domingo, maio 27, 2007 |
Sou um católico (relativamente ) praticante |
E ainda por cima sei muito poucas coisas sobre a minha fé. Desculpem-me portanto os amigos católicos (sobretudo) e protestantes por vir aqui expôr a minha ignorância. Mas peço-lhes que tenham caridade pois essas perguntas visam ao aprofundamento da minha fé.
Existe a possibilidade de pecado sem culpa?
timshel |
posted by @ 6:48 da manhã |
|
44 Comments: |
-
Se for insconsciente, sim. Mas eu até penso que pode haver pecado consicente por bem. A culpa pode ser hipotecada.
O exemplo simbólico do "Million Dollar Baby"
-
O Pecado é separação de Deus, ausência do seu espírito. Matar, roubar, mentir, não são o pecado, são consequência dele, são os frutos dessa separação.
E os frutos do pecado, levam-nos SEMPRE a prejudicar o outro ou a nós mesmos, leva-nos à injustiça, daí o sentido da culpa.
-
pecado "inconsciente"? como? alguém me dá um murro, caio incosnciente em cima de outra pessoa e mato-a
é isso
e o que queres dizer com o resto (o pecado consciente por bem, a culpa hipotecada, e o "Million Dollar Baby"
-
Hadassah
eu não perguntei o que é o pecado mas se o pecado existe sem culpa (culpa não no sentido de remorso mas sim no sentido responsabilidade)
-
aahhahaha
Estava-me a lembrar das 37 teses do Manual de Alibi para Misogamos
":O)))))
O outro exemplo é o do filme. Da "eutanásia" contra vontade para libertar a rapariga. Não sei se é a culpa se o pecado que ficam hipotecados. É algo de mau, que se assume castigo mas que se faz sem se desejar, apenas por laço de dever entre 2 pessoas.
-
Agora se é culpa no sentido de responsabilidade acho que não existe. Tirando o tal de não se ter culpa que a pessoa fosse a passar à frente e se ter pontaria sem intenção ahaha, não estou a ver.
O exemplo que me lembrei do Million Dollar Baby não implica fugir-se a condenação. Esta é aliás, como tu sabes, a razão pela qual sou contra a eutanásia mas não condeno estes actos de coragem e sacrifício duplo.
Qualquer acto ético que inclua má acção fica mais ou menos perto disso. Mas tem de haver aceitação do pecado ou da punição.
-
Se entendes que a culpa está apenas ligada à responsabilidade, então restam os casos de hipnotismo e inimputabilidade. As crianças, enquanto não têm grande entendimento, não têm culpa, por exemplo
-
estava a tentar explicar em que circunstâncias somos pecadores...
Quando o somos praticamos sempre a injustiça, o pecado pressupõe sempre a existência de uma vítima, que pode até ser o próprio e nesse sentido há uma responsabilidade, uma culpa.
não há pecado sem "vítimas", logo sem "culpa".
-
É claro que me esqueci do principal: o que entra no pecado.
Para mim tirava uma data deles lá dos 10 mandamentos e outros tantos dos pecados sexuais e coisas assim.
Há pecado a mais e vergonha a menos
":O))
-
No exemplo que eu dei, não há vítima, há boa acção contrariado, hipotecando a sua liberdade.
É muito mais complexo. As acções heróicas já não fazem parte do nosso imaginário. Por isso é que o pecado também se torna excedentário.
Se ninguém peca com risco, se ninguém comete actos maus com ética, então ficam só pecadilhos.
-
A tragédia grega explicava muito melhor estas coisas.
Claro que a explicava por lhe introduzir a moira. Questão que é retomada na teoria da predestinação divina...
";O)
-
A ideia de que somos salvos por escolha sem obrasm permite algo idêntico ao herói da tragédia grega que está para além do bem e do mal. Mas a culap, na tragédia faz-se cobrar.
Nunca se safam, mesmo que não tenham tido culpa, por apenas cumprirem o destino.
-
E o S. Bernardo também teorizou, retirando culpa a actos feitos contra hereges em nome de Deus. Tal e qual como a jihad.
-
A culpa existe na proporcionalidade do grau de conhecimento que se tem do Bem.
Lucas 23:34: "Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem."
Nesta passagem Jesus faz oração em favor dos soldados romanos, dos escribas e sacerdotes, apresentando por eles a única defesa que podia: "Porque não sabem o que fazem."
Não significa que não tivessem culpa, se assim fosse não precisavam de oração, mas significa que a sua culpa era aliviada pela sua ignorância. Se eles soubessem que era o Messias, a culpa deles seria imperdoável.
