sexta-feira, maio 25, 2007 |
Filosofia, Hadassah... Filosofia! |
Parece a matéria como uma fina película transparente situada entre o Homem e Deus. Ela permanece transparente enquanto os filósofos não se debruçam sobre ela, e então Deus mostra-se através dela. Mal os metafísicos lhe tocam, ou mesmo o senso comum na medida em que é metafísico, imediatamente a película se embacia e se adensa, se torna opaca, porque palavras tais como Substancia, Força, Extensão, etc. insinuam-se por detrás dela, depositando-se como uma camada se poeira, e impedem-nos de ver Deus pela transparência; “levantamos a poeira e lamentamos de seguida não poder ver” , dizia Berkeley (A treatise on the principles of human knowledge, Introduction).
Mas há uma outra comparação, frequentemente evocada pelos filósofos, e que não é senão a transposição audível da imagem acabada de descrever: a matéria seria uma língua através da qual Deus nos fala. Os metafísicos da matéria, entaramelando cada uma das sílabas, valorizando-as, elevando-as à dignidade de uma entidade independente, desviam então a nossa atenção do significado sobre o significante, impedindo-nos de seguir a Palavra divina.
Mas, quer nos fixemos numa ou noutra, em ambos os casos estamos em presença de uma imagem simples, que é preciso não perder de vista, porque se ela não for a intuição geradora da doutrina, dela deriva directamente e aproxima-se-lhe mais do que qualquer uma das teses filosóficas tomada isoladamente.
Nós não temos senão dois meios de expressão, o conceito e a imagem. É através de conceitos que o sistema se desenvolve; é numa imagem que ele se comprime quando o empurram para a intuição de onde deriva. Não se tratando obviamente, de um dado novo, Bergson todavia, sistematizou pela primeira vez, que o conceito e a imagem são clara e respectivamente reportados à inteligência e à intuição, como seu modo de expressão próprio.
cbs de presente à Hadassah, muito ajudado por aqui: “L’Intuition philosophique” in Bergson, Oeuvres, Editions du Centenaire Paris P.U.F. 1970 |
posted by @ 12:47 da manhã |
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19 Comments: |
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e... nada disto é Filosofia?
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Parece a matéria como uma fina película transparente situada entre o Homem e Deus.
A intuição aproximando-nos mais de Deus; Uma imagem simples, que se ela não for a intuição geradora, dela deriva directamente e aproxima-se-lhe mais do que qualquer uma das teses filosóficas.
a intuição não é Filosofia? a Filosofia não dialoga com a Fé? só isto, e mainada...em Cristo :)
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A Filosofia sistematiza o pensamento,,,poderá derivar em algumas circunstâncias da intuição, talvez sim. Mas a intuição não é de todo filosofia. A filosofia procura explicar o inatingivel de forma inteligivel, enquanto que a intuição não requer explicações e é pessoal.
Concordo que a filosofia toca muitas vezes em questões da fé, na maior parte das vezes conferindo-lhe veracidade.
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Este post é para mim, o cbs é que disfarçou porque fui eu quem disse outra coisa.
A saber: 1- Não foi preciso nascer o Bergson para que o cérebro humano tivesse intuições.
2- as intuições não são revelações de Fé.
O que ele está a dizer é que não é por via de exercício dedutivo ou indutivo que a ligação entre imagem e juízo existem. E que a relação de Deus com os homens se processa por via não racional.
Mas não consegue passar daqui para a diferença entre encontrar a Fé, ser bafejado por ela de forma transcendente, de ter uma intuição acerca de mil e uma outras questões, incluindo a vivência psíquica que era acerca disso que o Bergson teorizava.
A Fé é revelada. Acontece de forma transcendente. Uma intuição não é uma trascendência. Se assim fosse tudo era sagrado e Deus era mais uma das infinitas questões acerca das quais somos capazes de formular uma ideia simples e clara.
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Mais, a Filosofia formula questões metafísicas mas a metafísica não é sagrado nem Deus.
A Filosofia não é religião.
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Se isto fosse tão simples, qualquer filósofo ateu era crente, qualquer pessoa que tem intuições tinha fé, qualquer matemático era filósofo e aí que só ficava de fora os animais e os electrodmésticos. Porque, neste caso, até os computadores têm intuições e haviam de ter chegado a Deus com mais facilidade que eu
":O)))
Absurdo mesmo é que havia de ser o agnosticismo ehehe
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Pensar Deus é que pode ser uma intuição. Mas pensar não é conhecer Deus, ou ter chegado a ele pela Fé, ou ter-se aberto "a porta" da fé.
E muito menos a da adoração. E ainda menos a do conhecimento de milagre. Por isso é que se diz que existem os eleitos. De outra forma eramos todos santinhos a presenciar milagres a ter acesso à "face divina".
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A ideia mais bonita da passagem é a de que Deus comunica por uma fala. Essa é a noção primordial do salmo- o canto; a língua dos pássaros; a língua dos anjos.
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Hadassah... Zazie
enganei-me. disse que intuição era fé, e têm razão, não é. não tinha percebido isso. hei-de explicar-me quando puder...
mas, para já, admito o meu erro.
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claro que em bergson inteligência e intuição são significantes do mesmo significado.
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sendo a intuição uma pre-consciência do que é material sem ser apreendido pelos sentidos, procede da imateralidade que funda toda a matéria e da dimensão holistica do Mundo enquanto universalidade.
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considerando agora este blog que é uma especie de aberração digna de Vrolik no meio do ateímo fundamentalista ao qual obviamente eu pertenço sugiro que leiam a Docta Ignorantia de Nicolau de Cusa: a Verdade Absoluta e nesta Deus só é compreendido pela sua incompreensibilidade...
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Ena, também há por aqui anónimos de discurso confuso que aconselham livros que parecem complicados que ninguém leu! What a Party!
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Os anónimos-confusos-partidários-do-ateímo fundamentalista não têm assim muita piada. Prefiro o David Cameira 70x7 vezes. Estou curioso: será que este anónimos-confuso-partidários-do-ateísmo fundamentalista me vai mandar à merda? Por norma, costumam mandar. Só se é anónimo para se poder mandar alguém a esse lugar...
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"claro que em bergson inteligência e intuição são significantes do mesmo significado"
escuro como breu meu caro anónimo, em Bergson a inteligencia tem duas formas: a razão e a intuição, uma mediata e indirecta, a outra imediata e directa.
"sendo a intuição uma pre-consciência do que é material sem ser apreendido pelos sentidos, procede da imateralidade que funda toda a matéria e da dimensão holistica do Mundo enquanto universalidade" 1. em Bergson a intuição é consciente 2. é pensamento e não sensibilidade, nem instinto 3. Não procede da imaterialidade, nem compreendo o que quer dizer com isso; é uma faculdade mental tal como o intelecto. 4. O problema da Matéria é outra conversa mais comprida, tem de facto relação com o espírito (é a isso que chama imaterialidade?) e com uma força vital que Bergson designa por "élan vital"; A matéria seria uma espécie de "lava endurecida" desse élan, segundo expressão do próprio Bergson.
Em Cristo :)
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João "What a Party!" é verdade, aqui nesta rua passam cromos mesmoo difíceis. O David é um dos mais dificeis, lol mas não ficas de fora, que somos todos :)
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cbs,
I feel home 're !
Bom fim de semana
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