terça-feira, abril 10, 2007
O contexto da coisa (dois posts em um)
1. Diz cbs: «se nascesse na Arábia eu seria muçulmano», para espanto e ironia de outros confrades. Em tempos, quando a Cibertúlia era uma mailing list, de muitos católicos, alguns ateus, outros indiferentes, também se discutiam estas coisas. Com falta de tempo para ir à arrecadação no sótão e resgatar ao pó essas diatribes, lembro-me que um bom amigo, católico, admitia que se tivesse nascido num país árabe provavelmente seria muçulmano. Por uma questão cultural, social, de herança. Não de opção, claro. Porque (quase sempre) são os nossos pais que desenham o nosso quadro pessoal de referências, mesmo que depois venhamos a fazer uma ruptura (tantas vezes) com eles. Mas de entre vós, algum atirou uma pedra às referências que os vossos pais vos deram?


2. Ao Tiago: o padre Resina tem razão ao afirmar o que afirma sobre seminaristas de 20 anos. Bem sei que a referência à direita incomoda, mas no caso católico, a expressão desse conservadorismo é evidente em pequenos gestos quotidianos: o uso do cabeção, por exemplo. Longe das tuas All-Star ou das calças apertadas. No mais, o conservadorismo traduz-se ainda por uma grande preocupação com a geografia do Além e pouco interesse em interrogar a condição humana e a nossa ignorância sobre Deus, como tão bem denunciou o frei Bento, outro da tua galeria, no texto do Público, também de domingo.

Miguel Marujo
[PS: uma nota lateral: por razões que dei conta aos trentinos, tenho mantido os meus posts sem comentários. Porque alguns se queixam e comentam noutros posts, passarei a deixá-los abertos, reservando-me no direito de não responder. Diz que é uma espécie de experiência.]
posted by @ 10:35 da manhã  
2 Comments:
  • At 10 de abril de 2007 às 13:07, Blogger zazie said…

    Passando à frente da historieta ideológica do progressismo e assim...

    É uma enorme verdade e extremamente importante essa relação da crença com a cultura.

    Quem a costuma negar são os ateus militantes precisamente para apagarem o fundo histórico de um povo. É aí que se baseiam os costumes e os valores. Sem isto não existiam religiões, apenas seitas.

    E nem é preciso falar-se do que os pais ensinaram- a mim não ensinaram praticamente nada de fé, mas eu tive acesso a esse espólio cultural da identidade da minha pátria.

    É por isso que as grandes religiões são sempre mais importantes. Porque dão espaço de manobra e liberdade para não serem uma mera questão de herança familiar.

    Os protestantes em território que não é o deles tendem a fechar-se nesse espírito mais perto da seita e por isso transformam a religião numa herança familiar. O avô pastor que passou ao pai e este que passa ao filho. É raro alguem sair fora desta lógica ou ficar agnóstico, como no caso dos católicos em território católico e dos protestantes em países protestantes.

    Porque também se torna algo mais do que aderir a um fé sem se tornar membro da Igreja.
    E uma herança mais complexa e com prolongamentos bem mais seculares do que nos católicos.

     
  • At 10 de abril de 2007 às 17:42, Blogger cbs said…

    "se tivesse nascido num país árabe provavelmente seria muçulmano. Por uma questão cultural, social, de herança.
    Não de opção, claro"

    o que dizes coincide com o que quiz dizer, mas mais.
    Queria eu dizer que o apelo religioso em mim (não noutros) me levaria sempre a aderir (aqui seria, por opção) à religião da cultura onde nascesse.

    E já agora acrescento também, que o meu ego actual, teria muita, muita pena se esse fosse o caso (de ser muçulmano), de tal forma amo Jesus Cristo (tás a ouvir Tiaginho :)

     
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