Tiago 4:17: "Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado."
-
No plano humano a culpa pode ser medida pela intenção com que se comete o mal. No plano espiritual pelo nível de conhecimento que temos do Bem, da Verdade.
-
Não me parece que isso responda a todas as questões.
Por exemplo: no caso da defesa de inexistência de livre-arbítrio, o baptismo serve para retirar essa culpa de pecado orginal mas deixa-o em total estado de escravidão ao mal. Logo, a acção só é aferida pela obediência a Deus.
No catolicismo existe a tal lista dos pecados mortais. Tinham a vantagem de ninguem se enganar e até servirem de pedagogia para quem nem é crente.
Não sei como funciona entre protestantes, onde a relação é directa. A menos que usem a tábua das leis. Mesmo assim, no caso da inexistência de livre arbítrio, como se afere a responsabilidade e a culpa?
-
O meu exemplo da tal "eutanásia" por dever onde se hipoteca a própria liberdade e se faz o acto por amor e contra vontade, a aferição da intenção não é a mesma.
O acto foi por bem.
Resta o plano espiritual mas aí eu disse que se aceita a condenação. Terrena e não só. Aceita-se expiar algo pecaminoso que se fez com boa intenção e contra a sua própria liberdade de o não fazer. Por amor de outrem e para ajudar outrem a cometer o pecado que não pode.
É muito mais complicado mas está na base do heroísmo e dos códigos de honra difíceis.
-
Fácil é não cometer um pecado por outrem. Até porque se sabe que é pecado. Escapar a isto é mais fácil que cometer o pecado, arcando com as responsabilidades que o outro já não vai arcar. É a tal hipoteca da culpa numa acção em que o eu se menoriza.
-
Hadassah
"No plano humano a culpa pode ser medida pela intenção com que se comete o mal"
Zazie
"no caso da inexistência de livre arbítrio, como se afere a responsabilidade e a culpa?"
é estranho, tenho a impressão de que o problema não é o pecado mas sim o Mal, o Diabo, sendo o pecado uma ligeira consequência periférica em que o Homem tem qualquer coisa a dizer
a importância dessa "qualquer coisa" é que é para mim um verdadeiro enigma
-
Bom, de qualquer forma, esta também é uma questão que a sociedade não tarda nada resolve. Deixa de existir o problema. Legalizam a eutanásia e ninguém vai precisar de se sacrificar em pecados por bem e dever que lhe seja apresentado como imperioso.
-
ah, bom, nisso concordo. O Mal é que é a questão.
Essa qualquer coisa a dizer como é que pensas que se pode passar?
Subindo ou descendo?
ahahahaha
Provando, há-se ser a única maneira de se ter algo a dizer. Olha, o Dragão está a postar o Céline que provou literariamente algumas destas coisas.
-
Espera pelo Antonius, que ele fala-te do Dostoievski.
inté
":O)
-
Caríssimo Tim, também sei muito pouco sobre a minha fé (e até do resto:), a ignorância não é mesmo um exclusivo teu, lol… Portanto tem lá paciência, que eu aqui, mesmo que pareça o contrário, o que faço mais é aprender. E que vos agradeço a todos.
Se existe a possibilidade de pecado sem culpa? Creio que sim, podes por exemplo matar, sem ter culpa no sentido intençional, o que te retira a responsabilidade. Mas não retira o mal efectuado, esse fica (o Lei dos homens até explicita isso relativamente bem)
Agora como eu entendo a coisa é assim: O pecado é a recusa do Amor de Deus (basicamente por egoísmo nosso) e traduz-se em erros de comportamento, erros cósmicos no meu humilde entendimento. O comportamento humano não é bom ou mau porque Deus caprichosamente assim determina. O comportamento humano é mau quando nos degrada (pecado) e bom porque nos dignifica (virtude). Deus no Seu Amor por nós, apenas nos indica o caminho do Bem… para nós mesmos.
E há duas dimensões no pecado, aquilo que denominamos por Pecado Original, quando nos quisemos tornar deuses, e que tem como consequência a desordem interior em que nascemos todos, sem noções claras de Bem e Mal. Pareceu-me ser a isto que a Hadassah se referia quando dizia “os frutos do pecado, levam-nos sempre a prejudicar o outro ou a nós mesmos”.
E há o pecado pessoal ou seja a nossa opção consciente contra a vontade de Deus.
