segunda-feira, outubro 06, 2008 |
Agrapha |
E Jesus disse: toda a busca, no seu anseio, traz a semente da sua recompensa.
Vítor Mácula |
posted by @ 11:43 da manhã |
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25 Comments: |
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Não há recompensas quando se lida com o Deus da graça.
Agrapha isso ao teu coração.
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LC, 12, 31 “Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas virão de acréscimo.”
RM, 2, 6 “O qual recompensará cada um segundo as suas obras; (..)”
Etc, etc etc
Deus corresponde a um anseio humano, que é tornado perfeito pela graça; a conversão é uma co-participação, exige resposta existencial. A vida é consequente.
Claro que aqui há uma linguagem analógica (como na comparação que S. Paulo faz da vida cristã com as olimpíadas); trata-se sobretudo duma injunção de configuração da nossa vida à graça divina, de ascese activa. Não é um prémio que se distinga do próprio esforço, tal como o estudo não se distingue do saber, os actos amorosos do amor, etc
saudações
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"Agrapha isso ao teu coração" loool tá-se bem, tamos vivos rapaziada ;)
mas também seria interessante discutir a questão dos "agrapha", dos seus limites, do critério de identificação, da posição relativa da Igreja Católica, etc...
abraço cristão
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Olá, CBS
Este agrapha escrevi-o eu. A injunção eclesial em jogo é: todo o cristão deve agir e exprimir a sua fé LOL
Quanto aos agrapha que interessam aos biblistas e exegetas, são ditos atribuídos a Jesus que, ou não se encontram nos evangelhos canónicos, ou aí se encontram enunciados doutra forma. Muitos encontram-se em textos dos Padres da Igreja etc O interesse deles é histórico, eclesial, teológico, etc
Mas falaremos de tal quando eu ou alguém postar agraphas ou anti-agraphas desses ;)
abraço
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Lucas 12:31 e o seu paralelo em Mateus falam da prioridade do Reino na vida - apenas e só do cristão - e de como todas as necessidades triviais, como a alimentação e o vestuário não se equiparam às promessas de Jesus para os Seus escolhidos.
Romanos 2:6 fala do julgamento final, em que as obras que demonstram quem é o Seu povo arrependido, conduzido à penitência pela 'benignidade de Deus', note-se (Romanos 2:4).
Buscas humanas ou anseios dos que mortos estão na carne não trazem compensação a quem só merece o inferno. Deus não nos deve nada.
Esses a quem Deus recompensará terminaram a sua busca e não mais anseiam, pois foram levados do Egipto da sua captividade sob o pecado ao Israel prometido da sua libertação.
A Verdade não necessita de agraphanços e toda a adenda à Palavra de Jesus e à lei de Deus acha uma recompensa demasiado funesta e justa:
'Toda palavra de Deus é pura; Ele é um escudo para os que nEle confiam. Nada acrescentes às Suas palavras, para que Ele não te repreenda e tu sejas achado mentiroso' (Provérbios 30:5-6).
'Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que Eu vos mando' (Deutoronómio 4:2).
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Soli Deo Gloria.
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Nuno, tu cansas-me… ;) Reduzir a noção de "palavra divina" ao texto bíblico canónico é uma opção tua, e não minha; idem para a pretensão de não ansear Deus e o possuir face a face e na plenitude, único modo de superação do anseio; quanto a mim, o deserto não é a terra prometida (RM 8, 24 “Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará?”); quanto à glória de Deus, sua visibilidade indirecta, ela fulgura na criação, na mente e no coração (RM 1, 20 “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.”); as tuas interpretações dos trechos canónicos exprimem as tuas opções, tais como eu as minhas; a tua redução da expressão divina aos textos canónicos idem, como já disse; mas já falámos de tudo isto; o teu tom e atitude impositórios, impedem o desenvolvimento e aprofundamento de posições e contra-posições, o que é pena; e ninguém aqui disse que Deus nos devia algo, caramba, lá vens tu com as tuas figuras de adversidade prévia LOL
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Sem ofensa, antes pelo contrário, que isto que digo é amor... mas vocês dois, irmãos, lembram-me o Yin e o Yang do Taoísmo :)
O Nuno "evangelista", redentor dos perdidos, gosta à brava de se passear com um colete de forças; o Vítor, filósofo e pai da dúvida, adora banhar-se no mar das incerteza :)
e eu, espectador recalcitrante, vou dando uma sacudidela, aqui e ali... solavancos de alma que não passam disso, lol
aqui vai uma: "agraphon" significa em grego, creio, não escrito; pois tudo o que foi dito alguma vez mereceu essa condição. Antes dos evangelistas escreverem, tudo em Cristo era "agrapha". E mais... se o que sobra do que foi escrito, aparecer em letras genuinas mais à frente, terá necessáriamente tanta legitimidade como os Evangelhos.
