domingo, outubro 12, 2008 |
Por que não pode um homem julgar. E por que um outro deve. |
O pior erro de quem acusa o outro de presunção por mostrar certezas é nem supor que este possa estar certo.
O mais crasso problema de quem critica o amigo por este julgá-lo é não compreender que nisto o próprio faz um juízo de valor ao reprovar o julgamento amistoso do primeiro.
A melhor contradição do antifarisaico é censurar toda a disciplina teológica, não percebendo que o fariseu não era réprobo por instruir na Palavra, mas sim porque não foi chamado para reconhecer a voz do Autor dela:
'Mas vós não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da Minha mão' (João 10:26-28).
O julgamento farisaico não pecava pela sua objectividade; porque sim, a adúltera merecia ser apedrejada. O problema estava na sua subjectividade: o fariseu era fariseu. E ao fariseu não foram dados olhos para ver, nem ouvidos para escutar, nem um coração que não resistisse ao Espírito do discernimento que pede que julguemos todas as coisas. A injustiça da lapidação da mulher imoral residia no juíz, e só depois na sua omissão: a falta do cúmplice masculino que morresse ao lado da criminosa. Assim, o farisaico não desejava repreender o herege em obediência ao Senhor, mas apenas uma desculpa para ser hipócrita:
'Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós. E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão' (Mateus 7:1-5).
Após trave removida, então sim, se pode remover o argueiro da vista fraterna; ou seja, julgá-lo. Mas a tragédia dos sacerdotes hebreus é que a Deus não aprouve remover a deles, e o julgamento dos seus lábios não passava de humano, falível; um que vê adúltera e esquece o adúltero requerido para a cópula. O fariseu pode julgar. Mas não deve, porque não tem a mente de Cristo:
'Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se julgam espiritualmente. Mas o que é espiritual julga bem tudo, enquanto ele por ninguém é julgado. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo' (I Coríntios 2:14-16).
O fariseu irregenerado julga para manter o seu sacerdócio. O cristão nascido do Espírito julga por amor. E quando o faz a um irmão regenerado, este retribui amorosamente:
'Não repreendas ao escarnecedor, para que não te odeie; repreende ao sábio, e amar-te-á. Instrui ao sábio, e ele se fará mais, sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento. O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento' (Provérbios 9:8-10).
Já o cristão regenerado em si só não pode julgar, mas deve. O poder para o julgamento reside na autoridade da Palavra e não nele, mas o dever nele reside pois na Palavra é instruído a julgar, ao ser nela julgado:
'Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça' (II Timóteo 3:16).
Nuno Fonseca |
posted by @ 8:04 da tarde |
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6 Comments: |
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Nuno,
a culpa poderá ser minha, mas acho este post confuso.
Atento em duas coisas:
Acho que só quem pode julgar são os juízes. Os outros imitem opinião.
Á mulher adúltera devia ser apedrejada? O que falta nesse acto é apenas a companhia do homem? Isso é para manter hoje? Acho que me vais responder que não, mas prefiro que o digas. deves estar a referir a julgamento moral.
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Ok, versão curta:
A injustiça dos fariseus não foi o julgamento da adúltera sob a autoridade da Escritura, porque, como observamos na lei moisaica lhes era legítimo, mas antes a impossibilidade de eles o fazerem sem a 'mente de Cristo' que vem com a regeneração do Espírito Santo. Assim, o seu juízo é sempre falho e parcial, pois vem da carne. Repara que são precisos dois para cometer adultério; no entanto, a mulher é a única sob julgamento.
Como é óbvio, estamos agora sob a serventia da Graça e não da Lei - logo, é um julgamento obsoleto.
Nada de lapidações. Espero não te ter desiludido.
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Muito bom.
Curioso que esta semana o Pastor da minha igreja pregou sobre a "repreensão". Sobre este versículo de Mateus 18:
"Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: ‘Se teu irmão chegar a pecar, vai e repreende-o, a sós tu e ele. Se te escutar, terás ganhado um irmão’».
O pormenor do "a sós tu e ele",...
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Nuno,
"Nada de lapidações. Espero não te ter desiludido."
Se pretendes que isto seja uma provocação, não consegues. Eu não estou sempre à espera de ver o pior nas pessoas. Creio que teria de nascer de novo para isso acontecer.
A Revelação de Deus, teve o seu cume em Jesus Cristo. Não quer isso dizer que antes não se tenha revelado, nem que basta ler o Novo Testamento para acedermos à totalidade da Revelação.
