[Tom offers a piece of bread to Grace] Tom: You want to eat? You must be hungry. Grace: I can't. I don't deserve that bread. I stole that bone. I've never stolen anything before. So now, now I have to punish myself. I was raised to be arrogant. So, I... I had to teach myself these things.
A propósito da Graça, como dádiva de redenção divina oferecida aos homens, recomendo a todos uma ida ao cinema (ou melhor, ao clube de vídeo, visto que o filme não está em exibição), para uma leitura atenta de Dogville, um filme escrito e realizado pelo mais protestante de todos os católicos, Lars von Trier. Claro que esta sugestão vem de outro pobre católico, a quem Deus se dá a conhecer por diversos modos que não apenas as Escrituras ["Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21:25)], e que não se dá ao trabalho de ter uma exegese pessoal para uso caso caseiro, uma vez que "nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd1:20), que não liga peva a muitas das prescrições bíblicas [v.g., não comer os frutos das árvores nos primeiros três anos (Lev 19:23-25) ou não comer “nada que contenha sangue” (Lev 19:26)] e que tem plena confiança no livre exame da Santa Madre, a cujo Magistério e Tradição se submete ["Tu, pois, meu filho, sê forte na graça de Cristo, e o que de mim ouviste perante muita testemunha confia-o a homens fiéis capazes de ensinar a outros" (2 Tm 2:2); "Irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que aprendestes, quer por palavra, quer por escrita nossa" (2 Tess 2:15)].
Mas, dizia eu, aproximo-me do Senhor por coisas diversas, nas quais tenho a arrogância de descobrir sinais imperceptíveis. Por exemplo, um filme cuja acção se passa numa terriola das Montanhas Rochosas (“a quiet little town not far from here”), EUA, nos anos 30. Grace (a Graça, cá está), uma bela desconhecida (interpretada pela actriz mais luminosa da história do cinema, a católica Nicole Kidman), chega a Dogville (Dog, o oposto de God, e dog-ville, o mundo cão em que vivemos), vinda não se sabe de onde, em busca de refúgio de um grupo de gangsters. Com a ajuda de Tom Edison (o iluminismo humanista), o auto-proclamado porta-voz da comunidade, Grace é acolhida e escondida em Dogville e, em troca, trabalha gratuitamente (cá está) para os seus habitantes, num período à experiência, após o qual os residentes da cidade decidem em assembleia se ela fica na terra, pelo menos até à próxima votação. Após este "período de testes" a permanência de Grace é aprovada por unanimidade, mas os moradores começam a exigir dela algo mais, como contrapartida pelo risco de escondê-la. É quando ela descobre que, nesta cidade, a bondade é algo muito relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. Grrrr. No entanto, Grace guarda consigo um segredo que pode ser muito perigoso para a cidade... eh! eh! Não conto mais para não estragar a festa a quem não viu esta obra-prima. Deixem lá o livro dos Números por um bocadinho.
Carlos Cunha |
Clap clap clap!
Concordo com tudo e também gostei muito do filme (e do que o von Trier faz em geral).
Um abraço, em Cristo