E aqui vão duas: Nuno... ninguém merece o Inferno, nem o Acusador... até esse foi obra do Pai. O Inferno é escolha, é consequencia do livre arbítrio com que o Pai criou as criaturas. Não é uma condição pré-traçada, e no Princípio, nenhum ser criado por Deus merecia o Inferno.
São para mim de LaPalisse, mas acredito que discordem... Uma boa tarde e tenhamos todos o Amor de Cristo
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Mácula,
Reconhecer o cânone como a Palavra de Deus não é escolha minha, nem escolha tua: é o cristianismo histórico, e é a revelação que o Senhor te deu, quer gostes ou não, quer prefiras fábulas gnósticas que, entre outras coisas, vedam o Reino às mulheres, caso não se tornem homens ('evangelho' de S. Tomé, v. 114). Que prefiras estar fora da ortodoxia sugere-me que és irregenerado e que o teu cristianismo ou não existe ou precisa de repreensão séria. Lembro-me que no tempo do Tiago Cavaco, era mandatório subscrever ao 'credo apostólico da igreja una, santa, católica' para blogar aqui, e apesar de não intentar que abandones o Trento, terei de hoje em diante a certeza que não só não representas a confissão católica como nem sequer a romana (como já constatado pelo CBS no passado). Nada de pessoal, Vítor, mas não tens fundamento ou autoridade teológica nem académica para o teu credo pessoal que advém apenas das tuas tendências artísticas e estéticas. Nunca respondeste honestamente às evidências que te apresentei sobre a infalibilidade do cânone pelos pais da igreja e reformadores, evadindo-te sempre em abstracções inconclusivas. 'Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão' (João 10:26-28).
'[o Senhor] cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure' (João 12:40).
Deves questionar-te se o Senhor te permite reconhecer a Sua Palavra, mostrando-Lhe o arrependimento e a humildade que só o Seu povo escolhido demonstra ao escutar o Evangelho, que não é vindo de gnosticismo oriental nem neoplatonismo medieval, mas pelo cânone que os apóstolos nos deram - a menos que queiras cair sob a repreensão de Sto Agostinho, que o fez a quem quis adicionar ao testemunho apostólico, selado com o sangue dos mártires.
Quanto à tua resposta, de novo mostras leitura ou desatenta ou propositadamente errónea - que já não me surpreende nesta altura - pois muito claramente disse:
'Esses a quem Deus recompensará terminaram a sua busca e não mais anseiam, pois foram levados do Egipto da sua captividade sob o pecado ao Israel prometido da sua libertação'.
Não é o deserto da busca e do anseio a terra prometida, mas o Israel, morada do povo de Deus, a quem Ele Se revela.
As tuas exegeses de Romanos 1:20; 8:24 são propositadamente omissas. Os textos falam da indesculpabilidade dos réprobos ao negarem o Criador, pela evidência inegável das coisas criadas. Mas ninguém é salvo por olhar para os astros e cheirar florzinhas no prado. Não há, afinal de contas, uma revelação com poder para salvar o homem, escravo do pecado?:
'Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá da fé. Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou' (Romanos 1:16-19).
A esperança que não se vê não é a revelação de Deus, como queres demonstrar, mas como o versículo anterior atesta: 'nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo' (Romanos 8:23). Fala-se da espera pela glorificação dos já justificados, a qual não podemos antever, mas apenas aguardar, incônscios de como será.