No primeiro caso não existe responsabilidade, é-se inocente, mas inocentemente causa-se exactamente o mesmo mal a nós, aos outros e a Deus.
Parece-me bem alinhavado… só que daqui me surgem outras angústias, como saber da salvação dos inocentes, daqueles que pecaram antes da Revelação da Lei de Deus. Sabes que acalento a esperança de salvarmos o próprio Adão? E depois é a questão da Salvação que para todos vós parece ser limpinha. Pois eu não sei bem o que fazer com ela, com a Salvação (sinto-me mais que herético, sinto-me blasfemante!...). Se da minha condenação pudesse sair a Salvação de todos o humanos da História, aceitava-a… depois logo se via… Vejo, no entanto, uma única razão para me salvar: o Amor do Pai. Não mereço o Amor Dele, mas se Ele me chamar, vou.
Ágape em Cristo (há ganda Nuno e ganda Antonius, vocês transformam-me:)
-
...é uma boa pergunta...a questão do livre arbítrio, que não te posso responder porque não subscrevo.
Li algures que "a culpa consiste em rejeitar o bem-estar de Deus e do universo, infinitamente valiosos, para ser escolhida a gratificação ou satisfação egoísta".
Nós não temos uma lista de pecados mortais, somos ensinados a ler a Biblia e a viver com Deus na nossa vida, para que possamos produzir bons frutos.
O mandamento maior é Amar a Deus com todo o nosso entendimento e ao próximo como a nós mesmos.
Depois de conhecermos Deus a nossa responsabilidade é bem maior, na execussão do bem. Porque sabemo o que Lhe agrada e desagrada.
-
Tim
concordo contigo, o problema é o Mal, o Diabo...que nos leva a produzir a tal "qualquer coisa", quando estamos separados do Amor de Deus.
O CBS explica isso bem.
Parece-me a mim que o que entristece Deus, não é a nossa fraqueza humana, mas a nossa opção de Servirmos o Mal, depois de conhecermos o Bem.
-
Recomendo algo deste género, camarada Timshel. A fonte é a mesma é não há teologia moral que chegue aos calcanhares deste tipo de exegese.
-
O Figueiredo Dias, CC??? para responder ao que temos a dizer face ao Mal?
ahahah
Estás a gozar
-
Não, não, zazie. Falo muito a sério. A Teoria Geral do Crime e dos seus pressupostos vai buscar os conceitos de culpa, dolo e negligência à Teologia Moral. Mas depois esmiuçou os conceitos para efeitos mundanos, é claro. Dá muito jeito.
-
Acredito, CC. Costumo conversar acerca dessas questões com o José da GL
Mas percebeste que a questão que o Tim colocou não é essa.
O FD não há-de falar da essência do Mal
-
Ele não é assim tão básico nem tão supremo como às vezes parece.
Larga estas questões lá do alto mas pensou-as bem. O resto é pose
";O))))
-
Por que é que julgas que largou a pergunta aos protestantes?
";O)
Ele pensou a questão da nossa essência e do Mal que nos é intrínseco. O livre-arbítrio, assim tão simples e racional, não me parece que satisfaça o nosso camarada capuchinho ehehe
-
Por exemplo, duvido que o FD, na teoria do Crime, tenha explicação para a questão que eu coloquei. A da ajuda na morte, do modo que formulei. Porque a lei é sempre geral e estas questões são acções de julgamento moral para além da lei terrena.
-
"Parece-me a mim que o que entristece Deus, não é a nossa fraqueza humana, mas a nossa opção de Servirmos o Mal, depois de conhecermos o Bem" Hadassah eu disse "O pecado é a recusa do Amor de Deus e traduz-se em erros de comportamento" Acredito que Deus nos criou por Amor, o que implicaria uma relação permanente. Acredito que a resposta de Adão foi: não! eu é que decido o que é Bem e Mal (eu sou o meu Deus, eis o meu egoísmo). A opção de recusa do Seu Amor, degradou-nos, desumanizou e mata-nos; a nós e aos nossos próximos, pois o comportamento de um propaga-se aos demais.
Parece-me que o que ofende ao Pai tem duas dimensões; a recusa do Seu Amor, e em simultaneo a nossa degradação como consequencia. O que faz sofrer ao Pai é, não só a recusa, mas também, por via disso, a desgraça do filho.
Isto compreende-se? penso antes de dizer, mas de facto toda a minha "teologia barata" é um caminhar no arame.
