sexta-feira, novembro 02, 2007
Investimentos que valem a pena


Porque vale a pena reflectir sobre as origens da moral cristã.
Porque vale a pena recuperar a "Sola Gracia".
Porque vale a pena acabar com as indulgências modernas.

"Não deixa de ser uma grande ironia na história da Igreja que, apesar de a ética do Novo Testamento divergir tanto dos valores estoicos, a vida virtuosa tenha se tornado - e ainda esteja - tão arraigada no Cristianismo ocidental ou latino". James Houston

Tiago Oliveira
posted by @ 1:28 da tarde  
9 Comments:
  • At 2 de novembro de 2007 às 22:43, Anonymous Anónimo said…

    obrigado pela indicação bibliográfica.

     
  • At 2 de novembro de 2007 às 23:00, Anonymous Anónimo said…

    "Paul and Seneca" - Supplements to Novum Testamentum, Vol. IV; J.N. Sevenster; Leiden, E. J. Brill, 1961.

    Boa sorte na pesquisa,
    Tiago Oliveira

     
  • At 4 de novembro de 2007 às 16:57, Blogger cbs said…

    Caro Tiago Oliveira
    Já percebi que o que torna prováveis os comentários num post são as tricas em cor de rosa ou as tretas em tom futebolístico.
    Lamentávelmente os que dão para pensar e calmamente discutir ideias quedam-se amiude sem resposta.

    Bom, mas isto para dizer que este é dos tais que merece troco, o que me fez procurar o livro sem o encontrar, mesmo na net.
    "Não obstante, encontrei algo que me pareceu interessante:
    Pleasure,says Bentham,is the only good… and pain is the only evil.
    These, in other words, are the new norms for all of human behavior, and they replace the biblical norms for good and evil, right and wrong.
    Economists and industrialists alike adopted Bentham’s dictum and began to consider the possession of consumption goods as a pleasure (hence good) and the performance of work as a pain (hence evil). Obviously this notion is diametrically opposed to what the Bible teaches about these matters. It frequently warns against the possession of many material things, and it upholds work as inherently human and part of God’s mandate for man."

    Tirei daqui: http://shalomproject.org/index.php?Itemid=16&id=20&option=com_content&task=view

     
  • At 4 de novembro de 2007 às 17:25, Blogger cbs said…

    Penso que o tema poderia ser mais explicitado. Claro que no fundo é um convite ao livro, mas à falta dele, só podemos pensar sobre as questões que pões.
    Pelo que percebo, as questões que colocas - e se refere o livro sobre a correspondência entre Paulo e Séneca, o estóico – têm em fundo a mudança do paradigma moral moderno, que substitui a antiga finalidade bíblica de servir a Deus, pelo desejo de acumulação de bens como o valor supremo; reduzindo o “ser” em favor do “ter”.

    Mesmo falando no escuro, uma vez que não li o livro, parece-me que existe uma coisa a destrinçar;
    Há duas concepções morais bem distintas, duas valorações da virtude e consequentemente dois tipos de “vida virtuosa”, a saber:
    - Os Hedonismos que instituíram o prazer como critério do Bem, onde entram epicuristas e já muito refinados os estóicos, caso de Séneca; mais tarde, poderemos ligar neste ramo os utilitarismos (Bentham, etc.)
    - Os Racionalismos onde a finalidade do homem é a felicidade mediante o uso da razão, e não como função do prazer; encaixam aqui as linhagens Aristóteles-Tomás de Aquino; mais tarde Kant também.

    E se a moral actualmente vigente no Ocidente é de raiz hedonista, procurando a felicidade no prazer material imediato – muito menos sofisticada até que o Estoicismo – já a Igreja Católica não me parece nada arreigada aos valores estóicos, e muito mais à moral racional de S. Tomás.
    Entendida diferentemente dos estóicos - onde se trata do prazer sensível - a vida virtuosa em Aristóteles é comandada pela Razão destina-se ao hábito de praticar o Bem, daí resultando a felicidade.
    Desta forma a virtude seria uma aquisição definitiva onde se poderia repousar.
    S. Tomás, apesar de o seguir de perto, transforma a doutrina. Para ele a actividade racional é, não um fim (a felicidade), mas um meio ao serviço do Bem, este definido conforme Cristo mostrou, ou seja o Amor ao Outro.
    Tão racional como Aristóteles para estabelecer o critério do Bem, apenas (e é muito) parte de Cristo e não do interesse próprio (a Felicidade na Antiguidade).
    Assim sendo, não me parece que a moral católica esteja influenciada pela moral hedonista (onde encaixa a vida virtuosa dos estóicos). O materialismo moderno sim, mas o catolicismo bebeu no racionalismo e considera a vida virtuosa como a actividade da razão ao serviço da Graça de Divina.