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CBS,
Se é verdade que ninguém merece o Inferno, nem mesmo o Acusador, então por que razão no livro de Apocalipse, todos são representados a arder no Lago de Fogo?:
'E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade querida; mas desceu fogo do céu, e os devorou; e o Diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados pelos séculos dos séculos' (Revelação 20:9-10).
'Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte' (Revelação 21:8).
Não queres mesmo dizer que Deus é injusto em criar um Inferno para condenar que O odeia de todo o coração, pois não?:
'Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem Me aprouver ter misericordia, e terei compaixão de quem Me aprouver ter compaixão' (Romanos 9:14-15).
Quanto ao suposto livre-arbítrio do homem, pedia que me desse um só versículo em que se fala que o homem natural, que é referido como estando morto nos seus pecados, sob a escravatura do gene adâmico, pode fazer o que nenhum homem é capaz:
'Como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só' (Romanos 3:10-12).
No que respeita a escolhas, só Deus é descrito como Quem escolhe:
'Vós não Me escolhestes, mas Eu vos escolhi' (João 15:16).
Os versículos que citei ao Vítor também te serão úteis.
§
Soli Deo Gloria.
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Nuno, a questão da expressão divina não se esgotar nos textos canónicos bíblicos tem que ver com o verbo de Deus operar em toda a criação, nem sequer era uma questão de canonicidade textual. Podias ao menos tentar ler o que o outro te diz, em vez de reagires como um cão de fila condicionado pelos teus pavloves de pacotilha. A tua total falta de amor e humor apenas mostram de que árvore tiras os frutos, por mais que te arvores de cordeiro.
Não tenho nada que te responder, nem a ti nem ao cbs pela minha catolicidade. Exprimi-la-ei aqui até ver, como tenho feito. Claro que, como disse Clemente de Alexandria, há situações em que se deve escrever de modo a que os hereges não entendam. E este sim, seria um ponto interessante e pertinente a interrogar, e não as florzinhas e a salvação, de que eu não falei e que brotam do retrato-robot que de mim fizeste para melhor me vilenpendiares. Quanto a mim, a conversa acabou onde nem sequer começou. Passa bem.
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Não, cbs, não me banho no mar das incertezas, nem penso que a dúvida seja a fonte do que penso e vivo. O ser é anterior à dúvida, como mostrou o outro. Outra coisa é o facto da fé não ser um bota-discurso panegírico e a rebentar de soberba (refiro-me a mim, não ao Nuno), mas uma pequena semente de brisa suave, e uma das coisas mais difíceis de cuidar. Oro sempre pela minha incredulidade, pedindo a perseverança lúcida como uma pequena pétala sem caule que não sabe se paira no regaço da fonte ou na sua própria secura. Ou como disse Jean Guitton: "É difícil saber honestamente distinguir, entre aquilo em que se crê e aquilo em que se pensa crer". Isto quanto à incerteza ;) Tanta bazófia que habita o coração dos humanos... por aí. abraço
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Mácula,
Recupero a tua intervenção:
'Reduzir a noção de "palavra divina" ao texto bíblico canónico é uma opção tua, e não minha'.
É o chamado double-talk.
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«Lembro-me que no tempo do Tiago Cavaco, era mandatório subscrever ao 'credo apostólico da igreja una, santa, católica' para blogar aqui, e apesar de não intentar que abandones o Trento, terei de hoje em diante a certeza que não só não representas a confissão católica como nem sequer a romana (como já constatado pelo CBS no passado). Nada de pessoal, Vítor, mas não tens fundamento ou autoridade teológica nem académica para o teu credo pessoal que advém apenas das tuas tendências artísticas e estéticas»
É pá, não posso crer. isto é repetição chapado do Estalinismo partidário.
Rei morto, rei posto. O Nuno já se acha chefe e já impõe ortodoxias a umn católico para participar num blogue.
Bem que adivinhei e lhe mandei aquela boca- o Tricky também era um músico muito talentoso enquanto era maluco. Tratou-se, levou-se a sério e acabou.