Para mim, católica, existe a Palavra (não só a Bíblia), a Tradição e a Igreja, onde aprendo a lê-la, a escutar o que ela diz aos meus irmãos na fé e o que ela diz na minha própria vida.
Não me basta sentar, pegar na Bíblia e saber o que Deus me quer dizer no que leio. Também faço isso, claro, mas valorizo muito a dimensão da comunhão na escuta da Palavra.
O Espírito Santo, não "apareceu" só depois ou com Cristo. Ele esteve sempre presente na Trindade e actuante no Cosmos.
Não é legítimo, portanto, dizer que os fariseus só julgavam segundo a carne.
"Repara que são precisos dois para cometer adultério; no entanto, a mulher é a única sob julgamento."
Nuninho, nasceste quando? eu ainda sou do tempo em que ao homem era permitido, legitimado, socialmente cometer adultério. Eras as hormonas...etc. etc. já a mulher em igual circunstância, seria uma ...quanto mais há dois mil anos atrás. Sim, o pecado era igual, duvido é que em confissão a penitência fosse a mesma ;)
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1- 'Para mim, católica, existe a Palavra (não só a Bíblia), a Tradição e a Igreja'
R:. Para mim e para todos existe a Palavra que é Deus, e veio à terra para Se revelar no Evangelho, segundo o testemunho da Bíblia. Também creio na Igreja, una, santa, católica - essa, a do credo dos patristas, e de Sto Agostinho; ou seja, a Igreja eterna que o Senhor vem ajuntando desde Abraão até aos nossos dias, invisível e secreta. Acredito também na Tradição, mas só a que os apóstolos nos deixaram - e que não inclui eucaristia de transubstanciação, veneração de mortos e relíquias, culto a Maria, sacramentalismo, uso de acessórios religiosos, etc:
'Ora, o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus e na constância de Cristo. Mandamo-vos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes' (II Tessalonicences 3:5-6).
'Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens. Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de deus, para guardardes a vossa tradição' (Mateus 7:8-9).
2- 'O Espírito Santo, não "apareceu" só depois ou com Cristo. Ele esteve sempre presente na Trindade e actuante no Cosmos. Não é legítimo, portanto, dizer que os fariseus só julgavam segundo a carne'.
R:. Não recordo de sequer ter sugerido que o Espírito Santo não fosso outro senão a terceira pessoa do Deus eterno. Mas tu, MC, é que tens que explicar o como isso implica que o Espírito Santo seria 'obrigado' a ungir os fariseus.
Como já citei anteriormente:
'Mas vós não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da Minha mão' (João 10:26-28).
Aqui Jesus declara o mais abertamente possível que os fariseis não são das ovelhas de Jesus, ou seja, do Seu povo. A razão por que não conseguem escutar o Senhor é porque não são dEle, e nunca o oposto. Um homem irregenerado, ie, que não nasceu de Deus e vive sem o baptismo do Espírito Santo, não sido eleito para a salvação, não pode julgar senão segundo a carne:
'Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se julgam espiritualmente. Mas o que é espiritual julga bem tudo, enquanto ele por ninguém é julgado. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo' (I Coríntios 2:14-16).
'Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo' (João 3:5-7).
3- 'Nuninho, nasceste quando? eu ainda sou do tempo em que ao homem era permitido, legitimado, socialmente cometer adultério'.
R:. Uma das razões que me leva a crer na infalibilidade da Bíblia e o ela ser a Palavra de Deus, é que os homem sempre quiseram distorcê-la quando não já podiam escondê-la, ou eliminá-la de vez. A verdade triste, MC, é que o primeiro antecedente deste comportamento vem realmente de Adão, que quando confrontado por Deus por comer do fruto, culpou ao Senhor por lhe criar Eva.
Normalmente aponto isto quando me querem provar que a Escritura é misógina e que acusa a mulher de todo o mal. Não podia ser menos verdade. A culpa é sempre simbolizada pela 'semente de Adão'. É o sémen dele que espalhou o gene pecaminoso. Vês? - já me puseste a falar escatologicamente (de que é a culpa disso?)
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Soli Deo Gloria.
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Nuno,
para veicular ainda mais a "presença" do Espírito Santo, desde sempre, na história humana, cito João Paulo II, num documento de 1999.
