sexta-feira, outubro 31, 2008
Ver e não remediar é não ver
Em jeito de comemoração, desenterrando conforme a sugestão do Pedro, uma mensagem do Trento que me parece permanente, mas ainda como memória das várias e estimadas almas que por cá passaram, encontrei este post do Luís. O escrito remete também para o José e para o Tiago Cavaco, no comentário do Tiago Oliveira, e ainda para o Timshel na reacção do saudoso - o melhor dos católicos na minha opinião, que ma perdoem - tudo gente (só faltando o Carlos Cunha) que me provoca a lembrança triste e suave dos amigos distantes.
Mantive o texto, alterei a forma. A crítica permanece assentando-me com católica perfeição, para meu próprio pesar.
cbs
Caro José, confesso que não pude deixar de ter um sorriso nos meus lábios ao ler este teu post. Em primeiro lugar, porque concordo com o Tiago Cavaco: "abençoado protestantismo". Depois não pude deixar de verificar uma curiosidade que desmascara o que dizes.
Então vejamos: O católico, segundo dizes nas palavras de Flannery, considera que a voz de Deus é apenas ouvida através da santa madre e, como tal, tudo o que acredita como verdade é o que a igreja diz que é verdade. O católico diz que o papa é o representante de Cristo na terra e quando fala é como se Cristo falasse.
O protestante, por seu lado, embora respeite a igreja, considera como responsabilidade sua analisar todas as coisas e se considerar que Deus espera algo dele falo-á independentemente da igreja estar ou não com ele.
Pois é meu caro, o cómico em relação a isto é o seu resultado prático. O católico considera aquelas coisas em relação à igreja e ao papa, no entanto desrespeita a igreja, da qual diz ser a detentora da voz de Deus, a cada passo que dá. Veja-se os católicos aqui do blog.
Retirando uma ou duas excepções, o católico pensa como lhe apetece, vive como muito bem entende, mas diz que Deus apenas é ouvido através da santa madre. Cómico não é?
Vejam-se as diferenças doutrinais que se verificam neste blog entre os católicos e essa frase que colocas só dá vontade de rir. Vocês discordam do papa a torto e a direito, mas dizem que ele é como Cristo, é o seu representante. Belo respeito que têm por Cristo.
Se alguma marca se pode atribuir à maior parte dos católicos é que a igreja não tem qualquer influência sobre a sua vida. Para um católico é normal dizer que o papa está errado (o que segundo a doutrina católica é o mesmo que dizer que Cristo está errado). Pelo contrário, o protestante acredita no que já mencionei.
No entanto, a ironia disto tudo é que, com todas as diferenças de opinião que temos, verificarão que um protestante respeitará muito mais a igreja do que um católico. Por exemplo, os baptistas que aqui postam afirmam professar os princípios baptistas. O ensino da igreja foi, na realidade, importante e formador do que são enquanto pessoas hoje. A conclusão prática disto é que eu sou baptista e professo as doutrinas baptistas. Vocês são católicos e professam o que muito bem entendem e estão-se perfeitamente a marimbar na prática das vossas vidas do que o papa ou a igreja pensam sobre elas.
Caros católicos, respondam a esta simples pergunta: quantos de vocês católicos aqui professam integralmente os ensinos da santa madre (que é, segundo o José e a Flannery, os ensinos do próprio Deus)?
Tiago Oliveira
Embrulhemos pessoal. Embrulhemos que coisa mais certeira não se escreveu neste blog desde que há memória. Isto devia ser emoldurado e colocado como filactério na fronte da nossa intelectualidade católica bem-pensante. Só tenho pena do Tiago se ter adiantado a mim já que iria escrever coisa parecida na continuidade deste post criticando ainda um pouco da casuística jesuítica empregada pelo Timshel (que amigavelmente desperta o jansenista que há em mim).
Respondendo à tua pergunta (e descontando essa de que quando o Papa fala é como se Cristo falasse, que não é verdade) eu professo integralmente os ensinamentos da Santa Madre e tento viver de acordo com eles. Mas sei que são poucos os que o fazem em particular em determinadas matérias sensíveis (e antes isto fosse arrogância, antes fosse), especialmente na "intelectualidade" católica neste país (não é assim noutros).
Isto cria a mais nojenta (sim, nojenta) consequência da casuística jesuítica que Pascal criticava nas suas cartas provinciais, a de que os pobres e desgraçados que levam a sério o que a Igreja diz são esmagados pelo peso das suas culpas e a gente bem-pensante e influente safa-se de viver de acordo com o que quer que seja recorrendo aos "casos particulares".
Ou isso ou então consolam-se moralmente por se admitirem como grandes pecadores numa pretensa humildade sem mexerem uma palha para repararem a mais pequena falta. Também era o Pe. António Vieira que dizia coisas como "Ver e não remediar é não ver" ou "Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos, têm diante dos olhos as nossas manchas, como hão-de conceber virtudes?", ou ainda "Se os ouvintes ouvem uma coisa e vêem outra, como se hão-de converter?".
Não é um apelo ao puritanismo exacerbado, mas a um mínimo de exemplo moral consequente e de autêntica vivência de Igreja que impliquem verdadeiras escolhas de vida.
Luís
posted by @ 5:07 da tarde  
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