O Rambo evangélico perdeu a piada. Das naifadas e sarrafadas sado-maso passou a cão de fila.
Não tem gracinha nenhuma. Assim nem como observatório à National Geographic religioso serve.´
Bastava pegar em qualquer processo do KGB- neste caso em posição de missionário a fazer um bobó a um manequim de plástico
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Estas coisas são mesmo lixadas. Quanto mais puros mais nazizinhos.
Este agora caminha por cima do legado do rockeiro que deu o fora e já quer fazer aquilo que o próprio lhe ia fazendo por andar por aqui a chamar nazi ao Papa.
É mesmo lixado. Lixado porque eu bem quero convencer-me que não existe uma ligação entre esta tendência para a vigilância e denúncia que não é cópia da política mas antes o inverso-a política é copia o lado mais tenebroso do espírito de grupo religioso- do apalpar das bossas da fé de cada um, das ortodoxias em nome dos paraísos futuros e dos homens eleitos, feitos de massa diferente- como dizia o Estaline.
Mas não sei... não.
E a minha única dúvida é como será isto ao vivo.
Como funcionarão os grupos religiosos- os ditos ecumenismos de reflexão.
Não imagino, é um mundo para mim totalmente desconhecido, mas não posso deixar de pensar na questão.
Porque isto que está aqui espelhado não pode ser invenção à Nuno Ferreira- há-de seguir um velha matriz. E essa não foi inventada no mundo virtual.
A decepção ainda é maior, porque eu tinha apostado que um gajo rebelde mas bonito nunca poderia ser um cretino.
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«terei de hoje em diante a certeza que não só não representas a confissão católica como nem sequer a romana (como já constatado pelo CBS no passado).»
Ainda por cima encosta-se em terceiros que nunca disseram nada disso. Faça-se justiça, eu nem quero conversas com o CBS mas o gajo nunca poderia dizer uma coisa que nem compreende.
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Mas a coisa ainda é mais facciosa porque quando a Beguina apareceu com o tal cristianismo liberal, onde paganismo valia o mesmo, ele não disse nada. Até a Virgem Maria foi comparada à fada Morgana- à Senhora de Avalon e houve quem lhe perguntasse se Cristo seria mais um cavaleiro da Távola Redonda.
Nessa altura não se lembrou dos famosos estatutos do blogue. E ainda bem que ninguém se lembrou.
Foi sinal que eram um pouco mais normaizinhos. Pelos vistos os retiros também podem fazer inchar sapos.
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Olha, uma coisa eu percebo: os eremitas.
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Olá, zazie
Não fiques com essa ideia dos encontros ecuménicos, pá, que o Trento não reflecte essa realidade… Eu já participei em alguns, e penso que a maioria deles são humana e teologicamente sérios e honestos. A blogosfera não é um bem meio de aferição do que se vai passando institucional e socialmente: qualquer palerma posta o que quer. Isto não significa que não estejamos pejados de ignorância e estupidez noutros meios e técnicas de expressão e comunicação, mas os métodos de regulação mínima geralmente funcionam.
abraço
PS: Relativamente aos estatutos do blog, eu antes de por o meu primeiro post, enviei um mail a perguntar precisamente isso. Eles sabem a resposta que me enviaram.
PS 2: Quanto aos eremitas LOL costumo dizer que é uma tentação minha... porque a vontade que se me dá de clausura tem mais que ver com uma saturação do mundo e das suas conflitualidades de poderzeco, do que com uma vocação monástica. Por enquanto, pelo menos ;)
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Não demorou muito até à cartada nazi. É o velho pensamento dicotómico da esquerda: ou comuna ou fascista.
E no fundo é este o espírito do ecumenismo: a união dos liberais. Todas as expressões, por mais contraditórias e ridículas, lhes são toleráveis, mas jamais as que encontram sustento na Palavra, na história da igreja, e cometem essa presunção imperdoável de se regirem sob essa categoria exclusivista e nada caridosa que chamamos Verdade, à qual se responde com lógica e factos - e não versos decassílabos.
A razão por que em tempos a condição de lealdade a um credo e a uma confissão para se participar neste blogue, era à conta dum conceito também muito ofensivo aos liberais: integridade e responsabilidade.