     
  • At 4 de novembro de 2007 às 19:55, Blogger Tiago Oliveira said…

    Caro cbs,

    sem querer discutir tudo o que dizes, a doutrina de Tomás de Aquino é altamente influenciada pela moral estóica. Redefinida? Sim, mas mantém a mesma lógica racional.

    Tanto nos estóicos, como em Aristóteles e também em Tomás de Aquino existe uma hirarquia de virtudes, umas mais importantes que outras, as quais as pessoas deveriam seguir. Essa e a base do pensamento de cada um.

    O ponto de vista cristão é completamente diferente. Não existe busca de virtude por si, o Homem não é capaz de tal. Fico-me pela expressão paulina: "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim".

    Para o Cristão a excelência moral é uma manifestação de Deus no crente e não uma busca da virtude.

     
  • At 5 de novembro de 2007 às 01:00, Blogger cbs said…

    Tiago
    Pus-me a ler os estóicos por causa disto. É verdade, nunca tinha percebido o nível de influência da escola estóica na Escolástica, só comparável á de Aristóteles. Até a ética kantiana foi influenciada pela noção de dever elaborada por eles.

    De facto a hierarquia de virtudes é comum a todos. Mantenho, nos estóicos trata-se de fugir ao sofrimento e à dor pela “aphatia”, enquanto em Tomás trata-se de chegar a Deus pelo uso da razão.

    Sendo a virtude o hábito de praticar o bem (Aristóteles), é na noção de bem que divergem, penso eu. O que não é relevante para aquilo que afirmaste, de facto.

    Mas leva-me a outra questão.
    S. Tomás e a Igreja Católica estabelecem virtudes teologais, directamente infundidas por Deus no Homem (Fé, Esperança e Caridade) tal como dizes: “a excelência moral é uma manifestação de Deus no crente”

    No entanto, Tomás e a Igreja estabelecem também virtudes humanas - “intelectuais” e “morais” - que o homem pode alcançar por si só.

    Portanto essas não são aceites pelos evangélicos, pelas razões que expuseste - "o Homem não é capaz de tal" - é assim?

    abraço

     
  • At 5 de novembro de 2007 às 10:20, Blogger Tiago Oliveira said…

    Caro cbs,
    a base da fé cristã assenta na «miserabilidade» do Homem sem Deus. O pecado original é o «endeusamento» que o Homem faz de si próprio. A declaração da sua auto-suficiência.

    Em Deus, e só em Deus, está toda a virtude (seja ela qual for). Ele é a origem de todo o Bem. Ele é quem coloca ordem no caos e enche o vazio (Gen 1). É a Sua obra que no final recebe uma avaliação excelente.

    O mundo sem Deus é o regresso ao caos. A terra geme com dores de parto, diz o Apóstolo Paulo (Rom 8). Não por sua culpa mas pelo que a sujeitou.

    Esta é a base. Logo, o Homem por si não pode almejar a qualquer virtude em si próprio, mas apenas através de que o criou e do qual procede todo o Bem.

    Kierkegaard diz algo determinante: "A maior realização de um ser humano é deixar Deus ajudá-lo...". Não é por grande esforço que o Homem alcança Deus, mas apenas pela Sua misericórdia. Qualquer tentativa é inútil. Somos seus filhos não porque o buscámos ou amámos primeiro, mas porque Ele nos amou primeiro (I João 4:19).

    Assim, aquilo que Paulo diz: "já não sou eu que vivo mas Cristo vive em mim" deve ser a base de vida de qualquer crente. Qualquer busca por alcançar a virtude pelos nossos esforços é uma tentativa de auto-suficiência. Qualquer esforço no sentido que conseguir é pressupor que é possível conseguir. Desistir de conseguir fazer para colocar toda a atenção na entrega a Cristo é a solução.

    E isto é muito diferente. Pode parecer que produzem resultados idênticos mas são de naturezas completamente distintas. O que alcança por si é orgulhoso, o que se entrega a Cristo cresce na humildade. Certas coisas, diz Paulo, podem ter aparência de virtude mas não servem para nada: "Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade" (Col 2:23).

    Assim, a lógica estóica baseia-se na auto-suficiência do Homem de alcançar a excelência (arete)moral. De certa forma, a fé cristã pode ser muito mais estóica que cristã, pois acenta na busca das virtudes morais para alcaçarmos Deus. O que muda é o que queremos alcançar mas os pressupostos são os mesmos: o Homem alcança por si próprio. A humanidade precisa aprender a viver segundo o pressuposto de que o Homem nada pode alcançar por si próprio (a não ser o caos). E a igreja também.

    É necessário que Ele cresça e que nós diminuamos para encontrármos a verdadeira humanidade.

     
  • At 5 de novembro de 2007 às 11:13, Blogger cbs said…

    Tiago
    excelentemente explicado, obrigado.
    um abraço

     
  • At 5 de novembro de 2007 às 18:14, Blogger Hadassah said…

    subscrevo o CBS. Muito bom texto.

     
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