quinta-feira, maio 24, 2007 |
O Antero Canónico. |
Para evitar que também Antero de Quental seja censurado pelo santo lápis azul e negacionista, ou rescrito pela mão inquisidora do revisionismo histórico, ou até rasurado por transleituras da sua lírica melíflua e cristalina, seguem-se excertos do seus discurso nas Conferências Democráticas de 1871, entitulado Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos. Digno de nota é que se o intelectual açoreano fosse bloguista no Trento na Língua, seria, decerto, ameaçado de expulsão, por articular os seus pareceres com factos, e por textuar as suas ideias com declarações afirmativas, objectivas. Longe de relativizações e subtilezas.
Sobre o catolicismo: 'O catolicismo do Concílio de Trento não inaugurou certamente no mundo o despotismo religioso: mas organizou-o duma maneira completa, poderosa, formidável, e até então desconhecida'.
'O cristianismo é sobretudo um sentimento: o catolicismo é sobretudo uma instituição. Um vive da fé e da inspiração: o outro do dogma e da disciplina. Toda a história religiosa, até ao meado do século XVI, não é mais do que a transformação do sentimento cristão na instituição católica'.
Sobre o protestantismo: 'Destas reformas saía naturalmente a humanização gradual da religião, a liberdade crescente das consciências, e a capacidade para o cristianismo de se transformar dia a dia, de progredir, de estar sempre à altura do espírito humano, resultado imenso e capital que trouxe a Reforma aos povos que a seguiram'.
'Contraste significativo, que nos apresenta hoje o mundo! As nações mais inteligentes, mais moralizadas, mais pacíficas e mais industriosas são exactamente aquelas que seguiram a revolução religiosa do século XVI: Alemanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, Suíça. As mais decadentes são exactamente as mais católicas! Com a Reforma estaríamos hoje talvez à altura dessas nações; estaríamos livres, prósperos, inteligentes, morais... '
Quando se citar génios das letras lusas, haja certezas que os seus intelectos não se insurgiram contra Roma, como a maioria dos poetas de panteão mostraram. Peço, em especial, que não se mencione Pessoa, porque o grosso das suas considerações sobre a Santa Sé usa de muita linguagem explícita, e eu já me perfilo um Pedro suburbano com saque de espada impulsivo e demasiado passional.
Nuno Fonseca |
posted by @ 3:28 da tarde |
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20 Comments: |
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Oh Nuno,
Eu citei o Antero mas não tinha a pretensão de o pôr a validar as minhas modestas ideias sobre qualquer coisa! Sei bem a posição que ele tinha face ao catolicismo. O problema é que tanto ele como outros (o Miguel Torga, o Ruy Belo, o Eugénio de Andrade), mesmo quando em oposição, mesmo quando explicitamente contra, foram criados no berço de uma nação católica e muitas vezes, e bem sem querer, percebiam muito bem a essência do cristianismo e do catolicismo.
O poema do Antero foi mais para demonstrar que não existe qualquer cultura protestante neste país, não é essa a nossa forma. Mais uma vez isto não é uma defesa ideológica mas afectiva. O protestantismo será sempre algo enxertado neste país. Isso vale o que vale claro, e da arbitrariedade de se escolher uma religião porque ela é dominante no próprio país estou eu ciente. E claro que é até arbitrário que tenha nascido neste país, e portanto desse ponto de vista é arbitrária a escolha religiosa baseada nestes critérios. Arbitrária aos olhos humanos, sem dúvida. Aos de Deus, espero que não! Acho apenas que o mundo protestante é afectevimante completamente distante da realidade portuguesa. É uma enxertia que tenho dificuldade em perceber sem ser pelos motivos que enunciei no post anterior!
Folgo em ver-te de novo!
Um abraço, em Cristo
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Ah bom e quanto ao próprio Antero, ele mesmo sabia o quanto a sua admiração pelos alemães era enxertado e como o sentia como pouco natural na sua própria portugalidade. A sua personagem é complexa... não era meu objectivo discuti-la!
Em Cristo,
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bom sendo que além disso ele se aproxima da secular tradição lusa (e não só) de admiração pelos povos germânicos e anglo-saxónicos.
Sempre foi uma admiração distante Nuno, uma admiração de quem se saber profundamente afastado deles (mais uma vez, remeto para o post abaixo). A nossa grande paixão foi sempre pelos franceses (está pouco na moda dizê-lo, mas é um facto), que tal como nós, são católicos.
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Antonius, o meu único receio é de não conheceres bem o protestantismo em Portugal.
Em todo o caso, reconheço uma cultura católica que advém do tradicionalismo que Roma fomenta. Lamento é que essa tradição tenha, por vezes, muitíssimo pouco a ver com o cristianismo ortodoxo, como a eleição de santos a pedido popular, como já mencionaste, a mariolatria, e os fenómenos de idiossincrasia, ex: o ´pobre de Cristo', a 'beata', o 'papa-missas', a 'viúva de vivo', etc. Pergunta-te é se o mesmo tradicionalismo em vez de criar os ditames culturais dum povo hispânico, se não absorveu os originais em vez, fundindo-se sincreticamente com esses credos locais, com o fim duma homogeneidade.