Também porque o propósito do blogue seria o dum fight-club entre protestantes e católicos. Mas para tal, amigos, temos que estar entre protestantes e católicos. Pois para refutar o catolicismo, exijo um católico, de forma a não cometer a desonestidade intelectual (e não só) de estar a argumentar sobre o sabor das laranjas com quem só come clementinas e nem percebe a diferença. Não há trunfo nisto.
Como disse, e repito, o Mácula tem direito a falar, e a época das excomunhões trênticas já passou. Contudo, e apesar de ele possuir o direito de se afirmar católico-romano, também eu não sou proibido de discordar com essa alegação, sob consciência individual.
Entre permitir uma representação infiel - quanto ao que leio dos credos, confissões e catecismos oficiais - do catolicismo-romano e desperdiçar a oportunidade de ser usado pelo Senhor para chamar compassivamente os afastados à ortodoxia e, quem sabe, até à regeneração dum homem pelo Espírito da Verdade, escolherei sempre o último.
So help me God.
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Soli Deo Gloria.
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“Tais obras são como espelhos: se um asno as contempla, não verá reflectir-se nenhum apóstolo.”
Lichtenberg
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Vítor, Não vale a pena insistir na beleza dos teus textos, até porque tu tens o teu bloguezinho privado e eu costumo lê-lo sem comentários.
Neste caso estava a pensar alto. Tirando o espectáculo do rei morto rei posto, marcagem na testa, linha negra, renegados, etc o que me perguntei foi outra coisa-
Isto não foi inventado hoje na blogosfera. O secretismo e pureza das crenças sempre levou, com toda a naturalidade, à escuta, à vigilância, à denúncia, aos processos de intenção (que não se traduzem por meras tomadas de lugar de poder). São formas de pensar e actuar que derivam do desejo de ter Deus, de se ser eleito. De defender a palavra contra quem poderá a adulterá-la, etc, etc, etc.
Ou seja- se isto tem características a papel químico que de qualquer partido onde a cartilha dos gurus é lei e internamente existem sempre "os quadros" com poder de a fazer cumprir, tal deriva de quê?
Quanto a mim deriva do mesmo pano de fundo religioso.
E aqui nem vale a pena repetir aquela frase que "o inferno são os outros". Porque isto acontece pelo inferno da pureza, pelo demónio nos detalhes, pelo oposto ao amor e humor (como muito bem referiste) quando o espírito castigador se impõe como obra.
E a história de todas as religiões mostra-o.
Sempre tive uma natural aversão a grupos e por isso nunca me aproximei muito de nenhum colectivo religioso.
Para não temer contaminar algo que gosto e que considero bom.
Mas a evidência mantem-se- como seria o mundo se todos fossem assim tão crentes a apalpar as bossas da fé uns dos outros?
Seria um Inferno. E é por isso que não tenho explicação para uma absoluta bondade da fé que não exija também um "terreno vago"- da sua inexistência.
É que só a partir desse "terreno vago" é possível ter a noção da malignidade, da tara, do fanatismo, da maldade, da infâmia, da mesquinhez que se pode gerar de dentro da fé.
( a minha pergunta em relação ao exterior seria mais do género- como é que se entendem em grupos que até implicam hierarquias e benesses reais, se à borla e virtualmente se trocidam como já nem os estalinistas fazem e até entre os próprios ateus militantes a coisa é mais cool)
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Porque no que eu discordo de ti é nesta explicação:
« A blogosfera não é um bem meio de aferição do que se vai passando institucional e socialmente: qualquer palerma posta o que quer.»
Claro, isso sabe-se. Mas por aqui não foi nada disso que se passou.
Foi a lógica do grupo- a lógica da ortodoxia e trocidaram-se sempre uns aos outros, com acréscimo de teatros da crueldade à custa de quem nem pertencia, por uma única razão- por defenderem Deus.
E não o fazem nem fizeram por serem estúpidos, escreverem qualquer imbecilidade como se pode escrever na blogosfera.
