sábado, abril 24, 2010
Verdade e Liberdade
Em 10 de Dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, no artigo 18º reconhecia o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, tornando premente uma declaração formal sobre esta matéria por parte da Igreja Católica. A resposta, com a Declaração sobre Liberdade Religiosa, foi um documento complexo e de difícil elaboração para os padres do Concílio Vaticano II, que se viam colocados entre a posição da Igreja face ao Liberalismo, com a Quanta Cura e sobretudo o Syllabus, e a convicção moderna quanto à dignidade e liberdade do Homem. Compatibilizando a Verdade com a Liberdade, expoente máximo da dignidade humana, a Declaração afirma: Este Concílio Vaticano declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. Esta liberdade consiste no seguinte: todos os homens devem estar livres de coacção, quer por parte dos indivíduos, quer dos grupos sociais ou qualquer autoridade humana; e de tal modo que, em matéria religiosa, ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma (…) dentro dos devidos limites. Declara, além disso, que o direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa humana, como a própria palavra revelada de Deus e a razão a dão a conhecer.

Neste como noutros textos, a doutrina expendida vai no sentido de pôr em relevo a dimensão simultaneamente racional e religiosa da natureza do Homem. O autoconhecimento que o homem tem de si passa, portanto, por estas duas vias. O que significa que a Verdade, para o ser, não é relativa mas absoluta, e o absoluto sendo o mesmo Deus não pode ser contrário à razão que Nele encontra a sua plenitude. O Homem participa na Verdade na medida em que é criatura de Deus e também objecto da Sua providência.
O que os documentos conciliares afirmam é a autonomia da consciência do Homem face a toda a autoridade externa, mesmo da reiterada autoridade da mesma Igreja. O que está em causa aqui é a liberdade do Homem em consentir ou em se furtar à mesma autoridade na medida em que a sua consciente deliberação interior o levar a inclinar-se. Aliam-se na decisão interior as duas vertentes da liberdade: a liberdade da vontade e da inteligência – livre arbítrio e livre exame. A supremacia da clarificação do juízo racional sobrepõe-se ao assentimento baseado na força ou no poder. Defrontamo-nos assim, com uma posição idêntica à da génese das ideias cristãs onde a revelação e a razão se conjugavam na definição doutrinal da Verdade. Não há espaço à condenação ou conversão forçadas, mas antes à persuasão onde a razão funciona como escora da Graça, condição de Fé, pese embora a actuação da Igreja no percurso da sua longa história quer quanto aos heréticos quer quanto aos infiéis. Ora a depositária do tesouro da Fé cristã, da Sagrada Escritura e da sua interpretação no sentido de desvendar a Verdade, é a Igreja. Neste sentido religião verdadeira e una é sinónimo de Igreja Católica Apostólica Romana, cujo Papa e o Concílio têm o poder da definição dogmática, mas não o de coação das consciências.


Das aulas da querida Prof. Fernanda Enes, por cbs

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posted by @ 7:47 da tarde  
5 Comments:
  • At 27 de abril de 2010 às 17:08, Blogger Nuno Fonseca said…

    "Neste sentido religião verdadeira e una é sinónimo de Igreja Católica Apostólica Romana, cujo Papa e o Concílio têm o poder da definição dogmática, mas não o de coação das consciências."

    - Sendo que o próprio II Concílio do Vaticano não é dogmático, mas meramente pastoral; logo, não deve ser imposto por coacção às consciências cristãs.

     
  • At 28 de abril de 2010 às 00:05, Blogger Nuno Fonseca said…

    Com isto não pretendo desonrar o Concílio Sagrado, mas vejo em manifestações como estas uma dicotomização perigosa entre a Graça e a acção da Igreja na conversão, sob a guisa do 'espírito do Vaticano II', que não pode ser lido nos documentos conciliares, mas que é 'interpretado' hermeticamente por lentes místicas e liberais, de forma sempre desonesta. É que ainda que defendesse o que aqui vem escrito, custa-me perceber o porquê de sequer ter esta conversa em pleno séc XXI. Amigos, não há excesso de zelo na evangelização - não percebem isso? Há o contrário: lassidão moral e missiológica, em especial por parte dos leigos e de alguns clérigos que 'pensam pelas próprias cabeças', como dizia o Cardeal Patriarca.

    Mas ainda bem que o Papa está a exorcizar convenientemente este 'espírito do Vaticano II'. Eu, como ele, não creio que a Igreja tenha nascido há 40 anos por sobre as letras conciliares, vivendo na queromância de religiosos secularizantes que o interpretam como querem.

     
  • At 28 de abril de 2010 às 16:50, Blogger zazie said…

    Que andas a escrever aí nas caixinhas,Rambo maluquito?

    Passa mas é lá para dentro.

    ":OP

     
  • At 29 de abril de 2010 às 20:25, Blogger cbs said…

    Nuno
    sê bem vindo e concordo 100% com a coruja. Volta...

    Quanto ao Concílio ser pastoral, e não dogmático, isso carece de explicação não? Como o entendo, O VII actualizou a linguagem, não a mensagem que permanece a mesma: o Amor de Cristo.

    Abraço. saudades. olha que faltam braços pra lavar os corredores do convento :)

     
  • At 1 de maio de 2010 às 15:39, Blogger cbs said…

    volta Nuno, com espirito de sacrificio, pá :)

     
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