A estratégia evangélica passa mais pela heterogeneidade e na aplicação modelada, em tom e emoção, do Evangelho nas comunidades existentes, mantendo-o, acima de tudo, intacto, aplicando a sua utilidade (1Tim3:16) a gente de entendimentos e proveniências bem distintas. Ou seja: apenas a Escritura, apenas a Fé, apenas a Graça. De resto: dá-se Palavra amplificada ao decibel, gospel sentido, espectáculo audiovisual de ponta para os emotivos; simpósios, conferências, sermões a PowerPoint, Escolas Dominicais multiclassiais para os estudiosos. Lembra-te que temos comunidades/congregações étnicas até (brasileiros, africanos, ciganos, eslavos, etc), o que implica cultos dados em crioulo, em ucranianio, e assim.
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E consideremos, não foi o próprio cristianismo considerando um apêndice indesejável ao Israel fariseu? O cristão foi o primeiro rebelde: não faz parte do mundo, mas, em vez, quer vencê-lo.
E tu, Antonius, antes de seres português, não és sobretudo cidadão do Reino? Não te afastas de César por seres de Cristo? Não renuncias às tradições, farisaicas ou não, em favor da Graça de Jesus?
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Pessoalmente, vejo o novo Portugal na família evangélica, que não perdias em visitar. Há toda uma pluralidade multiclassial e multiracial que nos providencia uma partilha do Espírito a uma escala globalizada. Um culto da minha igreja lembra a multidão do livro de Apocalipse, aquela de folhas de palma na mão, que louva Deus (Rev7:9).
Abraço concristão, NUNO
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CC, uma coisa é o permitir da liberdade de expressão, outra é difamar gratuitamente. A opção para anular, desactivar comentários não é uma violação dos direitos humanos nem das Escrituras. Existe por razões muitas e variadas.
Em todo o caso, nada do que possa ter sido omitido do Samuel não vos foi relevado mais tarde. E depois de perdões e desculpas, penso que quer eu, quer ele, quer os bloguistas, todos seguimos em frente.
Este post foi uma clarificação de Antero.
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Ah! ah! ah! Essa da censura de lápis azul, vinda de ti, tem piada, ó Nuno.
Que me lembre, a única pessoa que aqui apagou um comentário de terceiros, por o achar ofensivo, foste tu. Tu, Nuno. Tu.
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Ups! Comentários fora de ordem. Mea culpa.
Diz lá, Nuno. As tuas difamações, os teus posts nazis sobre nazis (com o Bush no fim final e tudo, porra!), não são "gratuitos", é? Ah!, pois, já me esquecia: são factos.
Bom regresso. Já fazias falta. ;)
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Por outro lado, o Samuel nunca foi expulso enquanto comentador. No entanto, quem entre os bloguistas esteve para ser 'saneado' pelo Trento afora?
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São factos gratuitos. E sim, há a motivação. Mas vão dizer que o Antero estava de má-fé quando disse aquilo?
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Ó pá, isso tens de perguntar a quem te esteve para "sanear". Não fui eu. Nem (deixa-me revelar, já que tocas no assunto) nenhum dos babilónios católicos.
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Water under the bridge.
Sejamos cristãos: haja arrependimento e perdão. Esqueça-se.
Seguem-se posts positivos e conciliatórios. Gaste-se tanto ou mais energia a debatê-los.
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o nuno tem é a picha grande! cala-te!
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Um jogo do Glorioso também me lembra a multidão do livro de Apocalipse, embora em vez de palmas tenham bandeirinhas e cachecóis na mão. E também louvam deuses (cansados e fora de forma, a arrastar-se pelo relvado, é certo).
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Com essa é que me lixastsch.
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Bardzo fajnie napisane. Pozdrawiam serdecznie !
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Oh Nuno,
Eu citei o Antero mas não tinha a pretensão de o pôr a validar as minhas modestas ideias sobre qualquer coisa! Sei bem a posição que ele tinha face ao catolicismo. O problema é que tanto ele como outros (o Miguel Torga, o Ruy Belo, o Eugénio de Andrade), mesmo quando em oposição, mesmo quando explicitamente contra, foram criados no berço de uma nação católica e muitas vezes, e bem sem querer, percebiam muito bem a essência do cristianismo e do catolicismo.
O poema do Antero foi mais para demonstrar que não existe qualquer cultura protestante neste país, não é essa a nossa forma. Mais uma vez isto não é uma defesa ideológica mas afectiva. O protestantismo será sempre algo enxertado neste país. Isso vale o que vale claro, e da arbitrariedade de se escolher uma religião porque ela é dominante no próprio país estou eu ciente. E claro que é até arbitrário que tenha nascido neste país, e portanto desse ponto de vista é arbitrária a escolha religiosa baseada nestes critérios. Arbitrária aos olhos humanos, sem dúvida. Aos de Deus, espero que não! Acho apenas que o mundo protestante é afectevimante completamente distante da realidade portuguesa. É uma enxertia que tenho dificuldade em perceber sem ser pelos motivos que enunciei no post anterior!
Folgo em ver-te de novo!
Um abraço, em Cristo