Estes gajos são giros. E vem mesmo a calhar esta
reacção do Tiago Cavaco, de voz um nadinha trémula de justificada indignação. Tenho para mim a ideia que os nossos irmãos evangélicos olham para nós, povo católico, como uma secção um bocado amaricada da Cristandade. Ele é a intercessão dos Santos, a Virgem-mãezinha, a intermediação pela Igreja, o eterno arrependimento para efeitos da sacramental reconciliação, o misticismo, o celibato dos padres, a opção preferencial pelos pobres, o primado do amor, o impulso ecuménico, o diálogo inter-religioso, os cânticos edulcorados, até a púrpura!
Eles não, porra, eles são muito homenzinhos! Em vez da oblação dá cá o dízimo, a relação pessoal com Jesus, porta única da Salvação, Maria-mais-uma-como-as-outras, o nascer de novo de uma vez por todas, o primado absoluto da Palavra, Letra a Letra, os prolíficos pastores pais de incontáveis Samuéis e Rutes, a responsabilidade de cada um perante Deus e só Deus, o panquerróque na celebração, ah pois!
E não é que aparece agora um adamado dum
sissy dum católico, um gajo que anda há três quinze dias a dizer-se perplexo e o caraças, a afirmar que os evangélicos tem medo! Pior, que eles tem muito mais medo do que eles católicos! Realmente, é dum gajo se passar! Ainda por cima em Maio, porra, quando aqueles fatimidas todos se metem à estrada, para provocar a malta!
E tenho então que aceitar que esta compreensível fúria obscureça um pouco a razão desta boa gente. Pois até mesmo o Tiago, que avulta para nós como a
extended version do evangelismo baptista nacional, passa ao lado do meu ponto, põe-se a misturar alhos com bugalhos, exorbita sobre o povão católico e chega mesmo a recorrer à luta de classes!
Acontece porém que eu sou paciente como um jesuíta e não estou aqui senão para vos converter a todos. Por isso venho argumentar. Por partes. Exaustivamente.
Comecemos pela abolição do limbo: pois se ele não existia senão como resultado da justa dificuldade da Igreja Católica em encaixar o Inferno no Amor de Deus por nós. Acaba agora por não ser agora mais preciso.
Passemos à luta de classes, tema recorrente no Tiago Cavaco sempre que ele quer afirmar a superioridade moral dos evangélicos sobre os católicos. Nada mais em desacordo com aquilo que de vós conheço. Aliás, sôa mesmo estranho ouvir um protestante a invocar determinismos sociais.
Agora o povão católico, de onde vim e aonde provavelmente irei de novo parar. Primeiro diga-se, uma vez mais, que
não é o medo de Deus e da Sua ira que o move. Há uma porrada de séculos que a Santa Madre Igreja cuida de nós para nos aliviar desse temor. A ver se entendem isto. Quanto aos fatimidas, há lá de tudo e vou usar a tua dicotomia. Os dos
10% above vão lá em peregrinação, no sentido elevado da coisa: para cantar, para arejar, para se encontrar, para encontrar Deus, para ser encontrado também, para aparecer, para dar bom ar, etc e tal. Os dos
90% below, esses merecem certamente mais respeito, esses não tem
catering nem
coaching, esses vão não por medo a Deus mas para Lhe pedir ou para Lhe agradecer. O quê? Não sei mas imagino que lhes seja importante.
Espera aí, que falta ainda falar das revistas. É também giro ouvir um gajo que se passeia com a
Spectator debaixo do braço, vir-me falar de revistas mais caras que a Visão! Pois lá em casa não há revista nenhuma sem ser a Além-Mar, revista dos missionários combonianos. Disse.
E viva também a Audácia. Isso sim, tens razão, são boas revues.