quarta-feira, maio 09, 2007
Dois ponto zero
O José, um belo exemplo de um católico versão 2.0, chega-nos mais uma vez cosmicamente desperto para essa inesperada alvorada da denúncia do medo protestante. A Igreja Católica do José, que certamente não é aquela que ainda há umas semanas veio explicar que afinal o limbo tinha prescrito, "é muito mais a esperança". Nós é que temos andado distraídos.
Mas há uma questão que o José aponta com mais alguma sobriedade e na qual me vejo forçado a dar o braço a torcer. Quando adianta em termos poucos canónicos mas explícitos: "converte-te pois só assim te salvas e se não te salvas estás completamente fornicado para toda a eternidade" o José ridiculariza um medo no qual não só me reconheço eu como boa parte dos evangélicos (quiçá protestantes em geral, quiçá católicos extra-versão 2.o) - o do inferno. Naturalmente que o José se ri do que se borram os evangélicos do inferno, não pela incontinência intestinal mas por tão somente acreditarem em semelhante assoalhada eterna. E quanto a essa ausência de concórdia, poderá não haver muito a fazer. Afinal eu sou o tipo que tem o diário do Kierkegaard na mesinha de cabeceira.
Depois há a questão social (ou mesmo marxista que eu nestas coisas sou muito alemão): o José, como outros católicos 2.0, com assinaláveis hábitos de leitura e dinheiro para gastar em revistas mais caras que a Visão, lidam com a segurança da salvação na Igreja Católica com aquele savoir-faire pós-moderno de quem encontra no Catecismo uma razoável moulinex misturadora de teologia e humor. Não há problema algum com isto que eu tento a mesma coisa com os poucos brinquedos dogmáticos que a minha fé protestante me permite. Onde as classes se zangam e tropeçam para a velha e previsível luta é que, como eventualmente o José pode calcular, aquela imensa maioria de católicos, que engorda um belo número de perto de 90 por cento de santa população aqui da Pátria, ainda não adquiriu tão polivalente electrodoméstico. Ou seja, no que à religião diz respeito, quedam-se pelo fiel medinho que os dias não estão para graças. E assim muito de repente, como quem não olha muito atempadamente para a coisa, aposto que toda essa multidão de pedestres contratualizados a caminho de Fátima não iniciou tão sublime senda no morno conforto da esperança do catolicismo 2.0 do José. Mas isso se calhar são manias minhas.
Por último, gostava de recordar que o primeiro protestante foi um católico assustado. Lutero. Diz-vos alguma coisa? Se tivesses começado por aqui, caro José, talvez não tivesse eu o medo de concordar contigo em alguma coisinha.

Tiago Cavaco
posted by @ 10:50 da tarde  
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