“Exterioridade, diferença, alteridade, tais são as formas do ser, as condições que presidem à sua aparição e que sujeitam o seu devir a um processo de alienação” (1)
Como escreve Gabrielle Kowalska, vendo-se, opondo-se, opondo-se a si mesmo, o ser comporta na sua unidade uma dualidade, na sua identidade uma diferença. É neste contexto e em oposição a uma visão do ser que considera errada, que Michel Henry constrói uma filosofia do Absoluto, elaborando um conceito de fenómeno divergente da fenomenologia clássica. Segundo Henry, o ser manifesta-se numa manifestação que repousa em si mesma: “a essência do ser é a manifestação de si. A manifestação de si é a essência da manifestação, é originária” (2)
No seio da pura experiência de si manifesta-se a passividade radical da essencia em relação a si própria. Esta passividade determina concretamente a revelação originária do ser na sua unidade. Ser si mesmo, essencialmente passivo em relação a si, constitui a essência da vida e, sempre que esta designa a experiência de si - a própria revelação - designa a essência do espírito. (3) Esta revelação original da essência constitutiva da sua realidade é invisível, não porque se situa para além do visível, mas porque, cumprindo-se numa esfera de imanência radical, dela não se destaca ou isola para brilhar diante de si na transcendência da representatividade. A esta experiência de radical invisibilidade anda ligada a experiência da afectividade, melhor, da auto-afectividade ou afecção pura, o que se sente sem ser por meio dos sentidos, e que Henry define como o “sentimento originário que a essência tem de si mesma”. (4)
A identidade do afectante e do afectado dá-se na afectividade Manuel Barbosa da Costa Freitas citado por cbs
(1) Dufour-Kowalska, G. Michel Henry. Une Philosophie de la vie et de la praxis, Paris 1980 (2) Michel Henry, Léssence de la manifestation, Paris PUF 1963, p. 173 (3) Michel Henry, Léssence de la manifestation, Paris PUF 1963, p. 367 (4) Michel Henry, Léssence de la manifestation, Paris PUF 1963, p. 577
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