sexta-feira, maio 25, 2007 |
Reconhecimento de um erro: Intuição e Fé |
Afirmei, por disso estar convicto, que a Fé é a "grande intuição" , logo depois da outra, a "consciência de mim"; dizia intuição, no sentido de dado directo da consciência, que é como Bergson a coloca. Tive que pensar nisto, e apesar de tarde (melhor que nunca) dei-me conta do erro crasso, para o qual fora avisado aqui.
Existe no Homem uma intuição do Transcendente, mantenho essa parte; é o que explica ser um ser religioso, pressentimos o mistério por detrás das coisas.
Mas a “intuição do Transcendente”, como lhe chamo, se permite “entrever” vestígios do “Mistério”, dá-nos sinais ambíguos, ou pelo menos ambivalentes: não nos dá o “objecto” da Fé, a própria visão de Deus; O Mundo, a tal membrana translúcida que medeia entre nós e Deus, é um indício e forte, mas não mais.
Contudo, a Fé, mesmo que fundamentada em sinais do Mundo, é de natureza diferente, porque se trata de escolha, de uma opção livre. Jesus Cristo, as Suas palavras e a Sua história, são “O” grande sinal, revelador do Pai. Mas não somos forçados a aderir-Lhe por uma evidência intuída; acreditamos (ou não) porque queremos. Intuímos uma coisa (o Transcendente) e acreditamos (ou não) noutra (em Cristo). Parece-me ser esta a dinâmica da Fé cristã. Parece-me ser esta também a dinâmica do Ateísmo quando reflectido, uma opção de negação.
Sendo assim, através do conhecimento intuitivo – e não só, o intelectual também; penso nas provas teológicas de S. Tomás, por exemplo – consigo vislumbrar uma imagem, mas essa imagem por difusa, não chega. É preciso interpretá-la, e nesse ponto aparece Cristo, a Revelação Divina. É nesse ponto que se faz a escolha de Fé. A Fé é uma escolha, e não se confunde com intuição. A característica religiosidade humana, essa sim, parece-me uma intuição. Acontece que a Fé cresce e se desenvolve. Com o andar do tempo torna-se menos um "acreditar" – se bem que, por vezes, a duvida volte a galope – e mais numa espécie de "certeza", com uma quase evidência que eu, grande nabo, fui confundir com um dado intuitivo real. Se assim fosse, se fosse evidente, eu seria forçado a aderir, e não seria escolha livre, como o é a Fé.
Acrescento outra noção, que espero desta vez não estar errada, lol: Racionalidade e Intuição são formas de apreenção o Mundo, não são a Ciência, nem a Filosofia. São faculdades mentais que permitem compor os sistemas de ideias. Segundo Bergson a intuição adequa-se mais à investigação filosófica, sem excluir contudo, a racionalidade. Nisso há semelhança com a Teologia, que na minha simplicidade, considero o ponto mais alto da Filosofia. Daí eu dizer que a Filosofia no limite desagua na Religião.
cbs |
posted by @ 4:17 da tarde |
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14 Comments: |
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Estranho porque nunca me pareceu que fosse nada disto. Intuir o transcendente para depois acreditar ou não, como opção e ser isso fé.
Eu posso optar por acreditar ou não acreditar numa qualquer historieta que me contem. E verificar ou não verificar se ela tem validade. Assim como posso acreditar por fantasia em muitas outras historietas e isso nem ser opção, mas inclinação.
E, no entanto, nem a mera noção de sagrado é isto. Quanto mais a de fé que eu tenho em tão fraco grau.
O sagrado impõe-se como algo que entra em nós e nos é "mostrado" sem semelhança com mais nada. É respeito absoluto. Ora um respeito absoluto nunca é algo que se opta ou não opta por acreditar ou não acreditar.
Creio que é à conta desta confusão que os endemoninhados passam a vida a confundir fé e religião com suprestição. Porque, de facto, o nível da suprestição é que é assim básico- um engano em que se deixa levar por não questionar a plausibilidade racional.
A fé não é opção. Há-de ser do nível de imperiosa necessidade, por muita dúvida que contenha.
E nada disto se explica, ainda que se possa fazer a diferença entre opções e livre-arbítrio no que toca ao sagrado.
Escolhem-se acções. Não se escolhem revelações que são dádivas.
Ainda que eu nem diga que o sagrado é propriamente uma revelação. Está mais atrás. É menos que isso, pode andar perto do tal estado de intuição global em que somos tomados por essa transcendência. Claro que isto dito assim pode parecer uma transe de LSD...
ehehe
Por isso é que o silêncio ainda é o mais indicado. O sagrado impõe-nos silêncio
":O))
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Não percebo mesmo essa do
"acreditamos (ou não) porque queremos".
Nesse caso quem conhece a fé poderia não acreditar nela... E um não crente era apenas aquele que não desejava acreditar.
Não é assim. Um ateu tem uma certeza absoluta que o impele a desejar que não exista Deus, nem crença, porque o nega. E não faz isto só para chatear, podendo acreditar se quisesse.
Se tudo fosse assim, como um livre-arbrítrio, então a crença até podia ser um capricho.
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Esta ideia anula em absoluto a noção de porta que se abre e crença que se descobre.
Não havia transcendência, em última instância porque ela era de tal modo acessível e ficava de tal forma ao critério da vontade de cada um que deixava de ser transcendente.
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anulava a noção principal que está implícita no sagrado: o Mistério
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O ateísmo é outra coisa mais complicada. O ateísmo odeia a ideia de Deus porque cria dele uma imagem de Demónio. Ainda que, em última instância, o problema primoridial do ateísmo seja precisamente esse: a adoração do Demo que nega Deus.