-
"O CBS explica isso bem"
desculpa o arrazoado seguinte. li "Ó cbs, explica lá isso bem"
além de não compreender o que escrevem, ainda por cima não leio. Esta é uma das marcas do Pecado Original, pouca atenção e muita lascívia mental, lol
-
zazie
a pergunta não foi feita aos protestantes
se em tempos este tipo de questões levantava fracturas entre o pensamento católico e o pensamento protestante parece-me que cada vez é menos assim (pelo menos no que respeita a certas correntes protestantes)
"Ele não é assim tão básico nem tão supremo como às vezes parece." não poderei estar mais de acordo com a segunda parte desta proposição
o LD tem uma tese (ou pelo menos tinha há 30 anos atrás) interessante: dizia ele que é no indeterminismo relativo subjacente ao existencialismo que devemos procurar a base para o livre-arbítrio
se estou de acordo com ele quanto ao indeterminismo relativo já acho um bocado bacoca aquela ideia de que tal indeterminismo relativo tenha que ver com o existencialismo
quanto a mim tem que ver com outra coisa que é a natureza dos sistemas complexos (e o homem é talvez o mais complexo dos sitameas complexos) que implica sempre uma componente aleatória imprevísivel e indeterminada
mas o problema permanece
-
Ó Tim, para essa questão, o que apetece ler é o Shopenhauer. A vontade de onde emerge. Essas profundezas que tanto geram os mais dignos feitos como o inverso. A força vital vem daí, não vem da razão.
Ontem andei para aqui a defender o livre-arbítrio e a pensar no oposto, por causa dele ";O)
-
errata:
onde se lê "LD" queria obviamente dzer "FD" (Figueiredo Dias)
(ou seria LSD?):)
-
Tim,
Eu expliquei-me mal quando disse que a pergunta era dirigida aos protestantes mas acho que a questão que se debateu ontem anda por aí.
O Shopenhauer tem a noção de vontade que antecipa o Freud e retira da razão a força principal das nossas acções.
Vindo tudo das profundezas, o combate ou escolha não é assim tão simples. A razão não é mais soberana que as vísceras.
Mas é delas que vem a vida, também.
-
-
Mas explica-te melhor. Em que é que achas que tens dúvidas quanto ao que se pode fazer face a essa consequência do Mal?
Tens dúvidas é se ele está ligado ao todo que nós somos?
-
A ideia de que a vida oscila sempre entre os desejos e o fastio e que somos escravos dessa insatisfação, torna a dor positiva e a felicidade negativa. É claro que o pessimismo no que poderemos fazer acerca do mal é inevitável. Há cativeiro e ainda por cima é da mesma ordem da força vital.
Daqui saltas para o Nirvana, porque a cristã e católica não dão resposta
-
Um acréscimo: ele conciliou a ética com a estética para esse estado de ascese
";O)
-
contemplação do belo e compaixão pelo próximo.
-
A minha opinião
Para haver culpa tem de a haver uma lei. Os mandamentos bíblicos existem para podermos identificar, mais do que a culpa, a natureza desejada por Deus para as acções do Homem.
Na Bíblia só se é culpado quando se cobiça o que não é nosso. Essa cobiça poderá levar a actos (matar, roubar,infringir a própria lei do Estado em que se vive (desde que esta não vá contra os princípios bíblicos) e tudo o resto.
O Pecado tem a ver, na raiz da palavra, com 'falhar o alvo'. Isto é, estar longe de Deus, descalibrado ou desfocado.
Sendo que, como disse Jesus, os mandamentos se resumem a amar a Deus acima de todas as coisas e aos outros como nós mesmos, a culpa existe quando não se incorpora estas palavras. Porque tudo o que se afastar disto é pecado (está longe de Deus) e, assim, contrariando a lei de Deus, é também culpa.
Tudo isto para dizer que, no meu ponto de vista, o pecado é sinónimo de culpa.
Se os Católicos acham que além da Lei de Deus bíblica, a Igreja e a Tradição também têm uma palavra a dizer no dizer o que é culpa-pecado, já aos protestantes ninguém poderá impor uma culpa-pecado além daquela que eles 'sintam' ou 'percebam' por si próprios como sendo assim.
Nisto, caro AB, é muito mais fixe ser-se protestante do que católico.
|
|
<< Home |
|
|
|
|
Um blogue de protestantes e católicos. |
|
Já escrito |
|
Arquivos |
|
Links |
|
|
Se for insconsciente, sim. Mas eu até penso que pode haver pecado consicente por bem. A culpa pode ser hipotecada.
O exemplo simbólico do "Million Dollar Baby"