo pecado; daí o Senhor ter que o regenerar e dar-lhe um novo coração para que ame Jesus.
E sim, o Senhor não se regozija no sofrimento eterno do condenado, mas também não diremos que fica eternamente desgostado nisto, pois também é glorificado como justiceiro soberano por punir o pecado dos que não o reconheceram como punido na Cruz.
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SOLI DEO GLORIA
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Nuno,
só um último comentário meu a este tópico (e só o faço porque é muito comum a validação que tu fazes do versículo bíblico "muitos são os chamados e poucos os escolhido") e eu pretendo contrapor essa validação...tu irás fazer outros e eu comentarei. :)
Nos Evangelhos nem sempre é fácil distinguir o que são falas de Jesus e a posterior reflexão teológica e eclesiológica das primeiras comunidades cristãs. Mas vamos admitir que esta é mesmo uma fala de Jesus. O mais provável é ela se referir a um elemento contemporâneo da missão de Jesus. Não se referindo, portanto, a uma realidade escatológica.
saudações
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MC
1- 'Nos Evangelhos nem sempre é fácil distinguir o que são falas de Jesus e a posterior reflexão teológica e eclesiológica das primeiras comunidades cristãs. Mas vamos admitir que esta é mesmo uma fala de Jesus'
R:. Temos mesmo é que admitir que sim. MC, eu tenho que ser sincero: primeiro censuras-me por não citar os evangelhos sinópticos tanto como quererias, e quando o faço, duvidas da sua canonicidade? Há que ser-se íntegro e consistente, e penso que concordarás. Além do mais, quando se sugere algo tão grave como a autoria do Evangelho segundo Mateus, é bom que se tenha provas bem concretas para o que se afirma.
2- 'O mais provável é ela se referir a um elemento contemporâneo da missão de Jesus. Não se referindo, portanto, a uma realidade escatológica'.
R:. O mais provável é referir-se ao que se refere contextualmente. Ao leres, verás que ilustra um casamento anunciado por toda a região, mas que, na cerimónia, houve que comparecesse sem vestido nupcial, não sendo digno de estar presente, pois era essa a prova de convite no Israel antigo. Com podes verificar, é uma parábola que se enquadra melhor com as doutrinas da predestinação e da eleição: ou seja, o Evangelho será pregado por toda a terra (chamamento), mas poucos serão os que o escutarão (escolhidos para poder ouvi-lo). No que respeita ainda a este vocabulário do 'chamar' e do 'escolher', vêmo-lo replicado por todo o NT, em especial nas epístolas paulinas que lidam exactamente com a eleição e a predestinação, como nesta secção, conhecida pela 'cadeia áurea da regeneração':
'Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou' (Romanos 8:29-30).
§
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Exemplo: "Deus sabia que Pedro o ia negar, não porque o decidiu, mas simplesmente porque o sabe desde a eternidade."
A eternidade escolhe présabendo, não prédeterminando.
(Um abraço, ó subtil Godofredo!)