domingo, outubro 19, 2008 |
O Mal "natural” 2: afectividade e revelação |
Sentir-se a si mesmo, ser afectado por si mesmo revela o ser e a possibilidade de Si. Na origem de toda a afecção e, portanto, de toda a experiência como condição, encontra-se não um sujeito puramente lógico, mas a ipseidade afectiva do sujeito, o seu ser em si. Na sua efectuação fenomenológica, a passividade ontológica originária é a paixão ou pathos do ser. Por sua vez, a afectividade que determina o ser a ser, aparece também ela na sua realização como o sofrer do Si.
A afectividade é, pois, «a essência original do logos» irredutível à linguagem do mundo e do pensamento, o logos da vida. Captar este logos original compete à tonalidade afectiva, ao sentir que constitui o sentimento. A experiência de si como experiência da impotência perante o sofrer, como adesão perfeita a si e a aquisição irrevogável de si equivale ao surgir da revelação. E o que então acontece “no triunfo deste eclodir, na fulguração da presença, na parusia e, enfim quando, em vez do nada, há qualquer coisa, é a alegria” (1)
Mas esta alegria, ao invés de um entusiasmo qualquer, de uma excitação psicológica, não vem depois do ser, mas é-lhe consubstancial, fundamenta-o e constitui-o. A alegria é uma estrutura ontológica, o modo segundo o qual o ser se historializa, o seu devir e o seu surgir em si mesmo no ajuntamento edificador da parusia, ela é própria parusia, a sua fenomenalidade original e a sua afectividade.
Manuel Barbosa da Costa Freitas
(1) Michel Henry, Léssence de la manifestation, Paris PUF 1963, p. 831 ;
Esse choque perante a Dor, perante a experiencia do Absoluto, que Henri vê como um júbilo, o sentir a presença Dele, pode ser, e é muita vez, igualmente insuportável, ou seja, a intensidade pode desintegrar a frágil personalidade humana, se não estiver "religada" pela Graça de Deus. É mais ou menos assim que vejo a Dor dos "males naturais", que são condição dada da existencia, e não se confundem com os "males do Mundo" de São João, esses resultantes da nossa livre escolha a que chamamos "pecados". cbs
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posted by @ 3:37 da tarde |
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2 Comments: |
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pronto, 'tá visto, que coisa, que seca, lá vou eu um dia destes ter de ler com atenção este Michel Henry ;) por causa do pathos e do logos
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Vitor reconheço-te muito maior sabedoria do que estas minhas "arranhadelas" filosóficas. Por isso gostava muito que desses atenção ao Henry. Eu entusiasmo-me com a sua análise, reconhecendo que não o abarco. Tal como vejo isto, Schopenhauer rejeita a filosofia clássica e abre caminho às filosofias da Vida; deslumbrei-me com Bergson, tando como me decepcionei com Nietzche; e acabo por vir à fenomenologia, não na direcção clássica, mas na de Michel Henry, "L'essence de la Manifestation" em que se demarca de Husserl. Talvez seja estranho ou falta de leituras, mas vejo nisto tudo um fio condutor cristão... Gostava que o lêsses, esse e depois "Incarnation, une philosophie de la chair" Henry parece-me radical, vai ao âmago da ontologia (como Bergson gostaria de ter prossseguido, penso)
um abraço entusiasmado ;)
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pronto, 'tá visto, que coisa, que seca, lá vou eu um dia destes ter de ler com atenção este Michel Henry ;) por causa do pathos e do logos