[da entrevista de ontem na Pública, de António Marujo, ao padre João Resina, físico]
«P. - Como avalia que, entre cristãos, se defenda o criacionismo por oposição ao evolucionismo? R. – A maluqueira é livre e uma das grandes tensões do ser humano – que é uma razão de segurança – é agarrarmo-nos a teses de conservação. Em todos os momentos de crise, crescem os movimentos de direita: na Igreja, nunca os seminaristas foram tão conservadores como de há 20 anos para cá. Num momento de crise, toda a gente se agarra ao que parece ter segurança. E uma das seguranças é ter um texto que diz tudo. Tem-se dito que a coisa mais parecida com a Igreja Católica foi o marxismo soviético: tinha uma doutrina intangível, que explicava tudo; tinha um magistério e as pessoas sabiam que, se se dedicassem, era para a salvação dos irmãos. Mas também há uma grande loucura. Quando se faz isso nas igrejas católicas e protestantes e no islão, é a mesma loucura.»
Ou
«Uma coisa é tentar compreender o universo. Para isso há a física e a biologia. Se quero saber se houve ou não big bang, se a vida evoluiu ou não, não pergunto à Bíblia, não pergunto à Igreja, que não tem competências nessa matéria. A segunda questão é o que devo fazer, como se deve viver para se ser homem. Pergunto à história, às culturas, às religiões. A terceira pergunta é o que me é lícito esperar, qual o sentido de fundo disto tudo. Aí, encontro a questão de Deus. Em suma, questões relativas a como é feito este mundo são da ciência. O sentido da vida diz respeito à religião, à filosofia, às culturas. Nós aprendemos com todas as culturas. Eu, em particular, aprendi e acreditei em Jesus Cristo.»
Miguel Marujo
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