De acordo com o imperativo gosto protestante, os filhos dos crentes da discórdia cristã estão condenados a possuírem nomes que constem da Bíblia. Se este critério já limita bastante a criatividade dos pais, a moda, as mudanças de sabor em cada época e a variação das tendências da nomenclatura, ainda reduzem mais a lista de nomes disponíveis aos fiéis da reforma. Assim, apesar de serem nomes bíblicos, já ninguém nomeia os rebentos com os evangélicos Ansícrito, Batuel, Cefas, Dâmaris, Esdras, Filémon, Gabael, Hélcias, Israel, Jeconias, Labão, Melquisedeque, Natanael, Onesíforo, Prisca, Querubim, Romelia, Sadoc, Tabeel, Uriel, Vasti ou Zabdiel. E quase nenhum herege se inspira nos prolíferos livros de Crónicas ou Neemias (outro belo nome em desuso).
E, deste modo, facilmente se confundem os Tiagos, Paulos, Pedros e Joões protestantes, pois, não sendo muitos, ultrapassam largamente a escassa variedade permitida pela lei do racionamento onomástico a que se sujeitam. É a consequência da junção, na mesma prática, de duas práticas ditatoriais.
Já os católicos, porque universais e humanos, não têm este problema. Ainda que optem por dar nomes cristãos aos filhos, incorporam na lista de possibilidades os nomes de homens e mulheres valorosos que, mesmo após a definição do cânone, se tornaram exemplos do exercício das virtudes cristãs, e cuja vida deve ser mais que um exemplo a seguir. Daí que o humilde blogueiro que assina este poste tenha um nome cristão, não segundo o entendimento anátema, mas na conformidade canónica de quem reconheceu como inspirados os 46 livros do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento que todos reconhecem.
Nihil obstat, portanto.
Carlos Cunha |
...enganas-te CC tenho um amigo protestante de nome Natanael... :)