"A primeira referência, ainda que velada, ao Espírito encontra-se desde as primeiras linhas da Bíblia, no hino a Deus criador com que se abre o livro do Gênesis: “O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas” (Gn 1,2). Para dizer “espírito” usa-se aqui a palavra hebraica ruah que significa “sopro” e pode designar tanto o vento como o respiro. Como se sabe, este texto pertence à chamada “fonte sacerdotal” que remonta ao período do exílio babilónico (VI séc. a . C.), quando a fé de Israel tinha chegado explicitamente à concepção monoteísta de Deus. Ao tomar consciência do poder criador do único Deus, graças à luz da revelação, Israel chegou a intuir que Deus criou o universo com a força da Sua palavra. Unido a esta, emerge o papel do Espírito, cuja percepção é favorecida pela mesma analogia da linguagem que, por associação, vincula a palavra ao sopro dos lábios: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, pelo sopro (ruah) da Sua boca, todos os seus exércitos” (Sl 33,6). Este sopro vital e vivificante de Deus não está limitado ao instante inicial da criação, mas sustém em permanência e vivifica toda a criação, renovando-a continuamente: “Se lhes enviais o Vosso espírito, voltam à vida, e renovais a face da terra” (Sl 104,30).
A novidade mais característica da revelação bíblica é ter divisado na história o campo privilegiado da acção do Espírito de Deus. Em cerca de 100 passagens do Antigo Testamento o ruah JHWH indica a acção do Espírito do Senhor que guia o Seu povo, sobretudo nos grandes momentos do seu caminho. Assim, no período dos juízes, Deus fazia descer o seu Espírito sobre homens débeis e transformava-os em guias carismáticos, investidos de energia divina: é o que aconteceu com Jedeão, Jefte e em particular com Sansão (cf. Jz 6,34; 11, 29; 13, 25; 14.6.19). Com o advento da monarquia davídica esta força divina, que até então se manifestara de modo imprevisível e intermitente, alcança uma certa estabilidade. Isto é bem constatado na consagração régia de David, a propósito do qual a Escritura diz: “A partir daquele dia o Espírito do Senhor apoderou-Se de David” (1 Sm 16,13). Durante e depois do exílio na Babilónia toda a história de Israel é relida como um longo diálogo estabelecido por Deus com o povo eleito, “pelo Seu Espírito, pelo ministério dos profetas do passado” (Zc 7,12). O profeta Ezequiel torna explícito o liga-me entre o espírito e a profecia, por exemplo quando diz: “Então desceu sobre mim o espírito de Deus e disse-me: “Diz: Assim fala Deus...”. (Ez 11,5)."
"Mas tu, MC, é que tens que explicar o como isso implica que o Espírito Santo seria 'obrigado' a ungir os fariseus."
Em primeiro lugar era importante que não lêssemos os fariseus como personificação do mal. Eram zelosos guardadores da Lei. Consideravam-se escolhidos "ungidos" por Deus para tal fim. O saberem-se eleitos, endureceu-lhes o coração para acolher Cristo. Não corremos nós o mesmo risco?
O que é que obrigava Deus? Ele mesmo. É Deus que convoca, escolhe, unge, fortifica...ao homem cabe aderir. Aderir na fé e aderir nos actos. "Não basta dizer:Senhor, Senhor..."
A essência de Deus é atrair todos a Si. «Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar?" (Lc 15,4)
TODOS!
"Uma das razões que me leva a crer na infalibilidade da Bíblia e o ela ser a Palavra de Deus, é que os homem sempre quiseram distorcê-la quando não já podiam escondê-la, ou eliminá-la de vez."
Palavra de Deus que precisa da exegese bíblica. Palavra inspirada, mas que desagua em experiências humanas muito concretas e divergentes. A Bíblia não é um livro, são muitos, com diversíssimos autores e variadíssimas sensibilidades. Nada Disso invalida a sua força, pelo contrário, a enriquece. Não a limitemos com as nossas leituras simplistas.
E o mal exprime-se tanto em homens como em mulheres. È a humanidade.
saudações
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Nuno,
a culpa poderá ser minha, mas acho este post confuso.
Atento em duas coisas:
Acho que só quem pode julgar são os juízes. Os outros imitem opinião.
Á mulher adúltera devia ser apedrejada? O que falta nesse acto é apenas a companhia do homem?
Isso é para manter hoje? Acho que me vais responder que não, mas prefiro que o digas. deves estar a referir a julgamento moral.