sexta-feira, junho 22, 2007
Dois tipos de assertividade
A assertividade dos evangélicos é feita de ignorância: a reflexão teológica perdeu terreno para uma decifração instantânea das Escrituras que serene as dúvidas mais imediatas. O facto de existir sempre resposta revela uma atitude de não enfrentar o texto nas suas dificuldades e portanto não suportar a ideia de que a Palavra de Deus pode deixar a mente do crente sem solução para as suas regionais crises de fé (estas mesmas regionais crises de fé dos evangélicos resultam de banalidades como quem seriam os gigantes mencionados no Génesis, qual o tamanho da ferradura das bestas equínas que transportarão os cavaleiros do Apocalipse e por aí fora - é um programa lúdico semi-teológico que entretém os fiéis e lhes confere a ideia de dominarem os meandros da matéria - quando vêm as crises de fé supra-regionais, coisas sérias como um mau casamento ou a morte inesperada de alguém, qualquer sabichão evangélico manda às malvas a sua douta experiência bíblica para cortar relações com Deus e a igreja).
A assertividade dos católicos (sobretudos latinos e de tendências progressistas) é feita da aparência de humildade: o compromisso pessoal perdeu terreno para uma reflexão teológica delirante e sobretudo poética. Com a profundidade filosófica europeia continental (sobretudo alemã mas também francesa) que isenta os fiéis de se identificarem palpavelmente com algo protegendo-os nas suas perplexidades, dúvidas e toda a sorte de oásis temporários podem então os católicos viver aberta e mundanamente fora da disciplina da Igreja, proclamando heresias sob o sol mediterrânico uma vez que a certeza está na impossibilidade de ela existir. Sob a capa da tolerância e de uma fé contemporânea podem desprezar todos os outros que assumem consequências quotidianas de uma opção religiosa (a esta nova técnica de maquilhagem podemos chamar o fundamentalismo do anti-fundamentalismo).
A assertividade dos evangélicos é mais ignorante que a dos católicos mas a assertividade dos católicos é mais desonesta que a dos evangélicos. Ambas são cobardes na sua encenação de piedade. Desprezo as duas mas é contra a primeira que tenho um dever de combate.

Tiago Cavaco

Também publicado no Pranto e Ranger de Dentes onde ando excessivamente azedo.
posted by @ 10:20 da manhã  
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