Antes pelo contrário- isto é eter demasiado pesado, demasiado real. Nem a gratuitidade das anormalidades dos insultos ou denúncias nas portas dos sanitários tem.
É a sério. Foi sempre a sério.
E isso é que se torna muito mais assustador.
Porque nem é pessoal- é demasiado a sério por simulacro- por ser espiriualidade em estado tão puro que se torna "objecto".
Não é coisa de nick names- é e esmpre foi combate entre "alminhas" todas elas deslumbradas pelo "chamamento" divino. --------- Correcção- todas não, claro, mas a maioria.
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Refazendo a questão.
Não será a fé que precisa sempre de um terreno vago para não se tornar um inferno. Mas tenho a certeza que ele é necessário como espaço para a fé para além das instituições. Espaço até para a sua inexistência como mera questão humana- como liberdade da nossa consciência.
E isto nem a livre-arbítrio chega. É outra coisa entregue ao acaso.
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Caríssima Zazie
Sim, senhora, sim. Mas o problema não é esse. Dando um exemplo: a citação que o sr. Nuno Fonseca faz do Deutoronómio, interpretada a partir do ponto de vista em que foi escrita, invalida o Evangelho LOL Evidentemente que se pode anteprojectá-la para o cristianismo, assumindo os evangelhos como palavra de Deus; mas não tomar em atenção todas estas distinções textuais, religiosas e culturais, é simplesmente desonesto, para dizê-lo de forma simpática. E não é preciso grandes estudos de exegese para tal, como é evidente.
Quanto à questão um bocado mais croma de nesses encontros haver uma selecção religiosa e académica: faz com que as criaturas participantes, geralmente tenham capacidade e experiência para aferir da posição contrária sem a distorcer; e assim, mesmo nos pontos irredutíveis (como a questão da graça e das obras, do livre-arbítrio, do sacerdócio ordenado, da mariologia, etc, para exemplo católico-protestante) há compreensão intelectual que permite aprofundamentos e desenvolvimentos de cada parte. Seja como fôr, longe de mim doutorar toda a validade religiosa: a pobre velhota dá-me continuamente lições de santidade ;) Simplesmente, caramba, há um mínimo de regras de debate e reflexão.
Mas tens muita razão e pertinência no que dizes, e talvez me instigue um post; são assim os comentários pertinentes ;) Focas coisas essenciais e de difícil apreensão e compreensão.
Por ora e em esboço vêem-me uns poucos pontos à pinha:
- a religosidade é algo que implica o sujeito inteiro, e o sentido de toda a sua existência; daí uma intensificação brutal de todas as determinações humanas; tudo entra em liça, e é nesse sentido que Kierkegaard chamava à religiosidade a “paixão suprema” do humano; quando as coisas dão para o torto, a intensidade do conflito é correspondente ao investimento total;
- a perversão suprema de algo surge sempre a partir do seu centro: S. Paulo: o demónio veste-se de anjo da luz; Lutero: o anti-cristo só pode surgir com o rosto de Cristo ou da Igreja – e se se equivocou ou não na identificação histórica disso é outra conversa; Paulo VI: o fumo de satanás volteja dentro da Igreja;
- Philippe Djiann: “Deus é a busca mais elevada e bela que pode mover um homem. E, tal como as pessoas se trucidam em nome do amor em certas relações, não será isso motivo para anular a busca.” (citado de memória; ora a citação correcta fará outro futuro post LOL)
Dito isto, longe de mim olhar para o lado e justificar a perigosidade religiosa com “lá no fundo é tudo harmonia e beleza” ;)
A do vazio de fé como elemento purificador da fé é tão profundamente teológica e mística que merece também um post, carago, já me deste trabalho para o ano inteiro ;)
Uma vénia, senhora, e bom fim de semana
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Bom domingo, quiz eu dizer :)
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Pois é. Vítor. Estas coisas fazem pensar e tu, para além de saberes pensar, tens o dom da escrita e uma brutal cultura.
É por estes detalhes que mesmo virtualmente e com o eterno circo, vale a pena.
.........
Já vi que postaste o "silêncio dos eremitas"
ahahahaha A isso também se chama "sagesse"
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