segunda-feira, outubro 20, 2008
Do servo e livre arbítrio
Na relação do divino com o mal, a nossa tendência é balançar para um dos lados do problema, ilusoriamente tranquilizando a tensão aporética nas nossas cabecinhas ilustradas – ou o divino decide e decreta o mal e a condenação (palavras do coração endurecido); ou não há mal originário nem condenação universal (palavras do coração amornado).

Catolicidade: manter a noção do pecado original, separação universal do género humano com o divino (a crueldade e isolamento egoísta das crianças, senhores); manter igualmente a lucidez de que, intrincados ao mal fulguram a beleza e a bondade, que espelham em acto o divino (o divino em acto espalham todas as belas e boas obras, senhores).

Escolher um dos polos em detrimento do outro, heresia é; o que também não tem a gravidade histérica que os corações endurecidos pretendem; nem a indiferença muda que lhe atribuem os de coração morno.

Só o fio do funâmbulo, detém o sentido.


Vítor Mácula
posted by @ 10:29 da manhã  
10 Comments:
  • At 20 de outubro de 2008 às 10:38, Blogger Nuno Fonseca said…

    Pelágio diz ámen.

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 11:19, Blogger Nuno Fonseca said…

    1- 'o divino decide e decreta o mal e a condenação (palavras do coração endurecido)'.

    R:. Indirectas à parte, Mácula, podes dar-me um exemplo bíblico que quem é dito estar endurecido quanto ao Evangelho por crer que Deus decreta o mal e a condenação? E se sim, Job e o próprio Senhor estariam endurecidos quando disseram isto?:

    'Receberemos de Deus o bem, e não receberemos o MAL? Em tudo isso NÃO PECOU Job com os seus lábios' (Job 2:10).

    'Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e CRIO O MAL; eu sou o Senhor, que faço TODAS estas coisas' (Isaías 45:7)

    'Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era MÁ CONTINUAMENTE' (Génesis 6:5).

    2- 'Escolher um dos polos em detrimento do outro, heresia é'.

    R:. Com que autoridade o dizes? Bíblica, patrística, histórica? Nesse caso, não só Pelágio mas também Sto Agostinho era herege, tal como Paulo, por defender a depravação total do ser humano já de nascença (coração endurecido?), e de crer que o Senhor salva o homem, morto nos seus pecados, monergicamente.

    3- 'Só o fio do funâmbulo, detém o sentido'.

    R:. Visto que a salvação do homem se balança nesse fio, would you care to elaborate aos nossos corações endurecidos? É chato quando toda uma cosmovisão se fundamenta numa metáfora.

    §

    Soli Deo Gloria.

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 11:24, Blogger Vítor Mácula said…

    Do que sabemos ou pensamos saber de Pelágio, sobretudo configurado pela contraposição agostiniana, seria uma posição que negaria a condenação congénita, e que tenderia a afirmar a possibilidade de comunhão com o divino a partir da estrita humanidade própria. Dito de outro modo: corresponderia a um coração amornado.

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 11:32, Blogger Vítor Mácula said…

    Este comentário foi removido pelo autor.

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 12:47, Blogger cbs said…

    Agora eu, lol...
    Jesus disse "Que TODO aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia"

    Leio que somos livres... mas precisamos de Deus.
    Não haverá meio termo entre os duros e os mornos, meus amigos?
    Pelágio será morno, mas já Agostinho tão nitido...

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 15:41, Blogger Vítor Mácula said…

    Meio-termo não, cbs, qu’ isso é para o nicomaqueíco Aristóteles e para o utilitarista Stuart Mill e para o liberal Walser etc; meio termo it’ s only human LOL

    Manter a tensão entre os dois pólos como dois braços abertos na cruz: as obras e a criação espelham e espalham o divino; e simultaneamente, sem Ele, somos incapazes de O agir em nós. Por isso S. Paulo fala de vermos o que devemos ser e fazer, e agirmos na contramão de tal.

    Agostinho é funâmbulo, “Do livre arbítrio” à “Predestinação dos santos”; e não se tratam de contradições, mas da conciliação cristã entre as tensões máximas da existência. O fio é subtil, mas consistente.

    abraço

     
  • At 20 de outubro de 2008 às 22:23, Blogger maria said…

    Mas a solenidade com que se arranja um catálogo de heresias por aqui...

    O Bem teve um príncípio. O Mal também. E uma coisa tenho eu a certeza - um é o oposto do outro. O resto, vai-se decidindo a cada dia, nos caminhos da vida.

     
  • At 21 de outubro de 2008 às 11:33, Blogger Vítor Mácula said…

    Bem, mana, não sei se se trata de catalogar… A heresia é uma categoria teológica, e que corresponde às confrontações da pinha e da vontade com o divino, com a incarnação, com a revelação… Não se trata de definir salvações e perdições como derrapa imediatamente o nosso ignaro orgulho; trata-se de tentar dar resposta à surpreendente presença do carpinteiro nazareno, e às implicações limite do verbo divino feito humano sem reduzir este a mais um rol de categorizações e, precisamente, catalogações com que brindamos os nossos mais ou menos evidentes jogos de poder e manipulação. Quanto ao Mal, o Bem é o seu princípio, ó maniqueísta: por exemplo, não há injustiça sem uma noção prévia de justiça, tal como não há doença sem um corpo são para minar. bjocas, pá

     
  • At 21 de outubro de 2008 às 22:42, Blogger cbs said…

    A noção de Bem em sentido moral incide directa ou indirectamente sobre acções, omissões ou intenções. Tal noção insere-se na esfera prática da actividade humana.
    E de facto é importante ter presente que, como diz o Vitor, se a definição de bem não foi construída do ponto de vista da noção de mal, a definição de mal foi construída do ponto de vista da noção de bem.

     
  • At 5 de outubro de 2016 às 08:51, Blogger Unknown said…

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