Hoje em dia já não fazem isso porque o bode tornou-se científico e agora andam um tanto órfãos à custa disso.
Ficaram com uma fezinha científica, com menos demo a ajudar a negar o odioso Deus culpado da nossa escravidão e preferem acreditar que o melhor é acabar com estes problemas da cabeça das pessoas.
Laicizando a socieade, como eles dizem. Acando com os males do mundo que são as crenças. Excepto a boa crença da Razão, das ideologias e da ciência- que dá as tais "provas" que o bode já não pode fazer porque dava mau aspecto.
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Mesmo assim ainda há uns que se reunem secretamente para estas macacadas do beija cu, claro...
muito cientificos mas sem largar de todo as origens. Para poderem tr mais ajuda no tal processo colectivo de apagamento divino
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a diferença é que um evidência intuída como qualquer conhecimento que temos sem necessitarmos de operações lógicas para o demonstrar, não é um acesso ao mistério divino.
O simples facto de sabermos que um triângulo tem 3 lados e 3 ângulos não nos revela qualquer mistério transcendente.
A revelação é que é isso- chegar a nós para além das capacidades normais que o conhecimento do mundo nos oferece.
É tirar o tal veu que oculta par que fique ligado de novo o que esteve ligado- religere- religião.
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Mas a Fé não é um dom de Deus? Conheço pessoas que querem acreditar mas não têm fé. Conheço outras, como é o meu ilustre caso, que têm uma fé irredutível, algo que me é, digamos assim, exterior e apesar de mim, e no entanto com tantas dúvidas que nem se sabem colocar bem no mundo do discurso dizendo "sou isto" ou "sou aquilo".
E no entanto tem de haver uma aceitação lógica, uma relação neuronal entre o que não se vê mas se torna por verdade, e nisto, parece-me, só consigo encontrar a palavra "vontade" o que torna a coisa paradoxal o que, no meu entender, pressupõe quase sempre que se está no caminho certo.
Suponhamos então que é isso, que entra o dom que nos é dado e entra também a nossa vontade, ambos fundamentais à compreensão do que é a fé. É inexplicável, sem dúvida. Bom, e é aí que entra o "Mistério" e, no meu caso pessoal, entra o elemento Jesus, não o Homem, mas o Sobrenatural.
Por isso, chamem-me místico, mas o elemento sobrenatural, o tal "sacerdócio de Cristo" como elemento de ligação.
Se calhar estou enganado, mas acho que é mais ou menos assim que acontece comigo.
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Chiça...expliquei-me tão mal...
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É isso, há-de ser dom de Deus se for fé boa ahaha
Se for fé natural é apenas o tal sentido de sagrado.
Há uma data de endemoninhados místicos e endemoninhados new-age e até endemoninhados parapsico-patos, mas não existem endemoninhados com fé num bom Deus
":O)) O ateísmo não militante é outra coisa. É a noção de que se está sozinho e que a única realidade é esta- a que se conhece, sem qualquer salvação ou além.
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o que eu queria dizer de mais veemente é que a fé não é a tal opção que se tem ou pode não ter, conforme se deseja.
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a vontade há-de existir no aprofundar das vias e do conhecimento dessa religião. Mas não é por querer ou não crer que acredito ou não acredito.
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João,
Explicaste-te tão bem! Assino por baixo (excepto a parte da exclusão do Cristo homem).
Em Cristo,
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O Murcho, lá no reino da macacada é que deturpa isto tudo e trata a religião como alucinação e alienação mental. Como obscurantismo irracional por deficiência das capacidades racionais. Trata a religião como tratam todos os jacobinos. Como ópio pernicioso que torna o homem escravo dessa alienação da individualidade.
E as campanhas de laicização são sempre isto- apagar os modos de transmissão de culto ou de marcas sagradas. Para desligar as pessoas das suas raízes mais profundas e fazer com adiram ao que eles querem.
Há-de ser por isto que tanto me incomoda o jaconismo. Por ser totalitarismo vendido como um não totalitarismo ao dizer que liberta da ignorância e da submissão aos cultos religiosos.
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Estranho porque nunca me pareceu que fosse nada disto. Intuir o transcendente para depois acreditar ou não, como opção e ser isso fé.
Eu posso optar por acreditar ou não acreditar numa qualquer historieta que me contem. E verificar ou não verificar se ela tem validade.
Assim como posso acreditar por fantasia em muitas outras historietas e isso nem ser opção, mas inclinação.
E, no entanto, nem a mera noção de sagrado é isto. Quanto mais a de fé que eu tenho em tão fraco grau.
O sagrado impõe-se como algo que entra em nós e nos é "mostrado" sem semelhança com mais nada. É respeito absoluto. Ora um respeito absoluto nunca é algo que se opta ou não opta por acreditar ou não acreditar.
Creio que é à conta desta confusão que os endemoninhados passam a vida a confundir fé e religião com suprestição. Porque, de facto, o nível da suprestição é que é assim básico- um engano em que se deixa levar por não questionar a plausibilidade racional.
A fé não é opção. Há-de ser do nível de imperiosa necessidade, por muita dúvida que contenha.
E nada disto se explica, ainda que se possa fazer a diferença entre opções e livre-arbítrio no que toca ao sagrado.
Escolhem-se acções. Não se escolhem revelações que são dádivas.
Ainda que eu nem diga que o sagrado é propriamente uma revelação. Está mais atrás. É menos que isso, pode andar perto do tal estado de intuição global em que somos tomados por essa transcendência. Claro que isto dito assim pode parecer uma transe de LSD...
ehehe
Por isso é que o silêncio ainda é o mais indicado. O sagrado impõe-nos silêncio
":O))