Talvez a Igreja seja unicamente possível se não ceder à tentação de credibilidade e coerência mundanas; se se deixar habitar pelo mal de fio a pavio como a sua história tantas vezes mostrou e mostra; até porque a bem ver, é precisamente no incrível da sua incredibilidade e incoerência que ela se tem firmado efectivamente, na englobância real e histórica de todas as suas quezílias práticas e teóricas; talvez a Igreja só seja possível como efectivamente o tem sido: um lugar onde o demoníaco assente arraiais, e onde se dá uma mistérica esperança e confiança de vitória pacífica e paciente sobre o mal.
Dito de outro modo: deverá ser o lugar onde cada qual aprenda a amar o inimigo, incluindo aquele que lhe pareça anti-cristianizar o lugar; até porque curiosamente, tal identificação costuma dar-se mutuamente, e isto sobretudo no caso mais interpelante de quando na sinceridade religiosa de ambos.
vítor mácula |
Belo texto. De facto.